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sábado, 17 de dezembro de 2022

[DESASTRE ANUNCIADO] Lula ressuscita fantasmas do governo Dilma com sinais confusos na economia

Nova gestão faz as primeiras nomeações para a área e, ao contrário de 2002, não deixa claro que direção pretende seguir

Na França do início do século XIX, assim que a derrocada do regime de Napoleão Bonaparte permitiu a volta dos Bourbon ao trono que ocupavam antes da Revolução Francesa, uma frase sobre os herdeiros da antiga família real se tornou recorrente no meio político: “Eles não aprenderam nada e também não esqueceram nada”. A expressão, comumente creditada ao gênio da diplomacia Charles-­Mau­ri­ce de Talleyrand, traduz de forma magistral os temores do mundo empresarial e das finanças depois dos anúncios dos primeiros nomes que ocuparão postos-chave na área econômica do futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A primeira nomeação, na sexta-feira 9, confirmou a ida de Fernando Haddad para o recriado Ministério da Fazenda. Longe de ser uma surpresa, dados os sinais que já apontavam nesse sentido, a indicação não foi exatamente louvada por economistas, empresários e financistas. Entretanto, acabou encarada com alguma naturalidade a partir de declarações tranquilizadoras do futuro ministro em nome da responsabilidade fiscal e com a nomeação, na segunda-feira 12, de dois de seus principais auxiliares — Gabriel Galípolo, ex-presidente do Banco Fator, como secretário-executivo, e Bernard Appy, como secretário especial para a reforma tributária. Não foi uma recepção tão tranquila quanto a de Antonio Palocci na primeira gestão de Lula, em 2002, mas de alguma forma já estava, como se diz no jargão da Faria Lima, precificada.

O golpe veio mesmo na terça-feira 13, quando, em um pronunciamento, o presidente eleito exercitou sua verve em uma mistura de ironia, provocação e alguns traços de rancor. “Aloizio Mercadante, vi algumas críticas sobre você, sobre boatos que você vai ser presidente do BNDES”, começou Lula se dirigindo ao ex-ministro e ex-senador, que estava a seu lado na cerimônia de conclusão dos trabalhos da equipe de transição, em Brasília. “Eu quero dizer para vocês que não é mais boato. O Aloizio Mercadante será presidente do BNDES. Estamos precisando de alguém que pense em desenvolvimento, alguém que pense em reindustrializar esse país”, completou. Com seu pronunciamento, Lula apontou que a estratégia de uso das estatais para irrigar empresas com crédito barato pago pelo Tesouro, diretriz que deu tão errado em gestões passadas do PT, pode voltar. Não bastasse, Lula foi além e reafirmou a convicção estatista que marcará sua volta ao poder: “Vai acabar a privatização nesse país”.


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MATÉRIA COMPLETA em VEJA 

 

Transcorrida apenas uma semana do anúncio de Haddad para a Fazenda, muita coisa pode mudar. No entanto, é motivo de preocupação o fato de os alicerces do novo governo estarem fincados em terreno tão movediço. “Aparentemente, o fracasso da agenda petista de quinze anos atrás, que gerou a grande crise de 2014, foi de pouca valia. Pelos discursos que a gente vê, estamos rumando para um novo fracasso”, alerta Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda de 2003 a 2005, época da primeira (e bem-sucedida) gestão de Lula. “O problema é que, desta vez, o fracasso vai vir mais rápido do que as pessoas estão imaginando, pois as condições são piores”, avalia. Ainda há tempo e meios para o novo governo evitar tal situação. A questão é se Lula quer fazer isso.

Colaborou Felipe Mendes

Publicado em VEJA,  edição nº 2820 de 21 de dezembro de 2022


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