A tirania é viciante para os tiranos. A vontade de mandar aumenta a cada dia na razão direta da vontade de calar a crítica, as vozes que alertam sobre o avanço do totalitarismo
O TSE acaba de diplomar Lula e Alckmin, isto é, atestou
que eles ganharam a eleição presidencial e estão aptos a tomar posse
diante do Congresso Nacional.
O presidente do TSE e o presidente eleito
fizeram discursos em que defenderam as mesmas teses.
Disseram que o
outro lado ataca a democracia, que precisa ser defendida evitando
mentiras, enquanto controlam a liberdade de expressão.
Explicaram que a
ação do Supremo e do TSE é defesa da democracia, num Estado de direito.
E
a gente aceita, porque temos a fraqueza de engolir discursos que são o
oposto do que testemunhamos e comprovamos — é da nossa cultura. Moraes
afirmou que jamais houve uma fraude no sistema eletrônico, e Lula ousou
apregoar que as urnas digitais "são de confiança reconhecida no mundo
todo". Nós achamos natural esse tipo de discurso. [COMENTANDO e SUGERINDO: Lula mentiu sobre o alcance universal do reconhecimento da confiabilidade das urnas eletrônicas - mentir para ele é tão essencial quanto respirar.
Também temos que considerar a total ausência de conhecimentos geográficos do analfabeto eleito = em um dos seus mandatos pretéritos ele apregoou a necessidade de fortalecer a fronteira do Brasil com os Estados Unidos da América.
Aproveitamos para sugerir ao presidente Bolsonaro que mantenha firme sua posição de NÃO RECONHECER a vitória do cidadão sob comento - o NÃO RECONHECIMENTO, cuja manutenção sugerimos, não constitui ato antidemocrático.]
A bandeira de São Paulo traz a inscrição latina non dvcor dvco, que significa "não sou conduzido, mas conduzo". Em democracia, isso deveria estar cunhado na alma de cada cidadão. Mas na nossa cultura, agimos como súditos, vassalos, dependentes, tutelados, esquecendo que somos cidadãos, pagadores de impostos, eleitores.
Quem
escolhe e sustenta deputados, senadores, vereadores, prefeitos,
governador, presidente é o povo. Por isso, cada um de nós é origem do
poder. Por nós, povo, é que fizeram uma Constituição, para submeter o
Estado a nós, e nos submetermos todos as leis feitas com base na lei
maior.
Nós, o povo, não somos uma massa uniforme; cada um de nós é uma
pessoa para a qual até Deus permitiu o poder do arbítrio.
As leis que
nos desencorajam a cometer crimes são as mesmas que nos garantem a vida,
a propriedade, as liberdades de ir e vir, de reunião, de expressão, de
opinião.
Mas, com a cultura da vassalagem, muitos de nós acham natural
que alguma autoridade decida o que podemos e o que não devemos dizer.
Lula e Moraes, na diplomação, defenderam uma liberdade
restrita ao que eles julgarem ser a verdade.
Precisou de uma eleição
para que pelo menos metade da nação despertasse na defesa da
Constituição e das liberdades.
O devido processo legal foi violentado há
três anos, sob silêncio da mídia, do Senado, da OAB. Mas,
principalmente, do povo, para quem existe o Estado.
Durante a Copa no
Catar, percebeu-se o quanto é conveniente para os que se apropriaram das
instituições do Estado a alienação pelo futebol. Um gol do time
preferido serve para não se perceber omissão no Senado, ou ativismo no
Supremo.
E os senhores do patrimonialismo — que alguns chamam de
mecanismo — vão pondo em prática, passo a passo, a volta à apropriação
do Estado e aos privilégios e benesses com poder aquisitivo, ante o
silêncio dos verdadeiros senhores, o povo.
Vão repetindo os
discursos sobre democracia e liberdade, e quem está viciado em ser
vassalo aceita, porque é cômodo. É mais fácil ser conduzido que
conduzir.
O antídoto para isso é popularizar a Constituição como bíblia
da cidadania. Eliminaria a intermediação de intérpretes, que acabam
sucumbindo à tentação de serem donos e condutores da lei maior. [o pior, inevitável mesmo, é eliminar a intermediação dos intérpretes, que sem nenhuma dúvida passaram a confundir interpretação como meio hábil para modificação do que é objeto de interpretação.]
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense
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