Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Não
tenho algo mais fácil para indagar a mim mesmo e aos leitores? Pois é.
Essa pergunta tem surgido em minha mente com uma insistência que já
beira à impertinência, fazendo-me lembrar de certo professor de
Matemática que confeccionava provas tão difíceis que nem ele, depois,
sabia resolver.
Então, eis-me
nesta condição,buscando uma resposta que não aumente minha indignação
diante do que vejo acontecer com aquela consistente “maioria
conservadora” (já vai assim, entre aspas) que teria saído das urnas na
eleição de 2022.
Pergunto:como foi que essa “maioria” concedeu, com ampla margem, as presidências
do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente ao omisso (para
dizer o mínimo) senador Rodrigo Pachecoe ao Chief Executive Officer do
Centrão, deputado Arthur Lira?
Foi na condição de CEO desse velho e
encardido bloco que Lira transmitiu a Lula o recado de que os deputados
vinham impondo derrotas ao governo porque estavam “insatisfeitos”.
Insaciáveis, não seria a palavra mais correta?
Com os parlamentares
satisfeitos, a composição da CPMI das armações fez a própria armação:
60% de seus membros são governistas que não queriam a CPMI.
A aprovação
do nome de Cristiano Zanin,advogado de Lula e do PT,para integrar a
confraria governista no STF é a mais recente evidência das duas
afirmações que faço, ou seja, a confraria existe e se reforça, eampla
parcela da “direita” mudou-se para o aconchego de Arthur Lira e para o
mundo dos negócios.
Essa
sequência de desastres cívicos tem seus motivos para acontecer.
Primeiro, porque fundos partidários, fundão eleitoral e emendas
parlamentares viabilizam reeleições mesmo para quem manda seu eleitor
catar no asfalto seus princípios e coquinhos ideológicos ou filosóficos;
segundo, porque as exceções a tão triste padrão moral – e elas existem e
são valiosas, embora poucas – reúnem virtudes cada vez mais incomuns:
consistência intelectual e coragem moral.
Sem a
primeira,o sujeito cai na conversa de qualquer líder picareta, até
tornar-se igual a ele; sem a segunda, o congressista se acovarda quando o
outro lado da rua rosna e mostra os dentes.
Personagem da
autora inglesa Jane Austen, em Orgulho e Preconceito (1813), afirma que
sua coragem sempre se ergue quando sob intimidação. Para Napoleão
Bonaparte,coragem não era ter a força de ir em frente, mas ir em frente
não tendo a força.
Mesmo num
ambiente político de desconforto e indignação, alegra-me ver intimidados
mostrar coragem numa coalisão de covardes e arrostar a força bruta com o
vigor de seu caráter.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Na história brasileira, brandir o argumento da legalidade tem-se
mostrado ativo político relevante nos momentos de potencial ruptura.
Em
situações de clara afronta ao arcabouço legal, é vantajoso buscar cores
legalistas.
Um exemplo foi a Revolução de 30, quando o rompimento da
ordem constitucional legitimou-se também pelas acusações, nunca
comprovadas, de fraude na eleição em que o paulista Júlio Prestes
derrotara o gaúcho Getúlio Vargas.
Não foi à toa, portanto, que ao longo dos quatro anos de conflito
latente ou aberto com o Judiciário o então presidente Jair Bolsonaro
tenha batido sistematicamente no argumento de estar “jogando dentro das
quatro linhas”. A esta altura, e os últimos acontecimentos ajudam a
lançar luz sobre o passado, fica claro que o ex-presidente não tinha
apoio militar para manobras continuístas construídas fora do campo
regulamentar de jogo e contra o juiz.
Outro complicador para Bolsonaro, e talvez lhe tenha faltado a
percepção, é as “quatro linhas” exibirem flexibilidade juridica inédita
no Brasil. E, principalmente, o hoje ex-presidente nunca ter estado nem
perto de conhecer, ou ao menos vislumbrar, uma coexistência pacífica com
as instâncias judiciárias encarregadas de dizer o que a Constituição
permite ou não fazer.
Coexistência difícil também por ambos terem disputado com ferocidade o
poder moderador, formalmente abolido na República, mas muito vivo.
Sobre aquela flexibilidade, há poucas coisas mais ingênuas em política
do que exigir coerência. Na política, os argumentos servem unicamente
para reforçar ou alterar a correlação de forças, e quem não tiver
estômago para tanto deve buscar outra atividade. Dito isso, é digno de
nota que em quatro décadas o Brasil tenha transitado da legalização de
partidos cujo programa propõe a abolição da democracia liberal para a
criminalização de uma conduta conexa,apenas vinda do lado oposto.
Um tema para os historiadores.
Os lamentáveis acontecimentos de 8 de janeiro de 2023em Brasília, ao
afrontar material e simbolicamente a legalidade numa escala inédita em
anos recentes, deixaram o exército(atenção para a minúscula) bolsonarista exposto ao cerco das tropas inimigas, num saliente
indefensável. Infelizmente para a tropa, o comandante não percebeu que
era hora de retirada para preservar forças, ou avaliou mal a situação.
A boa tática está sempre a serviço da estratégia. O contrário é um erro.
Quando Napoleão Bonaparte mandou executarLouis Antoine Henri de
Bourbon, o Duque de Enghien, e com isso desencadeou contra si a ira das
casas reais europeias, deu a Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord a
oportunidade de acrescentar uma das frases que marcariam a biografia do
célebre político francês: “Aquilo foi pior que um crime; foi um erro".
Os sinais estão aí.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que largara meio enredado em
contradições, passou à ofensiva e só será freado ou bloqueado quando, e
se, aparecer uma força capaz de lhe fazer frente.
No momento, não há
sinal. Onde estão os riscos?
1) Numa eventual deterioração econômica; e
2) errar na identificação do inimigo principal na nova etapa.
Pois, se Jair Bolsonaro for neutralizado como alternativa imediata real,
e depois de 8 de janeiro há acordo entre as demais correntes para isso,
como administrar as contradições que naturalmente vão aflorar entre os
hoje aliados anti-Bolsonaro e certamente futuros inimigos?
Nova gestão faz as primeiras nomeações para a área e, ao contrário de 2002, não deixa claro que direção pretende seguir
Na França do início do século XIX, assim que a derrocada do regime de Napoleão Bonaparte permitiu a volta dos Bourbon ao trono que ocupavam antes da Revolução Francesa, uma frase sobre os herdeiros da antiga família real se tornou recorrente no meio político: “Eles não aprenderam nada e também não esqueceram nada”. A expressão, comumente creditada ao gênio da diplomacia Charles-Maurice de Talleyrand, traduz de forma magistral os temores do mundo empresarial e das finanças depois dos anúncios dos primeiros nomes que ocuparão postos-chave na área econômica do futuro governo deLuiz Inácio Lula da Silva.
A primeira nomeação, na sexta-feira 9, confirmou a ida de Fernando Haddad para o recriado Ministério da Fazenda. Longe de ser uma surpresa, dados os sinais que já apontavam nesse sentido, a indicação não foi exatamente louvada por economistas, empresários e financistas. Entretanto, acabou encarada com alguma naturalidade a partir de declarações tranquilizadoras do futuro ministro em nome da responsabilidade fiscal e com a nomeação, na segunda-feira 12, de dois de seus principais auxiliares — Gabriel Galípolo, ex-presidente do Banco Fator, como secretário-executivo, e Bernard Appy, como secretário especial para a reforma tributária. Não foi uma recepção tão tranquila quanto a de Antonio Palocci na primeira gestão de Lula, em 2002, mas de alguma forma já estava, como se diz no jargão da Faria Lima, precificada.
O golpe veio mesmo na terça-feira 13, quando, em um pronunciamento, o presidente eleito exercitou sua verve em uma mistura de ironia, provocação e alguns traços de rancor. “Aloizio Mercadante, vi algumas críticas sobre você, sobre boatos que você vai ser presidente do BNDES”, começou Lula se dirigindo ao ex-ministro e ex-senador, que estava a seu lado na cerimônia de conclusão dos trabalhos da equipe de transição, em Brasília. “Eu quero dizer para vocês que não é mais boato. O Aloizio Mercadante será presidente do BNDES. Estamos precisando de alguém que pense em desenvolvimento, alguém que pense em reindustrializar esse país”, completou. Com seu pronunciamento, Lula apontou que a estratégia de uso das estatais para irrigar empresas com crédito barato pago pelo Tesouro,diretriz que deu tão errado em gestões passadas do PT, pode voltar. Não bastasse, Lula foi além e reafirmou a convicção estatista que marcará sua volta ao poder: “Vai acabar a privatização nesse país”.
Transcorrida apenas uma semana do anúncio de Haddad para a Fazenda, muita coisa pode mudar. No entanto, é motivo de preocupação o fato de os alicerces do novo governo estarem fincados em terreno tão movediço. “Aparentemente, o fracasso da agenda petista de quinze anos atrás, que gerou a grande crise de 2014, foi de pouca valia. Pelos discursos que a gente vê, estamos rumando para um novo fracasso”, alerta Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda de 2003 a 2005, época da primeira (e bem-sucedida) gestão de Lula. “O problema é que, desta vez, o fracasso vai vir mais rápido do que as pessoas estão imaginando, pois as condições são piores”, avalia. Ainda há tempo e meios para o novo governo evitar tal situação. A questão é se Lula quer fazer isso.
Colaborou Felipe Mendes
Publicado em VEJA, edição nº 2820, de 21 de dezembro de 2022
Maurício Souza, campeão olímpico de vôlei | Foto: Reprodução Instagram
O rei Luís XVI, condenado à morte por alta traição e crimes contra o Estado,foi enviado à guilhotina. Sua esposa, Maria Antonieta, teve o mesmo destino nove meses depois. Após a execução do rei, a guerra com várias potências europeias e intensas divisões ideológicas conduziram a Revolução Francesa à sua fase mais violenta e turbulenta. Em junho de 1793, os jacobinos tomaram o controle da Convenção Nacional dos girondinos mais moderados e instituíram uma série de medidas radicais, incluindo o estabelecimento de um novo calendário e a erradicação do cristianismo. Aqui, foi desencadeado o sangrento Reino do Terror, um período de dez meses em que os inimigos suspeitos da revolução foram guilhotinados aos milhares.
Eu não poderia deixar de visitar esse período bárbaro da história mundial e, guardadas as devidas proporções, abordar o assunto da semana envolvendo o jogador de vôlei Maurício Souza. Ele foi “cancelado” pela turma da tolerância e do amor por expor sua opinião sobre um desenho em quadrinhos.
O campeão olímpico teve o contrato rescindido unilateralmente pelo Minas Tênis Clube depois que os patrocinadores do time sofreram pressões dos atuais jacobinos virtuais que tentam de todas as maneiras tirar de circulação aqueles que não rezam a cartilha progressista da turba do Beautiful People. Em tempos em que questionar virou crime inafiançável,opinar contra o politicamente correto virou crime hediondo, com pena de prisão perpétua nos calabouços dos revolucionários de butique. E opinar, sem ofensas, foi o que Maurício fez.
Em seu Instagram pessoal, Maurício já havia criticado o uso da chamada “linguagem neutra”,mais uma página rasa da agenda de identidade de gênero que cancela sem dó nossa linda língua portuguesa. Nessa postagem, Maurício colocou na legenda: “O céu é o limite se deixarmos! Está chegando a hora de os silenciosos gritarem”. Na semana passada, alguns dias depois da repercussão do lançamento da história da DC Comics em que o filho do personagem Super-Homem se assume bissexual, o jogador postou: “É só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar…”.Mesmo sendo duramente criticado pelo terrível crime de opinião sobre um desenho — um de-se-nho, vale frisar —, Maurício voltou ao seu perfil e comentou mais um capítulo da agenda nefasta da esquerda radical: a exclusão de mulheres com a inclusão de homens biológicos em esportes femininos. Para isso, Maurício publicou uma foto de Gabrielle Ludwig, atleta transexual que faz parte de uma equipe feminina de basquete universitário. A foto, uma afronta às mulheres, já foi usada por mim em palestras sobre o assunto para mostrar — em claras e gritantes imagens — o absurdo que as mulheres estão sendo obrigadas a suportar caladas para não serem guilhotinadas. Homens biológicos, visivelmente formados com todos os resultados de anos de testosterona, competindo com meninas.
Diante de tamanha atrocidade protegida por essa política injusta e cruel com as mulheres, Maurício comentou: “Se você achar algum homem nessa foto você é preconceituoso, transfóbico e homofóbico. Mais uma conquista do feminismo para as mulheres!”. Não deu outra. Não foram apenas os jacobinos virtuais que chegaram aos montes à praça das redes sociais, as guilhotinas, compartilhadas por jornalistas e até atletas, formaram um corredor revolucionário “do bem”.Não bastava apenas silenciar o rapaz que pecou contra a agenda jacobina, era preciso mostrar às multidões o que acontece com os transgressores.
É preciso tirar o sustento de um pai de família, encerrar a carreira de um atleta e destruir seu nome e sua reputação. Mas, claro, tudo em nome do amor ao próximo.
Inicialmente, antes de decidir pela rescisão do contrato do jogador, o Minas Tênis Clube, pressionado por seus dois principais patrocinadores, Fiat e Gerdau, havia apenas afastado e multado Maurício, além de exigir que ele publicasse uma retratação. E assim ele o fez. Publicou um pedido de desculpas àqueles que porventura se sentiram ofendidos, mantendo a defesa sobre a liberdade que todos têm para opinar. Não surtiu efeito. Maurício, campeão olímpico em 2016 e ainda rendendo como atleta de alta performance, teve a cabeça cortada em uma ação injusta, orquestrada milimetricamente.
O mais preocupante de tudo é que esse não é um caso isolado. É a nova regra, o novo normal que não pode — em hipótese alguma — ser aceito por nós. Em texto publicado no dia 28 de outubro em sua coluna na Gazeta do Povo, J.R. Guzzo foi no coração da questão: “A perseguição desencadeada contra o atleta Maurício Luiz de Souza, jogador da seleção brasileira de vôlei, é um escândalo destes tempos em que o totalitarismo, a intolerância e o rancor são impostos à sociedade com violência cada vez maior pelos movimentos ‘politicamente corretos’. Foi um linchamento, puro e simples, da reputação e da carreira esportiva de um cidadão brasileiro que não fez absolutamente nada de errado, e nem outra coisa além de exercer o direito constitucional à expressão do seu próprio pensamento”.
Ainda dentro desse contexto que agitou o noticiário, minha grande decepção foi com o técnico da seleção brasileira masculina, Renan Dal Zotto, exímio ex-atleta que também defendeu o Brasil nas quadras durante anos, e uma pessoa por quem tenho respeito.
Infelizmente, Renan não aguentou a pressão das guilhotinas chegando à praça pública. Paralisado com a virulência da movimentação jacobina, ajoelhou-se e beijou os anéis dos supostos novos reis do pedaço e suas cartilhas politicamente corretas. Em entrevista ao jornal O Globo, Dal Zotto afirmou: “É inadmissível esse tipo de conduta do Maurício. Sou radicalmente contra qualquer tipo de preconceito, homofobia, racismo. Em se tratando de seleção brasileira, não há espaço para profissionais homofóbicos. Não posso ter esse tipo de polêmica no grupo”. O técnico marcou pontos gloriosos com a audiência jacobina, o aplauso fácil veio instantaneamente. No entanto, Dal Zotto não mencionou a atrocidade, o crime nem a injúria cometidos por Maurício.
Esse cancelamento faz parte de uma pandemia intelectual de proporções bíblicas
Tive a sorte de ter bons técnicos na minha carreira como atleta profissional. Alguns me marcaram e deixaram lições que carrego até hoje. Além de técnicos, eles eram líderes. Nos erros, nos acertos, na escolha das palavras e nas lições plantadas que, uma vez proferidas e semeadas, não podem mais ser guardadas. Homens firmes, com prudência, zelo, sem menosprezar nem descartar a contribuição que podem deixar na construção do ser humano. Renan não foi capaz de pairar acima das agendas políticas e mostrar a mão de um líder nato. Seitas ideológicas cobram pedágio, e Renan pagou o seu para ser poupado.
Mas não se enganem, esse cancelamento acompanhado de linchamento e perseguição faz parte de uma pandemia intelectual de proporções bíblicas. Os atuais jacobinos, que prometem lutar contra a opressão às minorias, estão, curiosamente, apenas militando em países “opressores”onde há liberdade suficiente para que tanta bobagem seja dita e colocada em prática, como aqui nos Estados Unidos.
Há três semanas, o comediante Dave Chappelle cometeu um crime tão hediondo quanto o do jogador do Minas. Chappelle, em seu novo show na Netflix, disse que “gênero é um fato” e que “cada ser humano nesta sala, cada ser humano na Terra teve de passar pelas pernas de uma mulher para estar na Terra. Isso é fato”. Depois ele condenou o ataque contra as mulheres que não obedecem à teoria de gênero da esquerda. Já escutaram as guilhotinas se aproximando? Sim, elas foram trazidas, e durante duas semanas o comediante negro que ousou desafiar o politburo foi amarrado em praça pública para a exposição que já conhecemos.
Imediatamente, a mesma onda jacobina que pediu a cabeça do Maurício e de tantos outros que não beijam o anel invadiu as redes sociais e um dos prédios da Netflix. O que eles pediam? Um pedido de desculpas? Não. Queriam a cabeça de Chappelle por ele ter dito — o horror! — que gênero é um fato com homens sendo homens e mulheres sendo mulheres. Grupos ativistas como o Glaad (Aliança de Gays e Lésbicas Contra a Difamação, em português) espalharam a falácia de que “o conteúdo anti-LGBTQ”viola a política da Netflix de rejeitar programas que incitam ódio ou violência. A Glaad pediu então aos executivos da Netflix que ouvissem os funcionários LGBTQ, líderes da indústria e o público e se comprometessem a “viver de acordo com os padrões”.
Quando o especial de Chappelle foi lançado em massa, o grupo disse que a “marca do comediante se tornou sinônimo de ridicularizar pessoas trans e outras comunidades marginalizadas”. Como outros artistas da Netflix, Jaclyn Moore, que foi roteirista e produtora do programa da Netflix Dear White People, foi até as redes sociais inflamar a militância com comentários do tipo: “Não vou trabalhar com eles (Netflix) enquanto eles continuarem a lançar e lucrar com conteúdo transfóbico descarada e perigosamente”.
Bem, praça cheia, guilhotina a postos, jacobinos babando por sangue. Vamos! O que estamos esperando? Faltou combinar com Chappelle, que não estava muito disposto a entregar sua cabeça. Quando perguntado sobre uma greve de funcionários transgêneros na Netflix depois de o conteúdo de seu show ter viralizado, ele disse: “Para a comunidade transgênero, estou mais do que disposto a lhe dar uma audiência, mas você não vai me convocar. Encontro com vocês nos meus termos, onde eu quiser e quando eu quiser. Não vou ceder às exigências de ninguém”.
Caitlyn Jenner, hoje transexual e que já foi campeão olímpico no decatlo masculino em 1976, está apoiando Dave Chappelle em meio à polêmica em torno dos comentários que ele fez sobre a comunidade transgênero em seu especial da Netflix, The Closer: “Dave Chappelle está 100% certo”, tuitou Jenner. “Não se trata do movimento LGBTQ. É sobre a cultura do politicamente correto, do cancelamento. Cultura enlouquecida que tenta silenciar a liberdade de expressão. Nunca devemos ceder ou nos curvar para aqueles que desejam nos impedir de falar o que pensamos.”
Diante da postura de Chappelle, o codiretor-executivo da Netflix, Ted Sarandos, acabou usando o bom senso e defendeu o especial de Chappelle em vários memorandos para funcionários da Netflix escrevendo: “Embora alguns funcionários discordem, temos uma forte convicção de que o conteúdo (do show) não se traduz diretamente em danos no mundo real”.
Quem me acompanha em outras plataformas sabe da minha admiração pelo psicólogo canadense e grande pensador contemporâneo Jordan Peterson. Peterson também já sofreu inúmeras tentativas de assassinato de sua reputação por parte dos jacobinos do bem. Para isso, ele tem o seguinte conselho: “Nunca peça desculpas a uma multidão sedenta de sangue. Você não está lidando com pessoas com quem pode restabelecer um relacionamento. Você está lidando com uma ideia sem alma que possui pessoas”.
Milhares das mortes na guilhotina que foram realizadas durante a Revolução Francesa aconteceram sob as ordens de Robespierre. No entanto, o francês revolucionário, que queria impor suas ideias com violência e brutalidade, jamais imaginou que seus métodos alcançariam exatamente o seu pescoço.
Robespierre, que dominou o draconiano Comitê de Segurança Pública, foi executado em 28 de julho de 1794.
A Revolução Francesa se tornou modelo para outras revoluções nos séculos seguintes, e, como ela, esse tipo revolução consome seus próprios filhos. O Comitê de Segurança foi levado ao seu fim vergonhoso tanto por aqueles que não achavam que Robespierre era radical o suficiente quanto pelos moderados que denunciaram a violência em primeiro lugar. No final, a guilhotina também foi seu destino.
Leia também: É desproporcional o que fizeram com Maurício Souza, afirma Janaina Paschoal
Deputada não aprovou a demissão do jogador de vôlei pelo Minas Tênis Clube
Esquentam a disputa pelo comando da Câmara dos
Deputados e a polêmica jurídica sobre a Lei da Ficha Limpa,
flexibilizada pelo do STF ministro Kassio Nunes Marques
No jargão jornalístico, flores do recesso são os assuntos que tomam
conta do noticiário político quando o Congresso e o Judiciário estão sem
funcionar, geralmente alimentados pelo Executivo, pelos candidatos ao
comando da Câmara e do Senado e pelos ministros de plantão no
Judiciário. São tão frondosas como as flores da primavera, porém, menos
decisivas do ponto de vista do processo político. Entretanto, nesses
tempos bicudos de pandemia do novo coronavírus, com mais de 190 mil
mortos e sem data marcada para o começo da vacinação, estamos diante é
de flores com espinhos.
As principais são a disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, que
a oposição encara como uma espécie de batalha de Stalingrado, para
conter o avanço de Jair Bolsonaro rumo à reeleição à Presidência da
República, e a polêmica jurídica sobre a Lei da Ficha Limpa, cuja
flexibilização, pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio
Nunes Marques, o novo integrante da Corte indicado pelo presidente,
supostamente possibilitaria — entre outras — a candidatura do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto em 2022.
Esse seria o adversário que Bolsonaro gostaria de ter no segundo turno,
para uma espécie de vitória de Waterloo particular. Essas duas disputas,
durante o recesso, podem nos trazer alguma emoção política, ao lado da
polêmica sobre as vacinas contra a covid-19.
Há momentos que catalisam as forças da história e mudam o seu rumo. A
Batalha de Stalingrado, por exemplo, durou um pouco mais de seis meses,
do fim de julho de 1942 até 2 de fevereiro de 1943, tempo suficiente
para mudar os rumos da guerra, ao preço de 1,5 milhão de mortos. Teve
quatro fases distintas: a avassaladora ofensiva alemã; a obstinada
reação russa, ao norte e ao sul, que cercou as tropas alemãs; a
fracassada tentativa de Hitler de socorrer seu exército; e a rendição do
que restou dele, faminto, sem combustível nem munição.
Mesmo com a vantagem numérica, os alemães não conseguiram vencer a
resistência do Exército Vermelho, em razão do conhecimento do terreno,
das condições climáticas, da experiência em batalhas de rua, das táticas
antitanque, da artilharia de barragem e da capacidade logística. O
exército alemão rendeu-se em 2 de fevereiro, com cerca de 91 mil
soldados, entre eles 22 generais. Entretanto, 11 mil alemães decidiram
lutar até a morte, dois mil foram mortos, e os demais foram levados
presos. O resto da história todos conhecem.
Napoleão
Outra batalha decisiva foi a de Waterloo, na Bélgica, que durou menos de
24 horas, envolvendo forças francesas, britânicas e prussianas.
Iniciada a 18 de junho de 1814, a guerra colocou, de um lado, Napoleão
Bonaparte — que já havia sido derrotado na Rússia — e seu exército de 72
mil homens recrutados às pressas, e de outro, o exército aliado de 68
mil homens comandados pelo britânico Arthur Wellesley, duque de
Wellington, composto de unidades britânicas, neerlandesas, belgas e
alemãs, reforçado, mais tarde, pela chegada de 45 mil homens do exército
prussiano.
Napoleão havia fugido da ilha de Elba a 26 de fevereiro de 1815, em
direção ao sul da França, e logo conseguiu apoio popular para fazer
frente a Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia, montando um exército com
125 mil homens e 25 mil cavalos. Marchou para a Bélgica, a fim de
impedir a coalizão dos exércitos inglês e prussiano. Ao alcançar
Charleroi, o exército de Napoleão dividiu-se em dois, com uma parte
seguindo em direção a Bruxelas, para encontrar as tropas de Wellington, e
outra, comandada pelo próprio Napoleão, em direção a Fleuru, contra o
exército prussiano de Gebhard von Blücher. A ideia de Napoleão era
derrotar um de cada vez.
Napoleão venceu os prussianos na chamada Batalha de Ligny. Partiu,
depois, para Waterloo, onde encontrou os ingleses, em 17 de junho, em
solo encharcado, que dificultava o posicionamento dos canhões. Estava
certo de que as forças prussianas não se reagrupariam e chegariam a
tempo para socorrê- los. Seu erro foi dar a tarefa de perseguir os
prussianos em retirada ao marechal Grouchy, “homem medíocre, valente,
íntegro, honrado, confiável, um comandante de cavalaria de valor várias
vezes comprovado, mas um homem de cavalaria e nada mais”, nas palavras
de Stefan Zweig, em Momentos decisivos da humanidade (Record).
Iniciada a batalha, a artilharia inglesa surpreendeu Napoleão, com um
novo armamento: granadas. Mesmo assim, os franceses avançaram e
deixaram Wellington por um fio. Entretanto, o general prussiano Blücher
enganou os franceses. Encarregado de persegui-lo, Grouchy recusou-se a
voltar para Waterloo, apesar dos apelos de seu Estado Maior, que tomara
conhecimento do início da batalha contra Wellington; para não contrariar
as ordens que recebera, continuou em busca das tropas prussianas,
supostamente em retirada. Blücher, porém, flanqueou os franceses e
chegou em socorro de Wellington; as tropas de Grouchy, o disciplinado
marechal, não. A contraordem de Napoleão, pedindo a sua ajuda, chegara
tarde demais.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense
“O encontro do apresentador Luciano Huck com o
ex-ministro da Justiça Sergio Moro mexeu com o tabuleiro político. O
apresentador de tevê se fingia de morto”
“Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem:
não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e, sim, sob aquela com
que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”. Quem
já não leu ou ouviu essa frase na crônica política? É citada com
frequência, literalmente ou não, mas com o mesmo sentido. Está no
segundo parágrafo do O 18 Brumário de Luís Bonaparte, de Karl Marx
(Martin Claret), escrito em Londres, sob encomenda, para um semanário
que seria lançado em Nova York, em 1º de janeiro de 1852, cujo editor,
Joseph Weydemeyer, morreu. O texto acabou publicado numa revista mensal
intitulada Die Revolution e introduzido na Alemanha
semiclandestinamente, antes de virar um livro-reportagem sobre o golpe
de Estado de Napoleão III, em 1851. O título faz alusão ao golpe de 9 de
novembro de 1799, esse, sim, dado por Napoleão Bonaparte. É um clássico
da análise política, que cunhou os conceitos de “bonapartismo”,
“transformismo político” e “cretinismo parlamentar”.
[o animador de auditório não se fingia de morto já que politicamente ele nunca pertenceu ao mundo dos vivos;
quanto ao ex-juiz, ex-ministro, a cada dia sua projeção política mais se apequena, o que se nota com facilidade pelos parceiros que o procuram.]
O presidente Jair Bolsonaro não foge à regra dos grandes personagens
da História que se repetem, citados por Marx naquele texto: depara-se
com circunstâncias que não escolheu e são completamente diferentes
daquelas nas quais se elegeu. É como se a roda da Fortuna tivesse girado
a favor dos seus adversários, zerando a vantagem estratégica que a
conjuntura de 2018 havia lhe proporcionado. Para piorar a situação,
antecipou sua campanha à reeleição em todos os movimentos que fez desde
quando assumiu a Presidência e, agora, com o gênio fora da garrafa, não
tem como pô-lo de volta. Nem bem o primeiro turno das eleições
municipais acabou, [acabou? sem começar?] o quadro eleitoral de 2022 começa a ser desenhado à
sua revelia, agora impulsionado por um fator externo cujo impacto no
Brasil não pode ser subestimado: a vitória do democrata Joe Biden nas
eleições presidenciais dos Estados Unidos, inequívoca, embora o
presidente Donald Trump se recuse a admiti-la e se movimente como quem
deseja criar uma crise institucional para permanecer no poder. [sugerimos ler: Procurador-geral autoriza investigações sobre eleição americana - Correio Braziliense.]
Não é à toa que líderes mundiais como Vladimir Putin, da Rússia; Xi
Jinping, na China; e López Obrador, no México, ainda não enviaram
congratulações ao democrata e aguardem o resultado oficial da disputa,
cuja divulgação Trump procura retardar ao máximo, com seus recursos
judiciais. São líderes políticos que têm grandes contenciosos com os
Estados Unidos e não desejam tornar a vitória de Biden ainda mais
consagradora, fortalecendo-o nas negociações. Nenhum deles, porém, tem
tanta identidade ideológica com Trump como Bolsonaro. Também não se
manifestaram durante o pleito a favor do candidato republicano. O
retardo em reconhecer a vitória de Biden, por lealdade a Trump, está
aprofundando o mal-estar que já existia com o novo presidente dos
Estados Unidos. Além das implicações da vitória dos democratas em
relação à política externa e à questão ambiental no Brasil, já estão
aparecendo suas consequências para a política nacional propriamente
dita, inclusive do ponto de vista eleitoral.
O centro renasce
Por exemplo, o encontro do apresentador Luciano Huck com o ex-ministro
da Justiça Sergio Moro mexeu com o tabuleiro das eleições presidenciais.
O jovem comunicador se fingia de morto e sua candidatura somente
existia no Twitter do ex-deputado Roberto Freire, presidente do
Cidadania. A partir do momento em que se tornou público seu encontro com
Moro e que ambos discutiram o cenário eleitoral de 2022, todos os
possíveis candidatos e seus aliados se mobilizaram. É ingenuidade
acreditar que o encontro em si alterou o cenário político— o prestígio
de ambos estava em declínio nas pesquisas —, [com as devidas vênias ao articulista cabe uma correção temporal: está em declínio, em queda, com forte viés de aceleração.] o que mudou a correlação de
forças foram as novas circunstâncias criadas pela vitória de Biden, com
uma narrativa que não tem sintonia com Bolsonaro, com o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva(PT) nem mesmo com Ciro Gomes (PDT).
O encontro de Huck e Moro sinalizou que o campo liberal-democrático
pode buscar uma convergência e ocupar, novamente, o centro político, mas
isso passa, ainda, por João Doria (PSDB), governador de São Paulo;
Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul; Rodrigo Maia,
presidente da Câmara; Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da
Saúde; e Marina Silva(Rede), ex-ministra. Unificar o centro democrático
não é uma tarefa fácil, nunca foi. Ulysses Guimarães e Tancredo Neves,
no MDB, disputaram a liderança da oposição até a derrota das Diretas Já.
Fernando Henrique Cardoso teve de dobrar Mário Covas, no PSDB, para
consolidar sua aliança com o PFL, de Antônio Carlos Magalhães e Marco
Maciel.
De volta aos programas de tevê com forte cunho social, Huck se
movimenta de forma dissimulada, mas sua permanência na TV Globo tem data
marcada, precisa decidir até meados do próximo ano se é candidato ou
não. Moro enfrenta o sereno na planície, é um candidato encabulado, mas
tem um partido pronto para abrigá-lo, com forte bancada no Senado, o
Podemos. Doria tem as dificuldades de todo político paulista para sair
do Palácio dos Bandeirantes, podendo se reeleger, e arriscar a
Presidência. Mandetta é candidato declarado, enquanto houver pandemia,
terá pista para correr, mas precisa seduzir a cúpula partidária, que
sonha com a candidatura de Huck pela legenda. Eduardo Leite pode ser a
nova cara do PSDB, se Doria não concorrer. Marina Silva sonha em
renascer como Fênix, para viabilizar a Rede. [merece pena o fracasso da tática da ex-ambientalista de governar sem votos - via judicialização.
Marina em abundância de títulos de EX ganha com folga do ex-juiz, ex-ministro; Ela detém: ex-senadora, ex-ambientalista, ex-candidata, ex-evangélica (de uma corrente que defende o aborto)] Reunir todos numa
candidatura é um projeto ambicioso. Além disso, não se deve subestimar a
força da oposição de esquerda, que pode se reagrupar, a partir das
conversas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula (PT) da Silva e Ciro
Gomes (PDT), para chegar ao segundo turno.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense
Na desordem institucional, Bolsonaro sente mais oportunidades do que perigos
Não há dúvidas de que Jair Bolsonaro é um personagem político
transparente. Goste-se ou não, ele não esconde de ninguém o que percebe
como sendo a realidade política à sua volta. O que permite antecipar com
razoável segurança como ele vai proceder.
Cada ser humano tem no fundo da sua alma uma pequena história sobre si
mesmo, e a que Bolsonaro acalenta está bem condensada no vídeo que –
segundo ele – quis compartilhar durante o carnaval apenas com alguns
amigos. É a saga do homem que sobreviveu à facada, graças a um milagre
produzido para que possa levar o povo a algo como uma terra prometida.
Adversários da sua missão são “os políticos de sempre” (texto que
acompanha o tal vídeo). Aqueles que, na percepção que Bolsonaro tem da
realidade, se uniram no Congresso não só para chantagear o governo, mas,
principalmente, no incansável esforço de levar o desprotegido
presidente a cometer erros pelos quais possa ser alvo de impeachment.
Um erro óbvio Bolsonaro tratou de contornar ao dizer que era de natureza
exclusivamente privada o compartilhamento do vídeo conclamando o
público a participar de uma manifestação convocada por seus seguidores –
mas não explicitamente por ele – para atacar o Poder Legislativo.
“Oficialmente”, o chefe do Poder Executivo não está chamando ninguém a
acuar, atacar ou destruir um outro Poder da ordem constitucional
brasileira. [A clareza impõe destacar:
em nenhum momento, em nenhum trecho, os vídeos convidando para a manifestação, ou o compartilhamento efetuado pelo Presidente da República, citam o CONGRESSO NACIONAL (Poder Legislativo) ou o STF (Poder Judiciário), mencionado apenas acontecimentos do governo do Presidente Bolsonaro, e com o próprio, e que justificam o ato público de apoio ao Chefe do Poder Executivo.
Qualquer interpretação é fruto do entendimento do intérprete de que a atuação dos Poderes Judiciário e Legislativo justificam uma manifestação contra os dois poderes.]
Mas, por ser Bolsonaro tão transparente, ninguém no mundo político
brasileiro acredita que o presidente pense ou sinta diferente do que o
vídeo expõe. Nesse ponto, a pergunta é se funciona a tática política da
convocação das ruas para se libertar da “incessante chantagem”, isto é,
do Congresso. Intuitivo como é e, ao mesmo tempo, disperso, errático e
desconfiado de qualquer um fora do mais íntimo círculo familiar,
Bolsonaro talvez tenha “sentido” que, em 14 meses de governo, o
Legislativo de fato o cercou – enquanto sua dependência do Judiciário só
aumentou por variadas razões, algumas familiares.
De novo, por ser tão transparente, Bolsonaro demonstra que não age
seguindo um rumo estratégico (a não ser o de ganhar a reeleição) e que
tanto suas convicções no campo da economia quanto sua postura no da
política obedecem ao que ele percebe como momento mais imediato. É um
tipo de conduta que funcionou no curto espaço de tempo de uma campanha
eleitoral.
Desde Sarney, todos os chefes do Executivo brasileiro conheciam muito
bem (a exceção é Dilma) as entranhas do Legislativo sem a menor ilusão
sobre sua composição nem como os interesses mais diversos (lícitos e
ilícitos) ali se organizam. Mas só Bolsonaro lida com o sistema de
governo que vem desde 88, numa era marcada pelo descrédito de parte
relevante da chamada “mídia tradicional”, dentro da grande disrupção
política e o forte abalo de todas as instituições.
É o ponto no qual a percepção da realidade transmitida pelo transparente
Bolsonaro evidencia uma disposição ao risco que não é resultado de
cálculo ou frio raciocínio político. Esse apetite pelo risco vem em boa
parte da noção de que milhões de seguidores em mídias sociais possam ser
manobrados em efetivo apoio nas ruas contra instituições (como
Congresso e STF) que os sentidos do presidente identificam como
adversárias. E – este é o aspecto central – que a bagunça institucional
daí resultante traria mais oportunidades do que perigos.
A área militar, tão cara a Bolsonaro, tradicionalmente inspira o
vocabulário da política. A Napoleão Bonaparte, um dos maiores gênios
nesse campo, atribui-se uma frase muito citada. Indagado como fazia para
vencer batalhas, ele teria dito: “On s’engage et puis on voit” – “a
gente se engaja (na luta) e depois vê”. Ou, na moderna linguagem militar
no Planalto: “Foda-se”.
Ao longo da história da humanidade, nos
milhares de conflitos que ocorreram sempre lembramos do nome do Grande
General que venceu uma batalha decisiva. Os perdedores ficam esquecidos na poeira do tempo. Porém, existem aqueles raros generais que mesmo sendo derrotados no
campo de batalha conseguiram retornar e se tornar figuras marcantes na
história militar Universal.
Um deles é o russo Marechal Mikhail Kutuzov, que foi derrotado por
Napoleão Bonaparte na Batalha de Borodino (07SET1812), nas cercanias de
Moscou.
Mesmo com uma derrota, o Czar Alexandre I manteve o velho Marechal
Kutuzov (67 anos) no comando. A vitória em Borodino atrasou as Forças de
Napoleão e impediu uma vitória decisiva sobre as forças russas. O que
veio a levar à destruição do Grande Armée.
Esta regressão histórica é para comentar a derrota e vitória de um general no momento recente da República Brasileira.
Fazendo uso de sua experiência única no campo de batalha real e
profundamente comprometido com o Governo Bolsonaro, ao qual ocupava o
estratégico cargo de Secretário de Governo, ele fora derrotado
sucessivamente em suas lutas:
- Alertar para um Ministro-Chefe da Casa Civil não-confiável; - Alertar para intrigas palacianas e golpes como a falsificação de mensagens;
- Alertar para a ideologização que levaria a um impasse estratégico do governo;
- Alertar para influência de diplomatas estrangeiros na Relações Internacionais e na Política Interna do país;
- Alertar para a influência nefasta dos “ZEROS”;
- Alertar para o risco de criar uma imprensa militante “amiga”;
- Alertar para o alinhamento estratégico "incondicional" do Brasil com
outras nações sem que sejam observados também os interesses brasileiros;
- Alertar aos militares dos riscos que o governo e as Forças sofreriam;
- Alertar para a falta de experiência de um jovem que fazia o
assessoramento de alto nível do Presidente para assuntos internacionais;
- Alertar para interesses “outros” nas áreas de publicidade e comunicação do governo, e,
- Muitos outros alertas...
Assim como a campanha de Napoleão, que cruzou o Rio Nemen, em
24JUN1812, em direção a Moscou, e em 14DEZ1812 cruzava novamente, sob
um frio de -38 °C, com o que restou do “Le Grande Armeé” o mesmo rio
Nemen , com apenas 10 mil homens em estado lastimável, incluindo um
Bonaparte perplexo.
O Le Grand Armée foi vencido pelo derrotado Marechal Kutuzov. O Gen Santos Cruz, vê seis meses após o seu afastamento, TODOS os seus alertas se tornarem realidade. Sua visão estratégica de um verdadeiro estadista lhe custaram derrotas, e ao final mostraram que ele fora vitorioso na sua missão enquanto Secretário de Governo.
Não cabe e é inconcebível a um grande General abandonar suas convicções
e ideais se neles acredita como o melhor para a missão que lhe foi
confiada e ao país. Como disse um Comandante Militar brasileiro,o
General Santos Cruz foi um dos mais brilhantes oficiais-generais da
história do Brasil.
Bravo General-de-Divisão R1 Carlos Alberto dos Santos Cruz.
A ida de Jungman para o Ministério
da Segurança Pública é uma solução natural, tipo“prata da casa”.
Entretanto, não é natural um general como ministro da Defesa, pasta
criada para o poder civilNo livro O 18 Brumário de Luís Bonaparte, já citado aqui a propósito
da conjuntura eleitoral que vivemos, Marx se inspira no golpe de estado
de Napoleão Bonaparte, em 9 de novembro de 1799, para descrever o golpe
de seu sobrinho Luís Napoleão, 50 anos depois. Presidente em final de
mandato, em 2 de dezembro de 1851 dissolveu a Assembleia e convocou um
plebiscito que restituiu o Império; um ano depois se proclamou Napoleão
III. O livro foi escrito entre dezembro de 1851 a março de 1852, em
Londres, com o propósito de mostrar as circunstâncias nas quais
“Napoleão, o pequeno”, como Victor Hugo o chamava, pôde desempenhar o
papel de herói e tomar o poder.
Luís Bonaparte foi um reformador, admirador da modernidade britânica,
e promoveu considerável desenvolvimento industrial, econômico e
financeiro, mas seu maior legado foi a reforma urbana de Paris, sob
comando do prefeito Georges-Eugene Hausmann, um dos símbolos da
modernidade.
Ao contrário do que se lê em todo canto, o
deputado perdeu relevância. Sim, Temer tentará voltar às boas com o
rapaz porque, afinal, é do seu temperamento
Chega a ser divertido, diga-se, a
dedicação com que a assessoria e a marquetagem de Rodrigo Maia consegue
convencer os jornalistasde que o presidente Michel Temer saiu dessa
votação ainda mais dependente do deputado. Ele seria, ora vejam, até
mesmo dono da agenda de modernização do país. É mesmo? Qual foi, além de
nenhum, o seu grande esforço em favor da reforma política, por exemplo? Acovardou-se ainda mais do que os outros. A reforma da Previdência é
uma pauta que ele acabou comprando nem faz tanto tempo, até porque
chegou ao cargo com o apoio das esquerdas, que veem nele um aliado
circunstancial ao menos.
Napoleão Bonaparte! Eis a imagem que Rodrigo Maia deve enxergar no espelho. Em comum com o imperador, só mesmo o ar entediado
O ridículo chega a tal ponto que os seus
propagandistas na imprensa se esquecem de que o Parlamento brasileiro é
bicameral. Tem-se a impressão de que o valente Maia é também presidente
do Senado. Assim, a reforma da Previdência que ele conseguisse emplacar
na Câmara, por exemplo, não encontraria resistência nenhuma na outra
Casa. É estupefaciente.
Ao contrário do que se lê em todo canto,
o deputado perdeu relevância. Sim, Temer tentará voltar às boas com o
rapaz porque, afinal, é do seu temperamento. E, se Maia decidir sabotar
os projetos do governo, tem-se uma dificuldade a mais. Mas nada além
disso. Até porque o valente parlamentar estará sendo visto com olhos bem
distintos agora.
Antes, os incautos enxergavam nele uma
alternativa de poder. Mesmo quando se comportava como um sabotador, isso
não ficava muito claro. Daqui para a frente, este senhor vai ter de
prestar contas a seu eleitorado, bastante minguado em 2014: pouco mais
de 53 mil votos. Simpatia das esquerdas, só mesmo das parlamentares. O
eleitorado conservador, que é o seu, vai cobrar dele que colabore com as
reformas que precisam ser feitas, não o contrário.
Ao não ter mais a cadeira de Temer como
opção, Rodrigo Maia volta à sua real estatura política. Bem menor do que
o seu ego inflado sugere e compatível com o seu permanente ar de
infelicidade, der tédio, como se quisesse sempre estar em outro lugar.