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sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A estridência do silêncio - Augusto Nunes

Revista Oeste

Sem sair de casa, o Brasil decente mostrou no Sete de Setembro que a rua lhe pertence

  

  Janja e Lula durante o desfile de Sete de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF, 7/9/2023) | Foto: Ricardo Stuckert / PR [está faltando alguma coisa ??? lembramos: FALTA O POVO]
 

Em 1982, o presidente João Figueiredo anunciou a criação de um Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários e instalou o general Danilo Venturini na sala no terceiro andar do Palácio do Planalto reservada ao chefe desse filhote de mamute administrativo. 
Intrigado, o ex-presidente Ernesto Geisel quis saber de um jornalista com quem conversava frequentemente quais seriam as atribuições do novo ministro. Ouviu em resposta que Figueiredo, por gostar de aconselhar-se com Venturini em momentos especialmente complicados, resolveu ter o consultor preferido a poucos metros de distância. “Entendi”, disse Geisel. “O Venturini vai assumir a chefia do Ministério para Ficar Perto de Mim.” Perfeito. Ir direto ao ponto é isso aí. 

 

 
7 de setembro de 2022, o maior da história! Nós nunca desistiremos do Brasil! 
 
 
O consórcio da imprensa conseguiu enxergar uma “reforma ministerial” nos arranjos concebidos por Lula e Arthur Lira para convencer parlamentares do centrão a aprovar sem favores adicionais projetos fabricados pelo governo. Quem vê as coisas são entendeu que, com a substituição da ex-jogadora de vôlei Ana Moser pelo deputado André Fufuca, recordista maranhense na modalidade não olímpica salto sobre o Orçamento, o nome certo do Ministério do Esporte seria Ministério para Alugar o PP. 
 
O Ministério de Portos e Aeroportos saiu das mãos de Márcio França e agora é chefiado pelo deputado Sílvio Costa Filho, especialista em pousos e decolagens nas imediações de cofres públicos, certo? Por que não rebatizar essa fatia do bolo federal de Ministério para Arrendar Republicanos?

Na live deste 3 de setembro, Lula avisou que estava em trabalho de parto o caçula do primeiro escalão. “Vamos criar o ministério da pequena e média empresa, das cooperativas e dos empreendedores individuais, para que tenha um ministério específico para cuidar dessa gente que precisa de crédito e de oportunidade”, explicou o palanque ambulante

Dois dias depois, nasceu o Ministério do Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa. Podem chamá-lo de Ministério para Amansar o PSB que ele atende. O 38º galho do mais frondoso primeiro escalão da história estava desde janeiro no quintal do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, comandado pelo tucano convertido em socialista Geraldo Alckmin. Foi podado e mudou de árvore para que nele se pendurasse o companheiro despejado da gerência de portos e aeroportos. Márcio França disse a Lula que só não se sentirá rebaixado se o novo ministério for vitaminado pela incorporação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e alguma diretoria com microcrédito do BNDES. O presidente ficou de pensar.

Cretinice é desdenhar do povo, ensinaram no Sete de Setembro as ruas desertas, o desaparecimento dos brasileiros agredidos pela ignorância arrogante e, sobretudo, o estridente silêncio nacional

Em democracias adultas, políticos profissionais aprendem ainda no berçário que governar é escolher. Escolher prioridades, escolher caminhos, sobretudo escolher pessoas. 
Bons governantes recorrem aos critérios da meritocracia para alojar nos lugares certos o homem certo ou a mulher certa. 
Nestes trêfegos trópicos, um estadista de galinheiro transformou o primeiro escalão num balaio em que se amontoam companheiros desempregados pelas urnas, a irmã de Marielle Franco cujo currículo tem como único item ser irmã da vereadora assassinada, um zero com louvor em economia no comando do Ministério da Economia, uma ex-adversária que se dispensa de planejar o que fará porque o futuro a Deus pertence, um caso de polícia que ao ser nomeado já era menor que a própria capivara, um comunista que precisou de poucos meses no Ministério da Justiça e da Segurança Pública para virar Rei Momo do Carnaval no Clube do Cafajestes, perfeitas cavalgaduras e assombrosas nulidades, fora o resto.
 
Mas as coisas nunca estiveram tão bem, jurou o presidente no pronunciamento transmitido para todo o país na noite de 6 de setembro. 
O Brasil Maravilha de Lula só não chegou à perfeição porque teve de dedicar muitos dias ao esforço de restaurar o respeito do mundo inteiro pela nação que voltou a presidir. 
Faltou-lhe tempo para prender Jair Bolsonaro, ferrar Sergio Moro com a cassação do mandato de senador, induzir o Supremo a adotar o voto secreto e cuidar de meia dúzia de relevantes miudezas
Fora isso, Lula só vê motivos para festas. O PIB cresceu, a inflação caiu, os pobres regressaram à classe média, o desemprego está perto de zero, sobra comida para todos, os inadimplentes pagaram o que deviam, foi restabelecida a harmonia entre os Três Poderes e a praga do golpismo foi erradicada pelo Judiciário, e o casamento com Janja esbanja solidez. 
Pelo que disse o único deus da seita, se melhorar, estraga. 
 
A discurseira reiterou que, aos olhos do poderoso patife, o Brasil é habitado por um vasto aglomerado de idiotas. 
Cretinice é desdenhar do povo, ensinaram no Sete de Setembro as ruas desertas, o desaparecimento dos brasileiros agredidos pela ignorância arrogante e, sobretudo, o estridente silêncio nacional. 
 Até os napoleões de hospício entenderam o recado: o Brasil decente não comemora o Dia da Independência sob um governo infestado de liberticidas. 
Não houve plateia nos festejos organizados por quem sonha com o assassinato das liberdades democráticas.  
Nem haverá, avisam os vídeos que eternizaram o mais constrangedor momento do Sete de Setembro em Brasília: de pé no carro presidencial, o primeiro casal acena para ninguém.

Milhões de brasileiros ficaram longe da festa porque quiseram. Sem sair de casa, o país que presta mostrou que as ruas, praças e avenidas lhe pertencem.

Leia também O promotor deveria ter ouvido o juiz”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

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