Revista Oeste
Sem sair de casa, o Brasil decente mostrou no Sete de Setembro que a rua lhe pertence
Janja
e Lula durante o desfile de Sete de Setembro, na Esplanada dos
Ministérios, em Brasília (DF, 7/9/2023) | Foto: Ricardo Stuckert / PR [está faltando alguma coisa ??? lembramos: FALTA O POVO]
Em 1982, o presidente João Figueiredo anunciou a criação de
um Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários e instalou o general
Danilo Venturini na sala no terceiro andar do Palácio do Planalto reservada ao
chefe desse filhote de mamute administrativo.
Intrigado, o ex-presidente
Ernesto Geisel quis saber de um jornalista com quem conversava frequentemente
quais seriam as atribuições do novo ministro. Ouviu em resposta que Figueiredo,
por gostar de aconselhar-se com Venturini em momentos especialmente
complicados, resolveu ter o consultor preferido a poucos metros de distância.
“Entendi”, disse Geisel. “O Venturini vai assumir a chefia do Ministério para
Ficar Perto de Mim.” Perfeito. Ir direto ao ponto é isso aí.
7 de setembro de 2022, o maior da história! Nós nunca desistiremos do Brasil!
O consórcio da imprensa conseguiu enxergar uma “reforma ministerial” nos
arranjos concebidos por Lula e Arthur Lira para convencer parlamentares do
centrão a aprovar sem favores adicionais projetos fabricados pelo governo. Quem
vê as coisas são entendeu que, com a substituição da ex-jogadora de vôlei Ana
Moser pelo deputado André Fufuca, recordista maranhense na modalidade não
olímpica salto sobre o Orçamento, o nome certo do Ministério do Esporte seria
Ministério para Alugar o PP.
O Ministério de Portos e Aeroportos saiu das mãos
de Márcio França e agora é chefiado pelo deputado Sílvio Costa Filho,
especialista em pousos e decolagens nas imediações de cofres públicos, certo?
Por que não rebatizar essa fatia do bolo federal de Ministério para Arrendar
Republicanos?
Na live deste 3 de setembro, Lula avisou que estava em trabalho de parto o
caçula do primeiro escalão. “Vamos criar o ministério da pequena e média
empresa, das cooperativas e dos empreendedores individuais, para que tenha um
ministério específico para cuidar dessa gente que precisa de crédito e de
oportunidade”, explicou o palanque ambulante.
Dois dias depois, nasceu o
Ministério do Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa. Podem chamá-lo de
Ministério para Amansar o PSB que ele atende. O 38º galho do mais frondoso
primeiro escalão da história estava desde janeiro no quintal do Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços, comandado pelo tucano convertido em
socialista Geraldo Alckmin. Foi podado e mudou de árvore para que nele se
pendurasse o companheiro despejado da gerência de portos e aeroportos. Márcio
França disse a Lula que só não se sentirá rebaixado se o novo ministério for
vitaminado pela incorporação da Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial e alguma diretoria com microcrédito do BNDES. O presidente ficou de
pensar.
Cretinice é desdenhar do povo, ensinaram no Sete de Setembro as ruas desertas,
o desaparecimento dos brasileiros agredidos pela ignorância arrogante e,
sobretudo, o estridente silêncio nacional
Em democracias adultas, políticos profissionais aprendem ainda no berçário que
governar é escolher. Escolher prioridades, escolher caminhos, sobretudo
escolher pessoas.
Bons governantes recorrem aos critérios da meritocracia para
alojar nos lugares certos o homem certo ou a mulher certa.
Nestes trêfegos
trópicos, um estadista de galinheiro transformou o primeiro escalão num balaio
em que se amontoam companheiros desempregados pelas urnas, a irmã de Marielle
Franco cujo currículo tem como único item ser irmã da vereadora assassinada, um
zero com louvor em economia no comando do Ministério da Economia, uma
ex-adversária que se dispensa de planejar o que fará porque o futuro a Deus
pertence, um caso de polícia que ao ser nomeado já era menor que a própria
capivara, um comunista que precisou de poucos meses no Ministério da Justiça e
da Segurança Pública para virar Rei Momo do Carnaval no Clube do Cafajestes,
perfeitas cavalgaduras e assombrosas nulidades, fora o resto.
Mas as coisas nunca estiveram tão bem, jurou o presidente no pronunciamento transmitido
para todo o país na noite de 6 de setembro.
O Brasil Maravilha de Lula só não
chegou à perfeição porque teve de dedicar muitos dias ao esforço de restaurar o
respeito do mundo inteiro pela nação que voltou a presidir.
Faltou-lhe tempo
para prender Jair Bolsonaro, ferrar Sergio Moro com a cassação do mandato de
senador, induzir o Supremo a adotar o voto secreto e cuidar de meia dúzia de
relevantes miudezas.
Fora isso, Lula só vê motivos para festas. O PIB cresceu,
a inflação caiu, os pobres regressaram à classe média, o desemprego está perto
de zero, sobra comida para todos, os inadimplentes pagaram o que deviam, foi
restabelecida a harmonia entre os Três Poderes e a praga do golpismo foi
erradicada pelo Judiciário, e o casamento com Janja esbanja solidez.
Pelo que
disse o único deus da seita, se melhorar, estraga.
A discurseira reiterou que, aos olhos do poderoso patife, o Brasil é habitado
por um vasto aglomerado de idiotas.
Cretinice é desdenhar do povo, ensinaram no
Sete de Setembro as ruas desertas, o desaparecimento dos brasileiros agredidos
pela ignorância arrogante e, sobretudo, o estridente silêncio nacional.
Até os
napoleões de hospício entenderam o recado: o Brasil decente não comemora o Dia
da Independência sob um governo infestado de liberticidas.
Não houve plateia
nos festejos organizados por quem sonha com o assassinato das liberdades
democráticas.
Nem haverá, avisam os vídeos que eternizaram o mais constrangedor
momento do Sete de Setembro em Brasília: de pé no carro presidencial, o primeiro
casal acena para ninguém.
Milhões de brasileiros ficaram longe da festa porque quiseram. Sem sair de
casa, o país que presta mostrou que as ruas, praças e avenidas lhe pertencem.
Leia também “O promotor deveria ter ouvido o
juiz”
Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste
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