Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Búzios. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Búzios. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Megaleilão termina sem disputa: governo leva R$ 70 bilhões dos R$ 106,5 bi - Petrobras é a única vencedora, com parceiros chineses

Petrobras é a única vencedora. Em Búzios, estatal venceu em parceria com chineses (CNODC, com 5%, CNOOC, com 5%), e levou Itapu sozinha, sem ágio. Duas áreas não tiveram ofertas 

O maior leilão de petróleo do mundo, realizado na manhã desta quarta-feira (6/11), terminou sem qualquer disputa. A Petrobras foi a única vencedora da cessão onerosa do pré-sal. A estatal arrematou as duas áreas nas quais havia exercido direito de preferência: Búzios e Itapu. As demais — Atapu e Sépia — não tiveram ofertas. 

Assim, dos R$ 106,5 bilhões esperados em bônus de assinatura pelas quatro áreas ofertadas, o governo levou apenas R$ 70 bilhões, sem qualquer ágio no óleo lucro, critério para definir o vencedor. Como terá de ressarcir a Petrobras em R$ 34,1 bilhões, sobram para dividir entre União, estados e municípios menos de R$ 36 bilhões. [apesar de blocos ficarem sem oferta o mega leilão foi o MAIOR LEILÃO DE BLOCOS DE  PETRÓLEO DO MUNDO.]
A primeira área licitada foi a da Búzios, com bônus fixo de R$ 68,2 bilhões e mínimo de óleo lucro de 23,24%. Os chineses apresentaram oferta em parceria com a Petrobras, sendo a brasileira com 90%, a CNODC, com 5%, e a CNOOC, com 5%. Os demais participantes apresentaram ofertas nulas. O consórcio da estatal arrematou o maior bloco do pré-sal da cessão onerosa, sem qualquer ágio, e óleo lucro de 23,24%.

A segunda área licitada foi a de Itapu, na Bacia de Santos, com bônus fixo de R$ 1,76 bilhão e mínimo de óleo lucro de 18,15%. A Petrobras, que havia exercido direito de preferência, foi a única a apresentar oferta. A estatal não pagou ágio e ofereceu exatamente 18,15% de óleo lucro, vencendo a área Itapu.

A terceira área licitada foi a de Sépia, com bônus fixo de R$ 22,9 bilhões e mínimo de 27,88% de óleo lucro, e não houve oferta válida. Atapu, a última área a ser ofertada, com bônus fixo de R$ 13,7 bilhões e mínimo de óleo lucro de 26,23%, também não teve interessados.

Dos especialistas ouvidos pelo Correio às vésperas do leilão, o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, foi o mais preciso. Ele apostou que não haveria disputa e que o governo iria levar o excedente mínimo de óleo lucro, o que acabou ocorrendo. Pires chegou a afirmar: “Acho até que não saem os quatro”. O que se confirmou na manhã desta quarta-feira.

Segundo ele, o que ocorreu pôde ser previsto porque o megaleilão envolvia cifras bilionárias. “Além do bônus ser muito alto, ainda há o risco do ressarcimento à Petrobras e os investimentos necessários. O valor é tão alto que equivale a comprar uma petroleira”, alertou Pires.

Pagamento
Como não houve ágio, o bônus de assinatura terá de ser pago integralmente até 27 de dezembro de 2019. Parte da arrecadação com o leilão será utilizado para o pagamento à Petrobras decorrente da revisão do contrato de cessão onerosa. 

Em 2010, a Petrobras pagou à União US$ 42,5 bilhões. O próprio contrato previa, no entanto, revisão desse valor após a declaração de comercialidade dos campos localizados na área, o que ocorreu entre dezembro de 2013 e dezembro de 2014. Com base nos novos cálculos previstos no contrato, a União deveria ressarcir a Petrobras em US$ 9 bilhões. Na sexta-feira passada, foi assinado aditivo, confirmando a indenização em R$ 34,1 bilhões. 

O pagamento à Petrobras será realizado na mesma data de ingresso do bônus do leilão do excedente da cessão onerosa, o que está previsto para ocorrer até 27 de dezembro deste ano. Dessa forma, dos R$ 70 bilhões arrecadados com o leilão, sobram para dividir entre União, estados e municípios menos de R$ 36 bilhões.

 Correio Braziliense


domingo, 17 de julho de 2016

Nem neta de Garrincha escapa do medo na Baixada - Eleições 2016: execução de políticos alarma a Baixada Fluminense

Parente do craque das pernas tortas quer ser vereadora para fazer museu em homenagem ao avô

Para os novatos no mundo da política, os casos recentes de assassinatos de pré-candidatos na Baixada têm sido motivo de medo. É o caso de Sandra Garrincha, de 43 anos, neta do craque das pernas tortas. Em 2014, ela tentou a eleição de deputada federal, mas desistiu por ter poucos recursos para a campanha. Este ano, vem mais forte, em busca de uma vaga na Câmara dos Vereadores de Magé. Mas admite que a violência é um obstáculo que amedronta: — Agora, quando acontece algum caso de morte, a gente já pensa logo: “Será que foi mais um pré-candidato?”. Fico preocupada, mas não penso em desistir.


 Sandra tenta vaga na Câmara pelo PMB - Ruben Berta / Agência O Globo

Sandra vai concorrer pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB). E sua principal bandeira será a construção de um museu em homenagem ao avô, na casa onde ela mora atualmente, e que já pertenceu a Garrincha, no distrito de Pau Grande. Ela conta que recebe diversos turistas do exterior, mas falta infraestrutura no espaço para atender melhor aos visitantes.  — Teve um australiano que gostou tanto daqui, que pediu para passar um mês na minha casa. Há pouco tempo, recebi escoceses também, que vieram conhecer a terra do Garrincha. Se tivéssemos um museu de verdade, tenho certeza que se tornaria grande atração.

Eleições 2016: execução de políticos alarma a Baixada Fluminense - Onda de crimes faz Ministério Público pedir a presença das Forças Armadas

Uma mistura entre assassinatos e política na Baixada Fluminense, Região Metropolitana do Rio, vem preocupando autoridades envolvidas no combate ao crime e na organização das eleições municipais. A Polícia Civil investiga a participação de políticos, traficantes e milicianos no homicídio de dois vereadores e quatro pré-candidatos da área nos últimos oito meses. Investigadores descartam uma razão comum para os crimes, mas apuram se disputas territoriais, rachas em grupos criminosos e motivações políticas estão por trás das mortes.
A Procuradoria Regional Eleitoral pediu a presença das Forças Armadas durante a campanha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidirá se envia o pedido ao Ministério da Defesa. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a possível conotação eleitoral nos crimes. — É uma oportunidade de aproveitar que as Forças Armadas já estarão no Rio para a Olimpíada. O que não pode acontecer é o direito ao voto ser restringido — diz o procurador regional eleitoral do Rio, Sidney Madruga.

A juíza Daniela Assumpção, que atua na 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias e foi responsável por fiscalizar a propaganda eleitoral em 2014, afirma que a situação é “muito preocupante”.  — Esses casos de assassinatos aumentam muito a insegurança da população. Como fica o cidadão na hora do voto depois que vê uma liderança local ligada a uma milícia ser morta na porta de casa, à luz do dia? — questiona.

Sérgio da Conceição de Almeida Júnior, o Berém do Pilar, foi executado ao chegar em casa, em Caxias, com tiros de fuzil. Filiado ao PSL, seria candidato e vereador em outubro e, segundo a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), era ligado à milícia. Nas redes sociais, aparecia como benfeitor: dava presentes às crianças e promovia eventos. 

Depois da morte, um de seus admiradores fez um questionamento: “Pronto, ondas de assaltos nas ruas do bairro, início de uma era sem lei. Antes tínhamos alguém que zelava pela comunidade e nos ajudava bastante. Espero que as autoridades tomem providências por nossa comunidade, porque agora será bem mais difícil”.

A Polícia Civil apura a conexão entre as mortes de Berém e Leandro da Silva Lopes, o Leandrinho de Xerém, também apontado como integrante de milícia. A investigação trabalha com as hipóteses de que os crimes tenham relação com guerras entre grupos criminosos e disputas de territórios em virtude das prováveis candidaturas — Leandrinho era filiado ao PSDB e pretendia ser vereador. Outra execução em Caxias, a de Denivaldo Silva, também é investigada, já que os três se conheciam e há a suspeita de que pertenciam ao mesmo grupo. Nesse caso, o componente político está descartado: Denivaldo não tinha filiação partidária, e familiares negaram que tivesse intenção de se candidatar. — São casos de execução sumária, com utilização de armas de uso restrito e do mesmo calibre — diz o delegado Giniton Lages, titular da DHBF, frisando que nem todos os crimes na Baixada estão conectados: — Não há um matador em série atuando contra os políticos.

A lista de homicídios inclui dois líderes comunitários que se candidatariam a vereador. Anderson Gomes Vieira, o Anderson Soró, morto em Nova Iguaçu, e Aga Lopes Pinheiro, assassinada em Magé. Nesses casos, a suspeita é que o tráfico, incomodado com a liderança das vítimas, seja responsável pelas mortes. Filho de Soró, o adolescente de 15 anos não entende o que aconteceu naquela manhã em que o pai chegava para trabalhar.
— Meu pai não tinha inimigos — afirma.

A polícia também apura se uma questão de política local levou à morte do vereador de Seropédica Luciano Nascimento Batista (PCdoB), o Luciano DJ. Ligado à milícia, tinha uma relação conturbada com integrantes do Executivo. Em outros casos, a polícia descartou a hipótese de crime político: o ex-vereador e pré-candidato Darlei Gonçalves Braga foi vítima de um crime passional em Paracambi; Nelson Gomes de Souza, o Nelson Lilinho, pré-candidato a vereador pelo PMN, foi assassinado numa briga de trânsito em São João de Meriti; Manoel Primo Lisboa, morto em Nova Iguaçu, não era filiado a partido; já o vereador de Paracambi Marco Aurélio Lopes (PP), policial militar, foi morto por traficantes da área onde morava.

VIÚVA TEME QUE MORTE VIRE SÓ ESTATÍSTICA
Eram 21h30m do dia 13 de janeiro quando a universitária Thais Gerpe ligou para o celular do marido, o vereador Geraldo Cardoso Gerpe (PSB), o Geraldão. “Vem porque eu comprei aquele macarrão que você gosta”, disse. Cinco minutos depois, ela voltou a ligar. Geraldo não atendeu mais. Foi assassinado com dois tiros, quando entrava no carro, no estacionamento da Câmara Municipal de Magé. Não havia seguranças no local ou câmeras internas que pudessem ter registrado as imagens do crime. O portão do estacionamento estava aberto, e as luzes, apagadas. Thais ainda não teve notícias sobre a autoria do crime:
— Infelizmente, acho que virou estatística. 

O vereador havia sido secretário de Ordem Pública na gestão do prefeito Nestor Vidal (PMDB), mas voltou à Câmara e passou a investigar o ex-aliado. O objetivo da comissão era apurar irregularidades na folha de pagamento, ligadas a funcionários fantasmas. Vidal foi cassado em abril, acusado de fraudar um contrato com uma clínica da qual ele tinha sido sócio. A DHBF suspeita que Geraldão, com passagem na polícia por estelionato, tenha recebido propina durante as investigações e apura a participação de políticos locais no crime. Quando foi morto, o vereador se preparava para mais uma campanha. Thais queria que ele seguisse na política, mas o marido tinha em mente que, se fosse eleito, aquele seria seu último mandato: — Ele queria montar um restaurante e uma pousada em Búzios. Adorava aquela cidade.


Fonte: O Globo

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Saúde!



Vivemos, na área de Saúde, uma septicemia cultivada pela incompetência 

Quando brindamos, o primeiro voto é “saúde!” – e não por acaso. Só depois vem “paz, amor”. Sem saúde, o resto não é possível. Por que, então, o Brasil é tão cruel com seus doentes? Crises na Saúde não são produzidas de um dia para o outro. O caos nos hospitais do Estado do Rio de Janeiro é apenas a vitrine de um sistema falido e desumano, e o governador Pezão é um dos culpados, não o único.

O Estado brasileiro nunca deu assistência médica digna à massa da população. Jamais transformou a Saúde em prioridade. No Brasil profundo, não é novidade a falta de médicos, remédios, leitos e equipamentos. O Rio de Janeiro tem a faculdade de jogar holofote sobre mazelas nacionais – ainda mais agora, antes das Olimpíadas. Um gabinete de crise é criado, a prefeitura adota hospitais estatais, como se a escassez fosse inesperada. 

Não é. Vivemos, na Saúde, uma septicemia cultivada pela incompetência.
Na véspera do Natal, Pezão anunciou a dívida impagável com fornecedores na Saúde, o fechamento de hospitais e de UPAs. A ironia já está no nome: Unidades de Pronto Atendimento. Fora raras exceções, que se dane o doente de baixa renda. O governador do Rio põe a culpa na queda da arrecadação do ICMS, na queda dos royalties de petróleo. Mas isso não aconteceu de repente. Faltou preparo ao governador do Rio para escolher onde gastar na crise? [mesmo com a falta de dinheiro para a saúde o irresponsável Pezão, governador do Rio, vai investir R$ 150 MI em publicidade.]

Os governos federal, estaduais e municipais empurram com a barriga, há mais tempo do que nossa memória alcança, os péssimos índices de desenvolvimento humano no Brasil. E aí se incluem também educação, saneamento e transporte. A negligência se explica. Os políticos não usam hospital público, escola pública e transporte público. Eles enriquecem muito no poder. A vida real passa ao largo de quem manda.

O PT, em 13 anos de populismo amparado pelo PMDB, nada fez para mudar o caráter do país. Nos indicadores sociais, somos um país subdesenvolvido. Não deveria ser assim numa economia que se gabava, até pouco tempo atrás, de ser a sétima do mundo.  Vivi um dia banal e deprimente no hospital municipal Rodolpho Perissé, em Búzios, o balneário mais chique e badalado ao norte da cidade do Rio de Janeiro. Chamo o incidente de banal porque nada de grave aconteceu.

Não foi nada remotamente parecido com o drama da aposentada Lúcia Caldas, que perdeu a mãe de 79 anos no dia 30 de dezembro no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, no Rio de Janeiro. A mãe de Lúcia ficou mais de um mês internada com fratura no fêmur. Não foi operada por falta de uma prótese. Contraiu uma pneumonia e morreu no hospital.

Cheguei ao hospital de Búzios para acompanhar meu filho, com uma dor que parecia vir do apêndice. Olhei a antessala. Uma multidão triste. Crianças, velhos, trabalhadores humildes. Quem recebe os doentes num hospital público brasileiro, na recepção ou na triagem, olha para o enfermo e seus parentes como se fôssemos adversários. Um incômodo. Especialmente perto do Natal e do Ano-Novo. Não havia sinal de celular ou de internet, estávamos isolados do mundo exterior, era impossível falar com parente ou médico de fora.

Vi um homem chegar amparado pelo irmão, todo quebrado, não havia cadeira de rodas para acomodá-lo. Vi um pai chegar aos gritos com a filha vomitando nos braços: Sou evangélico, mas juro que vou derrubar essa porta se não atenderem minha filha agora”.
O vômito empesteou o ambiente calorento, sem ar-condicionado. As pessoas imploravam para que fosse limpo. Temiam que alguém escorregasse. E não aparecia nenhum pano para limpar. Até que surgiu um desses triângulos amarelos que dizia: “Cuidado. Caution. Piso molhado. Wet floor”. O desenho era de um boneco escorregando. No vômito?

Vi uma mulher com o bebê febril, apertando em vão a campainha do laboratório. Busquei ajuda para ela. Uma enfermeira mal-humorada passou, me olhou com tédio e disse: “Não trabalho no laboratório”. A mãe do bebê me agradeceu a atenção, com os olhos vazios, sem entender que tinha direitos. Ela provavelmente se acostumou a ser maltratada.

Doentes em nossos hospitais públicos são como vítimas de um iminente naufrágio. Dependendo da personalidade, disputam lugar ou se ajudam, organizam filas, zanzam perdidos pelos corredores, compartilham males e histórias.  Foram nove horas no hospital de Búzios e várias filas para exames desnecessários, pedidos por diferentes estagiários, até chegar diante de um médico verdadeiro, o único cirurgião. Em cinco minutos, ele descartou apendicite, receitou um anti-inflamatório. Um dia perdido por falta de médico.

Nada demais. Quantos perdem não um dia, mas a vida ao buscar assistência médica? Saí do pesadelo olhando com tristeza e impotência para nossa gente, que escuta dizer que o problema da Saúde é a queda nos royalties do petróleo.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época 

 

terça-feira, 12 de maio de 2015

A cultura do desrespeito



Washington parece outro planeta. O motorista sorri. A cidade funciona. A vida flui. Gentileza gera gentileza
É cada vez mais deprimente voltar ao Brasil, depois de uns dias em cidade civilizada no exterior. A falta de educação nas grandes cidades brasileiras torna o cotidiano uma batalha diária. Isso para não falar na falta total de segurança. Física e econômica. O desrespeito das prefeituras e dos governos estaduais com as necessidades básicas do cidadão e do contribuinte – saúde, educação, moradia e transporte – contribui para provocar um êxodo, não só para fora do país. Casais de jovens, com ou sem filhos, começam a se mudar para cidades pequenas. Buscam relações mais humanas, gastos mais baixos, menos estresse, menos poluição, menos barulho, menos tempo no trânsito, menos risco de morrer atropelado, esfaqueado ou com um tiro no ponto de ônibus, no parque ou na praia. “Cansamos”, dizem.  “Não aguento mais abrir um jornal”, ouço falar. O problema não é o jornal, mas a realidade estampada na imprensa. Os exemplos do “Rio que dá certo” ou da “São Paulo que dá certo” são raros. Sem contar a devassidão moral e ética de nossos políticos, incomoda perceber que “o brasileiro cordial” não passa de um mito.

Não é o nível de escolaridade que conta. As festas no playground de meu prédio no bairro do Leblon são um retrato da falta de educação e civilidade da tal elite. Barulho absurdo, contra a convenção, e o lixo de garrafas, latas e gordura – para o porteiro limpar. No condomínio pequeno de Búzios onde tenho casa, ameaço chamar a polícia porque o som de funk e batidão eletrônico na piscina, misturado a gritos femininos de ca$*&#ralho, não deixa a neta dormir. Resposta: “Mas aqui na festa só tem delegado e policial”.

Estive em Washington em abril e me senti num “retiro espiritual”. As pessoas sorriem para você na rua. Do nada. Pedestres felizes, confiantes e desarmados. Como assim? No metrô, cede-se lugar a crianças. Não se empurra ninguém. Já os brasileiros... a moda agora é nem esperar a pessoa sair do elevador. Ao entrar numa farmácia ou pagar no caixa em Washington, você escuta: “How are you doing today?”, acompanhado de um sorriso. Os grandes supermercados são limpos, imaculados! Os produtos têm qualidade. Vinho francês Mouton Cadet a US$ 9,99. Carnes, peixes e frutos do mar frescos. Enorme oferta de orgânicos.

Impossível comparar os preços de carros com o Brasil. Dá inveja o esquema de leasing.
Não existe Detran em Washington, já pensou que maravilha? Não há obrigação de vistoria. Ninguém é refém de cartório. Caramba. Por que infernizam tanto a nossa vida?

Ninguém fecha e xinga no trânsito nem ousa trafegar pelo acostamento ou acelerar no sinal amarelo. Não há policiais de trânsito. Se existe um cruzamento sem sinal, a prioridade é do pedestre. O carro para no meio da rua ao enxergar um ser humano a pé. O motorista sorri para você. Parece outro planeta. A cidade funciona. A vida flui. Gentileza gera gentileza.

Ao usar o celular, ninguém olha para os lados com medo de assalto seguido de morte. Ao andar na calçada, ninguém é atropelado por ciclistas que teclam o celular! Isso não existe. Bicicletas não disputam espaço com pedestres, crianças, idosos. No Brasil, tiram fino, em velocidade.  Posso falar com mais propriedade do carioca, já que nasci em Copacabana e sempre amei esta cidade. Era bem melhor. O Rio virou uma selva. Selva não, tadinhos dos animais. Virou uma zona. Para isso, conta também a arrogância de prefeito, governador e suas equipes.

Noticiário da semana no Rio, apenas? Uma nadadora, medalhista pan-americana, morre atropelada por um bêbado veloz no ponto de ônibus, que foge e está solto. Banalidade. Taxista mata bandido após ser roubado e sequestrado. Favelas expandem e desmatam em todos os bairros, muros ecológicos são abandonados pela prefeitura por demagogia e omissão. Delegacias fecham de madrugada “por falta de segurança”. Ciclistas buscam a natureza na Floresta da Tijuca, mas são assaltados e ameaçados de morte. No centro e no Aterro do Flamengo, assaltantes atacam com facas e porretes. Em Santa Teresa, as obras do bondinho estão paradas, prejudicando moradores e comerciantes. Trem descarrila na hora do rush e, sem plano de contingência, trabalhadores andam pelos trilhos.

E o metrô? O temível tatuzão da Linha 4 não deixa dormir, moradores ficam um mês sem telefone, água e internet. O metrô abre trincas em prédios e, “por movimentação do solo”, derruba concreto em cima de pedestre em praça de Ipanema. A Justiça proíbe ruídos entre 22 horas e 7 horas, mas o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osorio, não pode parar as obras porque terminar o metrô “é um compromisso olímpico internacional”. Ninguém planeja ou calcula antes? O compromisso olímpico de despoluir a Baía de Guanabara foi para as cucuias.

E se o Brasil incluísse no currículo escolar a disciplina do respeito à cidadania?

Por: Ruth de Aquino – Revista Época

sábado, 11 de abril de 2015

Juiz do 'caso Porsche" compromete imagem do Poder Judiciário

As trapaças do juiz

 ISTOÉ flagra juiz Flávio Roberto de Souza se divertindo em Búzios enquanto tenta a aposentadoria alegando problemas psiquiátricos e é acusado pelo Ministério Público de peculato e falsidade ideológica

Parece estranho que um homem de 52 anos afastado do trabalho por problemas de saúde apareça se divertindo na boate de um hotel de luxo, em Búzios, no litoral fluminense, conversando animadamente e relaxando nas camas dispostas em deques ao lado de jovens endinheirados, muitos deles trajando roupas de banho, num evento regado a champagne Moet Chandon e Veuve Clicquot

Foi nesta situação que a reportagem de ISTOÉ flagrou o juiz Flávio Roberto de Souza, que ficou famoso em todo País em fevereiro, ao utilizar os bens apreendidos do empresário Eike Batista, como um Porsche e um piano de cauda. Mas o magistrado tem outros golpes no currículo. Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro apresentou denúncia à justiça acusando Souza de peculato, falsidade ideológica, extravio e destruição de autos. Caso seja aceita pelo tribunal, o juiz, que chegou a roubar dinheiro acautelado no cofre de seu gabinete 150 mil dólares e 108 mil euros —, passará de magistrado a réu. A tese de sua defesa é que ele tem problemas psiquiátricos, o que o flagra em Búzios coloca bastante em dúvida. 

De fato, Souza tirou sucessivas licenças médicas: só este ano foram 75 dias – o período de dolce far niente em Búzios foram após o episódio Eike. Entre 2012 e 2013 foram 200, 20 a mais do que o máximo permitido para o período, de acordo com o relatório produzido a pedido de ISTOÉ pelo Tribunal Regional Federal. No entanto, isso não é suficiente para eximi-lo da culpa, segundo o desembargador André Fontes, responsável por um dos cinco processos administrativos ao qual o magistrado responde. “Mesmo que os problemas psiquiátricos sejam comprovados, uma doença não justificaria as acusações feitas a ele.” Não por acaso, o Ministério Público incluiu na denúncia o pedido de condenação, que conta com a perda do cargo público ou a cassação de eventual aposentadoria. Segundo inquérito policial, Souza inseriu documentação falsa nos autos da operação policial “Monte Perdido”, que confiscou bens do traficante espanhol Oliver Ortiz, para desviar valores apreendidos. O golpe teve início no dia 29 de abril de 2014, quando o magistrado solicitou transferência de R$ 47.190, alegando que o pedido lhe fora feito pela Vara Cível da Barra da Tijuca, zona oeste carioca.

Myllena Knoch, servidora do gabinete, constatou via Receita Federal que os dados bancários eram referentes à loja Auto Peças Rio Castro Daire, e não a uma instância judicial. Ela alertou o magistrado do possível equívoco, o que fez com que ele agisse mais rápido. Souza emitiu ordem à Superintendência da Caixa Econômica Federal para enviar o dinheiro especificamente à loja de automóveis, contrariando o procedimento padrão da justiça. E a fraude continuou em junho, quando outra ordem foi incluída no processo, determinando a transferência de R$ 94.750 para a mesma conta. Mais uma vez, a Caixa Econômica realizou a transação sem questionar.

Já no início deste ano, em 8 de janeiro, ele incluiu no sistema um documento afirmando que Marcos Cantuária e Joaquim da Silva, nomes inventados segundo constatou a Polícia Federal, pediam restituição do dinheiro, em moedas estrangeiras euro e dólar, que teriam dado ao traficante espanhol Ortiz para comprar um apartamento. Como se não bastasse, Souza incluiu no texto que o Ministério Público Federal (MPF) teria pedido audiência com os dois para esclarecer a origem do dinheiro e estipulou que a quantia deveria ficar guardada no cofre de seu gabinete até que as explicações fossem apresentadas. O MPF esclarece que a última vez que os autos deram entrada na Procuradoria foi em março de 2014, impossibilitando qualquer manifestação do gênero em janeiro de 2015.

Um dia após a inclusão do documento falso, em 9 de janeiro, Souza ordenou que Myllena pedisse a transferência de R$ 148.581 – dessa vez à Concept Car Comércio de Veículos. Questionado no inquérito, o sócio da loja Rodrigo Gesualdi Júnior afirmou que Souza o procurou em dezembro interessado em uma Land Rover modelo Discovery, 2010, blindada. Ele apresentou o extrato bancário das transferências e o recibo de compra e venda, de 21 de janeiro, no nome de Flávio Roberto.
 
Mas foi no dia 4 de fevereiro que o magistrado chegou ao auge da trapaça, ao retirar os euros e dólares que estavam guardados no cofre de seu gabinete. Ele enviou uma mensagem via whatsapp para seu motorista, Alexandre Barreto Costa, pedindo que o buscasse no dia seguinte, às 6h30, mas mandou que não usasse o carro oficial e, sim, o próprio veículo, um Palio 2002. Confuso, Costa afirmou ter dito que não era recomendável. A resposta levantou suspeitas: “Ninguém vai achar que estou nele”. E, de fato, durante todo o percurso de 64 quilômetros — ida e volta do apartamento onde mora, na Barra da Tijuca, até o gabinete, no Centro, onde ficou menos de cinco minutos — Souza escondeu o rosto atrás de um jornal. O horário fora escolhido a dedo, naquele princípio de manhã, pois no fórum, além deles, só havia uma faxineira como testemunha. “O sumiço do dinheiro somente foi revelado em 27 de fevereiro, quando o juiz substituto da 3ª Vara Federal Criminal realizava um levantamento sobre bens acautelados”, afirmam os procuradores regionais autores da denúncia, Flávio de Moura Júnior e José Augusto Simões.

Àquela altura, os dólares e euros já estavam bem longe do cofre da Justiça Federal. E o juiz os usou para comprar um apartamento no segundo andar de seu prédio. Os proprietários, Mário Sérgio e Eliete Rufino, receberam quatro depósitos, provavelmente como sinal, totalizando 50 mil reais, todos oriundos da conta da filha de Souza, Camila. O magistrado tentou pagar a primeira parcela de R$ 549 mil com as notas estrangeiras. Porém, Rufino achou suspeito e disse que só aceitaria pagamento em reais. 

Eliete, então, foi levada a uma casa de câmbio pelo motorista de Souza. A segunda e última parcela, de R$ 101 mil, seria quitada no dia 30 de abril. Durante o inquérito policial o juiz admitiu o desvio dos valores apreendidos e que pretendia adquirir um imóvel com eles. Na semana passada, devolveu à Justiça R$ 599 mil por meio de guia de depósito. Mas, levando em consideração o câmbio atual, faltam aproximadamente 700 mil reais a serem pagos.

Tentando ocultar seus crimes, Souza eliminou todos os falsos documentos inseridos nos autos. Mais uma vez, o motorista Costa foi chamado para o ‘serviço’. Ele afirma, em depoimento dado à Polícia Federal ao qual ISTOÉ teve acesso, que Souza entregou-lhe uma mochila ordenando “dar um sumiço” nela. Em seu interior, “vários papéis molhados, com cheiro de álcool e bem queimados”, como o motorista descreveu à polícia. Procurado por ISTOÉ, Costa se mostrou assustado e com medo de dar declarações, principalmente por ser recém-admitido para o cargo de motorista da Justiça Federal, em dezembro. “Caí de paraquedas para trabalhar com ele. Já fui envolvido nessa história toda, não vou me livrar tão cedo. Não quero mais problemas. Não posso colocar meu cargo em risco, lutei muito para conquistá-lo. Só quero seguir a diante e esquecer isso tudo.”

Fonte: IstoÉ OnLine
Fotos:  MARCOS DE PAULA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE