Parente do craque das pernas tortas quer ser vereadora para fazer museu em homenagem ao avô
Para os novatos no mundo da política, os casos recentes de assassinatos
de pré-candidatos na Baixada têm sido motivo de medo. É o caso de Sandra
Garrincha, de 43 anos, neta do craque das pernas tortas. Em 2014, ela
tentou a eleição de deputada federal, mas desistiu por ter poucos
recursos para a campanha. Este ano, vem mais forte, em busca de uma vaga
na Câmara dos Vereadores de Magé. Mas admite que a violência é um
obstáculo que amedronta: — Agora, quando acontece algum caso de morte, a gente já pensa logo:
“Será que foi mais um pré-candidato?”. Fico preocupada, mas não penso em
desistir.
Sandra tenta vaga na Câmara pelo PMB
- Ruben Berta / Agência O Globo
Sandra vai concorrer pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB). E sua
principal bandeira será a construção de um museu em homenagem ao avô, na
casa onde ela mora atualmente, e que já pertenceu a Garrincha, no
distrito de Pau Grande. Ela conta que recebe diversos turistas do
exterior, mas falta infraestrutura no espaço para atender melhor aos
visitantes. — Teve um australiano que gostou tanto daqui, que pediu para passar
um mês na minha casa. Há pouco tempo, recebi escoceses também, que
vieram conhecer a terra do Garrincha. Se tivéssemos um museu de verdade,
tenho certeza que se tornaria grande atração.
Eleições 2016: execução de políticos alarma a Baixada Fluminense - Onda de crimes faz Ministério Público pedir a presença das Forças Armadas
Uma mistura entre assassinatos e política na Baixada Fluminense, Região
Metropolitana do Rio, vem preocupando autoridades envolvidas no combate
ao crime e na organização das eleições municipais. A Polícia Civil
investiga a participação de políticos, traficantes e milicianos no
homicídio de dois vereadores e quatro pré-candidatos da área nos últimos
oito meses. Investigadores descartam uma razão comum para os crimes,
mas apuram se disputas territoriais, rachas em grupos criminosos e
motivações políticas estão por trás das mortes.
A Procuradoria Regional Eleitoral pediu a presença das Forças Armadas
durante a campanha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
decidirá se envia o pedido ao Ministério da Defesa. A Polícia Federal
abriu inquérito para apurar a possível conotação eleitoral nos crimes. — É uma oportunidade de aproveitar que as Forças Armadas já estarão
no Rio para a Olimpíada. O que não pode acontecer é o direito ao voto
ser restringido — diz o procurador regional eleitoral do Rio, Sidney
Madruga.
A juíza Daniela Assumpção, que atua na 2ª Vara Criminal de Duque de
Caxias e foi responsável por fiscalizar a propaganda eleitoral em 2014,
afirma que a situação é “muito preocupante”. — Esses casos de assassinatos aumentam muito a insegurança da
população. Como fica o cidadão na hora do voto depois que vê uma
liderança local ligada a uma milícia ser morta na porta de casa, à luz
do dia? — questiona.
Sérgio da Conceição de Almeida Júnior, o Berém do Pilar, foi
executado ao chegar em casa, em Caxias, com tiros de fuzil. Filiado ao
PSL, seria candidato e vereador em outubro e, segundo a Divisão de
Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), era ligado à milícia. Nas redes
sociais, aparecia como benfeitor: dava presentes às crianças e promovia
eventos.
Depois da morte, um de seus admiradores fez um questionamento:
“Pronto, ondas de assaltos nas ruas do bairro, início de uma era sem
lei. Antes tínhamos alguém que zelava pela comunidade e nos ajudava
bastante. Espero que as autoridades tomem providências por nossa
comunidade, porque agora será bem mais difícil”.
A Polícia Civil apura a conexão entre as mortes de Berém e Leandro da
Silva Lopes, o Leandrinho de Xerém, também apontado como integrante de
milícia. A investigação trabalha com as hipóteses de que os crimes
tenham relação com guerras entre grupos criminosos e disputas de
territórios em virtude das prováveis candidaturas — Leandrinho era
filiado ao PSDB e pretendia ser vereador. Outra execução em Caxias, a de
Denivaldo Silva, também é investigada, já que os três se conheciam e há
a suspeita de que pertenciam ao mesmo grupo. Nesse caso, o componente
político está descartado: Denivaldo não tinha filiação partidária, e
familiares negaram que tivesse intenção de se candidatar. — São casos de execução sumária, com utilização de armas de uso
restrito e do mesmo calibre — diz o delegado Giniton Lages, titular da
DHBF, frisando que nem todos os crimes na Baixada estão conectados: —
Não há um matador em série atuando contra os políticos.
A lista de homicídios inclui dois líderes comunitários que se
candidatariam a vereador. Anderson Gomes Vieira, o Anderson Soró, morto
em Nova Iguaçu, e Aga Lopes Pinheiro, assassinada em Magé. Nesses casos,
a suspeita é que o tráfico, incomodado com a liderança das vítimas,
seja responsável pelas mortes. Filho de Soró, o adolescente de 15 anos
não entende o que aconteceu naquela manhã em que o pai chegava para
trabalhar.
— Meu pai não tinha inimigos — afirma.
A polícia também apura se uma questão de política local levou à morte
do vereador de Seropédica Luciano Nascimento Batista (PCdoB), o Luciano
DJ. Ligado à milícia, tinha uma relação conturbada com integrantes do
Executivo. Em outros casos, a polícia descartou a hipótese de crime
político: o ex-vereador e pré-candidato Darlei Gonçalves Braga foi
vítima de um crime passional em Paracambi; Nelson Gomes de Souza, o
Nelson Lilinho, pré-candidato a vereador pelo PMN, foi assassinado numa
briga de trânsito em São João de Meriti; Manoel Primo Lisboa, morto em
Nova Iguaçu, não era filiado a partido; já o vereador de Paracambi Marco
Aurélio Lopes (PP), policial militar, foi morto por traficantes da área
onde morava.
VIÚVA TEME QUE MORTE VIRE SÓ ESTATÍSTICA
Eram
21h30m do dia 13 de janeiro quando a universitária Thais Gerpe ligou
para o celular do marido, o vereador Geraldo Cardoso Gerpe (PSB), o
Geraldão. “Vem porque eu comprei aquele macarrão que você gosta”, disse.
Cinco minutos depois, ela voltou a ligar. Geraldo não atendeu mais. Foi
assassinado com dois tiros, quando entrava no carro, no estacionamento
da Câmara Municipal de Magé. Não havia seguranças no local ou câmeras
internas que pudessem ter registrado as imagens do crime. O portão do
estacionamento estava aberto, e as luzes, apagadas. Thais ainda não teve
notícias sobre a autoria do crime:
— Infelizmente, acho que virou estatística.
O vereador havia sido secretário de Ordem Pública na gestão do
prefeito Nestor Vidal (PMDB), mas voltou à Câmara e passou a investigar o
ex-aliado. O objetivo da comissão era apurar irregularidades na folha
de pagamento, ligadas a funcionários fantasmas. Vidal foi cassado em
abril, acusado de fraudar um contrato com uma clínica da qual ele tinha
sido sócio. A DHBF suspeita que Geraldão, com passagem na polícia por
estelionato, tenha recebido propina durante as investigações e apura a
participação de políticos locais no crime. Quando foi morto, o vereador
se preparava para mais uma campanha. Thais queria que ele seguisse na
política, mas o marido tinha em mente que, se fosse eleito, aquele seria
seu último mandato: — Ele queria montar um restaurante e uma pousada em Búzios. Adorava aquela cidade.
Fonte: O Globo
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