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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O 7 e o 8 de Setembro de 2022 - Revista Oeste

modus operandi j

Tendo fracassado na tática do medo para esvaziar as ruas, os demofóbicos partiram para as desqualificações de sempre

Lula, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Brasil/Shutterstock
Lula, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Brasil/Shutterstock

“Não temais ímpias falanges/Que apresentam face hostil/
Vossos peitos, vossos braços/São muralhas do Brasil.”

D. Pedro I e Evaristo da Veiga, Hino da Independência do Brasil

“A elite política do patrimonialismo é o estamento,
estrato social com efetivo comando político,
numa ordem de conteúdo aristocrático.”

Raymundo Faoro, Os Donos do Poder

Dando prosseguimento à série de textos que exploram similaridades entre a Primeira República Francesa produto sociopolítico da ideologia iluminista — e a assim chamada Nova República brasileira — criatura sociopolítica da intelligentsia de esquerda (socialista e social-democrata) culturalmente hegemônica no pós-regime militar —, gostaria de lembrar uma das características mais marcantes do Iluminismo de matriz francesa, raramente mencionada pelos apologistas e pelos saudosistas do movimento. Refiro-me ao elitismo, não raro manifesto numa autêntica demofobia, um sentimento de horror pelo povo concreto, em carne e osso.

De fato, pensadores como Voltaire e Diderot jamais o esconderam. Quando o primeiro dizia, por exemplo, que cabia a “todo homem sensato e honrado” nutrir horror pelo catolicismo, não tinha em mente o homem comum do povo, cuja ignorância, aos olhos de Voltaire, o impedia terminantemente de desenvolver tanto a sensatez quanto a honra. Também Diderot deixava claro que a massa de pessoas comuns não faria parte da nova era científica e racional anunciada pelos philosophes. “A massa genérica de homens não foi feita para promover, nem sequer compreender, essa marcha progressiva do espírito humano”, escreveu em O Sobrinho de Rameau (1805). E foi ainda mais explícito no verbete Multidão” da Enciclopédia: “Desconfie do julgamento da multidão em matéria de raciocínio e filosofia; sua voz é a da malícia, da tolice, da desumanidade, da irracionalidade e do preconceito (…) A multidão é ignorante e confusa (…) Desconfie de sua moral; ela não é capaz de produzir ações fortes e generosas”.

Para Diderot, Voltaire e seus confrades das “sociedades de pensamento”, a população comum era “imbecil” (imbécile) em termos de religião. Enquanto, entre os espíritos superiores, a superstição nacional (i.e., a fé católica) parecia recuar, esse progresso dificilmente chegaria até “o populacho” (la canaille). O povo era demasiado “idiota, bestial, miserável e ocupado” para iluminar a si próprio. “A quantidade de canaille mantém-se sempre mais ou menos estável.”

Segundo essa perspectiva, as luzes da razão estavam restritas a uma pequena elite esclarecida, grupo altamente seleto que, em carta ao amigo Maurice Falconet. Diderot batizou certa vez de “igreja invisível”. 
Como não lembrar da demofobia iluminista ao deparar com as manifestações da aristocracia neorrepublicana brasileira diante do último 7 de Setembro? 
É claro que, no caso brasileiro, nem sempre se mantém a sofisticação vocabular do contexto original, porque a nossa demofobia se manifesta frequentemente ao estilo Justo Veríssimo, imortal personagem de Chico Anysio: “Quero que o povo se exploda!”
Mas não deixamos de ter também os nossos covers de Voltaire, sendo o ministro Luís Roberto Barrosoiluminista confesso e orgulhoso o mais caricato entre eles.  
E foi de Barroso, como se sabe, uma das previsões mais sombrias e histriônicas relativas às celebrações do Bicentenário da Independência. No dia 5 de agosto, em palestra proferida no 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, o nosso Voltaire de Vassouras disse que o 7 de Setembro poderia mostrar o tamanho do fascismo no país. Estigmatizando preventivamente milhões de cidadãos brasileiros, e falando por toda a aristocracia neorrepublicana, Barroso tentou semear o medo para esvaziar as ruas. Fracassou.

A celebração da democracia
Para qualquer pessoa moral e intelectualmente honesta, o 7 de Setembro de 2022 foi um dia histórico, uma celebração da democracia. Nessa data, milhões de brasileiros foram pacífica e ordeiramente às ruas manifestar o seu patriotismo. 
É claro que, em sua maioria, manifestavam também o apoio a Jair Bolsonaro, político que, tanto por méritos próprios quanto por força das circunstâncias, acabou se tornando o representante único da vontade popular de resgatar a bandeira nacional para o centro da política brasileira.  
Resgatar sim, uma vez que, nas mãos da extrema esquerda nacional representada pelo lulopetismo, ela, a bandeira, vivia sendo queimada ou pisoteada como um pano de chão, desprezada em favor das cores e dos símbolos das facções políticas de matriz socialista. 
Mas os integrantes da aristocracia neorrepublicana não viram motivos para celebrar. 
Ao contrário, tendo fracassado na tática do medo para esvaziar as ruas, os demofóbicos partiram para as desqualificações de sempre, segundo o modus operandi já adotado no 7 de Setembro do ano passado.

Assim é que os milhões de brasileiros, que não cometeram um ato sequer de violência ou depredação ao contrário do que invariavelmente ocorre nos protestos da esquerda , continuaram sendo estigmatizados como golpistas, fascistas e nazistas. Sobre eles, tuitou um radical de esquerda fantasiado de jornalista: “As imagens dessa gente doentia nas ruas nesse 7 de Setembro irão perseguir seus filhos e netos como as fotos de apoiadores do nazismo alemão, do fascismo italiano ou dos supremacistas americanos”. E o candidato do Foro de São Paulo à Presidência do Brasil o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva — cometeu contra os patriotas a ofensa mais grave que se poderia imaginar, equiparando-os a integrantes da Ku Klux Klan (ou “Cuscuz Crã”, na pronúncia peculiar do comandante do Petrolão).

Que as ruas no 7 de Setembro traduzissem toda a diversidade étnica e social brasileira muito mais, a propósito, do que nos convescotes cada vez mais seletos frequentados pelo falso “pai dos pobres” adorado por banqueiros e empresários bilionários não importava. 
Falou mais alto o impulso odioso de difamar e demonizar os milhões de cidadãos honestos que foram às ruas celebrar a independência e, sobretudo, lutar para impedir que sua nação seja integrada e dissolvida numa “Pátria Grande” qualquer, formada por narcoditaduras bolivarianas.

Com raros momentos de exceção, assim tem sido a organização sociopolítica brasileira ao longo da história, sempre de cima para baixo

Desde, ao menos, a Proclamação da República, o Brasil tem se notabilizado pela ausência de participação popular na vida política nacional. Sobre os eventos do 15 de novembro de 1889, Aristides Lobo publicou no Diário Popular: “Por ora, a cor do Governo é puramente militar, e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase nula”. E o jornalista entusiasta da República arrematava sua carta com a célebre observação: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada”. Na mesma época, o médico francês Louis Couty, amigo pessoal de D. Pedro II, resumiu numa sentença lapidar a nossa situação: “O Brasil não tem povo”.

Com raros momentos de exceção, assim tem sido a organização sociopolítica brasileira ao longo da história, sempre de cima para baixo. E assim também o foi durante toda a Nova República, período em que as forças da esquerda, culturalmente vitoriosas sobre o regime militar que as derrotara política e militarmente (no caso da luta armada), fabricaram um povo fictíciouma abstração talhada à imagem e semelhança da intelligentsia progressista nacional — e, portanto, uma democracia de fachada, formalmente consagrada numa constituição eivada de idealismo, mas substancialmente elitista e demofóbica. 

De fato, da perspectiva histórica cultural, o período é, em larga medida, um produto da imaginação dos intelectuais esquerdistas da geração 1960. A Nova República pode ser compreendida como uma “comunidade imaginada” (no sentido de Benedict Anderson), cuja fundação mitopoética foi toda elaborada em oposição ao período anterior, o regime militar, o sombrio “Antigo Regime” identificado como grande obstáculo aos novos tempos que, enfim, chegavam com sua esplendorosa luminosidade.

Intelligentsia esquerdista
O efeito social desse predomínio aristocrático da intelligentsia esquerdista foi que, durante muito tempo, os valores tradicionais, os gostos e a sensibilidade do povo brasileiro, majoritariamente conservador, não dispunham de representação mínima nas instâncias formadoras da opinião pública. Bem ao contrário, silenciados e estigmatizados por uma elite cultural, econômica e política ultraprogressista e revolucionária, os integrantes das camadas médias e populares, alheios às radicais utopias da esquerda, passaram a testemunhar, igualmente bestializados, a demonização de alguns de seus hábitos mais comezinhos e — supunha-se — até então inocentes.

Tudo se passou como se os bem-pensantes progressistas, de forma mais ou menos consciente, tivessem manifestado o desejo de se vingar não apenas dos militares e da direita civil, mas também de um povo que, mantendo-se alheio e algo indiferente aos eventos dos assim chamados “anos de chumbo”, os abandonou no auge de seus sonhos revolucionários. Assim, quando veio a abertura política, aqueles que “lutaram contra a ditadura” (segundo a mitologia heroica e autobeatificante por eles recontada) viram a chance de extravasar uma revolta encruada e tomar o país para si. “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia” — eis o verso de Chico Buarque que simboliza bem o grito reprimido, carregado de um ressentimento lírico, de uma gente que, tendo enfim a oportunidade, não cessou desde então de lançá-lo, em forma de cobrança, às gerações seguintes.

Considerando-se todo o contexto, compreende-se pois que, diante do evento inédito de um povo conservador em carne e osso que resolve enfim dar as caras e assumir o protagonismo no debate sobre o destino do país, a aristocracia neorrepublicana o estranhe, e, com um reacionarismo irônico aos olhos da história, projete nele todos os fantasmas tradicionais e atávicos de sua cultura política: “fascismo”, “golpismo”, “racismo”, etc. 
Provincianamente inseguros diante da descoberta do povo e da materialização da democracia até então restrita ao papel (“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”), os integrantes dessa aristocracia os Inácios, os Pachecos, os Liras, os Fux, os Barrosos, os Moraes et caterva — decidiram refugiar-se em seus gabinetes acarpetados para mais um convescote deveras (neo-)republicano, tal como haviam sido o evento de leitura da “carta pela democracia” nas arcadas da USP e a posse do novo presidente do Tribunal Eleitoral.  
 
Historicamente hostis ao 7 de Setembro popular, proclamaram a própria independência, bizarramente celebrada no dia seguinte, 8 de setembro, em sessão solene no Congresso Nacional, e a portas bem fechadas. [E o presidente Bolsonaro com a coragem e dignidade que o caracterizava,ignorou,melhor dizendo desprezou a bizarra celebração.]
 Sendo a política feita de símbolos, nada mais simbólico da demofobia estrutural do estamento burocrático brasileiro do que essa comemoração exclusiva, no dia seguinte, dos ausentes do dia 7.[provavelmente os atrasados celebrantes esperavam que suas ausências fossem notadas e lamentadas; não foram - o que mais se ouviu, do povo brasileiro, foi "não fizeram falta.]  
A passagem de um dia ao outro representa toda a distância entre dois Brasis cada vez mais irreconciliáveis: o Brasil do povo e o da casta dirigente, o das ruas e o dos salões, o das feiras e o das redações, o dos patriotas e o dos patrimonialistas.

Leia também “O Direito sem lei”

Flávio Gordon, colunista - Revista Oeste

 

quarta-feira, 20 de março de 2019

Para membro de comissão do Enem, universidades estão 'contaminadas pelo esquerdismo' e STF é inimigo da família

O procurador de Justiça de Santa Catarina Gilberto Callado de Oliveira, escolhido pelo ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez para ser o representante da sociedade civil na comissão que vai avaliar as questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), já chamou professores de “corrompidos”, falou em “contaminação ideológica das universidades”, é contra o que chama de “ideologia de gênero” e é assíduo em encontros de monarquistas, atuando inclusive como organizador.

Nesta quarta-feira, conforme O GLOBO antecipou, o governo criou uma comissão para inspecionar os itens da prova. O grupo será responsável por analisar as perguntas e retirar questões que teriam um “viés ideológico”. [evitando que esquerdistas utilizem uma prova oficial para divulgar ideologias nefastas, fazendo apologia ao homossexualismo, inclusive divulgando seu linguajar.]Além de Gilberto Callado de Oliveira, a comissão que fará esse pente-fino será composta por Marco Antônio Barroso Faria, secretário de Regulação e Supervisão do MEC; e Antônio Mauricio Castanheira, diretor de Estudos Educacionais do Inep. 


Em 2016, durante a abertura da VI Semana da Família, na Câmara de Brusque, em Santa Catarina, Callado versou sobre a “degradação de família”, fez referência ao livro de Gênesis e mencionou que “professores corrompidos” destroem a formação de crianças. Segundo ele, no passado, a família e a escola cumpriam sua função, mas agora isso tem sido prejudicado.
Era fácil fazerem isso, pois recebiam a criança com bases sólidas. Hoje, elas já chegam corrompidas e, muitos professores, também corrompidos, acabam por destruir o que restava das funções educativa e a emocional das crianças —afirmou Callado na ocasião.

No mesmo evento, o procurador classificou a “ideologia de gênero” como um dos três “golpes mortais” para a família, dizendo que o inimigo da instituição familiar é o Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda em sua fala, Callado chamou o filósofo Rousseau de canalha e também criticou Karl Marx e Friedrich Engels:
— Se pudessem, eles transformariam o homem em outra coisa que não sabemos o quê. Essa degradação está refletida no Plano Nacional de Direitos Humanos criado pelo governo Lula.

Em uma entrevista ao site “Catolicismo” em 2007, Callado fez duras críticas às universidades que, segundo ele, têm promovido ideologias de esquerda, o que acaba aumentando o cenário de criminalidade do país. O procurador, que é crítico do garantismo penal, foi contundente sobre o tema:
— Destaco a contaminação ideológica nas universidades, que vêm formando juristas e políticos com mentalidade cada vez mais liberal e esquerdizante. Vejam-se os Constituintes de 1988. Estavam desiludidos com os instrumentos legais usados pelos governos militares contra os presos políticos, e por isso criaram extenso rol de franquias para os acusados, sem dar a devida atenção às vítimas e à própria sociedade— disse.

Monarquia
Em seu currículo Lattes, o procurador informa ter participado de pelo menos quatro “Encontros Monárquicos”, atuando em um deles como organizador. A participação mais recente ocorreu no ano passado no “I Encontro Monárquico de São Paulo. O Tempo dos Princípios e os Novos Direitos”.
Entre os artigos publicados em jornais, Callado coloca em seu currículo o texto “Cem anos sem D. Pedro II”, publicado no Diário Catarinense em 1991. O procurador menciona ainda a apresentação do trabalho “Monarquia ou República: Você decide.”, em uma palestra em 2008.

O Globo

 

sábado, 9 de março de 2019

Um carnaval em Aalst

O levante contra o 'globalismo' reativa o paradigma antissemita

O grupo "não tinha intenções ofensivas", assegurou o prefeito de Aalst, Cristoph D'Haese, do partido nacionalista N-VA, que busca a independência da região belga de Flandres. "Carnaval é apenas um festival de caricaturas", disse um integrante do grupo. O carro alegórico que detonou a polêmica exibia bonecos representando judeus hassídicos, narizes aduncos, as mãos estendidas pedindo doações, um rato sobre suas malas de dinheiro. Num artigo para a The Atlantic, Eliot A. Cohen traçou paralelos com alegorias similares que apareceram no carnaval de Marburg (Alemanha), em 1936. Hitler não nos espreita na esquina, mas o antissemitismo retorna como discurso socialmente admitido.
De carro, menos de uma hora separa Aalst do Parlamento Europeu. A nova onda de aversão aos judeus faz seu caminho pelo Velho Mundo, escorrendo por veredas de direita e de esquerda. Os bonecos carnavalescos são sintoma do "espírito do tempo". Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán pinta o financista George Soros como o lendário "judeu sem pátria" que dirige um complô destinado a afogar a "Europa cristã" num mar de imigrantes muçulmanos. No Reino Unido, o líder trabalhista Jeremy Corbyn atribui um atentado jihadista no Egito à "mão de Israel", autorizando tacitamente os discursos antissemitas que engolfaram seu partido numa crise moral. Os foliões pertencem às elites políticas e seus gestos cumprem funções estratégicas.
O antissemitismo clássico deita raízes na direita, especificamente no catolicismo tradicional e no nacionalismo autoritário. Nos EUA, como no Brasil, a direita nacionalista represou seus impulsos antijudaicos para atender à base evangélica, que enxerga em Israel o sinal das profecias do Livro do Apocalipse. Na Europa, de modo geral, a gramática do discurso ultranacionalista substitui os judeus pelos muçulmanos no papel de quinta-coluna infiltrada nas sociedades nacionais. Aí, a islamofobia explícita funciona como veículo de um antissemitismo implícito. Mas o ovo está lá, como evidenciam Orbán e inúmeras correntes extremistas que adquirem crescente peso eleitoral.

"O antissemitismo é o socialismo dos idiotas", na frase corrente entre os social-democratas alemães no anoitecer do século 19. O alerta, porém, apagou-se no passado desde que o terceiro-mundismo contaminou o pensamento de esquerda. As eclosões antijudaicas na ala esquerdista do Partido Trabalhista britânico, assim como entre tantas correntes da esquerda latino-americana, cobrem-se com o conveniente disfarce do antissionismo. Mas, sob o manto da crítica legítima ao governo israelense, o novo "socialismo dos idiotas" traça paralelos repugnantes entre Israel e a Alemanha nazista para negar o direito à existência do Estado judeu.
O molde do antissemitismo moderno, fabricado pela polícia política russa, é uma célebre falsificação publicada em 1903: Os protocolos dos Sábios do Sião. Na história da conspiração judaica internacional, financistas, magnatas, jornalistas e comunistas judeus coordenam suas ações para controlar os bancos, a mídia e os governos, com o objetivo final de dominar o mundo. Magnatas e comunistas, ambos sem pátria, operando juntos, formam uma tecla quente para o nacionalismo de direita. Já a associação entre bancos, mídia e governo toca num nervo sensível da esquerda anti-imperialista. Numa ponta e na outra, o levante contra o "globalismo" reativa o paradigma antissemita que inspira a alegoria de Aalst.
O pátio de encontro antissemita da direita e da esquerda saltou da teoria à prática pelas mãos do movimento dos coletes amarelos. Na França, pela primeira vez, correntes extremistas antagônicas colaboram ativamente numa revolta contra o "sistema". O fruto da aliança são suásticas e frases de ódio aos judeus que emporcalham cemitérios e sinagogas. Cinzas na quarta-feira.
Demétrio Magnoli, sociólogo,  doutor em geografia humana pela USP.
 
 

domingo, 25 de junho de 2017

Grupo católico extrapola na prática de exorcismo e desrespeita o papa

Com o demônio não se brinca

Grupo católico Os Arautos do Evangelho está na mira do Vaticano por práticas indevidas de exorcismo

Uma notícia do mundo católico revelada nos últimos dias pela imprensa italiana assombrou crentes e não crentes. Os Arautos do Evangelho, um tradicional grupo católico e de origem brasileira, está sendo investigado pelo Vaticano. O motivo da sindicância: uma gravação em vídeo divulgada em reportagem do vaticanista Andrea Tornielli, do jornal La Stampa que exibe os integrantes praticando exorcismos fora das fórmulas da Igreja. Com uma hora e 19 minutos de duração, o registro exibe o fundador da organização, o monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, de 77 anos, reunido com cerca de 60 integrantes para apresentar uma transcrição do que seria um diálogo entre um sacerdote da própria associação e o demônio.


Integrantes dos Arautos do Evangelho, fundada por João Scognamiglio Clá Dias, grupo dissidente da TFP, assistindo missa de coroação de Nossa Senhora na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em São Paulo (Paulo Pinto/Estadão Conteúdo/Dedoc)

O ponto máximo é quando o papa Francisco se torna o assunto. O pontífice, que segundo os preceitos do catolicismo, tem de ser respeitado como a maior autoridade da Igreja, se transforma em alvo de chacota no tal diálogo.  
“E o Vaticano?”, pergunta o sacerdote do diálogo. 
Resposta: “Estou na cabeça. Ele é meu. Eu mexo na cabeça. Ele faz tudo o que quero. Ele é um estúpido. Ele me serve .” 
Pergunta o sacerdote: “Como será a morte dele?” Diz o demônio: “Ele vai escorregar e vai cair. Vai bater a cabeça. Mas ainda falta um pouco. Vai ser no Vaticano. E virá outro papa, Rodé (o nome citado é do cardeal esloveno Franc Rodé, de 82 anos, um dos críticos do pontificado de Francisco). E será bom.”

O exorcismo é aceito e praticado no catolicismo. Jesus Cristo, como diz as Escrituras, exorcizou e passou a incumbência aos doze apóstolos. Hoje, há cerca de 300 sacerdotes que o fazem no mundo, 10% deles no Brasil. Todos devem ter sido nomeados pelo bispo local. Na diocese da qual pertence Clá não há ninguém autorizado. Diz Juarez de Castro, pároco da Assunção de Nossa Senhora, em São Paulo: “O que se vê nesse vídeo é uma verdadeira alucinação, Clá ultrapassou os limites do que prega a fé católica.”

A tradição litúrgica admite a existência do diabo e a ele se deve renunciar. Mas, como explica o livro recém-publicado pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Exorcismos: Reflexões Teológicas e Orientações Pastorais: “A Igreja reprova as várias formas de superstição, a preocupação excessiva com satanás e os demônios. A Igreja sempre preferiu priorizar em sua pregação a Boa-Nova do Evangelho. Ela não coloca em destaque a fala sobre o maligno e sua ação contrária ao reinado de Deus.”

Os Arautos do Evangelho são uma dissidência da TFP. Ao longo de 30 anos, Clá participou da TFP e chegou a ser uma espécie de secretário particular, o homem de confiança de Plínio. Quatro anos depois da morte do Plínio ele criou os Arautos. Hoje a organização está presente em cerca de 50 países.

Para ler a reportagem na íntegra, compre a edição desta semana de VEJA no iOS, Android ou nas bancas. E aproveite: todas as edições de VEJA Digital por 1 mês grátis no Go Read.

 

 

domingo, 12 de julho de 2015

Evo Morales, em falta de inteligência (não uso burrice para não ofender aos nobres muares) , só encontra adversários a altura quando comparado com Lula e Dilma

O golpe baixo de Evo e a sabedoria de Francisco

Bons estadistas sabem que, ao recepcionar papas, a discrição é antes de tudo sabedoria política e protocolo diplomático. O presidente da Bolívia, Evo Morales, desconhece isso. Na visita do papa Francisco ao país, na semana passada, Morales presenteou Francisco com crucifixo formado de foice e martelo, símbolo do comunismo – regime totalitário que perseguiu os católicos em todo o mundo enquanto se manteve em pé.  

O Evo Morales da quinta-feira 9, na verdade, é o mesmo que na passado abriu uma crise com o Vaticano quando proibiu o catolicismo. 

Francisco acolheu o crucifixo com a tranquilidade e de quem sabe o que quer – e de fato o que ele queria fazer, e fez, era falar à população indígena e aos movimentos sociais sobre a importância de um sistema capitalista que seja capaz de promover justiça social. “Que se chegue ao dia no qual não existam famílias sem casas nem nações sem liberdade”, declarou ele. 

O recado a Morales foi dado.   

Fonte: IstoÉ