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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Covid-19: Os sinais no Brasil e no mundo de que a pandemia está a caminho do fim - VEJA- Saúde

No exterior, cidades derrubam as restrições. No Brasil, o número de casos cai. Depois de dois anos, o pesadelo começa a terminar

ÚLTIMA FRONTEIRA - Crianças: a proteção do público de 5 a 11 anos contribui para impedir o surgimento de variantes -

 ÚLTIMA FRONTEIRA - Crianças: a proteção do público de 5 a 11 anos contribui para impedir o surgimento de variantes - Fabiano Rocha/Agência O  Globo
Depois de dois anos de medo e tristeza, de quarentenas e confinamentos, há ótimos e luminosos motivos para alívio.  
Na terça-feira 15, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou pela segunda vez neste ano uma queda no número de novos casos de Covid-19 no mundo. 
No período de 7 e 13 de fevereiro, houve uma redução de 19% em comparação ao total registrado nos sete dias passados. 
No sul da Ásia, o decréscimo foi de 37%; nas Américas, 32%; na África, 30%; na Europa, 16%; e no leste do Mediterrâneo, 12%. 
 
No boletim anterior, a organização contabilizara diminuição de 17% no número de novos infectados. No Brasil, a semana também foi de boas notícias. Também na terça 15, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que, pela primeira vez em 2022, a taxa de ocupação dos leitos de UTI destinados a pacientes adultos com Covid-19 apontou melhora nos índices. Das nove unidades federativas que na semana passada estavam com nível de ocupação igual ou superior a 80%, considerado crítico, apenas quatro permaneciam nesse patamar. Um dia antes, a média móvel de novos casos registrou a maior queda em um mês e meio, cravando quatro dias seguidos de declínio.
 
 
 Os indicadores demonstram que a ômicron, a mais transmissível das variantes do coronavírus, está perdendo fôlego depois de assustar o planeta de novembro de 2021 até agora, fazendo explodir o total de novas infecções. Uma boa medida da desaceleração é o decréscimo no Brasil nos índices de transmissibilidade do vírus. A taxa é o termômetro que afere a velocidade de propagação da doença. No dia 25 de janeiro deste ano, ela estava em 1,78, segundo o Imperial College of London. Isso significava dizer que, naquele momento, 100 pessoas infectadas poderiam contaminar outras 178. Seis dias depois, o índice caiu para 1,69 e na quarta-feira 16 marcava 1,22. Ainda é alto, convém prestar atenção — o ideal é que fique abaixo de 1 —, mas a tendência é claramente de redução no ritmo de transmissão. Dados do Instituto Todos pela Saúde revelaram, ainda, que o volume de testes positivos para Covid-19 caiu de 67% para 51% entre os dias 22 de janeiro e 12 fevereiro.
 
 
 
 
 
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A reunião das três circunstâncias — vacinas, vírus menos letal e grande número de pessoas imunizadas — cria o que estudiosos da Fiocruz consideram uma “janela de oportunidade”. Para os especialistas, o cenário atual poderia promover inclusive um bloqueio temporário de transmissão do vírus no país. Margareth Portela, cientista da instituição, entende que a mudança do status do vírus de pandêmico para endêmico — permanece em circulação, mas sem causar perturbações nas atividades — não demora. “Deve ocorrer dentro de alguns meses”, diz, ressaltando que se trata de um prognóstico, não de uma certeza. O americano Christopher Murray, ao contrário, foi categórico em seu artigo na The Lancet. Ele escreveu: “A Covid-19 se tornará outra doença recorrente com a qual as sociedades terão de lidar (…) A era de medidas extraordinárias tomadas para controlar a transmissão do SARS-­CoV-2 vai acabar. Depois da onda ômicron, a Covid-19 vai retornar, mas a pandemia não”.
 
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É a primeira vez, desde março de 2020, quando a OMS decretou a pandemia, que o mundo vive um período aparentemente mais calmo e de futuro inexorável. Houve outros momentos de esperança, encerrados pelo surgimento de variantes mais agressivas. Agora, tudo indica, é diferente. Como mostra a história de outras pandemias, há um momento na trajetória dessas crises sanitárias afeito a indicar um ponto de inflexão a caminho do fim. É o que parece estarmos vivendo neste começo de 2022. “Este contexto, que até agora não havíamos visto nesta pandemia, nos dá a possibilidade de um longo período de tranquilidade”, afirmou Hans Kluge, diretor da OMS para a Europa, no início do mês. “É uma trégua que pode trazer uma paz duradoura”, acrescentou o médico belga. Em outras palavras, a situação atual permite afirmar que a pandemia está no início do fim.

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Pelo menos três condições são indispensáveis para o término de catástrofes provocadas por vírus: a existência de vacinas, a transformação natural do agente causador em direção a versões menos letais e a grande quantidade de pessoas naturalmente imunizadas, por terem contraído a doença. O mundo dispõe hoje das três premissas. A ômicron, reafirme-se, é mais contagiosa, mas menos agressiva. As derivações do vírus que provocou a primeira onda, em 2020, até a variante hoje prevalente, mais amena, fazem parte do processo de seleção natural. “Vírus precisam de um hospedeiro para replicar seu material genético, não querem matar”, explica o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. Logo, prevalecem as cepas com alto poder de infecção, porém com baixa capacidade de provocar doenças graves e mortes. Esse mesmo poder de transmissibilidade expandiu o total de pessoas expostas, o que aumentou a parcela de indivíduos que naturalmente produziram anticorpos contra o SARS-­CoV-2. “O nível de infecções sem precedentes sugere que mais da metade da população mundial terá sido contaminada pela ômicron entre novembro de 2021 e março de 2022”, escreveu em artigo publicado há um mês na revista The Lancet o médico Christopher Murray, especialista em métricas da saúde da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.


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Depois de tanto tempo, a volta à vida como era antes ainda produz alguma ansiedade. “Acho arriscado essa de já não ter restrição e voltarmos ao modo como se vivia em 2019”, diz Vitor Mori, pesquisador na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, e membro do Observatório Covid-19 BR, que reúne especialistas voluntários para monitorar o surto. De fato, o momento pede alguma cautela para que a transição da pandemia para a endemia se dê de forma consistente, até para não corrermos o risco de voltar três casas nesse jogo nada divertido. Mas o caminho parece ser inexorável. Depois de dois anos, os sinais de uma melhora global estão finalmente no horizonte. A tragédia que marcou nossa geração, matando mais de 5,8 milhões de pessoas, acabará. Mas será muito importante lembrar para sempre como isso aconteceu: graças à ciência, com destaque para a vacina, e a todos aqueles que a defenderam.

Em Saúde - VEJA - MATÉRIA COMPLETA

Publicado em VEJA, edição nº 2777 de 23 de fevereiro de 2022

 

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Sem Neymar e Marta, Fifa divulga candidatos ao prêmio de melhor do mundo - Revista Placar

Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e Virgil Van Dijk encabeçam lista de dez finalistas do The Best 2019. Entre as mulheres, Rapinoe é a favorita

Horas depois de exibir a lista dos melhores treinadores, a Fifa divulgou na manhã desta quarta-feira, 31, os nomes dos dez indicados ao prêmio The Best, de melhor jogador de 2019. Pelo segundo ano consecutivo, Neymar não integra o grupo de finalistas, assim como nenhum outro brasileiro. Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, empatados com cinco prêmios de melhor do mundo cada, estão na disputa. Outro forte candidato é o zagueiro holandês Virgil Can Dijk, campeão europeu com o Liverpool. A premiação do The Best acontece em 23 de setembro, em Milão, na Itália.

Além de Van Dijk, a Holanda foi representada por mais dois destaques que trocaram o Ajax nesta janela de transferência: Frankie De Jong, do Barcelona, e Matthijs De Light, da Juventus. Os outros indicados foram o belga Eden Hazard, que trocou o Chelsea pelo Real Madrid, o inglês Harry Kane, do Tottenham, o senegalês Sadio Mané e o egípcio Mohamed Salah, ambos do Liverpool, e o francês Kylian Mbappé, do PSG.


Rapinoe, a favorita entre as mulheres

A Fifa também divulgou a lista do futebol feminino. A brasileira Marta, embora seja a detentora do prêmio, honraria que ganhou seis vezes, e tenha se tornado a maior artilheira da história das Copas em qualquer gênero, com 17 gols, não foi indicada entre as 12 candidatas no futebol feminino.  A relação é dominada pela seleção dos Estados Unidos, que faturou recentemente o título mundial, com quatro nomes. Além da favorita Megan Rapinoe, eleita a melhor jogadora da Copa da França, Julie Ertz, Rose Lavelle e Alex Morgan estão presentes na relação. 

A finalista do Mundial pela Holanda, Vivianne Miedema também foi indicada. A França teve dois nomes apontados: Wendie Renard e Amandine Henry, autora do gol que eliminou a seleção brasileira nas oitavas de final da Copa. As inglesas Ellen White e Lucy Bronze, as norueguesas Caroline Graham Hansen e Ada Hegerberg, e a australiana Sam Kerr completam a lista de candidatas. 

A definição dos jogadores indicados ao prêmio da Fifa se deu pelo desempenho esportivo entre 25 de maio de 2018 e 7 de julho deste ano no futebol feminino e de 16 de julho de 2018 a 19 de julho no futebol masculino. 

Em Placar, leia MATÉRIA COMPLETA

 


sábado, 9 de março de 2019

Um carnaval em Aalst

O levante contra o 'globalismo' reativa o paradigma antissemita

O grupo "não tinha intenções ofensivas", assegurou o prefeito de Aalst, Cristoph D'Haese, do partido nacionalista N-VA, que busca a independência da região belga de Flandres. "Carnaval é apenas um festival de caricaturas", disse um integrante do grupo. O carro alegórico que detonou a polêmica exibia bonecos representando judeus hassídicos, narizes aduncos, as mãos estendidas pedindo doações, um rato sobre suas malas de dinheiro. Num artigo para a The Atlantic, Eliot A. Cohen traçou paralelos com alegorias similares que apareceram no carnaval de Marburg (Alemanha), em 1936. Hitler não nos espreita na esquina, mas o antissemitismo retorna como discurso socialmente admitido.
De carro, menos de uma hora separa Aalst do Parlamento Europeu. A nova onda de aversão aos judeus faz seu caminho pelo Velho Mundo, escorrendo por veredas de direita e de esquerda. Os bonecos carnavalescos são sintoma do "espírito do tempo". Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán pinta o financista George Soros como o lendário "judeu sem pátria" que dirige um complô destinado a afogar a "Europa cristã" num mar de imigrantes muçulmanos. No Reino Unido, o líder trabalhista Jeremy Corbyn atribui um atentado jihadista no Egito à "mão de Israel", autorizando tacitamente os discursos antissemitas que engolfaram seu partido numa crise moral. Os foliões pertencem às elites políticas e seus gestos cumprem funções estratégicas.
O antissemitismo clássico deita raízes na direita, especificamente no catolicismo tradicional e no nacionalismo autoritário. Nos EUA, como no Brasil, a direita nacionalista represou seus impulsos antijudaicos para atender à base evangélica, que enxerga em Israel o sinal das profecias do Livro do Apocalipse. Na Europa, de modo geral, a gramática do discurso ultranacionalista substitui os judeus pelos muçulmanos no papel de quinta-coluna infiltrada nas sociedades nacionais. Aí, a islamofobia explícita funciona como veículo de um antissemitismo implícito. Mas o ovo está lá, como evidenciam Orbán e inúmeras correntes extremistas que adquirem crescente peso eleitoral.

"O antissemitismo é o socialismo dos idiotas", na frase corrente entre os social-democratas alemães no anoitecer do século 19. O alerta, porém, apagou-se no passado desde que o terceiro-mundismo contaminou o pensamento de esquerda. As eclosões antijudaicas na ala esquerdista do Partido Trabalhista britânico, assim como entre tantas correntes da esquerda latino-americana, cobrem-se com o conveniente disfarce do antissionismo. Mas, sob o manto da crítica legítima ao governo israelense, o novo "socialismo dos idiotas" traça paralelos repugnantes entre Israel e a Alemanha nazista para negar o direito à existência do Estado judeu.
O molde do antissemitismo moderno, fabricado pela polícia política russa, é uma célebre falsificação publicada em 1903: Os protocolos dos Sábios do Sião. Na história da conspiração judaica internacional, financistas, magnatas, jornalistas e comunistas judeus coordenam suas ações para controlar os bancos, a mídia e os governos, com o objetivo final de dominar o mundo. Magnatas e comunistas, ambos sem pátria, operando juntos, formam uma tecla quente para o nacionalismo de direita. Já a associação entre bancos, mídia e governo toca num nervo sensível da esquerda anti-imperialista. Numa ponta e na outra, o levante contra o "globalismo" reativa o paradigma antissemita que inspira a alegoria de Aalst.
O pátio de encontro antissemita da direita e da esquerda saltou da teoria à prática pelas mãos do movimento dos coletes amarelos. Na França, pela primeira vez, correntes extremistas antagônicas colaboram ativamente numa revolta contra o "sistema". O fruto da aliança são suásticas e frases de ódio aos judeus que emporcalham cemitérios e sinagogas. Cinzas na quarta-feira.
Demétrio Magnoli, sociólogo,  doutor em geografia humana pela USP.
 
 

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Globalização? É a Copa

Ângela Merkel foi obrigada a endurecer a política de imigração para salvar a coalizão que sustenta seu governo. A chanceler alemã está na centro-direita liberal, com o partido União Democrata-Cristã. Sua liderança foi essencial para desenvolver em toda a União Europeia um ambiente multilateral, democrático e livre, de fronteiras abertas. Não por acaso, a Alemanha é o país europeu mais recebe imigrantes. Recebia.

Merkel está perdendo espaço para o partido mais à direita de sua coalizão, a União Social Cristã, dominante na estratégica Bavária, que exige praticamente o fim da imigração e ameaça deixar o governo. Como isso levaria à sua derrocada, Merkel topou um acordo. Imigrantes que tentarem acessar a Alemanha, depois de terem entrada na Europa por outro país, serão detidos e deportados.  Isso se aplica sobretudo à fronteira com a Áustria, cujo governo é uma coalizão bem mais à direita. E que reagiu. Se a Alemanha mandar de volta os imigrantes que chegarem pela Áustria, o governo austríaco diz que fará exatamente o mesmo, ou seja, os mandará de volta para Itália e Eslovênia, de onde chega a maioria. E estabelecerá controles rígidos em todas as fronteiras, inclusive para os europeus.

O governo da Itália, um porto de acesso de pessoas que fogem especialmente da África, informou que não pode aceitar nem um imigrante a mais e que pretende, ao contrário, reduzir o número dos que já estão lá.  Essa atitude é uma onda que se espalha pela Europa, um avanço das direitas não liberais.  É um contraste total com o que se vê nos jogos da Copa do Mundo. A Copa é uma síntese da globalização em todos os sentidos e mais especialmente quando se trata da União Europeia. Os times em campo refletem o multilateralismo, da livre circulação de pessoas, jogadores no caso, ao livre mercado dos clubes (empresas) e, sobretudo, ao livre trânsito e à comunhão de ideias.  Todos os times da União Europeia incluem descendentes de africanos. Até a cada vez mais fascista Áustria (que não foi para a Copa) tem negro no seu time.

Isso resulta de uma política de imigração liberal. Há mais. Considerem um dos artilheiros, Romelu Lukaku. Seus pais são congoleses, ele nasceu em Antuérpia, joga, pois, pela seleção belga, mas exerce sua profissão na Inglaterra, titular do Manchester United.  Temos aí a imigração e a livre circulação de profissionais dentro da União Europeia. Os casos se repetem. Conhecem Samuel Umtiti? Nasceu em Camarões, foi para a França, lá ganhou a cidadania, joga pela seleção francesa e sua carteira de trabalho é assinada pelo Barcelona da Espanha.  Os clubes da União Europeia são a origem da maior parte dos jogadores da Copa. Só o campeonato inglês, a Premier League, ofereceu 107 jogadores para os times que estão na Rússia. o começo dessa globalização, havia resistência no mundo do futebol. Era um nacionalismo rasteiro como em outras áreas da sociedade. Dizia-se que os estrangeiros tomariam a vaga de jogadores locais, com isso prejudicando o desenvolvimento do futebol nacional. Mais ou menos como dizer que a indústria nacional só sobrevive se for protegida da competição externa.

É o contrário, como o provam as seleções dos países que mais abriram o seu futebol – como a Espanha. Os craques estrangeiros trazem qualidade e evolução aos locais. Assim como os técnicos, protagonistas da livre circulação de ideias – táticas de jogo, no caso, claro. Repararam como os times jogam muito parecido? O toque de bola, as defesas bem organizadas, o agrupamento dos jogadores, a marcação na frente – são ideias espalhadas pelos técnicos internacionais, mais ou menos como engenheiros e cientistas que espalham conhecimento pelo mundo.  E, finalmente, no capítulo do livre mercado, tem a circulação de capitais que financiam e fortalecem os clubes e os campeonatos. Mais dinheiro, mais craques, mais espetáculo, que rende mais dinheiro e assim vai. Capital e agregação de valor.

Não é por acaso que o mundo inteiro se rende ao “beautiful game”, como o futebol é conhecido globalmente. Ali se encontra o que há de melhor no mundo: integração, liberdade, portas abertas, arte e talento.  Toda vez que a pressionarem, Merkel deveria passar uns vídeos da sua seleção, com Boateng, Ozil, Khedira, Sané. Idem para os demais líderes europeus liberais.  Em tempo: Vladimir Putin reclamou uma vez do campeonato russo. “Parece uma liga africana”, disse. Exagero racista. Mesmo porque a presença de estrangeiros ainda não foi suficiente para formar lá um grande futebol, verdadeiramente europeu.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
 


 

terça-feira, 16 de maio de 2017

José Nêumanne: A “Ruivinha” do Texas

Em vez de vender a prova do crime, Petrobras deveria pedir na Justiça suspensão da compra danosa

Em 19 de março de 2014, O Estado de S. Paulo publicou reportagem de Andreza Matais e Fábio Fabrini, da Sucursal de Brasília dando conta de que documentos até então inéditos revelavam que a presidente Dilma Rousseff decidira, em 2006. A favor da compra de 50% da polêmica refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A petista era ministra da Casa Civil e comandava o Conselho de Administração da Petrobras. Os repórteres informaram, ainda, que, “ao justificar a decisão ao Estado, ela disse que só apoiou a medida porque recebeu ‘informações incompletas’ de um parecer ‘técnica e juridicamente falho’”.


 Refinaria Pasadena comprada pela Petrobrás no Texas (EUA) (Gilberto Tadday/VEJA)

Essa foi sua primeira manifestação pública sobre o tema e esse “sincericídio” é apontado como tendo sido o ponto de partida para o processo que a levou ao desfecho do impeachment, que a apeou da Presidência da República em 12 de maio de 2017. À época em que a reportagem foi publicada, a aquisição da refinaria já era investigada pela Polícia Federal (PF), pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pelo Ministério Público Federal (MPF) e até pelo Congresso, por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas.

O conselho da Petrobras, que Dilma presidiu de 2003 a 2010, quando era ministra de Minas e Energia e, depois, chefe da Casa Civil, no primeiro desgoverno de seu companheiro, padrinho e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, apoiou a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões. Posteriormente, por causa de cláusulas do contrato, a estatal foi obrigada a ficar com 100% da unidade, antes compartilhada com uma empresa belga, e acabou tendo que desembolsar US$ 1,18 bilhão – cerca de R$ 2,76 bilhões.

Na resposta dada ao jornal, a ex-presidente, em seu estilo habitualmente pouco inteligente e muito confuso, disse, então, que o material que fundamentara sua decisão em 2006 não trazia justamente a cláusula que obrigaria a Petrobras a ficar com toda a refinaria. Trata-se da cláusula Put Option, que manda uma das partes da sociedade comprar a outra em caso de desacordo entre os sócios. A Petrobras desentendeu-dr sobre investimentos com a belga Astra Oil, sua sócia. E por isso acabou ficando com 100% da refinaria.

O relatório a que ela se referiu na nota em resposta à informação publicada no Estado, foi preparado e apresentado no conselho pelo então diretor internacional da companhia, Nestor Cerveró, que foi preso pela Operação Lava Jato por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Ele confessou e, em troca de delação, passou da prisão fechada à domiciliar, usando tornozeleira. O documento omitia cláusulas do contrato consideradas prejudiciais à estatal.

Em 5 de maio passado, reportagem do correspondente do Estado em Genebra, Jamil Chade, deu conta de que a Suíça apura propina de Pasadena e Abreu e Lima (em Pernambuco). Ou seja, depois de algum tempo relegado ao esquecimento, o assunto voltou à baila. É muito bom que isso aconteça, pois o caso da famigerada “Ruivinha” do Texas não pode ser esquecido. Afinal, trata-se de um tema muito grave e sobre o qual Dilma, que acaba de ser desmascarada pelo marqueteiro João Santana e pela mulher dele, Mônica Moura, não deu explicações convincentes que desmentissem sua incapacidade, como presidente do Conselho de Administração da estatal, de perceber um negócio tão absurdamente ruinoso para a maior empresa do Brasil, a joia da coroa estatal brasileira.

O negócio  causou um prejuízo à Petrobras de US$ 792 milhões. Antes da delação dos marqueteiros, que só foi revelada na sexta-feira 12 de maio, por decisão do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin, o ex-senador Delcídio Amaral, ex-líder do governo Dilma no Senado, também em delação premiada, confessou que só ele recebeu do Cerveró US$ 1 milhão oriundo da propina nessa compra. E que a propina global da “Rusty” atingiu US$ 15 milhões. Até agora, Dilma Rousseff e o então presidente da empresa, Sérgio Gabrielli, não foram investigados nem processados a respeito. Além de Paulo Roberto Costa, o famoso “Paulinho do Lula”, ex-diretor de Abastecimento e pioneiro entre os delatores da Lava Jato, só enfrenta as barras da lei o citado ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró.

Dilma, Gabrielli e Cerveró acusam o Citigroup de ter dado uma fairness opinion, ou seja, aval de especialista para a compra. Guido Mantega, à época ministro da Fazenda, também meteu o bedelho e jogou toda a culpa no aval do Citigroup. Mas esta grande instituição financeira americana tem desmentido sistematicamente todos eles e afirmado que a fairness opinion é apenas um instrumento de apoio e não pode substituir a obrigação e responsabilidade pela tomada de decisão, que recai exclusivamente sobre os corpos diretivos da estatal. Por mais dúvidas que essa posição do banco levante, o certo é que não é possível passar ao largo da culpa dos citados no negócio danoso ao interesse público.

A Operação Lava Jato está apurando os ilícitos que quase quebraram a Petrobras, entre os quais a aquisição da “Ruivinha do Texas”, da qual Dilma,  Gabrielli  e Cerveró participaram e que terão muito a esclarecer sobre o maior tsunami de corrupção da História, o chamado petrolão. O coordenador da força-tarefa, procurador Deltan Dallagnol, refere-se em seu livro A Luta contra a Corrupção, à venda nas livrarias, a esse episódio grotesco, entre os muitos que constituem a corrupção a cargo de sua equipe e de policiais federais responsáveis pela investigação e pela acusação e pelo julgamento dos culpados, a ser dado pelo juiz Sergio Moro, titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba.

No começo de maio, coincidindo com a notícia do interesse mostrado no caso pelo Ministério Público suíço, o Estado deu a excelente notícia de que a Petrobras teve lucro de R$ 4,449 bilhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 1,246 bilhão no mesmo período do ano passado. Isso mostra que a empresa segue por um bom caminho.

No noticiário do grande feito, o presidente da estatal, Pedro Parente, afirmou estar satisfeito com esses resultados. Só que, um dia antes dessa boa nova, dada na semana passada, o jornal também noticiou que a empresa incluiu refinaria de Pasadena entre os ativos que vai vender para atingir a meta de US$ 21 bilhões de investimentos até o fim do ano que vem. Acontece que Pasadena custou US$ 1,2 bilhão, pago pela então maior empresa brasileira à antiga proprietária, a belga Astra Oil, que, meses antes, a havia adquirido por US$ 42,5 milhões. Pelas contas do TCU, a estatal perdeu US$ 792 milhões ao fechar o negócio. É simplesmente impossível que a Petrobras reverta esse prejuízo com a venda. Para o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, a estatal tem autonomia para vender Pasadena e não se deve prender ao fato de a refinaria ser alvo de investigação por corrupção.

Mas ele está redondamente enganado. O correto seria a Petrobras entrar na Justiça aqui e nos Estados Unidos tentando anular a compra da “Ruivinha” do Texas e pedindo ressarcimento pelo prejuízo de US$ 792 milhões causados à empresa e, portanto, à União, que representa seus acionistas majoritários, os cidadãos brasileiros, por essa aquisição danosa e gravosa. Vender a refinaria de Pasadena é arcar com esse prejuízo, aceitando-o como líquido e certo. A Petrobras tem o dever de ofício de obter reparações e processar o cartel de empreiteiras.

O negócio danoso para a estatal e, em consequência, para o cidadão e contribuinte brasileiro, tem de ser investigado a fundo e, já que não há como recuperar nem parte ínfima dos prejuízos, a Petrobras deve participar ativamente dessas investigações, exigindo reparações na Justiça e punição dos responsáveis por esses danos. Em nome da excelente gestão que Pedro Parente está realizando na empresa, é seu dever não deixar essa bola passar por baixo das pernas.

Transcrito da Coluna do Augusto Nunes - VEJA 

 

terça-feira, 12 de julho de 2016

O biquíni, a ‘bomba anatômica’, completa 70 anos

Em julho de 1946, o francês Louis Reard provocou um verdadeiro escândalo ao lançar um maiô considerado muito pouco pudico: 70 anos depois, uma exposição conta a história do biquíni através de peças míticas, do primeiro exemplar até o que foi eternizado por Úrsula Andress,  em “James Bond”


“O biquini: uma bomba anatômica” foi o slogan criado para os dois pedaços de tecido, uma faixa para a parte de cima e dois triângulos invertidos para a parte de baixo, vendidos em um pacote do tamanho de uma grande caixa de fósforos. A peça foi tão explosiva que foi batizada com o nome da pequena ilha onde testes atômicos americanos eram realizados.

Apesar de o biquíni já existir há algum tempo, foi a calcinha de cintura alta, na altura da barriga, a preferida das mulheres no pós-guerra, como evidenciado pelas imagens de pin-up ou atrizes americanas, Marilyn Monroe na liderança.  A chegada do biquíni foi histórica, porque mostrou pela primeira vez o que as mulheres não se atreviam a mostrar, o umbigo.

Foi uma dançarina de 19 anos, Micheline Bernardini, que se apresentava no Cassino de Paris, que vestiu o primeiro biquíni da história, em 5 de julho de 1946, para a eleição da mais bela na piscina Molitor, local muito frequentado da capital francesa nos anos 30.  “É comum lermos que nenhuma modelo quis usar a peça. E isso não é verdade”, explicam à AFP Ghislaine Rayer e Patrice Gaulupeau, que colocaram em exposição sua coleção privada, de 5.000 peças de lingerie e banho. “Réard sempre convocava vedetes ou modelos para seus desfiles”.

O criador francês também não hesitava em travestir a verdade, com etiquetas “made in USA” ou “Reard of California”…. “Ele havia compreendido como funcionava o marketing e a publicidade!”, exclama Thierry Virvaire.  Na Europa, sob pressão da Igreja Católica, os governos italiano, espanhol e belga proibiram a venda dos biquínis. Na França, curiosamente, foi permitido nas praias do Mediterrâneo, mas proibido nas do Atlântico.

Foi preciso esperar os anos 50 para as estrelas do cinema adotarem o biquíni. Desta forma, a atriz francesa Brigitte Bardot causou histeria durante o Festival de Cinema de Cannes (sul) em 1953, ao posar de biquíni branco com flores na praia de Carlton.
O público pode admirar as sublimes fotos de “BB”, Marilyn Monroe ou Ava Gardner em roupa de banho sexy. “Foram BB e Marilyn que fizeram do biquíni uma peça emblemática”, revela Ghislaine Rayer, que também exibe raras “roupas de banho” de 1880 ou suntuosos maiôs New Look, nesta exposição gratuita até 24 de julho em Lyon, antes de ir para Nova York em setembro, Miami em dezembro e para um museu do biquíni que será inaugurado na Alemanha em 2017.

‘Itsy bitsy’
Em Lyon também estava exposta uma das peças mais memoráveis, a utilizada por Ursula Andress, quando aparece emergindo das águas, conchas na mão e punhal na cintura, em uma famosa cena de “James Bond contra o Dr. No”, de 1962. O verdadeiro biquíni do filme foi leiloado pela Christie’s por 55.000 euros. Ele havia sido confeccionado às pressas por um pequeno alfaiate indiano”, relata a colecionadora.

Canções foram dedicadas a ele como em 1960, “Itsy Bitsy, petir bikini”, título americano sucesso em todo o mundo, incluindo em português “Biquíni de bolinha amarelinha”, que conta a história de uma jovem que usava pela primeira vez um biquíni na praia.  “Mas foi preciso esperar até os anos 1970, quando as mulheres se emanciparam e queimaram o sutiã em público, para que o biquíni, tal como foi concebido por seu criador, voltasse a aparecer, desta vez de forma definitiva”, conclui Ghislaine Rayer.

Adotado pelas jovens, “ele simboliza a ruptura com a geração precedente”, ressalta.
Depois, a maioria das mulheres passaram a escolher as duas peças para se bronzear ao sol, tanto quanto possível. Hoje, o biquíni já não causa escândalo e quase 15 milhões de peças são vendidas a cada ano na França, o maior mercado na Europa. A exposição é organizada pela Mode City, realizada em Lyon, em colaboração com as duas colecionadoras que também contam em “Rétrospective du bikini”, livro ilustrado de arquivos inéditos, a sua história.

Fonte:  AFP

domingo, 23 de agosto de 2015

Snipers da PMDF e seus desafios diários

Atiradores de elite da PM contam rotina de treinos e desafios da profissão

Equipe de snipers brasiliense treina diariamente para atuar em situações extremas. O importante, para eles, é salvar pessoas.

O trabalho escolhido por amor à sociedade exige prática constante, sacrifício, concentração e controle emocional. 

Oito homens de preto do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Distrito Federal carregam a missão de empunhar fuzis para fazer valer a lei em situações de extrema ameaça à vida de cidadãos inocentes. Atiradores de elite da Polícia Militar do DF dispararam o último tiro fatal em 20 de agosto de 2008. À época, eles impediram que um sequestro em uma farmácia na QNM 18, em Ceilândia, terminasse em tragédia. Ainda assim, não passaram um dia sem se preparar para novas ocorrências. Mesmo quando não apertam o gatilho, os snipers da capital estão presentes em situações de risco.

O rosto coberto protege a identidade dos militares, que preferem contar as vidas salvas em vez dos criminosos mortos. Os olhos atentos fazem a observação e colhem todos os detalhes da cena de perigo. Os snipers posicionam-se em áreas limpas e de visibilidade favorável com o mínimo de interferência. Para garantir o sucesso de uma operação, o trabalho em equipe é o pressuposto básico. O atirador nunca está sozinho. Um segundo profissional está sempre junto na função de observador. Em grandes ações, quatro homens se revezam.
Em 25 anos de Bope, o mais antigo atirador completou uma década e meia na especialidade. A fim de preservar a identidade, ele prefere não ter o nome revelado, mas não deixa de contar os sabores e as agruras da profissão. 



A prática diária, com exercícios de tiro, físicos e de cálculos, é fundamental para garantir o sucesso de uma operação
Na lembrança das ocorrências mais desafiadoras está o da farmácia em Ceilândia. O sargento era um dos quatro que atuavam na ocorrência do sequestro. Roger do Arte Pinto, 23 anos, manteve a vítima Regina Chaves, 26, como refém por cinco horas. A mulher, que trabalhava no caixa do estabelecimento, serviu de escudo. “Uma coisa é praticar tiro em alvo de papel, que não se mexe nem reage. Outra é enfrentar uma ocorrência em que a pessoa se move muito”, lembra o sargento.

Ele conta que o criminoso tinha feito uso de rupinol, estava muito agitado e mantinha o dedo cerrado no gatilho. Um dos atiradores recebeu o comando para agir depois que o criminoso disparou um tiro contra os negociadores. No dia seguinte, o sargento se recorda de a equipe ter ido procurar a vítima para entregar flores. “Ela ficou tão atordoada que sumiu. Até hoje o buquê não foi entregue. O importante é salvar vidas. Nesse caso, conseguimos”, comemora.

Retaliação

As armas são fuzis de munição 762 milímetros de origem norte-americana, belga e alemã. O projétil é capaz de derrubar helicóptero e perfurar motor de carros. Na profissão, a impessoalidade é a marca dos snipers. “Para não sofrer retaliação, nós preservamos a nossa identidade. Em geral, o criminoso sabe que há atiradores de elite na ocorrência e eles comentam isso. Por isso, evitamos nos expor para segurança pessoal e de familiares”, ressaltou.

Bem treinados, os snipers precisam cumprir a escala de atividade física e de tiro diariamente por duas horas e meia. A intensa rotina de prática — que inclui cálculos de desvio de rota da bala e do vento, entre outros faz com que os militares permaneçam em constante reciclagem. Em 14 anos de Bope, oito deles como atirador, um cabo que faz parte do time revela nunca ter ficado um dia sem fazer as atividades exigidas. “Temos que ter controle emocional, disciplina e consciência”, teoriza.

Fonte: Correio Braziliense 

quarta-feira, 25 de março de 2015

França vê pouca chance de terrorismo em queda de avião que matou 150 – e o vôo da Malaysia Airlines; quando o mistério do seu desaparecimento será revelado?



Airbus A320 da companhia alemã se chocou contra os Alpes franceses nesta terça-feira
O governo francês não privilegia a hipótese terrorista no acidente de avião da companhia alemã Germanwings, que caiu na terça-feira nos Alpes franceses e provocou a morte das 150 pessoas que estavam a bordo, afirmou o ministro do Interior.  "Todas as hipóteses devem ser consideradas até que a investigação apresente resultados, mas a hipótese terrorista não é privilegiada", disse Bernard Cazeneuve à rádio RTL.  "Há uma concentração de partes do avião em um espaço de um hectare e meio. É um espaço importante porque o impacto foi importante, mas isto mostra que o avião provavelmente não explodiu", completou o ministro.

E o vôo MH 370? que aconteceu realmente? Leia mais

Bernard Cazeneuve disse que nas próximas horas os especialistas devem começar a analisar os dados da caixa-preta encontrada na terça-feira, que corresponde à gravação das conversas e aos sons da cabine dos pilotos. Dez médicos legistas serão enviados ao local para identificar os corpos.

Autoridades retomam busca de corpos e destroços
A perigosa operação para recuperar os destroços do avião da companhia alemã Germanwings que caiu na terça-feira ao sul dos Alpes franceses com 150 pessoas a bordo, a maioria alemães e espanhóis, foi retomada nesta quarta-feira. A caixa-preta encontrada na terça-feira, a que registra as conversas dos pilotos, está danificada, mas pode ser analisada informou à AFP uma fonte próxima à investigação. "A caixa-preta encontrada é a CVR (cockpit voice recorder)", disse a fonte.   "Foi enviada a Paris para que seja analisada pelo BEA" (Escritório de Investigação e Análises), completou.

O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, confirmou que a caixa-preta está danificada, mas o conteúdo pode ser utilizado.  "Será necessário reconstituí-la", disse.  Ao mesmo tempo, o ministro explicou que o governo francês não privilegia a hipótese terrorista na investigação das causas do acidente.  Os investigadores prosseguem com as buscas pela segunda caixa-preta, a "FDR" (Flight Data Recorder), que grava os dados do voo segundo por segundo, uma tarefa que será complexa em consequência da dispersão de partes do avião em uma ampla área montanhosa de difícil acesso entre Digne-les-Bains e Barcelonette (Alpes da Alta Provença).  Segundo o general francês David Galtier, "os pedaços de corpos humanos localizados não são maiores que uma pequena maleta".

Entre os milhares de pedaços da aeronave foi possível identificar apenas o trem de pouso, segundo um investigador, o que levanta a possibilidade de que o avião se desintegrou no choque com as paredes rochosas.  A chanceler alemã, Ângela Merkel, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, e o presidente francês, François Hollande, visitarão o local da tragédia, que conta com mais de 300 policiais e 100 bombeiros.  Alemanha e Espanha são os países mais afetados pelo número de vítimas.

O Airbus A320 da Germanwings, uma companhia de baixo custo, filial da Lufthansa, caiu na terça-feira em uma área com montanhas que chegam a 3.000 metros de altura. A aeronave seguia de Barcelona (Espanha) para Düsseldorf (Alemanha) com 144 passageiros e seis membros da tripulação a bordo.

O pior acidente em 30 anos
 A catástrofe aérea, que provocou uma grande comoção na Europa, foi a pior registrada na França em mais de 30 anos.  Na Espanha, o governo decretou três dias de luto nacional. Os reis Felipe VI e Letizia cancelaram uma visita de Estado à França que havia começado poucas horas antes.

Entre as vítimas estão 67 alemães, incluindo dois bebês e 16 adolescentes de Haltern (noroeste da Alemanha), que retornavam, ao lado de duas professoras, de um intercâmbio escolar na Espanha.  Entre os passageiros estavam 45 pessoas com sobrenomes latinos, segundo a vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría.  Dois colombianos e dois argentinos estariam no voo, assim como três mexicanos, segundo a chancelaria do país.  Dois australianos e pelo menos um belga também estão entre as vítimas. 

Também estão entre as vítimas dois cantores de ópera de Düsseldorf, o baixo-barítono Oleg Bryjak, de 54 anos, e a contralto Maria Radner, 33, que viajava com o marido e seu bebê.  A localidade de Seyne-les-Alpes aguarda a chegada dos parentes das vítimas.  O tenente-coronel Jean-Marc Ménichini, da gendarmaria, informou que 30 investigadores e médicos legistas integrarão as equipes nos helicópteros de busca. 

A tarefa vai tomar pelo menos uma semana, advertiu.  "O acesso ao local é muito complicado. É uma área de muitas montanhas, muito elevada e é muito difícil chegar no local no inverno, a não ser pelo ar", disse Francoise Pie, morador da região.  Uma unidade de emergência médico-psicológica foi estabelecida no hospital de Digne-les-Bains e outra será instalada em Seyne-les-Alpes, com intérpretes de espanhol e de alemão.

Fonte: AFP

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Snipers brasileiros - Nós atiramos para salvar

"Não atiramos para acabar com uma vida, mas para salvar outra"

Conheça os snipers brasileiros, atiradores de elite da Polícia Militar que jamais podem errar

  Os atiradores de elite da PM de SP M., de 33 anos, e E. de, 34: não há margem para erro

Oficialmente, as Forças Armadas dos Estados Unidos registram 160 inimigos abatidos pelo sniper americano Chris Kyle durante as guerras no Iraque e no Afeganistão. Em sua autobiografia, que virou filme indicado ao Oscar, Kyle alega que o número de alvos atingidos com sucesso passa de 200. A história de guerra, heróis, inimigos e patriotismo - com direção de Clint Eastwood - não agradou a academia e levou apenas uma estatueta - melhor edição de som -, das seis a que tinha sido indicada. Aqui no Brasil, onde as atividades das nossas Forças Armadas são mais limitadas, os atiradores de elite são menos requisitados. Mas em um país que figura entre os mais violentos do mundo, são os snipers policiais que estão sempre em alerta.
Enquanto Chris Kyle teve que lidar com terroristas dentro do território inimigo, os snipers policiais entram em ação contra assaltantes, traficantes, sequestradores e suicidas. “É a atividade que escolhe você, não você quem escolhe ser um sniper”, diz o Capitão Ricardo Orlandi Folkis, do Gate Grupo de Ações Táticas Especiais, divisão da polícia militar do estado de São Paulo.

A carreira de um atirador de elite começa com o concurso público para ingressar na PM. Só após dois anos atuando na patrulha é possível se candidatar para ingressar no Gate. As inscrições costumam ter mais de 300 candidatos para cerca de 30 vagas. Após testes físicos e psicológicos, uma avaliação do histórico profissional, que inclui consulta à Corregedoria, e uma prova escrita, os selecionados para o curso do Gate passam um mês em treinamento pesado. Ao final, apenas metade dos estudantes se forma. Mas o Capitão Folkis ressalta que, apesar do treinamento e do curso intensivos, os recém admitidos começam como “estagiários” na tropa.

Ao longo desse período inicial, em que passam por experiências em todas as áreas do Gate, como armamentos e explosivos, os snipers podem ser identificados por uma espécie de “olheiro” da polícia. “Nesse momento, a avaliação do perfil psicológico do candidato a sniper policial é mais rigorosa que a avaliação física ou técnica”, explica o Capitão Folkis. Segundo a PM, diante do menor desvio de conduta ou indicação de um possível problema, o policial é desligado.

O treinamento de um atirador de elite dura cerca de dois anos. Só depois desse período ele começa a atuar sem a supervisão de um instrutor. O fato, no entanto, é que um atirador nunca está totalmente sozinho. Ele trabalha em parceria com o observador. E são necessários mais dois anos de experiência para que o sniper policial possa ter autonomia em uma ação. Autonomia essa que só é concedida em cada caso após o "sinal verde" do comandante da operação.

Desde a fundação do Gate, em 1987, os atiradores de elite só tiveram que disparar em sete situações. Mas são chamados de três a quatro vezes por mês. São requisitados principalmente em casos que envolvem reféns sob mira de alguma arma. Também atuam em ações da táticas da polícia, como incursões em ambientes hostis, rebelião em presídios e proteção de autoridades. Em 2001, durante visita do ex-presidente americano Bill Clinton, atuaram em parceria com o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos.

Ex-maridos alcoolizados e inconformados que tomam familiares reféns também são personagens comuns em situações que requerem a presença dos snipers brasileiros. Enquanto a negociação se desenrola, os atiradores devem manter inabalados o foco e a concentração. Podem aguentar horas em posição. “Não tem situação mais ou menos complicada, em todas estamos lidando com vidas”, conta Folkis.

O capitão ressalta que, quando é preciso atirar, “o tiro não é para tirar uma vida, mas para salvar outra”. “A atividade de um sniper da polícia e um sniper das Forças Armadas Americanas pode ser bem diferentes, mas com certeza a pressão do momento e a cobrança são as mesmas", diz Folkis. “Uma diferença importante entre os dois é que, para o militar, de um limite pra trás é tudo inimigo e não há uma negociação. Já o sniper policial não pode errar e tem apenas um alvo, conclui.


 Fuzil belga, FN 30-11
 
Um fuzil FN 30-11, de fabricação belga, é a ferramenta de trabalho, ao lado do uniforme com colete à prova de balas, do telemetro (que mostra distância do alvo e velocidade do vento), do rádio comunicador e de uma luneta. No momento, uma licitação internacional está em curso para a troca do FN pelo fuzil Remington 700, de fabricação americana, calibre 7.62.

Os atiradores podem acertar um alvo de 3 centímetros a uma distância de 100 metros. O capitão Folkis conta que a maior distância de um alvo atingido por um atirador de elite em uma operação com refém foi de 32 metros. Em casos com refém e com boa visibilidade, a mira é direcionada para um ponto entre o lábio superior e o nariz do suspeito.


O novo modelo de fuzil a ser utilizado, o Remington 700
IstoÉ conversou com dois atiradores de elite do Gate: M.M., de 33 anos, e G. E. de, 34. Ambos repetem as palavras do Capitão Folkis ao dizer que é “função que escolhe o policial”, não o oposto. Como diferencial, listam muito estudo técnico e comprometimento. “Temos situações em que é preciso saber julgar o que é ético, moral e legal. Nem tudo que é legal é moral”, diz M. “Não julgamos vidas, julgamos situações”.

E. aponta  o estresse, a pressão psicológica e a confiança depositada na função os grandes desafios em uma operação com refém. “Nessas situações, precisamos passar confiança para os outros e para o país”. Nas horas vagas, não há a pressão psicológica nem o estresse. Mas eles continuam a lidar com alvos e munições, já que um passatempo frequente são jogos de videogame como Counter Strike e Sniper Hero. O livro “Não Há Dia Fácil”, que narra a operação que resultou na captura e morte de Osama Bin Laden, chegou a ser inspiração para E., que relatou ter usado passagens da obra em situações reais.

E a empolgação é visível ao falar de “Falcão Negro em Perigo”, filme de ação de Ridley Scott que relata uma desastrosa operação dos Estados Unidos na Somália, e das séries "Flashpoint", "The Unit", "Southland" e "Homeland", todas com temática policial ou de segurança. Perguntado sobre qual o sentimento de atuar numa posição de elite da polícia, M. responde: “é como ser escalado para a seleção brasileira”.

Por:  Ana Carolina Nunes