Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador El País. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador El País. Mostrar todas as postagens

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Agressões sexuais envergonham a melhor universidade do Brasil

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo tenta manter intacta sua imagem enquanto alunos denunciam uma rotina de trotes e estupros

Marina Souza Pickman, de 24 anos, hoje aluna do quarto ano, conta que nas suas primeiras semanas na universidade sofreu duas agressões sexuais. Seu caso, junto com o de outras nove mulheres que nos últimos meses decidiram romper anos de silêncio, revelou um submundo de trotes violentos e abusos sexuais que se mantinha oculto atrás dos muros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais prestigiadas e elitistas do país. As violações constituem somente a ponta de um iceberg de uma cultura na qual não só as mulheres são ultrajadas, mas também são reprimidos os alunos homossexuais e negros. “Estávamos indo de uma festa a outra quando um colega se ofereceu para me acompanhar porque eu estava muito bêbada. Então, ele me empurrou para uma sala escura e começou a tentar me beijar. Eu resisti. Caímos no chão e ele se colocou em cima de mim e baixou as minhas calças enquanto me prendia os braços. E me penetrou com o dedo […] Depois, soube que esse mesmo colega agrediu outras garotas. É algo comum”, conta Marina.

Na segunda agressão, Marina acordou no pronto-socorro.Bebi e não lembro de mais nada. Abri os olhos no hospital e meus colegas disseram acreditar que eu tinha sido estuprada. Levaram-me para tomar o tratamento antirretroviral para evitar o Aids porque acreditavam que eu tinha sido estuprada sem camisinha. O médico duvidou do abuso e meus colegas se negaram a lhe contar o que sabiam. Dias depois eu soube que um aluno tinha me deixado em uma tenda dormindo e ao voltar se deparou com um empregado da manutenção da faculdade em cima de mim, com as calças abaixadas. Eu disse que queria denunciar, mas a principal testemunha, que eu acho que também abusou de mim, me disse que não ia poder provar. Abafaram o meu caso. O próprio diretor disse que tinha medo de que a imagem da instituição fosse prejudicada”, recorda.

O empregado acusado de entrar na tenda, supostamente depois de pagar a alunos e seguranças, é o único indiciado até agora pelos episódios de violência sexual que marcaram a vida das estudantes e mancham a reputação da instituição desde 2013. O caso de Marina não é o único. Pelo menos dez alunas denunciaram seus casos publicamente ou ao Ministério Público, e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa do Estado convocou diretores, vítimas e supostos agressores para investigar as violações de direitos humanos, até então ocultas, nas universidades paulistas.
Aos relatos da faculdade de medicina se somaram as denúncias de alunas de outras universidades. Isso ocorre em um país onde se calcula que são cometidos 143.000 estupros por ano, mas somente 35% das vítimas denunciam, segundo o último Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

A história que deu início a tudo isso é de Phamela Silva Feitosa, aluna de quinto ano de Medicina. Foi em 2013. “Dois colegas me convidaram para ir a um carro pegar mais bebida. Insisti que não queria ir, mas acabei indo. Começaram a beijar-me, a tocar-me, a meter a mão nas minhas calças. Gritei e um deles se irritou com isso, e me disse que, na realidade, era o que eu queria. Eu me salvei porque passou um casal.”

Phamela denunciou o abuso de forma anônima no site do Núcleo de Estudos de Gênero, Saúde e Sexualidade, o único lugar que acolheu seu caso, e desencadeou um furacão. “A atitude da faculdade foi hostil, quiseram convencer-me de que não havia acontecido nada, de que era algo sem importância ou que eu tinha inventado. Até me chamaram de puta, disseram que eu dormia todo mundo […]”, relatou Phamela na CPI. 

Seu depoimento deu origem à criação do grupo feminista Geni, que recebe as vítimas de abusos e discriminação, abriu as portas a mais denúncias e obrigou a faculdade a criar uma primeira comissão para investigar os estupros e o consumo de drogas na instituição.
Enquanto os casos passam a ser de domínio público, os alunos que, segundo as vítimas, abusaram de várias estudantes nos últimos anos, prosseguem impunemente com sua rotina de futuros doutores. Nenhum deles foi expulso. Um exemplo da sensação de impunidade que reina na universidade é a canção que, segundo as vítimas, se tornou moda no campus: “Estupro, sim, o que é que tem? Se reclamar, vou estuprar você também”.

Os veteranos mais envolvidos nas agremiações da faculdade, organizadoras das festas e dos rituais de boas-vindas, negam os abusos. Dizem que não sabiam que eram cometidos estupros e que na faculdade não são praticados rituais como o pascu, um trote que consiste em introduzir pasta de dentes (ou qualquer outra coisa) no ânus do novato e que apareceu várias vezes nos relatos dos calouros. Insistem em que há coisas que podem ser melhoradas, como a participação das mulheres nas atividades da universidade, mas que não há nada condenável.

A denúncia de Phamela abriu os olhos dos professores. “Foi seu modo de nos dizer: ‘Eu fui estuprada. Vocês vão fazer alguma coisa ou não?’”, lembra o professor Paulo Saldiva, presidente da comissão criada no ano passado para investigar os abusos e o consumo de drogas no campus. “Falou-se em reduzir o álcool nas festas, mas isso não era álcool, isso era uma tradição de veteranos na faculdade”, relata o médico. As conclusões do relatório da comissão são um maremoto na reputação de qualquer instituição, mais ainda em uma faculdade de medicina: “A violência sexual ocorre de forma sistemática em nosso meio […] Foram documentados vários episódios de intolerância étnica e religiosa, com muitos exemplos de ações racistas contra nossos colegas africanos […] As dependências da faculdade vivenciam rotineiramente o consumo excessivo de drogas [...].”

Saldiva abandonou o cargo de professor titular depois de concluir o documento. O médico se revoltou conta o silêncio da direção da instituição durante o momento mais crítico da crise, quando todo mundo ia ter acesso aos casos, na abertura da CPI. “Avisei que teríamos de ter uma posição oficial. Disse ao diretor que iríamos ser atropelados pelas circunstâncias e que teríamos de tomar a iniciativa para nos tornarmos um exemplo. Não adiantou nada.” Saldiva está pensando em abandonar a USP: “Quero saber em que faculdade dou aulas”.

Apesar de entre as denúncias ter surgido uma agressão ocorrida há dez anos, para o atual diretor da faculdade, José Otávio Costa, o escândalo explodiu em suas mãos quando acabava de assumir o cargo em 2014. Em um primeiro embate, Costa tentou acabar com a CPI da Assembleia, segundo denunciou seu presidente, o deputado estadual Adriano Diogo (PT). O professor, que não quis dar entrevista a EL PAÍS, negou essa intromissão e disse que somente tentou adiar a CPI até ter essa posição oficial que Saldiva e este jornal pediram. A faculdade proibiu festas e álcool e pôs em andamento um programa que oferece assistência jurídica e psicológica, bem como uma ouvidoria para as vítimas. A resposta institucional está longe de parecer com a adotada pelos Estados Unidos, onde 86 campi estão sob intervenção federal.  “Durante muito tempo eu me culpei por ter bebido e não ter oferecido resistência suficiente, por ter confiado”, afirma Marina. “Mas hoje me parece ridículo que não possa embebedar-me em uma festa da minha faculdade com meus colegas de classe, pois podem estuprar-me.”


O trote, um ritual bárbaro ainda vigente nas universidades do Brasil

Fonte: El País

 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A pior derrota para Dilma e o PT



Parafraseando Marina Silva, poderíamos dizer que Rousseff “perdeu perdendo” com a vitória de Eduardo Cunha na Câmara
A vitória do conservador Eduardo Cunha, que conquistou a presidência da Câmara de Deputados do Brasil na primeira votação e com folgada maioria, significa a maior das derrotas para o Governo da presidenta Dilma Rousseff e para seu partido, o PT.

Parafraseando a ecologista Marina Silva, que criou a frase de que se pode “ganhar perdendo” e “perder ganhando”, poderíamos dizer que Rousseff, ganhadora das últimas eleições presidenciais, não apenas sofreu sua primeira grande derrota política, mas também “perdeu perdendo”.  Se não tivesse caído na tentação de minar com todas as forças de seu Governo a candidatura do conservador Cunha, que pertence ao maior de seus partidos aliados e não à oposição, no lugar de ter mantido a neutralidade, poderia ter “perdido ganhando”. Teria sido um sinal democrático de que o poder Executivo respeita as decisões soberanas do outro poder independente, o Legislativo.

O Governo preferiu, no entanto, o confronto e lançou contra esta candidatura a do petista. Chinaglia convencido de que acabariam derrotando o candidato rebelde da maioria. Perdeu o Governo e perdeu o PT, revelando-se mais uma vez que os dois se encontram em um dos momentos mais críticos da política dos últimos anos, e que já não possuem no Congresso a força de antes. Uma força que, talvez por ter sido usada esquecendo-se às vezes da independência que deve ter a Câmara que representa a nação, acabou criando ressentimentos e conflitos de poder que desembocaram em traições até dentro dos 10 partidos que oficialmente apoiam o Governo.

A derrota desse “perder perdendo” poderia ser menor se o Governo e o PT soubessem agora aceitá-la como um sinal de alerta, de que a complexa e confusa política brasileira está mudando para o bem ou para o mal, e que os velhos truques, as bajulações e as ameaças não servem mais para continuar ganhando.  O estrondoso aplauso ao resultado da vitória de Cunha que ecoou na Câmara deveria ser um aviso grave ao Governo de que não poderá continuar tratando o Legislativo como se fosse um poder independente, mas ao mesmo tempo, de algum modo, submetido ao Governo.

Preferir ignorá-lo seria a pior das respostas. O Governo e o PT enfrentarão tempos difíceis. O rosário de crise que ataca a economia do país com ameaças de recessão e possíveis racionamentos de energia e água, dois elementos explosivos para toda a população, obrigarão o Governo a tomar medidas que poderiam ser impopulares.  Para isso vai precisar dos votos de um Congresso que sai vitorioso sabendo que o Governo jogou todas suas cartas para derrotar o candidato indesejado.

O Governo viu que a maioria que possui no Congresso, e que foi criada às vezes com o alto preço da corrupção, não é medida somente com os números, já que o anonimato das urnas espreita sempre a tentação da traição. E desta vez ficou evidente para todos que o segundo Governo de Rousseff foi traído quase antes de nascer. 

Fonte: El País – Juan Arias


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Continuaremos a publicar



Continuaremos informando, investigando, entrevistando, editando, publicando e desenhando sobre todos os assuntos que nos pareçam legítimos
Nos últimos meses,  a liberdade de pensar e informar já era o alvo, com a decapitação de outros jornalistas, americanos, europeus ou de países árabes, sequestrados e assassinados por membros da organização Estado Islâmico. O terrorismo, seja qual for sua ideologia, rechaça a busca pela verdade e não aceita a independência de espírito. O terrorismo islâmico, mais ainda.
Após negar-se a ceder às ameaças por haver publicado, há quase dez anos, algumas caricaturas de Maomé, a revista Charlie Hebdo não mudou nem um milímetro sua cultura da irreverência. Com o mesmo ânimo, nós, os jornais europeus que trabalhamos habitualmente juntos dentro do grupo Europa, continuaremos a dar vida aos valores da liberdade e independência que são  a base de nossa identidade e que todos compartilhamos. Continuaremos informando, investigando, entrevistando, editando, publicando e desenhando sobre todos os assuntos que nos pareçam legítimos, com o espírito aberto, enriquecimento intelectual e debate democrático.
É o que devemos a nossos leitores. O que devemos à memória de todos nossos colegas assassinados. O que devemos à Europa. O que devemos à democracia. "Nós não somos como eles", dizia o escritor eslovaco Vaclav Havel, opositor do totalitarismo, que triunfou e se converteu em  presidente. Essa é a nossa força.

Fonte: Editorial conjunto dos jornais Le Monde, The Guardian, Süddeustche Zeitung, La Stampa, Gazeta Wyborcza e El País.

domingo, 16 de novembro de 2014

Dilma tem que sair. É melhor para o Brasil, sem ela o Brasil volta a ter credibilidade, seriedade, honestidade

Movimento contra Dilma cresce ao mesmo tempo que fica mais radical 

Um dia após as prisões de diversos executivos de empreiteiras suspeitas de participar do maior esquema de corrupção do Brasil, milhares de pessoas ocuparam as ruas de ao menos seis capitais para se manifestar contra o Governo federal e para pedir o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Os protestos já tinham sido marcados antes da operação desta sexta-feira que prendeu 23 suspeitos, entre eles um ex-diretor da Petrobras, mas ganhou fôlego após a ação da Polícia Federal.
Grupo protesta contra Dilma em São Paulo. / Aaron Cadena Ovalle (EFE)

Queria saudar e parabenizar o juiz Fernando Moro, da Operação Lava Jato. O senhor está fazendo um excelente trabalho ao limpar o nosso Brasil dessa corja”, disse no carro de som um dos organizadores do movimento em São Paulo, onde cerca de 10.000 pessoas protestaram por quase três horas. O número é mais que o triplo do que os que protestaram no início de novembro.

Ao mesmo tempo em que esse grupo cresceu, também ficou mais diverso e radical na capital paulista. Diverso porque havia punks, militares, hare krishnas, membros de grupos LGBT e skin heads caminhando ao lado de pessoas que não se identificam com movimento algum. Radical porque bastava alguém estender uma toalha vermelha na janela de um prédio para ouvir vaias, xingamentos e uma intensa gritaria com a sentença “vai para Cuba”. Além disso, outra prova da agressividade foi que, em um trajeto de quatro quilômetros (entre o Museu de Arte de São Paulo, na avenida Paulista, e a Praça da Sé, no centro) houve ao menos dois incidentes de agressão entre os manifestantes contrários à Dilma e algumas pessoas que se mostraram descontentes com o protesto.

“A nossa bandeira, jamais será vermelha”, diziam os manifestantes


A primeira agressão foi contra um advogado que levou uma paulada na cabeça enquanto tentava argumentar com um senhor sobre a razão de usar uma camiseta vermelha na qual Fidel Castro, Mao Tsé-Tung e Karl Marx, entre outros comunistas, se confraternizavam com copos de cerveja nas mãos. “Eu estava voltando da academia para a minha casa pela avenida Paulista e comecei a ser agredido [verbalmente] pelos manifestantes. Quis explicar que o que havia na minha camiseta era uma brincadeira, mas parece que o vermelho, que é a cor da paixão, desperta o ódio em algumas pessoas”, afirmou Alexandre Simões de Melo, de 33 anos. Declarado apoiador do PT ele disse estar surpreso com a reação dos manifestantes.

O segundo momento de tensão ocorreu quando um grupo de mais ou menos dez pessoas fez sinal de negativo para os manifestantes enquanto eles gritavam “Fora PT” ou “A nossa bandeira, jamais será vermelha”. A polícia precisou intervir para que as agressões verbais não se tornassem físicas. “Não vamos nos rebaixar a eles. Eles são violentos, nós não”, afirmou um dos organizadores. Na sequência vários manifestantes se viraram para a janela de um prédio em que uma moradora balançava um pano vermelho da janela do sexto andar e gritaram: “pula, pula, pula”.

Ao que tudo indica a tensão que tomou conta das eleições brasileiras está longe de terminar. Enquanto aquele advogado que foi agredido na Paulista conversava com o EL PAÍS, um manifestante, que não se identificou, passou por ele e aos gritos: “Nosso país é livre. Saia daqui, vagabundo. Vá para Cuba!”. Ao que ele deu de ombros e respondeu: “Se é livre...” [certamente quando o manifestante mandou o vagabundo ir para Cuba, expressou claramente que o Brasil é livre - por não ser uma Cuba - mas não tolera comunistas que devem ser expulsos da nossa Pátria.]

Além de São Paulo, as manifestações que pediram o impeachment de Dilma Rousseff (PT) também ocorreram no dia da proclamação da República, em menor proporção, no Rio de Janeiro, Brasília, Campo Grande, Maceió e Porto Alegre. Apenas nessas duas últimas superou a casa do milhar.

Em algumas cidades, os manifestantes compararam a presidenta ao ex-presidente Fernando Collor, que foi tirado de poder após um escândalo de corrupção em 1992. “Por muito menos o Collor foi tirado da presidência”, declarou o empresário Augusto Borges, de 43 anos, e emendou: “Vai dizer que ela não sabia dessa roubalheira de 10 bilhões da Petrobras? Claro que sabia.”

Centenas de faixas seguiam nessa linha. “Dilma sabia de tudo”; “O PT roubou o Brasil” e; “S.O.S Brasil. Acabem com o Petrolão”. Em outros momentos, os manifestantes diziam que os trabalhadores não votam no PT: “Quem trabalha, não vota em ‘petralha’”.
Em São Paulo, um pequeno grupo chegou a pedir uma intervenção militar, mas essa reivindicação estava longe de ser uma unanimidade entre os manifestantes. “Não queremos a Dilma nem o PT, mas pedir que os militares voltem também já é um absurdo”, reclamou a artista plástica Maria Victoria, de 67 anos.

Fonte: El País