Delatores têm quadras de tênis e piscinas
à disposição em condomínios
Longe da superlotação e do
desconforto, uma casa de quatro quartos, pintada em tom sóbrio, entre o vermelho e o
marrom, é o cárcere de um ex-executivo daquela que já
foi a maior empresa brasileira em valor de mercado. Ali perto, dentro do mesmo condomínio reservado em Itaipava, na Região
Serrana do Rio, quadras de tênis, baias para cavalos, um clube, dois
restaurantes — um exclusivo para
proprietários e seus convidados — e seguranças
circulando vinte quatro horas compõem a infraestrutura, considerada a melhor
entre os empreendimentos da área.
Preso na natureza. O condomínio onde mora Paulo Roberto Costa ocupa 3,5 milhões
de metros quadrados - Marco Grillo /
Marco Grillo
Em busca
de discrição, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da
Petrobras e primeiro delator da Operação Lava-Jato, não é visto com a
frequência de antes, mas pode circular de segunda a sexta, entre 6h e
20h — o regime semiaberto exige
recolhimento nos fins de semana. Na vizinhança — 180 casas ocupam os 3,5 milhões de metros quadrados da área total —,
um imóvel com mil metros quadrados de área construída
está à venda por R$ 14 milhões. Outras propriedades disponíveis para
compra oscilam entre R$ 2,5 milhões e R$
7,5 milhões — nenhuma casa pode ser inferior a 200
metros quadrados, por determinação da convenção. —
O único problema de morar aqui é que a Polícia Federal aparece de vez em quando
— ironiza um morador.
Paulo
Roberto é um dos 56 executivos, operadores, empresários e políticos que já
firmaram acordos de delação premiada. Ele inaugurou a série de colaborações, em 2014, e
provocou uma reação em cadeia. Em seguida, o doleiro Alberto Yousseff revelou
mais detalhes do esquema bilionário de desvios da Petrobras.
A cada nova
informação, novas fases da Lava-Jato, mais ações e prisões, em um processo
ainda sem data para terminar.
Em acordo
com o Ministério Público Federal e a Justiça, o
ex-diretor da Petrobras, condenado em sete ações penais na Lava-Jato, foi
beneficiado com uma forma mais generosa de cumprir as penas.
As
informações reveladas na delação transformaram a prisão na Superintendência da
Polícia Federal, em Curitiba, em prisão domiciliar;
após um ano, no fim de 2015, migrou para o regime semiaberto.
Com taxa
média mensal de R$ 1.500 de condomínio (o
consumo de água, cujo pagamento é individualizado, pode reduzir ou elevar o
valor), Paulo Roberto ainda não
desfruta liberdade total, mas pode aproveitar o luxo que o condomínio oferece e
a tranquilidade das ruas de Itaipava.
PRISÃO
COM VISTA PARA O MAR
O
distrito de Petrópolis também foi escolhido por Nestor Cerveró, outro ex-diretor da Petrobras
condenado na Lava-Jato. Há nove dias,
cumpre prisão domiciliar em um condomínio também isolado, menos luxuoso que
o de Paulo Roberto. Um campo de futebol, nove casas — o caseiro ocupa uma delas — e um lote vazio compõem o cenário. Os terrenos têm
por volta de dois mil metros quadrados, e o tamanho dos imóveis gira em torno
de 200 metros quadrados.
Os proprietários estão na faixa
dos 70 anos, segundo um dos donos de imóvel na área, e são reservados. Os encontros entre eles
costumam acontecer uma vez por ano, para escolher o administrador do local.
Cerveró foi beneficiado pelas revelações
da delação explosiva, em que afirma, inclusive, que a presidente afastada, Dilma Rousseff, sabia das irregularidades no
processo de compra da refinaria de Pasadena.
A
tentativa de evitar a delação de Cerveró levou o ex-senador Delcídio Amaral
para a cadeia — mais tarde, Delcídio
também entrou na lista de colaboradores — e a uma extensa apuração sobre
uma eventual obstrução da Justiça. Antigo parceiro de negócios de Cerveró, Fernando Baiano, apontado como operador do
PMDB na Petrobras, vive em outro endereço nobre. No lugar do verde que
rodeia as residências dos ex-diretores da estatal, aparece a extensão do mar da
Barra, visto da cobertura de 800 metros
quadrados no Posto 5 — corretores especializados no
mercado de luxo avaliam o imóvel em R$ 10 milhões.
Baiano está em prisão domiciliar
e não pode sair do condomínio, mas tem autorização judicial para circular pelo
espaço, que conta com três quadras de tênis, piscina, espaço gourmet, salão de
jogos e uma intensa vida social — uma concorrida festa
junina aconteceu no local no último fim de semana.
Na manhã
da última terça-feira, O GLOBO flagrou o momento em que Baiano, de camisa polo
listrada e calça jeans, deixava a portaria do edifício Vieira Souto — os prédios levam o nome de ruas da Zona
Sul. — Não sei dizer se ele circula
com frequência — interrompeu um dos seguranças da área, orientado a não
deixar ninguém incomodar o morador célebre.
Fonte: O Globo