Lula
voltou a ser o principal protagonista da cena política brasileira. No
último mês, não teve um dia sequer em que não ocupasse as manchetes da
imprensa. Viajou pelo Brasil — sempre de jatinho particular, pago não se
sabe por quem — e falou, falou e falou. Impôs uma reforma ministerial à
presidente, que obedeceu passivamente, como de hábito, ao seu criador.
Colocou
no centro do poder um homem seu, Jaques Wagner, para controlar a
presidente, reestruturar o pacto lulista — essencialmente
antirrepublicano — com o Congresso e o grande capital e, principalmente,
para ser um escudo contra as graves acusações que pesam sobre ele, sua
família e amigos.
Como
de hábito, não teve nenhum compromisso com a verdade. Vociferou contra
as investigações. Atacou a Polícia Federal, como se uma instituição de
Estado não pudesse investigá-lo. Ou seja, ele estaria acima das leis, um
cidadão — sempre — acima de qualquer suspeita, intocável. Apontou sua
ira contra o ministro da Justiça e tentou retirá-lo do cargo — e vai
conseguir, cedo ou tarde, pois sabe quão importante foi Márcio Thomaz
Bastos em 2005, quando transformou o ministro em seu advogado de defesa.
O
ex-presidente, em exercício informal e eventual da Presidência, declarou
que o Brasil vive quase um Estado de exceção, simplesmente porque a
imprensa divulgou documentos sobre seus ganhos milionários nas palestras
e apresentou como dois filhos vivem em apartamentos em áreas nobres de
São Paulo sem pagar aluguel — uma espécie de Minha Casa Minha Vida
platinum, reservado exclusivamente à família Lula da Silva — e teriam
recebido quantias vultuosas sem a devida comprovação do serviço
prestado. Não deve ser esquecido que o Coaf justificou a investigação da
sua movimentação financeira como "incompatível com o patrimônio, a
atividade econômica e a capacidade financeira do cliente."
Lula
passou ao ataque. Falou em maré conservadora, que não admite ser chamado
de corrupto e que — sinal dos tempos — não teme ser preso. [na mesma ocasião Lula decretou que processaria a quem fizesse qualquer comentário que comprometesse sua imagem; a ameaça do estrupício funcionou igual o adágio ' os cães ladram e a caravana passa', desde o momento da ameaça que centenas ou mesmo milhares de menções apontando Lula como corrupto, ladrão, lobista de empreiteira, foram veiculadas.
E ele nada fez.
Após a ameaça teve que depor por duas vezes - uma para não ser intimado se apresentou voluntariamente, em outra foi intimado - na Polícia Federal.
Na mais recente depôs por cinco horas.
E NÃO PROCESSOU NINGUÉM. O sujeito é analfabeto, filho de mãe que nasceu analfabeta, mas sabe que ao processar alguém, o processado tem direito a defesa e na defesa pode apresentar provas, ou mesmo indícios que comprometam mais ainda o 'ex-filho do Brasil' e o apedeuta tem ciência que cometeu vários delitos e sabe que é de investigação em investigação, um indicio aqui, uma pista acolá, uma acusação adiante, que a polícia tem encarcerado grandes bandidos.] A presidente
da República, demonstrando subserviência, se deslocou em um dia útil de
trabalho, de Brasília para São Paulo, simplesmente para participar da
festa de aniversário do seu criador. Coisa típica de República
bananeira. Ninguém perguntou sobre os gastos de viagem de uma atividade
privada paga com dinheiro público. O país recebeu a notícia
naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam que a criatura possa
romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.
Mesmo
após as aterradoras revelações do petrolão, Lula finge que não tem
qualquer relação com o escândalo e posa de perseguido, de injustiçado.
Como se não fosse ele o presidente da República no momento da construção
e operação do maior desvio de recursos públicos da história do mundo.
Nas andanças pelo país, para evitar perguntas constrangedoras, escolhe
auditórios amestrados. Mente, mente, sem nenhum pudor. Chegou a
confessar cometeu estelionato eleitoral, em 2014, como se fosse algo
banal.
O
protagonismo de Lula impede uma solução para a crise. Ele aposta no
impasse como único meio de sobrevivência, da sua sobrevivência política.
Pouco importa que o Brasil viva o pior momento econômico dos últimos 25
anos e que a recessão vá se estender, no mínimo, até o ano que vem.
Pouco importam os milhões de desempregados, a disparada da inflação, o
desgoverno das contas públicas.
Em
1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo
do Campo não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à
derrota — e aos milhares de operários que tiveram os dias parados
descontados nos salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem
frente à base sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a
Fiesp sem que o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a
ser chamado pelos operários de pelego e traidor.
Em
setembro, Dilma chegou a balançar quando o PMDB insinuou que poderia
apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e, se não virou o jogo,
conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na esfera da política,
não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade de a Câmara dos
Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo de impeachment é
nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou as medidas que o
governo considera como essenciais para o ajuste fiscal. É um jogo cruel
e que vai continuar até o agravamento da crise econômica a um ponto que
as ruas voltarem a ser ocupadas pelos manifestantes.
As
vitórias de Lula são pontuais, superficiais e com prazo de validade. As
pesquisas mostram que ele, hoje, é uma liderança decadente e com alto
grau de rejeição, assim como o PT. Mantém uma influência no centro de
poder que é absolutamente desproporcional ao seu real peso político. Tem
medo das consequências advindas das operações Lava-Jato e Zelotes. Mas
no seu delírio quer arrastar o país à pior crise da história
republicana. E está conseguindo. Tudo porque sabe que o impeachment de
Dilma é o dobre de finados dele e do PT.
As
ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza
a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da
sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só
não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte
da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no
Congresso e nas cortes superiores de Brasília.
O
grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere
manter apoio ao "seu" partido e ao "seu" homem de confiança, Lula.
Por: Marco Antonio Villa é Historiador.
FONTE: http://www.alertatotal.net/2016/01/a-crise-tem-nome-lula.html