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domingo, 7 de abril de 2019

As empresas multinacionais estão indo embora do Brasil

As empresas estão indo embora 

Braço brasileiro da empresa americana RR Donnelley decidiu falir 

Terra dos Papagaios se tornou desinteressante para quem está aqui

À primeira vista, o braço brasileiro da empresa americana RR Donnelley decidiu falir, prejudicando o cronograma da impressão das provas do Enem. Se esse fosse o problema, seria pontual. É mais que isso. Essa multinacional fatura US$ 6,8 bilhões e opera em 28 países. O silêncio de seus executivos, a intimidade que ela tinha com os educatecas do MEC y otras cositas más deixam no ar perguntas para que se saiba como funcionava essa operação, mas o fato é que ela quer ir embora. A primeira vítima da falência será o chão da fábrica, onde estão os direitos trabalhistas de seus mil empregados. A falência teve o beneplácito da matriz americana, que certamente terá algo a dizer sobre o assunto. Nos Estados Unidos, ela não se comportaria como se comportou no Brasil.
Antes da Donnelley, a Ford fechou sua fábrica de São Bernardo, a CVS (maior rede de farmácias dos Estados Unidos) fez as malas, a rede francesa de livrarias Fnac pagou para sair do Brasil, o Citibank vendeu-se ao Itaú e o HSBC vendeu-se ao Bradesco. Isso tudo não aconteceu de uma hora para outra, mas o movimento começou em 2015. [governo da escarrada ex-presidente petista Dilma - não foi, não é e nem será culpa do governo Bolsonaro.] Em muitos casos as empresas foram embora porque vieram com falsas expectativas e em outros porque suas operações foram mal administradas. Em dois deles, o da RR Donnelley e da CVS, porque também se enroscaram em litígios judiciais. Em quase todos, não conseguiram operar pelas regras e costumes do capitalismo mambembe brasileiro.
Numa época em que as economias no mundo se integram, a Terra dos Papagaios não só perdeu atrativos para quem investe na produção como tornou-se desinteressante para quem está aqui. Para a turma do papelório eletrônico, continua a ser um paraíso. Desde que os franceses vieram pegar pau brasil e papagaios na costa da Terra de Santa Cruz o ufanismo nacional cultiva a ideia segundo a qual os estrangeiros querem vir para cá. Às vezes querem, mas há épocas em que preferem sair.
Faz tempo, quando se falava em abrir o mercado nacional, importadoras de carros abriram filiais brasileiras. A Aston Martin (o carro de James Bond) veio e houve um ano em que vendeu apenas duas peças. Azar o delas, mas algumas tentaram construir fábricas e desistiram. Enquanto a discussão ficava em torno do vem-não-vem, ela era uma. Quando quem veio se vai, ela deve ser outra.
(...)

POMBA-GIRA
Falta a Paulo Guedes um companheiro de mesa como José Sarney.
Em 2003, quando Henrique Meirelles era sabatinado pelos senadores, bateu-lhe a pomba-gira dos economistas e ele começou a dar uma aula. Sarney tocou-o e disse-lhe baixinho: "Você não veio aqui para lecionar, veio para buscar votos". Meirelles entendeu.
PALPITE
Bolsonaro marcou sua viagem à China para o segundo semestre.
Tem tudo para ser uma visita bem-sucedida. Nada a ver com as virtudes da sua diplomacia medieval. Tudo a ver com a capacidade do Império do Meio de negociar o que lhe interessa.
Nas palavras de um ex-presidente: “Os chineses sempre sabem o que querem. Nós, às vezes”.
SUCESSÃO
O governador de São Paulo, João Doria, está abrindo sua picada de candidato a presidente. Na semana em que Jair Bolsonaro foi a Israel e anunciou a abertura de um escritório comercial em Jerusalém, Doria anunciou a criação de um escritório em Xangai.
Em Xangai fazem-se negócios com a segunda economia do mundo. Ganha uma viagem à Coreia do Norte quem souber que tipo de negócios um país que tem embaixada em Tel Aviv pode fazer em Jerusalém.

(...)
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

"Segredos bancários"



Há um compêndio de fracassos dos bancos para evitar a lavagem de dinheiro


Num início de verão no Rio, “Barbear” precisou encobrir a transferência de R$ 1,5 milhão ao exterior. Convocou os doleiros “Fofinho” e “Boneca”, seus parceiros no lucrativo negócio de lavagem de dinheiro.  “Barbear” era Oswaldo Prado Sanches, diretor das empresas do bilionário Julio Bozzano. “Fofinho” habitava a pele de Henri Tabet, e “Boneca” na vida real era Dario Messer.

O dinheiro foi para o Bank of China. “Fofinho” justificou-se ao banco: gastaria R$ 572 mil em anzóis e R$ 344 mil em bonés. Deu certo.  Nas investigações da Lava-Jato há um compêndio de fracassos dos bancos para evitar a lavagem de dinheiro. O sistema global de vigilância bancária tem mais buracos que queijos suíços, apesar das barreiras criadas após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.  Num exemplo, durante 60 meses uma rede clandestina do eixo Rio-São Paulo conseguiu esconder o equivalente a R$ 6,6 bilhões em dinheiro de corrupção em meia centena de países. Mobilizaram quatro mil empresas em paraísos fiscais.
Há pedidos para investigação de outras remessas a bancos em cidades como Zurique, Luxemburgo, Bruxelas, Dublin, Madri, Hong Kong, Xangai, Seul e Dubai, entre outras.
Parte da bilionária lavagem começou em Wall Street, nas casas bancárias J.P. Morgan, Citibank, Bank of America, HSBC, Bank of New York, Barclays, Standard Chartered, Morgan Stanley, Wachovia e UBS.

O fluxo de dinheiro de corrupção lavado a partir do Brasil alcançou a média de R$ 110 milhões por mês, ou R$ 5,5 milhões a cada dia útil, entre 2011 e 2016. Dario Messer, um dos agentes da Odebrecht, chegou a embolsar R$ 121 milhões em 48 meses de serviços na camuflagem dos subornos pagos a políticos. Lucrou R$ 126 mil a cada dia útil.  Depois da posse de Dilma Rousseff, em 2011, Messer chegou a socorrer a Odebrecht numa ocasional escassez de caixa, com empréstimo de R$ 32 milhões ao departamento de propinas do grupo. Aparentemente, “Boneca” vive no Paraguai.

sábado, 24 de novembro de 2018

Duro golpe contra o chavismo

A terrível história do saque do país, praticado pelo chavismo, está prestes a ser revelada em detalhes por um dos mais graduados membros do regime

Não se arruína o país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo sem despender imensa quantidade de energia para instalar e manter uma ditadura voltada, antes de tudo, para o enriquecimento de seus próceres. A Venezuela hoje é um país pobre, a ponto de a esmagadora maioria de seu povo amanhecer sem saber se conseguirá alimento para mais um dia.

Milhares de famílias venezuelanas têm sido separadas porque pais se sentem obrigados a entregar seus filhos para orfanatos por não terem mais condições de lhes prover o mínimo para sobrevivência. Muitos também o fazem para se lançarem aos riscos de buscar uma nova vida em outros países, inclusive no Brasil. Este drama humanitário, uma tragédia sem precedentes na história recente da América Latina, é obra do regime instalado por Hugo Chávez e mantido desde sua morte, em 2013, por seu pupilo, Nicolás Maduro, sob condições perversas para o povo.

A terrível história do saque do país, praticado pelo chavismo, está prestes a ser revelada em detalhes por um dos mais graduados membros do regime. Alejandro Andrade, ex-guarda-costas de Chávez, homem que por anos cuidou pessoalmente da segurança do ex-ditador, assinou um acordo de colaboração premiada com as autoridades americanas a fim de manter o regime de prisão domiciliar a que está submetido nos Estados Unidos desde o fim do ano passado.  Sobre Andrade paira a acusação de ter lavado cerca de US$ 1 bilhão por meio de um esquema ilegal de câmbio concebido para esconder as vultosas propinas recebidas por autoridades venezuelanas ligadas ao chavismo. Entre elas o próprio ex-guarda-costas, que, além das informações que tem prestado aos investigadores americanos, teve de entregar às autoridades judiciárias dos EUA um avião, cavalos de raça, relógios de luxo e propriedades.

Para dar conta da “missão” de lavar o dinheiro recebido a título de propina pela camarilha chavista, Alejandro Andrade foi alçado por Chávez de sua posição de guarda-costas à nada menos do que a de chefe do Tesouro Nacional. Estima-se que Andrade teve poder sobre a movimentação de contas bancárias que acumularam a estonteante quantia de US$ 14 bilhões. Não por outra razão, é considerado o “delator n.º 1” pelas autoridades dos EUA que buscam comprovar o enorme esquema de corrupção na Venezuela.

Estado teve acesso a documentos que constam do processo aberto contra Andrade pelas autoridades dos EUA, país onde fixou residência há cinco anos, após a morte do ex-chefe. O processo revela que milhões de dólares foram transferidos pelo banco HSBC, na Suíça, para os EUA com o objetivo de custear uma vida de luxo não só para Andrade, mas também para cerca de 20 diretores e ex-dirigentes da PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo.

Em agosto, a Justiça dos EUA já havia confiscado bens de luxo ─ incluindo imóveis, carros e iates ─ localizados na Flórida, pertencentes a uma casta de ex-funcionários públicos e empresários ligados ao governo de Hugo Chávez. O confisco se deu após a prisão do ex-banqueiro Matthias Krull, alemão que trabalhava no banco suíço Julius Baer. Ao Departamento de Justiça dos EUA, Krull “admitiu culpa em uma denúncia de conspiração para cometer lavagem de dinheiro”. De acordo com os termos de sua colaboração premiada, o ex-banqueiro foi responsável por um esquema que lavou US$ 1,2 bilhão para autoridades e empresários venezuelanos ligados ao chavismo.

O dinheiro movimentado pela quadrilha chavista, ao menos a quantia apurada até agora, é quatro vezes superior ao que a ONU pede para atender aos refugiados venezuelanos espalhados por oito países da América Latina. Isso apenas dá a dimensão do drama humanitário que desafia a compreensão de qualquer um dotado de boa-fé e compaixão.
O acordo de colaboração premiada assinado por um graduado membro do regime chavista, como Alejandro Andrade, representa um duro golpe contra a ditadura venezuelana.



quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A máfia e o cartel



Cade mostra como 30 operadores financeiros de 15 bancos globais manipularam durante seis anos um dos principais indicadores econômicos do Brasil — a taxa de câmbio

Durante seis anos, entre 2007 e 2013, 30 operadores financeiros vinculados a 15 dos maiores bancos globais manipularam um dos principais indicadores econômicos do Brasil — a taxa de câmbio, preço-chave para investimentos e comércio exterior. Eles fizeram acordos para influenciar cotações do real, dólar e outras moedas. Dividiam-se em dois grupos no sistema de chat da agência Bloomberg: um autodenominava-se “A Máfia”, outro identificava-se como “O Cartel”.

[há possibilidade de  MANOBRA GOVERNAMENTAL para esvaziar a investigação. Afinal, neste País não ocorre um crime que o PT não esteja de alguma forma envolvido.]

Flagradas nos EUA, as casas bancárias acabaram multadas em US$ 5,6 bilhões. Em junho uma delas foi à Procuradoria, em São Paulo. Fez acordos de leniência e delação premiada. O caso foi repassado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que viu nas provas recebidas “fortes indícios de condutas anticompetitivas” e “de infração à ordem econômica”. O processo avança sob sigilo.

O Cade lista 11 protagonistas da manipulação de cotações da moeda brasileira: Banco Standard de Investimentos, Barclays, Citigroup, Deutsche Bank, HSBC, Merrill Lynch, Morgan Stanley, Nomura, Royal Bank of Canada, Standard Chartered e UBS.

Atribui a oito as maquinações com moedas estrangeiras: Banco Tokyo-Mitsubishi UFJ, Barclays, Citigroup, Credit Suisse, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland e UBS.

Indicia por conspiração, via chat, os operadores Alexandre Gertel Nogueira, Sergio Correia Zanini, Alexandre Santos, Christoph Durst, Christopher Ashton, Colin Devereux, Daniel Evans, Daniel Yuzo Shimada Kajiya, Eduardo Hargreaves, Fábio Ramalho, Felipe Leitão, Fernando Pais, Frank Cahill, James Witt, James Wynne, John Erratt, José Aloisio Teles Jr., Marco Christen, Mark Clark, Martin Tschachtli, Matthew J. Gardiner, Michael Weston, Niall O’Riordan, Pablo Frisanco Oliveira, Paul Nash, Renato Lustosa Giffoni, Ralf Klonowski, Richard Gibbons, Richard Usher e Rohan Ramchandani.

Segundo o Cade, eles fizeram acordos para fixar a diferença (spread) entre o valor de compra e venda de moedas, potencializando lucros dos bancos e os prejuízos dos clientes. Combinaram cotações falsas e negociaram moedas a preços específicos, cartelizados. Atuaram para bloquear outros operadores (brokers) no mercado de câmbio do Brasil, concorrentes ou que se recusaram a aceitar influência. Compartilharam informações sobre os negócios de clientes, incluindo contratos, fluxo de recursos, ordens de negociação, preços, posições confidenciais, estratégias e objetivos.

Coordenaram, também, operações prévias às colheitas de safras agrícolas, para influenciar os índices de referência num “movimento de mercado”, alterando as cotações dos produtos.
A federação dos bancos alega que a taxa de câmbio (PTax) é apurada e divulgada pelo BC a partir de informações de mais de 180 instituições num mercado com movimentação média de US$ 6 bilhões por dia, “o que torna praticamente impossível sua manipulação”.

Exportadores que se sentem prejudicados vislumbraram manobra governamental para esvaziar a investigação. Recorreram ao senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que levou o caso ao Senado. Não se conhece, ainda, a extensão dos danos às empresas e pessoas físicas no Brasil. É certo, porém, que o cartel e a máfia causaram perdas bilionárias.

Fonte:  O Globo - José Casado é jornalista