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segunda-feira, 15 de março de 2021

Mercado pressiona por aperto monetário forte e acelerado E Mais próximo do que se imagina - Valor Econômico

Alex Ribeiro

Mercado pressiona por aperto monetário forte e acelerado

 O mercado financeiro está pressionando o Banco Central para subir os juros com mais vigor em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que começa amanhã. Os juros futuros fecharam com forte alta na sexta-feira, precificando quase 30% de chance de uma alta de 0,75 ponto percentual na Selic. Os ativos gritam para que o BC elimine rapidamente os estímulos monetários, levando a taxa para 6% ao ano.

A tese defendida por muitos no mercado é que uma alta forte e rápida da taxa Selic vai ter efeitos positivos na atividade econômica. Ou seja, com movimentos corajosos, o Banco Central vai convencer o mercado de que vai ser implacável com a inflação, fazendo com que a curva de juros fique menos inclinada, o dólar recue e as condições financeiras gerais da economia fiquem mais favoráveis - o que é bom para a economia.  “É um argumento completamente maluco”, diz um experiente economista que deu aulas para muitos dos que operam hoje no mercado. “Quanto mais ‘hawk’ você age, mais ‘dove’ você fica. Isso não faz sentido”, afirma, usando o jargão dos economistas para banqueiros centrais inclinados ao aperto monetário (“hawk”, falcão em inglês) e inclinados a distensão (“dove”, ou pombo).

“O aperto monetário não é expansionista no curto prazo”, diz outro especialista, também ex-professor. “O Banco Central que é expansionista vai colher repercussões expansionista para a atividade, o que for contracionista vai ter repercussões contracionista.” Eventuais ganhos do bom manejo da política monetária só aparecem no médio e longo prazos. Um banqueiro central hábil, que sobe os juros no tempo certo e na medida certa, sem ser leniente nem exagerar na dose, colhe ganhos de credibilidade e consegue ancorar mais facilmente as expectativas. Isso, no longo prazo, reduz a taxa de sacrifício em termos de crescimento para cumprir as metas de inflação.

E qual é o ritmo correto de ajustar a política monetária? Os operadores do mercado, em geral, defendem rapidez. Eles tendem a olhar as repercussões de curto prazo das ações do BC nas telas dos terminais, em ativos como juros e câmbio. O perigo de agir de forma açodada é errar. Quando se está no mercado, isso pode ser corrigido fechando posições. Se os banqueiros centrais agirem assim, a economia real vai sofrer solavancos à toa.

Nós ultimos anos, houve pelo menos dois momentos em que os mercados pediram mais ação do BC e estavam errados. Em setembro de 2015, queriam que então presidente do BC, Alexandre Tombini, subisse os juros dos 14,25% ao ano então vigentes para perto de 20% ao ano. A economia já estava em recessão. Tombini disse numa entrevista que não iria sancionar os preços de mercado, e a curva de juros futuros caiu rapidamente.

Em 2018, foi a vez de Ilan Goldfajn ser pressionado a subir os juros fortemente, depois que a taxa de juros disparou, acompanhando o dólar. A economia, na época, crescia muito pouco, lembra um ex-integrante do colegiado. O BC de Ilan indicou que só reagiria se a alta do dólar ameaçasse as expectativas de inflação, o que nunca ocorreu.

Se Tombini e Ilan tivessem sucumbido às pressões do mercado, a economia teria sofrido ainda mais, e depois seria necessário mexer nos juros para desfazer o malfeito. “Existe um livrinho básico do economista Alan Blinder sobre bancos centrais que todos leem”, diz um especialista. “Nele, está escrito que o banco central deve ser independente não só do governo, mas também dos mercados financeiros.”

O ritmo certo de alta de juros depende da situação. Quando a economia sofre um grande choque, como foi a pandemia, faz-se um ajuste mais rápido para contrapô-lo. Foi o que aconteceu no ano passado. Nessas condições extremas, alguns membros do Copom defenderam fazer um ajuste de 1,5 ponto percentual de uma vez, mas ainda assim venceu a posição cautelosa de dois movimentos de baixa de 0,75 ponto. A boa prática diz que, uma vez feito o ajuste, segue vida normal. O princípio básico é fazer movimentos de juros aos poucos, porque a economia real é sempre cheia de incertezas.

Campos Neto fez carreira no mercado financeiro, mas, no último recado público que deu antes do período de silêncio do Copom, o estilo é de banqueiro central. “É importante manter a calma, a tranquilidade”, afirmou. “Temos uma meta de inflação de longo prazo e estamos olhando todas as variáveis, não só locais, como as internacionais.”

O costume do BC de Campos Neto tem sido seguir a retórica da reunião anterior do Copom. Em janeiro, havia consenso de que seria adequado retirar os estímulos monetários injetados durante a pandemia. A discussão foi sobre quando. Pelo menos três membros do comitê defenderam o início de “um processo de normalização parcial” em março. Ou seja, queriam subir de forma organizada (“um processo”) para os níveis de antes da pandemia (4,25%). Nada indicava um ritmo mais forte de subida de juros nem uma normalização completa. Já a maioria do comitê, antes de decidir, gostaria de ver mais dados sobre “a evolução da pandemia, da atividade econômica e da política fiscal”.

De lá para cá esses indicadores não evoluíram da melhor maneira possível, sobretudo a política fiscal. A visão otimista é que não houve ruptura, por isso o BC não precisa reagir com desespero. A visão pessimista é que o balanço de riscos ficou mais assimétrico, pendendo mais para o lado negativo
A inflação esperada subiu, e a alta de juros deve ser maior ou mais antecipada do que se previa em janeiro. Daí os economistas de mercado, que diferentemente dos operadores costumam pensar de forma parecida com o Banco Central, acreditarem em altas de 0,5 ponto percentual na Selic.

Mas uma incerteza importante é a evolução da pandemia. Há duas semanas apenas Campos Neto previa um “lockdown” ameno. “Se a gente tiver um maior lockdown que o esperado, não é o nosso cenário central, pode gerar um primeiro semestre um pouquinho pior”, disse. Alguns economistas acham que vale esperar para ver se o lockdown vai desacelerar a inflação. Outros acreditam que teremos uma estagflação.

Bruno Carazza

Autonomia exige cautela de presidente do BC

No seu discurso de fênix na quarta (10/03), Lula disse não saber por que o mercado deveria ter medo de sua volta ao poder, diante de tudo o que ele e o PT fizeram pelo empresariado. Em resposta à repórter Cristiane Agostine, do Valor, porém, deixou explícita uma exceção: “Eu era e sou contra a autonomia do Banco Central. É melhor o Banco Central estar na mão do governo do que estar na mão do mercado. [...] A quem interessa essa autonomia? Não é ao trabalhador urbano, não é ao sindicalista, é ao sistema financeiro”.[lembrem a esse ex-presidiário que sindicalista, sindicatos e coisas assemelhadas entraram em processo de extinção desde que o ex-presidente Michel Temer acabou com a mamata do imposto sindical.]

Embora real, o risco de captura de órgãos reguladores por representantes de empresas é difícil de ser comprovado. Seguir os caminhos do dinheiro, mapeando doações de campanhas, ajuda bastante. Monitorar agendas públicas e verificar com quem eles se sentam à mesa também. Outra estratégia que costuma funcionar é observar o movimento das portas giratórias da administração pública, quando agentes do mercado são nomeados para cargos nas agências reguladoras e, depois de um tempo, retornam aos antigos empregadores.

O pesquisador David Finer, da Chicago Booth School of Business, deu um passo além. Utilizando a Lei de Acesso à Informação de Nova York, teve acesso a dados anônimos de mais de um bilhão de viagens de táxi ocorridas na maior cidade dos Estados Unidos entre 2009 e 2014, incluindo as coordenadas de GPS, data e horário do início e do fim de cada deslocamento.

Interessado em mapear o relacionamento entre funcionários do Banco Central americano e executivos das grandes instituições financeiras, Finer analisou cuidadosamente os padrões dos trajetos dos famosos táxis amarelos entre o prédio do FED, na 33 Liberty Street, e as sedes de gigantes como Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs e Morgan Stanley. Lembrando que os encontros também podem se dar fora dos escritórios, o pesquisador incluiu no seu rastreamento as viagens que partiam de ambos os endereços para um terceiro destino (que poderia ser um restaurante ou um bar, por exemplo) num curto espaço de tempo.

Buscando minimizar o risco de vazamento de informações que podem abalar o mercado (e enriquecer muita gente), o FED impõe restrições a seus diretores e funcionários, como um período de silêncio em que são proibidas reuniões com o público externo e declarações à imprensa nos dias que antecedem os encontros do Comitê de Política Monetária (o FOMC, na sigla em inglês).

Após garimpar uma montanha de dados, Finer obteve evidências de que as movimentações entre as sedes do FED e dos bancos, ou de ambos para centros de lazer e alimentação, se intensificam na proximidade das datas em que as taxas de juros básicas são estabelecidas, particularmente no horário de almoço. Há também um aumento atípico nas corridas entre os mesmos destinos nas primeiras horas da madrugada após o encerramento do período de silêncio - o que sugere uma busca de integrantes do mercado por explicações sobre as decisões tomadas pela autoridade monetária.

Com uma metodologia inovadora, a pesquisa de David Finer aponta para a necessidade de se aprofundar os instrumentos para que a independência dos Bancos Centrais seja para valer e valha para ambos os lados - perante o governo e o mercado. No Brasil, depois de pelo menos duas décadas de discussão legislativa, somente no final do mês passado a autonomia operacional do Bacen virou lei. Embora nosso Banco Central já tenha incorporado muitas das melhores práticas internacionais, como o próprio período de silêncio antes das decisões do Copom, ainda temos um longo caminho a percorrer para torná-la efetiva.

Não é preciso GPS para observar que são cada vez mais frequentes os deslocamentos feitos pelo presidente Roberto Campos Neto entre o Setor Bancário Sul, onde se localiza a sede do Banco Central, e a Praça dos Três Poderes, para atender a chamados de Jair Bolsonaro, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco.  É bem verdade que o BC brasileiro possui atribuições que extrapolam aquelas típicas de uma autoridade monetária - como a regulação e a fiscalização do sistema financeiro - e a nova Lei Complementar nº 179/2021 ainda exige que a instituição zele para suavizar as flutuações da atividade econômica e fomente o pleno emprego, ao lado de manter a inflação sob controle. Tudo isso acaba exigindo que o presidente do Bacen compareça ao Palácio do Planalto ou ao Congresso Nacional para prestar contas de suas decisões.

O grande problema é que Roberto Campos Neto, pela sua capacidade técnica e habilidades interpessoais, tem entrado de cabeça na negociação política da agenda econômica do governo - e com isso tem avançado perigosamente a linha de independência exigida de um central banker.

Na semana passada, quando o governo se dividia entre as votações da PEC Emergencial e as tratativas com a farmacêutica Pfizer para a compra de um novo lote de vacinas, Roberto Campos Neto esteve duas vezes com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Além disso, visitou o presidente da Câmara em sua residência oficial para convencer diversos deputados da necessidade de aprovação de dispositivos de ajuste fiscal como contrapartida à nova rodada do auxílio emergencial.

Não há dúvidas que o presidente do BC tem um excelente trânsito com os parlamentares e tem se mostrado um ativo valioso do governo para construir pontes e aparar as arestas, muitas vezes afiadas, criadas por Paulo Guedes nas suas relações com o Congresso. Mas não pode se prestar a esse papel, sob pena de perder sua credibilidade.

Caso queira continuar contando com a capacidade técnica e o fino trato do neto de Bob Fields nas negociações de sua agenda econômica, Bolsonaro tem uma saída. O art. 8º da lei da autonomia lhe deu 90 dias para referendar a atual diretoria do Bacen e empossá-los nos novos mandatos. Com os rumores cada vez mais constantes de que Paulo Guedes balança no cargo, de repente a solução para uma transição suave, que não assuste o mercado e ainda agrade ao Centrão, está mais próxima do que se imagina. Nem precisa chamar um táxi.

Brasil - Valor Econômico


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Dinheiro do contribuinte - Maia fez 230 viagens em jatinhos da FAB, 46 para a casa dele - Gazeta do Povo

Lúcio Vaz
O blog que fiscaliza
e vigia o poder em Brasília

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez 230 viagens em aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) em 2019. Só os deslocamentos para a sua residência no Rio de Janeiro foram 46. Considerando o trajeto de volta a Brasília, o número seria o dobro. Ele visitou 19 cidades no país. E também utilizou jatinhos para sete viagens para o exterior. Nessas missões internacionais, apenas as 84 diárias para assessores custaram R$ 190 mil.
Na viagem para Nova York, em maio, os presidentes da Câmara e do Senado, Davi Alcolumbre, partiram e retornaram no mesmo dia 12 e 16 daquele mês, mas cada um utilizou uma aeronave Legacy disponibilizada pela Aeronáutica. Na capital americana, os dois presidentes tiveram encontros com empresários e investidores, como o Bank of America, Grupo Safra, Citigroup e Goldman Sachs. Participam do evento Brazil and the World Economy, no Harvard Club.

Maia bateu com folga o presidente do Supremo Tribunal Federa (STF), Dias Toffoli, que fez 95 viagens pelo país nas asas da FAB no ano passado, além de deslocamentos em voos comerciais para vários países, como mostrou reportagem publicada no blog dia 30 de janeiro. Voou até para uma homenagem ao seu pai, na pequena Ribeirão Claro (PR).

Maia e Toffoli se encontraram em Roma, na cerimônia de canonização da Irmã Dulce. A Câmara destacou quatro assessores para acompanhar o presidente. As 21 diárias custaram R$ 48 mil nos cinco dias em que lá permaneceram. Antes do evento principal, Maia participou, dia 11, da reunião do Comitê Executivo da Internacional Democracia Centrista.


No sábado à tarde, o embaixador brasileiro, Hélio Vitor Ramos Filho, ofereceu à delegação brasileira recepção na embaixada do Brasil, na Piazza Navona, na região central de Roma. Houve apresentação excertos da ópera “Ave Dulce”, que aborda as obras sociais da irmã Dulce. Na cerimônia no Vaticano, no domingo, a assessoria de cerimonial e os agentes de segurança mostraram porque estavam lá – acompanharam o presidente da rota de acesso restrita destinada aos membros da delegação do governo brasileiro.


(...)

[não deixe de ler: FAB DÁ ASA À CORRUPÇÃO.]

Os registros da FAB mostram que Maia se deslocou 46 vezes para a sua residência no Rio de Janeiro. Considerando os voos de retorno, a despesa é dobrada. Essa era uma prática comum dos presidentes da Câmara e do Senado e de ministros de Estado até 2015, quando a presidente Dilma Rousseff baixou um decreto proibindo que ministros usassem os jatinhos nos deslocamentos para casa. Mas essa proibição não foi imposta aos presidentes do Legislativo ou do Judiciário. Maia fez seis voos para o Rio de Janeiro a “serviço”, mais 46 para a “residência”.


No Blog do Vaz, MATÉRIA COMPLETA - Lúcio Vaz - Vozes - Gazeta do Povo


terça-feira, 16 de maio de 2017

José Nêumanne: A “Ruivinha” do Texas

Em vez de vender a prova do crime, Petrobras deveria pedir na Justiça suspensão da compra danosa

Em 19 de março de 2014, O Estado de S. Paulo publicou reportagem de Andreza Matais e Fábio Fabrini, da Sucursal de Brasília dando conta de que documentos até então inéditos revelavam que a presidente Dilma Rousseff decidira, em 2006. A favor da compra de 50% da polêmica refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A petista era ministra da Casa Civil e comandava o Conselho de Administração da Petrobras. Os repórteres informaram, ainda, que, “ao justificar a decisão ao Estado, ela disse que só apoiou a medida porque recebeu ‘informações incompletas’ de um parecer ‘técnica e juridicamente falho’”.


 Refinaria Pasadena comprada pela Petrobrás no Texas (EUA) (Gilberto Tadday/VEJA)

Essa foi sua primeira manifestação pública sobre o tema e esse “sincericídio” é apontado como tendo sido o ponto de partida para o processo que a levou ao desfecho do impeachment, que a apeou da Presidência da República em 12 de maio de 2017. À época em que a reportagem foi publicada, a aquisição da refinaria já era investigada pela Polícia Federal (PF), pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pelo Ministério Público Federal (MPF) e até pelo Congresso, por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas.

O conselho da Petrobras, que Dilma presidiu de 2003 a 2010, quando era ministra de Minas e Energia e, depois, chefe da Casa Civil, no primeiro desgoverno de seu companheiro, padrinho e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, apoiou a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões. Posteriormente, por causa de cláusulas do contrato, a estatal foi obrigada a ficar com 100% da unidade, antes compartilhada com uma empresa belga, e acabou tendo que desembolsar US$ 1,18 bilhão – cerca de R$ 2,76 bilhões.

Na resposta dada ao jornal, a ex-presidente, em seu estilo habitualmente pouco inteligente e muito confuso, disse, então, que o material que fundamentara sua decisão em 2006 não trazia justamente a cláusula que obrigaria a Petrobras a ficar com toda a refinaria. Trata-se da cláusula Put Option, que manda uma das partes da sociedade comprar a outra em caso de desacordo entre os sócios. A Petrobras desentendeu-dr sobre investimentos com a belga Astra Oil, sua sócia. E por isso acabou ficando com 100% da refinaria.

O relatório a que ela se referiu na nota em resposta à informação publicada no Estado, foi preparado e apresentado no conselho pelo então diretor internacional da companhia, Nestor Cerveró, que foi preso pela Operação Lava Jato por envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Ele confessou e, em troca de delação, passou da prisão fechada à domiciliar, usando tornozeleira. O documento omitia cláusulas do contrato consideradas prejudiciais à estatal.

Em 5 de maio passado, reportagem do correspondente do Estado em Genebra, Jamil Chade, deu conta de que a Suíça apura propina de Pasadena e Abreu e Lima (em Pernambuco). Ou seja, depois de algum tempo relegado ao esquecimento, o assunto voltou à baila. É muito bom que isso aconteça, pois o caso da famigerada “Ruivinha” do Texas não pode ser esquecido. Afinal, trata-se de um tema muito grave e sobre o qual Dilma, que acaba de ser desmascarada pelo marqueteiro João Santana e pela mulher dele, Mônica Moura, não deu explicações convincentes que desmentissem sua incapacidade, como presidente do Conselho de Administração da estatal, de perceber um negócio tão absurdamente ruinoso para a maior empresa do Brasil, a joia da coroa estatal brasileira.

O negócio  causou um prejuízo à Petrobras de US$ 792 milhões. Antes da delação dos marqueteiros, que só foi revelada na sexta-feira 12 de maio, por decisão do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin, o ex-senador Delcídio Amaral, ex-líder do governo Dilma no Senado, também em delação premiada, confessou que só ele recebeu do Cerveró US$ 1 milhão oriundo da propina nessa compra. E que a propina global da “Rusty” atingiu US$ 15 milhões. Até agora, Dilma Rousseff e o então presidente da empresa, Sérgio Gabrielli, não foram investigados nem processados a respeito. Além de Paulo Roberto Costa, o famoso “Paulinho do Lula”, ex-diretor de Abastecimento e pioneiro entre os delatores da Lava Jato, só enfrenta as barras da lei o citado ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró.

Dilma, Gabrielli e Cerveró acusam o Citigroup de ter dado uma fairness opinion, ou seja, aval de especialista para a compra. Guido Mantega, à época ministro da Fazenda, também meteu o bedelho e jogou toda a culpa no aval do Citigroup. Mas esta grande instituição financeira americana tem desmentido sistematicamente todos eles e afirmado que a fairness opinion é apenas um instrumento de apoio e não pode substituir a obrigação e responsabilidade pela tomada de decisão, que recai exclusivamente sobre os corpos diretivos da estatal. Por mais dúvidas que essa posição do banco levante, o certo é que não é possível passar ao largo da culpa dos citados no negócio danoso ao interesse público.

A Operação Lava Jato está apurando os ilícitos que quase quebraram a Petrobras, entre os quais a aquisição da “Ruivinha do Texas”, da qual Dilma,  Gabrielli  e Cerveró participaram e que terão muito a esclarecer sobre o maior tsunami de corrupção da História, o chamado petrolão. O coordenador da força-tarefa, procurador Deltan Dallagnol, refere-se em seu livro A Luta contra a Corrupção, à venda nas livrarias, a esse episódio grotesco, entre os muitos que constituem a corrupção a cargo de sua equipe e de policiais federais responsáveis pela investigação e pela acusação e pelo julgamento dos culpados, a ser dado pelo juiz Sergio Moro, titular da 13.ª Vara Federal de Curitiba.

No começo de maio, coincidindo com a notícia do interesse mostrado no caso pelo Ministério Público suíço, o Estado deu a excelente notícia de que a Petrobras teve lucro de R$ 4,449 bilhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo o prejuízo de R$ 1,246 bilhão no mesmo período do ano passado. Isso mostra que a empresa segue por um bom caminho.

No noticiário do grande feito, o presidente da estatal, Pedro Parente, afirmou estar satisfeito com esses resultados. Só que, um dia antes dessa boa nova, dada na semana passada, o jornal também noticiou que a empresa incluiu refinaria de Pasadena entre os ativos que vai vender para atingir a meta de US$ 21 bilhões de investimentos até o fim do ano que vem. Acontece que Pasadena custou US$ 1,2 bilhão, pago pela então maior empresa brasileira à antiga proprietária, a belga Astra Oil, que, meses antes, a havia adquirido por US$ 42,5 milhões. Pelas contas do TCU, a estatal perdeu US$ 792 milhões ao fechar o negócio. É simplesmente impossível que a Petrobras reverta esse prejuízo com a venda. Para o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, a estatal tem autonomia para vender Pasadena e não se deve prender ao fato de a refinaria ser alvo de investigação por corrupção.

Mas ele está redondamente enganado. O correto seria a Petrobras entrar na Justiça aqui e nos Estados Unidos tentando anular a compra da “Ruivinha” do Texas e pedindo ressarcimento pelo prejuízo de US$ 792 milhões causados à empresa e, portanto, à União, que representa seus acionistas majoritários, os cidadãos brasileiros, por essa aquisição danosa e gravosa. Vender a refinaria de Pasadena é arcar com esse prejuízo, aceitando-o como líquido e certo. A Petrobras tem o dever de ofício de obter reparações e processar o cartel de empreiteiras.

O negócio danoso para a estatal e, em consequência, para o cidadão e contribuinte brasileiro, tem de ser investigado a fundo e, já que não há como recuperar nem parte ínfima dos prejuízos, a Petrobras deve participar ativamente dessas investigações, exigindo reparações na Justiça e punição dos responsáveis por esses danos. Em nome da excelente gestão que Pedro Parente está realizando na empresa, é seu dever não deixar essa bola passar por baixo das pernas.

Transcrito da Coluna do Augusto Nunes - VEJA 

 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A máfia e o cartel



Cade mostra como 30 operadores financeiros de 15 bancos globais manipularam durante seis anos um dos principais indicadores econômicos do Brasil — a taxa de câmbio

Durante seis anos, entre 2007 e 2013, 30 operadores financeiros vinculados a 15 dos maiores bancos globais manipularam um dos principais indicadores econômicos do Brasil — a taxa de câmbio, preço-chave para investimentos e comércio exterior. Eles fizeram acordos para influenciar cotações do real, dólar e outras moedas. Dividiam-se em dois grupos no sistema de chat da agência Bloomberg: um autodenominava-se “A Máfia”, outro identificava-se como “O Cartel”.

[há possibilidade de  MANOBRA GOVERNAMENTAL para esvaziar a investigação. Afinal, neste País não ocorre um crime que o PT não esteja de alguma forma envolvido.]

Flagradas nos EUA, as casas bancárias acabaram multadas em US$ 5,6 bilhões. Em junho uma delas foi à Procuradoria, em São Paulo. Fez acordos de leniência e delação premiada. O caso foi repassado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que viu nas provas recebidas “fortes indícios de condutas anticompetitivas” e “de infração à ordem econômica”. O processo avança sob sigilo.

O Cade lista 11 protagonistas da manipulação de cotações da moeda brasileira: Banco Standard de Investimentos, Barclays, Citigroup, Deutsche Bank, HSBC, Merrill Lynch, Morgan Stanley, Nomura, Royal Bank of Canada, Standard Chartered e UBS.

Atribui a oito as maquinações com moedas estrangeiras: Banco Tokyo-Mitsubishi UFJ, Barclays, Citigroup, Credit Suisse, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland e UBS.

Indicia por conspiração, via chat, os operadores Alexandre Gertel Nogueira, Sergio Correia Zanini, Alexandre Santos, Christoph Durst, Christopher Ashton, Colin Devereux, Daniel Evans, Daniel Yuzo Shimada Kajiya, Eduardo Hargreaves, Fábio Ramalho, Felipe Leitão, Fernando Pais, Frank Cahill, James Witt, James Wynne, John Erratt, José Aloisio Teles Jr., Marco Christen, Mark Clark, Martin Tschachtli, Matthew J. Gardiner, Michael Weston, Niall O’Riordan, Pablo Frisanco Oliveira, Paul Nash, Renato Lustosa Giffoni, Ralf Klonowski, Richard Gibbons, Richard Usher e Rohan Ramchandani.

Segundo o Cade, eles fizeram acordos para fixar a diferença (spread) entre o valor de compra e venda de moedas, potencializando lucros dos bancos e os prejuízos dos clientes. Combinaram cotações falsas e negociaram moedas a preços específicos, cartelizados. Atuaram para bloquear outros operadores (brokers) no mercado de câmbio do Brasil, concorrentes ou que se recusaram a aceitar influência. Compartilharam informações sobre os negócios de clientes, incluindo contratos, fluxo de recursos, ordens de negociação, preços, posições confidenciais, estratégias e objetivos.

Coordenaram, também, operações prévias às colheitas de safras agrícolas, para influenciar os índices de referência num “movimento de mercado”, alterando as cotações dos produtos.
A federação dos bancos alega que a taxa de câmbio (PTax) é apurada e divulgada pelo BC a partir de informações de mais de 180 instituições num mercado com movimentação média de US$ 6 bilhões por dia, “o que torna praticamente impossível sua manipulação”.

Exportadores que se sentem prejudicados vislumbraram manobra governamental para esvaziar a investigação. Recorreram ao senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que levou o caso ao Senado. Não se conhece, ainda, a extensão dos danos às empresas e pessoas físicas no Brasil. É certo, porém, que o cartel e a máfia causaram perdas bilionárias.

Fonte:  O Globo - José Casado é jornalista