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domingo, 16 de janeiro de 2022

A preservação das liberdades - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

A administração Biden segue a passos largos em várias frentes na tentativa de desvirtuar os pilares democráticos norte-americanos 

Depois da eleição presidencial de 2018, o brasileiro começou a entender — pra valer — a real atuação do Supremo Tribunal Federal
Foi-se a era de sabermos de cor a escalação da Seleção Brasileira de Futebol. 
O povo se apaixonou por política e hoje sabe de cabeça os nomes, sobrenomes, apelidos e decisões dos ministros do STF.
 O ativismo da nossa mais alta Corte, até então apenas suspeito e bem disfarçado na maior parte do tempo, foi exposto na clara luz do dia. As dúvidas sobre a militância do tribunal deixaram de existir e hoje sabemos que a atual escalação do STF não gosta de jogar na esfera institucional.
 
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos | Foto: Shutterstock
       
Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Foto: Shutterstock

Juízes com grande poder de decisão. Decisões fora de sua área de atuação. Esse era um medo que aterrorizava os Pais Fundadores dos Estados Unidos. Homens não eleitos que poderiam decidir o que quisessem sem a chateação de ter de ouvir “os representantes do povo”. A Revolução Americana, nascida na opressão de decisões britânicas de taxar os colonos na América sem a devida representatividade no Parlamento (“No taxation without representation”), forjou uma nação com pilares sedimentados na desconfiança de decisões de homens sem votos. Os filtros do sistema político americano que evitam tais aberrações foram estudados e descritos por homens que entenderam que, em um justo sistema de freios e contrapesos em uma república, um Poder não pode — jamais — ferir as leis e atuar com maior peso sobre outro.

Há mais de 230 anos, Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, três dos Pais Fundadores Americanos, publicaram uma série de ensaios promovendo a ratificação da Constituição dos Estados Unidos, conhecidos como Federalist Papers. Ao explicar a necessidade de um Judiciário independente, Alexander Hamilton observou no Federalist número 78 que os tribunais federais “foram projetados para ser um órgão intermediário entre o povo e sua legislatura”, a fim de garantir que os representantes do povo agissem apenas dentro da autoridade dada ao Congresso nos termos da Constituição. Em um trecho do Federalist número 78, publicado em 1788 como parte de um dos documentos mais importantes da era fundadora da nação mais próspera do mundo, Alexander Hamilton é incisivo:  
Nenhum ato legislativo contrário à Constituição pode ser válido. Negar isso seria afirmar que homens, agindo em virtude de poderes, podem fazer não apenas o que seus poderes não autorizam, mas o que eles proíbem. (…) É mais racional supor que os tribunais foram concebidos para ser um órgão intermediário entre o povo e o Legislativo, a fim de manter este último dentro dos limites atribuídos à sua autoridade. A interpretação das leis é da competência própria e peculiar dos tribunais (…) A Constituição deve ser preferida à lei, à intenção do povo, à intenção de seus agentes. Nem esta conclusão supõe, de modo algum, uma superioridade do Poder Judiciário sobre o Legislativo. Supõe apenas que o poder do povo é superior a ambos; e que, onde a vontade do Legislativo, declarada em seus estatutos, se opõe à do povo, declarada na Constituição, os juízes devem ser governados por este e não pelo primeiro. Eles devem regular suas decisões pelas leis fundamentais, e não pelas que não são fundamentais”.

Os Pais Fundadores da América dedicaram anos de suas vidas estudando as falhas e os acertos de sistemas políticos até chegarem à sua Constituição, documento único com mais de 230 anos e apenas 27 emendas. No entanto, por mais que esses homens estivessem imersos na proposição de desenhar um sistema justo e sólido, pequenas imperfeições foram inevitáveis. Até na Corte Suprema, estritamente constitucional, momentos de puro ativismo podem acontecer. Como na manobra militante de 1974 que legalizou o aborto no país, no emblemático caso Roe v. Wade, mencionado em alguns de meus artigos aqui em Oeste. E há outro ponto dentro desse raro, porém existente e importante, ativismo judicial na América. O uso de agências regulatórias, que podem ter ações com poder de lei na ausência de legislações específicas.

Em Chevron v. National Resources Defense Council (1984), a Suprema Corte americana decidiu criar a doutrina de que os tribunais normalmente devem ceder às agências governamentais quando a linguagem de uma lei é ambígua. O conceito de “deferência Chevron” surgiu das interpretações concorrentes da Lei do Ar Limpo (Clean Air Act), entre as administrações de Jimmy Carter e Ronald Reagan. Em 1977, o Congresso alterou a Lei do Ar Limpo após críticas de que o governo não cumpria os padrões de qualidade do ar estabelecidos pela Agência de Proteção Ambiental (EPA).

A lei alterada exigia que os Estados que não atendiam às especificações teriam de estabelecer um programa de licenças regulando “fontes estacionárias novas ou modificadas” de poluição do ar. Em grande parte, a definição de “fontes estacionárias” ficou intacta sob as emendas de 1970 à Lei do Ar Limpo, que se referia a “qualquer edifício, estrutura ou instalação que emite ou possa emitir qualquer poluente do ar”. O problema é que as administrações Carter e Reagan não concordavam com a definição de “fontes estacionárias”.

Em um ano na Casa Branca, o atual presidente já encara preocupantes números de aprovação

Em 25 de junho de 1984, o juiz da Suprema Corte John Paul Stevens redigiu a decisão unânime da Corte que considerou a revisão judicial da interpretação de uma lei por uma agência. Se o Congresso não se manifestou diretamente sobre a questão específica, a interpretação da agência podia ser baseada em uma construção permissível da lei. No caso da Chevron, as emendas de 1977 deixaram à agência o poder de interpretar a linguagem ambígua da lei. O juiz Stevens argumentou que não havia uma intenção clara na história legislativa das emendas de 1977 para obter uma definição nítida de “fontes fixas ou estacionarias”, e, onde a linguagem não era precisa na questão de sua aplicação, as agências tinham experiência além do Congresso para promover a flexibilidade em administrar uma legislação importante.

Eu sei, parece um caso saído de um livro do Barroso. Agora imaginem os Pais Fundadores da América ouvindo que juízes deram o poder de interpretar legislações às agências reguladoras! Administradores que nunca receberam um voto de cidadãos americanos. E Chevron v. National Resources Defense Council acabou se tornando a porta para que outras agências administrativas adquirissem mais e mais poder, muitas vezes sendo usadas pelo próprio Executivo, que, se não conseguir conversar com as Casas Legislativas, pode assinar ordens executivas absurdas e até inconstitucionais. Como Joe Biden.

Em um ano na Casa Branca, o atual presidente já encara preocupantes números de aprovação (uma nova pesquisa da Quinnipiac University mostra queda de 36% para 33% nesta semana), para quem ainda deveria estar gozando da “lua de mel” com o eleitorado. Biden começou o ano de 2021 anunciando que jamais obrigaria as pessoas a se vacinar contra a covid, e que sua administração “erradicaria” o vírus. Bem, de acordo com vários imunologistas sérios, como o doutor Zeballos, no Brasil, e o doutor Martin Kuldorff, aqui nos EUA, o vírus não vai a lugar algum tão cedo. Ele pode até ser atenuado por variantes como a Ômicron, que traz alta transmissibilidade e baixíssima letalidade, mas está longe de ser “erradicado”, como declarou o democrata.

Sobre o passaporte sanitário fascista de uma vacina ainda em desenvolvimento, Biden também não cumpriu sua promessa. E, usando exatamente uma agência regulatória, a Osha (Occupational Safety and Health Administration), seu governo baixou uma ordem exigindo que empresas com mais de 100 empregados obrigassem seus funcionários a se vacinar. De acordo com a ordem, Joe Biden teria poder regulatório para emitir um mandato médico em prol da saúde pública e do “bem comum”. Muitos Estados, empresas e organizações sem fins lucrativos desafiaram a regra imposta pela Osha e foram para os Tribunais de Apelação em todo o país. Em novembro do ano passado, o Tribunal de Apelações do Quinto Circuito bloqueou totalmente a ordem draconiana do democrata e jogou o problema para a Suprema Corte.

Colhendo os frutos
Sempre é bom lembrar que a eleição presidencial norte-americana de 2016, entre Donald Trump e Hillary Clinton, não foi histórica apenas pela digital da polarização política. A escolha não era nada fácil, já que na cédula havia o nome de dois candidatos que não eram muito queridos nem pelos eleitores nem por seus partidos. No entanto, mais uma vez, o pragmatismo do norte-americano entrou em cena na eleição e, junto com ele, o famoso “single issue voter”, ou algo como “eleitor de questão única”. Para eles, havia apenas uma razão, um único motivo para eleger Donald Trump: a indicação de dois ou mais juízes para a poderosa Suprema Corte Americana.

Donald Trump ficou quatro anos na Casa Branca e conseguiu deixar uma marca inigualável. Além de um número surpreendente de indicações de juízes conservadores para as Cortes Superiores e distritos federais, Trump colocou três juízes constitucionalistas na Suprema Corte. Para aqueles que taparam o nariz e votaram no bufão laranja por uma única questão, a colheita chegou ontem, quinta-feira, 13 de janeiro de 2022. Em uma votação histórica, a Scotus bloqueou a ordem de vacinação para todas as empresas privadas que possuem 100 ou mais empregados, escrevendo em sua decisão: “O secretário (de Saúde) ordenou que 84 milhões de americanos tomassem uma vacina contra a covid-19 ou se submetessem a exames médicos semanais à sua própria custa. Este não é um ‘exercício cotidiano do Poder Federal’”.

A opinião final da Corte também observa que o Congresso nunca decidiu dar à Osha o poder de regular a vida dos norte-americanos: “Embora a covid-19 seja um risco que ocorre em muitos locais de trabalho, não é um risco ocupacional na maioria”. A decisão observa a falta de “precedentes históricos” da agência governamental Osha na emissão de amplas regulamentações de saúde e alerta: “Permitir que a Osha regule os perigos da vida cotidiana — simplesmente porque a maioria dos americanos tem empregos e enfrenta esses mesmos riscos enquanto estão trabalhando — expandiria significativamente a autoridade regulatória da Osha sem autorização clara do Congresso”.

O juiz Neil Gorsuch, um dos apontados por Donald Trump, concordou que o Congresso não deu à Osha o poder de regular a vida diária nem as liberdades de milhões de norte-americanos, e foi enfático: “A questão diante de nós não é como responder à pandemia, mas quem detém o poder de fazê-lo. A resposta é clara: de acordo com a lei atual, esse poder é dos Estados e do Congresso, não da Osha. Ao dizer isso, não impugnamos as intenções por trás das ações de ordens da agência. Em vez disso, apenas cumprimos nosso dever de fazer cumprir as exigências da lei quando se trata da questão de quem pode governar a vida de 84 milhões de norte-americanos. Respeitar essas exigências pode ser difícil em tempos de estresse. Mas, se este Tribunal as cumprisse apenas em condições mais tranquilas, as declarações de emergência nunca terminariam, e as liberdades que a separação de Poderes da nossa Constituição procura preservar seriam poucas”, concluiu Gorsuch, mostrando o motivo pelo qual os eleitores com apenas uma razão para votar Trump comemoraram a decisão nas redes sociais.

Mas não pensem que não há juízes ruins na Corte Suprema Americana. Os juízes indicados por democratas, Stephen Breyer, Sonia Sotomayor e Elena Kagan, não apenas discordaram da decisão e queriam que o governo federal violasse o próprio federalismo americano, diminuindo a autonomia dos Estados e do Congresso. Também cometeu gafes (mas pode chamar de fake news) do nível do nosso STF.

A juíza Elena Kagan sugeriu que tomar a vacina reduz totalmente a propagação do vírus, uma alegação duvidosa que é contestada pelo número quase fora de controle de novos casos em todo o mundo. A opinião de Kagan é que “esta é a política mais correta para acabar com tudo isso que está aí”. O juiz Stephen Breyer ecoou o sentimento de Kagan de que a vacina — ainda em desenvolvimento — impediria a propagação do vírus no local de trabalho. Ele disse que o argumento das empresas de que centenas de milhares de pessoas deixariam a força de trabalho devido à vacinação forçada, prejudicando a já em dificuldades economia dos EUA, é discutível, porque “mais pessoas podem renunciar a seus postos quando descobrirem que precisam trabalhar em conjunto com outros não vacinados”, disse Breyer, antes de sugerir que um mandato de vacina eliminaria os casos de covid nos EUA.

Até o próprio CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) admitiu que a vacina não bloqueia a transmissão da covid, mas isso não impediu que os juízes continuassem a alegar que as vacinas eram eficientes para conter a propagação do vírus. O juiz Breyer também usou repetidamente o aumento do número de casos após o surgimento da variante Ômicron para justificar a manutenção do mandato da Osha e afirmou que houve “750 milhões de novos casos ontem”, apesar de a população dos EUA ser menos da metade desse número.

O presidente eleito em 2022 indicará para o Supremo Tribunal Federal dois ministros em 2023

Os exemplos, dados e fatos não reprimiram as falácias vindas dos juízes progressistas, como Sotomayor, que passou a afirmar que a covid é um “risco grave” para “pessoas de todas as idades e condições”, e que pessoas não vacinadas têm potencial destrutivo para si mesmas e para os outros, inclusive os vacinados. Ela, junto com Breyer, também afirmou, de forma bizarra e sem a menor responsabilidade, que “os hospitais estão quase todos com capacidade total”, o que não é verdade, e mentiu que mais de 100.000 crianças estão hospitalizadas com covid e em respiradores. Faltou combinar com os dados oficiais: de acordo com o atual censo nacional de covid pediátrico, esse número é de 3.342 crianças internadas, a maioria de maneira incidental.

Mesmo com uma derrota histórica ontem e com uma decisão importantíssima para a preservação das liberdades que sustentam o Ocidente, a administração Joe Biden segue a passos largos em várias frentes na tentativa de desvirtuar os sólidos pilares democráticos norte-americanos
Com uma atual Suprema Corte, com maioria conservadora, que vê na letra fria da lei o único norte possível (nessa decisão sobre a Osha, o placar final foi de 6 a 3), democratas tentam aumentar o número de juízes do tribunal para 11 ou até 13 membros; tentam acabar com a ferramenta de fillibuster no Senado, manobra que daria ao partido de Biden o poder de passar leis com maioria simples (e não os 60 de 100 senadores necessários para votações importantes); além das inúmeras tentativas de “federalizar” as eleições e tirar o poder e o importante filtro de segurança colocado pelos Pais Fundadores da América.
 
Em 2022, a agenda nefasta da esquerda radical, que também está presente nos Estados Unidos, vai tentar seguir um caminho ainda mais violento; na América e no mundo. Neste ano, temos uma eleição-chave para o nosso futuro no Brasil. 
O presidente eleito em 2022 indicará para o Supremo Tribunal Federal dois ministros em 2023. Que o caminho que os norte-americanos pragmaticamente decidiram trilhar em 2016 nos ensine que resultados eleitorais são também colhidos com o tempo.

A agenda democrata tentou seguir um caminho muito bem pavimentado, de maneira quase perfeita, por Obama. De acordo com a velha imprensa e os institutos de pesquisas, Hillary seria eleita presidente em 2016 em todos os cenários. Faltou combinar com o eleitor.

Leia também “E se o governo mandasse o STF passear?”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Saindo do vermelho



Para o eleitor comum, a maior bandeira é seu emprego, sua chance de mobilidade social
As eleições municipais no Brasil deram uma surra no PT e na esquerda. Foram mais de dez anos de voto de confiança no petismo e, enquanto a população estava no azul ou sonhando com o azul, era fácil votar na “esquerda”. Agora, a conta dos escândalos e da ineficiência chegou e o eleitor não perdoou. Lula tentou minimizar o impacto: “Essa é a beleza da democracia. É a alternância de poder. A troca de pessoas que governam”. Estas eleições foram uma punição, numa “beleza de democracia”.

[a esquerda tem que acabar - chega de comunismo, de desrespeito à família; a esquerda representa tudo que não presta.]

O voto ideológico e partidário já era. É quase impossível analisar o voto da maioria apenas à luz da lógica ou das redes sociais. Pior ainda é tentar desacreditar a maré conservadora à luz das paixões e militâncias. Analista que faz isso é ingênuo ou de má-fé.  A desilusão mundial com os políticos, pela corrupção e pelas mentiras, leva o eleitor a mandar um recado claro, com voto oculto não detectado pelas pesquisas eleitorais. Ele prefere apostar no desconhecido, por mais arriscado que possa ser. O desconhecido ainda não o decepcionou, ainda não roubou bilhões de verba pública, ainda não faliu estatais. O desconhecido com uma história pessoal de sucesso é um chamariz de voto.
 
Não é por acaso que 23 milionários tenham sido eleitos no primeiro turno prefeitos no Brasil.  Para o eleitor comum, a maior bandeira é seu emprego, seu trabalho, sua chance de mobilidade social. Sua família é a maior preocupação. Saúde, segurança e o futuro de seus filhos são o que lhe tira o sono. O futuro do planeta, a ecologia, a paz, nada disso guia a maioria silenciosa na urna. É sua felicidade e a dos muito próximos o que comanda seu voto. Não vivemos tempos de compaixão ou de solidariedade com imigrantes e refugiados, ou com vizinhos de prédio ou de fronteira, ou com menores carentes ou delinquentes. No Brasil, na Colômbia, na Hungria, na Grã-Bretanha, na Espanha, nos Estados Unidos, o panorama é parecido e individualista. Não é elogio nem crítica, mas uma constatação.

Ninguém esperava que um empresário e apresentador de TV ganhasse no primeiro turno a prefeitura de São Paulo. No Rio de Janeiro, o voto maciço em um pastor evangélico da Universal, sobrinho do bispo Edir Macedo, acompanhado por expressivos 14% de votos no filho de Jair Bolsonaro, revelou que o carioca mudou e mandou o PMDB às favas.

Marcelo Freixo, do PSOL do Rio, é a exceção vermelha que comprova a regra. Quem o garantiu no segundo turno foi o eleitor jovem e de curso superior, a Zona Sul afluente. O povão, em nome de quem Freixo promete governar, o rejeita. A primeira pesquisa Datafolha para o segundo turno mostrou que a maior diferença entre os dois candidatos está nos eleitores apenas com ensino fundamental: 52% para Crivella, 21% para Freixo.

A esquerda desmerecerá o voto da massa? Dirá que não é esclarecida? Ou assumirá que os mais pobres foram os mais afetados pelos desmandos do governo Dilma? Admitirá que o povo brasileiro é religioso, tradicional e tem valores próximos aos da direita militarista que vota em Bolsonaro? A maioria rejeita direito ao aborto, descriminalização de drogas, casamento gay, desarmamento civil e acha que bandido bom é bandido morto. Pode fazer referendo. Vai ver. Pelo mundo afora, é a mesma toada conservadora e de desencanto, que impulsiona um voto oculto ou envergonhado, invisível nas pesquisas. Há nuances segundo o país, mas é possível reconhecer um padrão. Abstenções, votos nulos e em branco estão em alta.

Um dos votos mais surpreendentes foi o do referendo na Colômbia. Era dado como certo que o povo colombiano aprovaria o acordo de paz com os guerrilheiros das Farc, depois de mais de 50 anos de guerra civil e 260 mil mortos. Mas o povo disse “não” no referendo. Rejeitou a anistia aos guerrilheiros.  Na Hungria, 95% rejeitaram em referendo abrigar cotas de refugiados de guerra e imigrantes. Na Grã-Bretanha, o povo decidiu pela Brexit, a saída da Europa. Na Espanha, nenhum partido consegue formar maioria em eleições, e o povo está há quase 300 dias sem um governo nacional – e feliz com isso. “Sem governo, sem ladrões”, dizem os espanhóis. Já nos Estados Unidos, Donald Trump é o ídolo dos nacionalistas, um fenômeno absurdo de ódio, racismo, xenofobia, machismo. Inexplicável?

Ao chegar a Nova York na semana passada, peguei no aeroporto um táxi dirigido por um jovem de Bangladesh, que foi com a família há 20 anos para os Estados Unidos. Perguntei em quem votará para presidente. “Ainda não sei”, disse com sotaque forte. “Não gosto de nenhum dos dois. Será um voto difícil [‘tough’]. Mas, no último dia, vou escolher Trump ou Hillary.” Fiquei boquiaberta. Tive a sensação de que o rapaz de Bangladesh já se decidira por Trump. Um voto oculto e envergonhado, como tantos que acabam por decidir uma eleição. [nem os Estados Unidos conseguirá resistir a um governo Hillary, logo após dois mandatos desastrosos de um Obama. Por isso Trump tem que ser eleito.] 

Fonte: Ruth de Aquino – Revista Época

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Existe o risco Trump? Claro que não – Trump vai consertar as bobagens que Obama fez



Agora é para valer: o magnata que se tornou celebridade depois estrelar um reality show disputará a Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano. 

Populista e xenófobo, Donald Trump é o perigoso retrato de um mundo cada vez mais intolerante

CONSAGRADO Donald Trump recebeu votação recorde nas primárias (Crédito: Lucas Jackson/REUTERS)

No início, eram 17 candidatos e Donald Trump apresentava-se apenas como o mais extravagante deles. Um a um, os 16 adversários do magnata foram desistindo da corrida pela indicação do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos até que o bilionário que era tratado como uma piada inofensiva virou uma realidade perigosa. Na terça-feira 19, o improvável Trump foi anunciado o candidato oficial da sigla durante a convenção na cidade de Cleveland, em Ohio. O republicano, que aparece empatado com a democrata Hillary Clinton nas pesquisas de intenção de voto, agora tem uma possibilidade real de se tornar o homem mais poderoso do mundo.

“Nosso plano é colocar a América em primeiro”, disse o candidato no encerramento da convenção, na quinta-feira 21. “Americanismo, e não globalismo, será nosso lema”. Nestes tempos sombrios, o populismo que Trump encarna pode ser visto como o retrato acabado do mundo atual, cada vez mais intolerante com aquele que é diferente. A crise de sensatez que se instalou com o “Brexit” e a ascensão de Theresa May, a primeira-ministra britânica que detesta os imigrantes, se torna ainda mais assustadora quando se reflete na maior potência global, com enorme campo de influência, e parece longe do fim.
Inserir INFO:  PLATAFORMA
“As forças que levaram Trump ao sucesso na política americana claramente têm algo em comum com as forças populistas de direita que avançam na Europa”, afirma Philip Wallach, analista de política do Instituto Brookings, de Washington. “O nacionalismo está voltando de uma maneira que as elites nunca esperaram.” Com Trump na Casa Branca, o mundo provavelmente se tornará um lugar pior. Nas primárias, Trump obteve votação recorde na história da sigla: 13,3 milhões de votos.

O desempenho tem duas explicações para Matthew Kroenig, professor da Universidade Georgetown e ex-conselheiro das campanhas de Marco Rubio nas primárias deste ano e de Mitt Romney nas eleições de 2012. “Em primeiro lugar, a elite do partido nunca consolidou apoio em torno de um único candidato”, disse à ISTOÉ. “Há um consenso entre os republicanos de Washington e Nova York que Rubio ou Jeb Bush deveriam ser os indicados, mas eles nunca se decidiram.” Assim, ao longo de três meses, os votos se pulverizaram entre tantos pré-candidatos, deixando o caminho livre para Trump, que domina a arte da comunicação, adora as redes sociais e, como ex-astro de reality show, é exímio em criar polêmica e propaganda gratuita.

O outro ponto é que a mensagem de Trump ressoa em muitos americanos que estão infelizes com os rumos do país, sobretudo em temas como imigração e política comercial, que afetam diretamente seus empregos e rendimentos. É para essa parcela significativa da população que o empresário diz bravatas como a de que, se eleito presidente, convidará a China para a mesa de negociações declarando-a uma “manipuladora de moeda” e colocando fim aos “subsídios ilegais” que o gigante asiático daria às suas exportações.  “Chega de fábricas com trabalho escravo e paraísos da poluição roubando empregos de americanos”, diz a proposta publicada em seu site oficial. “Trump explora um reservatório de raiva pública que a maioria dos candidatos republicanos não percebeu que existia”, afirma Wallach. “O aparato republicano falhou em coordenar uma resposta efetiva, em parte porque eles desprezavam o maior rival de Trump, Ted Cruz, e essa inação permitiu que Trump tomasse conta do partido.”

REJEIÇÃO
Para chegar à Casa Branca, o principal obstáculo que o empresário terá que superar será sua enorme impopularidade, que começa dentro do próprio Partido Republicano. A convenção da semana passada ficou marcada pela ausência de figuras tradicionais, como a família Bush e o senador e ex-presidenciável John McCain, cujo status de “herói de guerra” foi questionado por Trump durante a campanha. “Ele só virou um herói, porque foi capturado”, disse o candidato sobre o ex-piloto que foi sequestrado e torturado durante a Guerra do Vietnã, nos anos 60. “Eu gosto de pessoas que não são capturadas.”

Ainda na convenção, Ted Cruz deixou o palco vaiado após pedir que os correligionários votassem “com consciência”, negando-se, assim, a declarar apoio formal a Trump. “Embora Donald Trump explore a ansiedade nos EUA, ele não reflete os princípios republicanos e espero que não reflita seu futuro”, escreveu Jeb Bush, em artigo publicado no jornal americano The Washington Post. Filho e irmão de ex-presidentes, Jeb entrou na corrida presidencial republicana deste ano como favorito e levantou US$ 130 milhões em financiamento, mas deixou a disputa depois de sofrer derrotas acachapantes nos três primeiros Estados onde ocorreram as primárias.

MINORIAS
Entre as mulheres, as pesquisas mostram que a rejeição de Trump supera os 70%. Ainda que, desde a década de 80, as eleitoras americanas venham expressando preferência pelo Partido Democrata, a escolha do magnata como candidato republicano pode levar a distância de votos entre gêneros a ser a maior em 60 anos. Isso porque Trump, organizador de concursos de miss desde os anos 90, nem durante a corrida presidencial se furtou a fazer comentários machistas.

“Não sei se ele entende como ofendeu profundamente as mulheres, inclusive as republicanas”, afirma Virginia Sapiro, professora de Ciência Política da Universidade de Boston. “Quando tenta atrair essa fatia do eleitorado, Trump faz comentários sobre os corpos delas ou diz o quanto ama sua mulher.” Recentemente, o republicano sugeriu que uma jornalista estava menstruada durante um debate da rede de tevê Fox News e afirmou que Hillary “facilitou” os casos extraconjugais do marido, o ex-presidente Bill Clinton

Anos atrás, Trump disse que namoraria sua filha Ivanka se não fosse o pai dela. “A distância entre os votos masculinos e femininos nessa eleição também pode ser exacerbada porque Hillary vai tentar mobilizar as mulheres para ter a maior votação feminina da história e Trump vai engajar mais os homens brancos”, disse à ISTOÉ Jennifer Lawless, professora do Departamento de Governo da Universidade Americana de Washington e co-autora do livro “Women on the Run: Gender, Media, and Political Campaigns in a Polarized Era” (“Mulheres na disputa: gênero, mídia e campanhas políticas numa era polarizada”, numa tradução livre para o português).

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http://istoe.com.br/o-risco-trump/