Candidato do PSL é obrigado a desmentir guru econômico sobre criação de tributo
[o importante é que se houve pensamento em criar mais um imposto, o pensamento já foi fulminado.
A proposta de criar um imposto sobre movimentações financeiras, revelada pelo economista Paulo Guedes a um grupo de investidores, gerou uma crise na campanha presidencial de Jair Bolsonaro
(PSL), cujo discurso é o de redução da carga tributária. O candidato,
que continua internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, se
recuperando do atentado sofrido há duas semanas, ligou logo pela manhã
para cobrar explicações do seu principal assessor econômico e teve que
ir duas vezes às redes sociais afirmar que descarta o aumento de
impostos. Os adversários de Bolsonaro aproveitaram o episódio para
atacar o líder nas pesquisas de intenção de voto, e pretendem explorar o
tema nos próximos programas eleitorais.
Apontado
como ministro da Fazenda em caso de vitória de Bolsonaro, Guedes falou
sobre a criação de um imposto sobre movimentações financeiras, comparado
pelos adversários à extinta CPMF, para um grupo de investidores, como
revelou a
“Folha de S.Paulo”. Referência do plano econômico de
Bolsonaro, que o chama de
“Posto Ipiranga” para questões da área, Guedes
também precisou se explicar para tentar baixar a poeira de sua
declaração.
Bolsonaro
não tinha sido consultado sobre o plano e reclamou com Guedes, por
telefone, que a forma como o assunto chegou à imprensa obrigava a
campanha a esclarecer detalhadamente como seria eventual implementação. Antes mesmo de Guedes se explicar, Bolsonaro afirmou em rede social:
“Nossa equipe econômica trabalha para redução da carga tributária,
desburocratização e desregulamentações. Chega de impostos é o nosso
lema! Somos e faremos diferente. Esse é o Brasil que queremos!”. À
noite, o candidato do PSL voltou a tuitar: “
Ignorem essas notícias mal
intencionadas dizendo que pretendemos recriar a CPMF. Querem criar
pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória. Ninguém aguenta
mais impostos, temos consciência disso”.
GUEDES: “NÃO É A CPMF”
Em Bauru, no interior
de São Paulo, o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general
Hamilton Mourão, afirmou que
“criar imposto é dar um tiro no pé”,
acrescentando que
“isso deve ser decidido entre o candidato e o
economista”.
Em entrevista ao
GLOBO, Guedes tratou a tributação sobre
movimentações financeiras como uma alternativa em estudo para substituir
entre quatro a seis tributos. Afirmou ainda que a proposta concorre com
a ideia de criar um
imposto sobre valor agregado (IVA), em análise por
outros candidatos.
—
Não é a CPMF. A primeira diferença é que a CPMF é um imposto a mais. (A
nossa proposta)
seria um imposto único. Não é aumento de imposto de
jeito nenhum, é uma simplificação (tributária)
brutal — afirmou o
economista ao
GLOBO. —
Estamos examinando pegar quatro, cinco, seis
impostos e criar um imposto único federal. Não faz o menor sentido
aumentar impostos, criar uma CPMF. Não foi isso que foi falado. A pessoa
que passou a informação lá deve ter sido eleitor do PT, do Alckmin, ou
coisa assim.
A
surpresa com a proposta não foi apenas do presidenciável. Na mesma
terça-feira em que debateu o tributo com investidores, Guedes se reuniu
com os principais integrantes da campanha e nada falou sobre o tema. O
presidente do PSL de São Paulo, deputado Major Olímpio, foi um deles.
— Ele disse que estava fazendo um fala com um grupo de pessoas, e que
a informação vazou por alguém que não entendeu a proposta. Ele me disse
que deixou claro que há vários planos, além de ter ressaltado que a
decisão será do Bolsonaro. Falou ainda que todas as propostas são para
diminuir tributos — disse Olímpio.
Outro integrante do núcleo duro da campanha, o general da reserva Augusto Heleno foi no mesmo tom:
— Ele (Guedes)
tem muita cancha e resolveu falar isso numa palestra
restrita. Mas hoje tudo vaza, e a repercussão não foi boa. Não é nada
que não seja explicável e nesse formato de substituição é até saudável.
Mas claro que as coisas não vão acontecer em toque de mágica. São etapas
que vão ter que ser vencidas, não se faz isso com varinha de condão.
Geraldo Alckmin (PSDB)explorou o noticiário sobre a proposta do economista da campanha do PSL.
—
Quem fala em nome do Bolsonaro, o Paulo Guedes, quer recriar a CPMF.
Vão fazer mais imposto para passar a conta para o povo. Nós somos contra
mais impostos — disse o tucano.
Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) focaram suas críticas na
proposta de Guedes de unificação da tarifa de imposto de renda para
pessoa física. Segundo o economista disse ao GLOBO, esta alíquota poderá
variar de 15% a 20%.
— É um pequeno desastre. Um desastre porque vai fazer pobre, que já
paga mais imposto que o rico, pagar ainda mais — disse Haddad.
Ciro,
por sua vez, afirmou que todo mundo “sério” cobra imposto de forma
progressiva, ou seja, menos de quem pode pagar menos e mais de quem pode
pagar mais:
— O que o posto Ipiranga do Bolsonaro está propondo é o inverso:
propõe pegar as pessoas que pagam hoje 7,5% ou 10% de IR e passar a
pagar 20%.
Em sabatina da
“Veja”, a candidata da Rede, Marina Silva, condenou a criação de uma nova CPMF.
— Eu sou contra recriar a CPMF, e nós temos uma proposta de Reforma Tributária.
O Globo