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domingo, 5 de dezembro de 2021

Empresário casado com deputada da extrema direita alemã é conexão entre Bolsonaro e Kast - O Globo

Recebido pelo mandatário brasileiro em julho, Sven von Storch atua nos bastidores da campanha do candidato à Presidência do Chile como assessor em temas internacionais

[Qual crime Bolsonaro cometeu,  ou comete,  por receber assessor de um candidato de extrema direita que não agrada aos inimigos do Brasil? É caso de impeachment? ou é um genocídio? ou ato antidemocrático?]

Os vínculos entre o presidente Jair Bolsonaro, parte de sua família e o candidato de extrema direita à Presidência do Chile, José Antonio Kast, são mais profundos do que quer admitir publicamente o ex-deputado chileno, que nos últimos dias reformulou (leia-se moderou) seu programa de governo na tentativa de cativar eleitores de centro para o segundo turno, no dia 19 de dezembro. Nessa conexão bilateral, existe uma pessoa central que esteve com Bolsonaro em julho deste ano, em Brasília. Trata-se do empresário chileno-alemão Sven von Storch, marido da deputada alemã Beatrix von Storch, vice-líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), investigada por declarações xenófobas.

Bolsonaro recebe o casal Von Storch: a deputada alemã Beatrix é investigada por declarações xenófobas Foto: Divulgação
Bolsonaro recebe o casal Von Storch: a deputada alemã Beatrix é investigada por declarações xenófobas Foto: Divulgação

Segundo fontes chilenas consultadas pelo GLOBO, o empresário conhece Kast há muitos anos e tornou-se um importante assessor do candidato em temas internacionais. Um de seus ídolos é Steve Bannon, ex-estrategista do ex-presidente americano Donald Trump e acusado criminalmente de ter desobedecido um mandado da comissão da Câmara que investiga a invasão do Congresso dos EUA, em 6 de janeiro deste ano.

Von Storch, no entanto, não é uma figura pública conhecida no Chile nem atua no comando de campanha de Kast. Pelo contrário. O empresário está nos bastidores e em contato, apenas, com o círculo mais íntimo do candidato chileno. Se até o primeiro turno, em 21 de novembro passado, Kast tinha um programa de governo que incluía, por exemplo, a retirada do Chile do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, proposta totalmente alinhada com o pensamento que Von Storch exibe entre os que combatem o que chamam de uma aliança entre a esquerda tradicional e os globalistas, agora o candidato da Frente Social Cristã suavizou suas posições. Fez “ajustes”, como explicou um acadêmico que está colaborando com sua campanha.

Artigo:A ascensão do candidato da extrema direita José Antonio Kast no Chile

(...)

Von Storch raramente aparece, mas a foto com o presidente brasileiro, em julho, confirma o que o próprio empresário gosta de comentar quando participa de programas de baixa visibilidade em redes sociais. Em conversa com o também empresário chileno Enrique Subercaseaux, que apresenta um programa de debates no YouTube, o marido da deputada de extrema direita alemã menciona em reiteradas oportunidades suas conversas com Bannon e fala em articulações com forças políticas no Brasil, na Colômbia e, na Europa, em países como Hungria e Polônia.

Em pouco mais de meia hora de programa, Von Storch apresenta sua visão de mundo e defende a eleição de Kast como tábua de salvação para que o Chile não seja destruído por uma “esquerda globalista, de ideologia marxista”.

Em carta recente divulgada entre conhecidos, o empresário, que foi recebido por Bolsonaro no Palácio do Planalto, afirma que “o Chile se encontra em um momento divisor de águas, em que se decidirá se o país se converterá em uma segunda Venezuela, na Suíça da América Latina ou em uma nova Hong Kong do Pacífico. Agora se decidirá se o futuro de América Latina se escreverá em Havana ou em Santiago do Chile”. Alguns chamaram o texto de “Carta de Osorno”, já que, quando a família Von Storch se instalou no Chile, em meados do século passado, optou pela província de Osorno, no Sul do país.

Uma das propostas mais ousadas de Kast durante a campanha foi a de retirar o Chile do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas: — As Nações Unidas estão integradas por países que não acreditam na democracia e violam os direitos humanos, como Nicarágua e Venezuela... queremos nos retirar.

Mundo - O Globo - MATÉRIA COMPLETA


quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Há uma bomba-relógio no TSE - Elio Gaspari - Cassar chapa com atraso é tapetão

 O Globo

Cassação da chapa Bolsonaro-Mourão pelo TSE é o sonho do presidente

Há uma bomba-relógio no TSE 

[caso clássico de tapetão?]  

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou que nas próximas semanas julgará o processo de cassação da chapa de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão. Parece falta de assunto, mas é bom que se diga: trata-se de uma iniciativa retardatária e inoportuna, caso clássico de tapetão.

É retardatária porque não faz sentido cassar uma chapa três anos depois da campanha durante a qual teriam ocorrido flagrantes transgressões da lei. Tudo indica que as ilegalidades ocorreram, mas, se o Judiciário levou três anos para decidir julgar o caso, deveria reconhecer que sua morosidade causou danos ao bem público semelhantes aos das malfeitorias cometidas. Se o caso envolvesse uma autoridade conduzida a um cargo vitalício, tudo bem, mas cassar uma chapa a um ano do fim do mandato é uma excentricidade.

É inoportuna, porque o país ainda não se livrou da tensão institucional manipulada por Bolsonaro nos seus confrontos verbais com o Judiciário. Uma nova encrenca nesse quintal é coisa desnecessária.

É um caso de tapetão porque, anulando o resultado de um pleito mais de três anos depois de sua realização, leva água para o moinho do condenado. Ele fica com o argumento de que foi eleito por 57 milhões de pessoas e cassado três anos depois pela maioria de um colegiado de sete sábios. Para Bolsonaro, esse seria um cenário de sonho.

A esta altura, Jair Bolsonaro pode ser afastado da Presidência pelo Congresso, por meio de um processo de impedimento. Se faltam apoios para isso, paciência. Resta a alternativa lisa e límpida da eleição do ano que vem.  
O TSE já passou por experiência semelhante em 2017, quando julgou o processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. 
A senhora já havia sido deposta pelo Congresso, o vice ocupava-lhe a cadeira, e o tribunal rejeitou o pedido. Viveu-se uma tensão desnecessária.
Todas as encrencas que Bolsonaro alimentou com o Judiciário partem da premissa de que ele tenta invadir as competências do Executivo. A cassação da chapa seria uma cereja para esse bolo. 
Fica a pergunta do que seria possível fazer para desarmar a bomba-relógio. Isso só os ministros do TSE poderão saber. No caso da cassação da chapa Dilma-Temer, seguiram um caminho que resultou na piada segundo a qual a dupla foi inocentada por excesso de provas.

Um dos pilares das denúncias contra Bolsonaro está na exposição do uso abundante de notícias falsas durante a campanha de 2018. Nesse sentido, agora o próprio TSE armou-se para impedir que essa praga contamine a eleição do ano que vem. Há três anos, as notícias falsas eram uma produção nacional. Pelo andar da carruagem, percebe-se que a receita promete ser repetida no ano que vem, com o agravante da internacionalização. Quando Steve Bannon, o guru de Donald Trump, disse que Lula “é o esquerdista mais perigoso do mundo”, sinalizava o que pode vir por aí.

Elio Gaspari, colunista - O Globo - MATÉRIA COMPLETA

 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Autofagia

Filhos, fator de desestabilização do governo Bolsonaro 

Mourão é considerado por um grupo de bolsonaristas como um potencial inimigo, um Cavalo de Tróia

A família Bolsonaro parece gostar de um enfrentamento. Ontem à noite, o presidente avalizou pelo Twitter uma afirmação do filho Carlos, que desmentia o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que dissera que mantivera contato com Bolsonaro no hospital. Queria desfazer assim os boatos de que estaria desgastado com o presidente devido a denúncias de uso indevido de verba propagandística durante a eleição. Pelo jeito, talvez não seja mais ministro hoje.
O PSL está debaixo de fogo cruzado devido à suspeita de ter desviado dinheiro da campanha eleitoral utilizando-se de candidatas “laranjas”. Gustavo Bebianno, que foi presidente do PSL e teve papel de relevo na campanha, está sendo acusado por um grupo de bolsonaristas, entre eles o próprio Carlos, de ter participado dessa tramoia que está sendo investigada pela Justiça. Já na transição do governo houve uma briga entre os dois. Carlos atribuía a Bebianno o convite a Marcos Carvalho, dono da agência AM4, responsável pela campanha digital do presidente eleito, para participar da equipe.
Carlos considera-se o responsável pela comunicação de Bolsonaro nas mídias sociais, tem até mesmo as senhas do pai, e não admite concorrência. Acusou Marcos Carvalho de querer aparecer como “marqueteiro digital” vencedor, sem ter tido tal importância. Certa vez, o vice-presidente Marco Maciel ouviu de Heitor Ferreira, ex-secretário particular dos presidentes Geisel e Figueiredo, a definição do posto que ocuparia no governo de Fernando Henrique Cardoso: “Vice-presidente é nada à véspera de tudo”.
Maciel soube equilibrar-se nessa linha quase etérea entre o “nada” e o “tudo”, e hoje é exemplo de comportamento para um vice-presidente, discreto e eficiente. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão recebeu com um sorriso o presidente Bolsonaro, que voltava a Brasília depois de 16 dias internado no Hospital Albert Einstein em São Paulo. Sorriso que desfez qualquer desconforto que poderia ter causado uma ironia do presidente, ao telefone: “Quer me matar?”, perguntou a Mourão, que tratou de revelar a “brincadeira” para retirar dela qualquer conotação outra. Embora estivesse se referindo ao churrasco de confraternização de sua turma, de que Mourão participara enquanto ele estava no hospital, o presidente Bolsonaro refletia um estado de espírito inoculado pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro, o filho 02, que mantém a desconfiança de que existem pessoas interessadas na morte de seu pai. [que existem, existem; e são parte do grupo do 'quanto pior, melhor', o que não inclui o general Mourão.]

Antes da posse, ele usou o Twitter para dizer que a morte de seu pai ajudaria “também aos que estão muito perto” (...) “Principalmente após sua posse”. Na posse, ele fez questão de aboletar-se no Rolls-Royce que conduzia seu pai. O 02 acordara com um mau pressentimento e, armado de uma Glock, pediu para ser o guarda-costas do pai. Mourão é considerado por um grupo de bolsonaristas, que inclui até mesmo o guru Olavo de Carvalho e o estrategista americano Steve Bannon, como um potencial inimigo, um Cavalo de Troia que tenta se diferenciar de Bolsonaro recebendo líderes do MST ou defendendo a memória do ambientalista Chico Mendes. [Mourão é general e vice-presidente, humano, e comete erros - só Deus não erra; 
receber os bandidos do MST foi um deles e defender a memória do Chico Mendes não é crime, apesar da memória defendida não significar grande coisa - o que o dono da memória defendida fez pelo Brasil que mereça destaque? NADA.]

“Filhos, melhor não tê-los”, já advertia ironicamente o poeta Vinicius de Moraes, para completar: “Mas sem tê-los, como sabê-los?” A relação do presidente com seus filhos é um dos fatores desestabilizadores deste governo que mal se iniciou. [Bolsonaro quando assumiu dispensou porta-voz - julgou que eles e os filhos seriam os melhores porta-vozes e deu um desastre = com um pouco de exagero = uma zona;
contratou um e as coisas melhoraram.

Agora filhos, especialmente quando agem como os filhos de Bolsonaro (mais complicam que auxiliam e sempre querem apagar fogo com gasolina) são excelentes para serem curtidos como filhos; auxiliares, só eventualmente e mesmo assim em privado.
Ou Bolsonaro, dispensa a ajuda dos filhos, especialmente do Carlos, ou a credibilidade de seu governo vai para o espaço.
Tem a hora do 'pitbull'  e certamente ainda não chegou.]
As confusões envolvendo os três filhos políticos de Bolsonaro provocam intrigas dentro do próprio grupo de governo, especialmente os militares. O senador Flávio Bolsonaro, o 01, tenta se desvencilhar do caso de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, apanhado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em uma “movimentação atípica” de R$ 1,2 milhão. [o senador até que não complica tanto, inclusive seu 'envolvimento' nas 'movimentações atípicas' de seu ex-assessor é mais uma tentativa da imprensa anti Bolsonaro - aliás, sobre o assunto, até agora o único crime foi o vazamento das investigações do Coaf, crime que não está sendo investigado.]
O deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro, o 03, flagrado em uma palestra afirmando que para fechar o Supremo Tribunal Federal bastaria chamar “um soldado e um cabo”, considera-se um assessor presidencial especialíssimo, e trabalha para ligar o PSL ao conjunto de partidos de direita pelo mundo, que o estrategista americano Steve Bannon sonha reunir. Já admitiu se candidatar à sucessão do pai caso Bolsonaro acabe mesmo com a reeleição, como prometeu. [o que disse na palestra expressou apenas um entendimento, uma ironia.
Convenhamos que a nossa Suprema Corte, melhor dizendo os ministros do STF, em sua maioria, não se preocupam muito em lembrar que o que fazem reflete na imagem do Supremo que integram.]
O 01 nunca recebeu apoio do 02. O 03 ontem se recusou a falar sobre a crise em que o 02 está metido. [o 02 fala demais, considera que política é sempre o confronto e coloca o pai e auxiliares em situações limite.
Tem que ser estimulado pelo pai a ficar fora do Brasil por uns tempos.
O mais grave em seu comportamento é que quer ser o destaque, 'primus inter pares', e considera o confronto essencial para alcançar a posição que deseja.]
 
Merval Pereira - O Globo
 

 

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Direita se organiza

A direita de Bolsonaro não é amadora

José Dirceu já entendeu que Bolsonaro ‘tem muita base social, muita força e muito tempo pela frente’

José Dirceu, o outrora super poderoso ministro de Lula, continua sendo o que melhor pensa estrategicamente no PT, mesmo com tornozeleira eletrônica e muitos anos de cadeia pela frente. Ele já entendeu que o governo Bolsonaro tem “muita base social, muita força e muito tempo pela frente. Vai transformar a segurança em pauta”. Dirceu diagnostica que, em 13 anos e meio de governo, o PT “se afastou do dia a dia do povo”.

A escolha do embaixador Ernesto Araújo para ministro das Relações Exteriores corresponde à ideia de dar ao presidente eleito Jair Bolsonaro um papel relevante entre os partidos do espectro direitista na América Latina e no mundo. Ele seria uma espécie de “Celso Amorim da direita”, em referência ao chanceler que inventou a imagem de Lula como grande líder popular no mundo, a ponto de pretender mediar o conflito do Oriente Médio e a crise dos Estados Unidos com o Irã.

Não deu certo, mas restam, principalmente na Europa, intelectuais e líderes de esquerda que ainda consideram Lula um preso político. Com uma imagem desgastada no exterior, devido a seu histórico político de radicalismos, Bolsonaro vai precisar se firmar como líder de sua tendência política, e quem está ajudando nessa tarefa é Eduardo Bolsonaro, eleito o deputado federal mais votado da história do país, e  Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump e ideólogo de uma direita internacional que projeta um grupo para reunir os partidos de direita ou extrema direita da Europa em torno de discussões políticas comuns.

A indicação de Ernesto Araújo teve o entusiasmo de André Marinho, filho de Paulo Marinho, que é suplente do Bolsonaro senador, mas só começou a ser levada a sério com o apoio de Eduardo, que pretende ser o líder intelectual da direita na região. Ele viajara aos Estados Unidos, onde morou, para manter contatos com autoridades do governo Trump, já que seu pai não pode viajar. Na América Latina, a Fundação Índigo, ligada ao PSL, partido de Bolsonaro, tentou levar o então candidato a uma reunião em Foz do Iguaçu, financiada por um Centro de Estudos em Seguridade (CES), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A ideia era que o evento fosse um contraponto ao Foro de São Paulo, que reúne representantes da esquerda de vários países, criado em parceria entre Lula e Fidel Castro, e chegou a eleger a maioria dos presidentes de países vizinhos.

A quase totalidade hoje está envolvida em corrupção no mesmo esquema com a Odebrecht que o PT exportou para a região. Quem entendeu com antecedência a ascensão da direita no país e no mundo, com pesquisas qualitativas que já prenunciavam esse comportamento conservador do eleitor brasileiro, foi o Democratas, através do ex-prefeito Cesar Maia do Rio.  Ele colocou o partido em contato com a Internacional Democrata de Centro (IDC), contraponto à Internacional Socialista (IS), que tem em seus quadros o PDT como membro efetivo e o PT como observador. Ambos boicotaram a entrada do PSDB como membro efetivo.

Mas o DEM não teve coragem de assumir uma posição direitista pura, seguindo o que diziam as pesquisas, que indicavam o eleitor médio brasileiro mais ligado a valores conservadores, família e propriedade, e também receoso com a segurança publica.
Entre os palestrantes da “Cúpula Conservadora das Américas” em Foz do Iguaçu estariam na mesa de Cultura o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, filiado ao PSL, o cientista político venezuelano Roderick Navarro, o cubano Orlando Gutierrez-Boronat, do Diretório Democrático Cubano, e o filósofo e escritor Olavo de Carvalho. Diversos representantes de países da América do Sul, como Paraguai, Colômbia, Chile, estão na relação do encontro, que foi adiado para dezembro porque Bolsonaro não quis fazer a reunião durante a campanha eleitoral, com receio dos gastos serem vetados pela Justiça Eleitoral.

Como se vê, a turma que chegou ao poder nada tem de amadora, embora ainda se ressinta de uma organização de comunicação que evite a batição de cabeças. Dirceu tem razão, e um dos projetos dos Bolsonaro é entrar no nicho eleitoral do PT no Nordeste. É a primeira vez que um governo não petista terá a oportunidade de mostrar àquela região, sustentáculo do PT com os votos que levaram Haddad ao segundo turno, que também se preocupa com os pobres.

Merval Pereira - O Globo
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Uma resistência que vagueia sem retrovisor

 Toalha dos Ferreira Gomes respingou em JK e Lacerda

A desistência do PT em formar uma frente democrática é o reconhecimento, tardio, de que não há líderes a mover o eleitor. Sua necessidade, porém deriva menos da busca de votos do que na reafirmação de resistência à ordem que está por vir. As dificuldades em formá-la sinalizam os percalços políticos futuros de lideranças que vagueiam sem retrovisor. Os irmãos Ferreira Gomes parecem decididos a disputar com o PT a hegemonia da esquerda. Mas a toalha arremessada respingou nos túmulos de Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek e se depositou sobre os escombros do PSDB.

O líder udenista apoiou o golpe de 1964 na expectativa de que a ordem democrática seria restabelecida no ano seguinte com a manutenção das eleições diretas para presidente da República. O líder do PSD, Juscelino Kubitschek, não apoiou a quartelada, mas tinha expectativas semelhantes e seguiu a orientação partidária na votação do colégio eleitoral que empossou o marechal Castelo Branco no cargo. JK liderava a disputa presidencial. Foi cassado em junho de 1964, dois meses depois da eleição do marechal. Lacerda vinha em segundo na disputa e aplaudiu a cassação antes de assistir ao cancelamento das eleições de 1965. Articulou com um Juscelino no exílio uma frente de oposição, mas acabou preso com o AI-5.

Cid Gomes não para de se retratar e seu irmão ainda pode desembarcar num palanque eletrônico destinado a evitar a vitória de Jair Bolsonaro. Mas dificilmente reverterá o estrago provocado na campanha de Fernando Haddad pelo vídeo em que o irmão de Ciro Gomes dá como certa a derrota petista. São adeptos de primeira hora do #EleNão, mas custarão a desfazer a percepção de que já deram início à disputa por 2022.  A mesma lógica guiou o PSDB em 2016 ao encabeçar o impeachment de Dilma Rousseff. Os tucanos deram 2018 por garantido, enquanto os instintos de ódio represados foram atraídos por Bolsonaro e cevados na longa noite do governo Michel Temer. A maioria que apoiou a derrubada da ex-presidente recebeu, em retribuição, um governo que aprofundou o desencanto e fez do PSDB um sócio do PT na ascensão do bolsonarismo.

Parece exagero imaginar que 2022 pode perder seu lugar cativo no calendário eleitoral, uma vez que Jair Bolsonaro, se vier a se tornar presidente, não o será por golpe mas pelo voto da maioria. Desde a Alemanha de 1932, porém, sabe-se que governo eleito não é garantia contra tragédias.  À medida em que crescem as chances de vitória do candidato do PSL melhor se conhecem os planos de seu governo. O aumento no número de ministros do Supremo e o desprezo da lista tríplice para a escolha do procurador-geral da República, por exemplo, para ficar apenas naquelas propostas que foram diretamente verbalizadas por Bolsonaro, rimam com o esfacelamento das instituições.

 Enfrentará resistências mas também uma grande capacidade de adaptação, como mostrou ontem a decisão do Tribunal de Justiça que reverteu sentença contra o espólio do coronel Alberto Ustra, condenado a indenizar a família do jornalista Luiz Merlino torturado e morto no Doi-Codi.  O congestionamento no mercado da mediação não é garantia de que esta funcionará. Ficou mais difícil contar com o Supremo para distinguir os passos que um eventual governo Bolsonaro vier a dar para além da Constituição desde que o presidente da Corte apressou-se em renomear de “movimento” o último regime de exceção.

É na condição de candidato a mediador que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso resiste ao que chamou de assédio moral de amigos diletos e de pelo menos dois de seus ex-ministros da Justiça, signatários de manifestos pela democracia. Depois de Manuel Castells, ontem foi a vez de Roberto Schwarz. Por Claudio Leal, da Bravo, o crítico mandou o recado: “Pensando em amigos da vida inteira, eu diria que neste momento a neutralidade entre Haddad e Bolsonaro é um erro histórico de grandes proporções”.

Uma vez ameaçado de fuzilamento pelo capitão candidato, o ex-presidente segue incólume ao patrulhamento na toada de pode vir a cumprir um papel igualmente histórico, mas inexistem garantias de que haverá o que mediar. Os descaminhos da frente democrática indicam que a oposição pode vir a lhe dar menos trabalho do que a difusa aliança que o apoia.  O candidato da maioria fez carreira no confronto e terá que contemplar um eleitor que quer menos corrupção e mais segurança com os interesses difusos que cada vez mais o cercam. Não há 46 milhões de eleitores autoritários no Brasil. Votar como anti-petista não transforma o eleitor em inimigo da democracia. Derrotar o PT não bastará, tampouco, para manter o apoio de seu eleitorado.

Um Jair Bolsonaro presidente terá que mostrar resultados na economia que dependem de um Congresso, em grande parte, ainda, nas mãos da Lava-Jato, grande esteio de sua candidatura. Terá que lidar com generais que se arvoram a reescrever a história e ameaçam o licenciamento ambiental, financistas que pretendem concentrar poderes na licitação de obras e economistas que planejam impor ajuste fiscal por decreto. Com seu elevado poder de síntese, seu vice um dia explicou que o caminho mais curto para sair de um enrosco desses é o autogolpe.

Steve Bannon
O pedido do PT para que a Polícia Federal investigue a atuação de Steve Bannon na fábrica de disseminação de notícias falsas no Brasil aconteceu dois meses e meio depois do primeiro encontro público entre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ex-estrategista do presidente americano Donald Trump.


Blindados
Desembarcaram no Porto de Paranaguá, no Paraná, esta semana 96 blindados vindos dos Estados Unidos. São veículos usados no transporte de tropas. Muitas das unidades semelhantes que chegaram ao Brasil, ao longo dos últimos anos, por doação americana, foram destinadas à ocupação de favelas do Rio.


Valor Economico -  Maria Cristina Fernandes