O mundo em guerra contra o coronavírus, mas Bolsonaro mira seus inimigos particulares
[PARABÉNS !!!
Mais uma vez, a articulista foi extremamente feliz na escolha da denominação de sua crônica = Salve-se quem puder!.
Convenhamos que quem está matando (inclusive no Brasil) é o Covid-19 = novo coronavírus. O Presidente Bolsonaro não está matando, não matou e certamente não pretende matar.
Assim, cada um deve deixar de espancar o presidente JAIR BOLSONARO e cuidar de se salvar do que realmente mata e cuja erradicação interessa a todos.
Com a grande vantagem de que cada medida tomada por alguém para se manter livre da contaminação, ainda que individualmente, contribui para livrar terceiros.]
Já que o presidente Jair Bolsonaro vive sua realidade paralela, os três
Poderes declaram trégua e traçam ações comuns contra os efeitos do novo
coronavírus apesar dele. Com isolamento médico ou não, Bolsonaro está se
isolando dos demais Poderes e ontem não participou de uma
videoconferência de presidentes da América do Sul sobre a doença e a
crise econômica. Enquanto isso, o vírus vai se multiplicando dentro e
fora do Brasil.
Presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo se reuniram com o ministro
da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para ouvi-lo, traçar planos de ação e
contornar a fogueira política diante do problema maior. Foi Rodrigo
Maia, aliás, quem primeiro estendeu a bandeira branca, apesar de ter
sido o principal alvo do presidente e dos bolsonaristas no domingo. [Causa estranheza a reunião conjunta do Chefe do Poder Judiciário, dos presidentes da Câmara, do Senado e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Com a devida exceção do ministro da Saúde, as demais autoridades não tem competência legal para cuidar de assuntos do Poder Executivo, representando além de uma intervenção indevida (e desnecessária, visto que nenhum das autoridades citadas tem conhecimentos técnicos para tal intromissão, que também representa, constrangimento do próprio ministro Mandetta) sem contar um complicador: confunde tudo, na hora de eventual decisão dos 'interventores' foi de um colaborador do ministro Bolsonaro ou do Chefe do Poder Judiciário ou dos chefes de uma Casa do Congresso Nacional.]
Bolsonaro já disse que a crise é uma “fantasia”, uma “histeria”, e
considerou que tudo é “superdimensionado”, ora por “interesses
econômicos”, ora pela “luta pelo poder”. Das palavras aos atos, tirou a
máscara, deu de ombros para o Ministério da Saúde, abandonou o
monitoramento, não esperou o segundo teste e foi confraternizar com
manifestantes em frente ao Planalto.
“Se eu me contaminei, ninguém tem nada a ver com isso”, disse ontem, mas
não é bem assim. O problema não é apenas ele se contaminar, é o risco
de ter contaminado as 272 pessoas com quem teve contato, de acordo com
levantamento do Estado. E, depois, todo mundo tem muito a ver, sim, com a
saúde do presidente da República. Ele não é uma pessoa privada, é a autoridade pública número um.
O próprio ministro da Saúde classificou protestos e eventos culturais
neste momento como “completamente equivocados”. O governador Ronaldo
Caiado, um dos raros a apoiar Bolsonaro, foi vaiado por manifestantes em
Goiás ao lembrar, como médico, que “não se mostra apoio a governo
colocando em risco sua população”. Se eles queriam pôr a própria saúde
em risco, problema deles, mas sem o direito de pôr a dos outros. Cada
contaminado tem poder de multiplicação do vírus.
A reação de Bolsonaro à contaminação da saúde e da economia tem sido
errática, de quem não está entendendo nada nem parece muito interessado.
Na terça-feira passada, declarou que era “fantasia da grande mídia”.
Dois dias depois, deixou de ser fantasia e ele fez o primeiro teste e
uma live com máscara. Mais dois, tirou de novo a máscara e lá se foi,
sorridente, cumprimentar manifestantes contra o Supremo e o Congresso.
Os contaminados da sua comitiva aos EUA já chegavam a 12.
Diante da perplexidade de Rodrigo Maia e do senador Davi Alcolumbre,
abandonou de vez o vírus, a disseminação, a crise do mercado, a previsão
do PIB esfarelando para bater boca pela TV com os presidentes da Câmara
e do Senado. “Está em jogo uma disputa política por parte desses
caras”, disse, resumindo tudo isso a uma “luta pelo poder”. Vocês sabem
quem são “esses caras”.
Irritado, Bolsonaro disse que está “há 15 meses calado, apanhando”, e
vai passar a revidar. O curioso foi ele dizer que passou todo o mandato
calado, o que, absolutamente, não é verdade. E o mais intrigante foi ele
anunciar que vai atacar e antecipou os alvos: “Grande parte da mídia,
chefes do Legislativo e alguns governadores”. O mundo está em guerra
contra o novo coronavírus, mas o presidente brasileiro abre uma guerra
particular contra instituições e críticos.
Com o autoisolamento do presidente, são os ministros Mandetta e Paulo
Guedes, além de Maia, Alcolumbre e Dias Toffoli, do STF, que vão ter de
segurar a onda, ou o tsunami. Mandetta sobrevive bem, mas o conceito de
Guedes já foi melhor e o dos demais vem sendo sistematicamente atingido
pelo presidente, seu entorno e a tropa bolsonarista. Logo, salve-se quem
puder!