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quarta-feira, 13 de março de 2019

Senador diz que tragédia seria menor se professores estivessem armados

Representante da chamada bancada da bala na Câmara disse que deputados não devem recuar da intenção de aprovar a permissão para porte de armas

[É fato: para matéria completa, clique aqui - em recente massacre ocorrido nos Estados Unidos, em uma igreja protestante, o número de mortos só não foi maior devido um dos frequentadores estar armados e ter abatido o atirador.]

Após o massacre que deixou 10 mortos em Suzano, na Grande São Paulo, o senador Major Olímpio (PSL-SP) defendeu nesta quarta-feira, 13, o decreto que flexibiliza a posse de armas no País. Segundo ele, se algum funcionário do colégio estivesse armado, a tragédia poderia ter sido menor. Congressistas da Frente Parlamentar de Segurança Pública, conhecida como "bancada da bala" na Câmara, também não devem recuar da intenção de aprovar a permissão para porte de armas.   

"Se houvesse um cidadão com uma arma regular dentro da escola, um professor, um servente ou policial aposentado que trabalha lá, ele poderia ter minimizado o tamanho da tragédia", afirmou o senador Major Olímpio nesta quarta, 13. Em audiência no Senado, ele ainda defendeu a derrubada do Estatuto do Desarmamento, de 2003, que restringiu a posse e o porte de armas no Brasil. A revogação dessa norma é uma das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro. 
Na avaliação do senador, o ataque  "mostra justamente o fracasso, a safadeza da política desarmamentista, que simplesmente deu o empoderamento para o criminoso e tirou a possibilidade da legítima defesa".  

Ele aproveitou a oportunidade para defender o decreto presidencial que flexibilizou as regras para a obtenção da posse de armas. Segundo o senador, "a população botou o Bolsonaro como presidente da República para ser um impulsionador de garantias para o cidadão, para que nós não tenhamos tragédias dessa natureza".
"O decreto do Bolsonaro simplesmente garantiu posse legítima, não é nem porte, o porte nós vamos votar depois, é a segunda etapa em relação a isso que foi tirado do direito de defesa do cidadão", disse o Major Olímpio. 

Ele afirmou ainda que a "enquanto as armas forem ilegais, apenas os ilegais terão armas". "Então, vamos, sem hipocrisia, neste momento, chorar os mortos, sim, vamos discutir a legislação: onde estamos sendo omissos? Como policial, eu me sinto derrotado; como parlamentar, mais derrotado ainda numa situação dessa. Vamos ver exatamente e vamos analisar a origem dessas armas. Tem-se a arma que se quer, na hora em que se quer e do jeito que se quer no Brasil todo, com fronteiras devassadas com os portos e aeroportos completamente abertos" 

Congressistas da chamada "bancada da bala" não vão recuar na intenção de aprovar a permissão para porte de armas.  A avaliação é do líder da bancada, o deputado federal Capitão Augusto, que tenta minimizar a tragédia de Suzano na defesa de grupos pró-armas. 
"É óbvio que grupos desarmamentistas vão tentar usar essa tragédia para tentar demonizar as armas. Não há legislação no mundo capaz de evitar uma tragédia como essa. Se alguém na escola tivesse uma arma, a história poderia ser outra". 

Para o parlamentar, a bancada já tem força o suficiente para aprovar a medida. Na conta do parlamentar, a frente será lançada até o dia 20 com mais de 300 nomes favoráveis a medida. "Não altera nossa agenda. Vamos dar o direito do cidadão de bem se defender".
Durante a tarde, a Câmara dos Deputados fez um minuto de silêncio em favor das vitimas da tragédia que deixou dez mortos e oito feridos.

'Cultura da violência'


Para o senador Alessandro Vieira (PPS-SE), a cultura da violência está na raiz dessas tragédias. "Estamos importando para o Brasil uma cultura de violência gratuita. Isso não começou hoje, não começou agora, mas vem sendo agravado paulatinamente, especialmente pelo ambiente que tivemos na última disputa eleitoral. Precisamos resgatar no Brasil o que sempre tivemos, que é um ambiente de maior possibilidade de discussão harmônica entre pessoas que se opõem por algum motivo" afirmou.

Trump já defendeu armas para professores nos Estados Unidos

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já sugeriu que professores sejam treinados para atirar como solução para massacres em escolas. Segundo o republicano, os docentes podem ser preparados para agir rapidamente em resposta a tragédias. Ele chegou até a defender um bônus para os educadores que fizessem esses cursos. A ideia motivou críticas de grupos de sobreviventes de tiroteios em colégios e universidades americanos.

O Estado de S. Paulo




"

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Quem foi eleito, o Jair ou os filhos?

Com o cenário que se criou, o que fica aparente aos olhos de todos é que o presidente da República Jair Bolsonaro só é o mandatário do País formalmente, mas quem exerce o poder de fato são seus rebentos. As relações intestinas familiares explicam por que a autoridade máxima do Brasil encontra dificuldades para conter as diatribes de “01”, “02” e “03” 

 “O GOVERNO É NOSSO” Filhos do presidente, Carluxo, Eduardo e Flávio (da esq. à dir.) participam institucionalmente da vida política do País (Crédito: Divulgação)

Não se pode fazer política com fígado, conservando o rancor e ressentimentos na geladeira. A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais. É indecoroso fazer política uterina, em benefício de filhos, irmãos e cunhados. "O bom político costuma ser mau parente”. A frase-alerta de Ulysses Guimarães se ajusta com perfeição ao atual momento do País. Contrariando o “Doutor Diretas”, Jair Bolsonaro resolveu arriscar o governo, ao menos neste início, para se tornar um bom parente.

Claro que não tinha como dar certo. Pela primeira vez, a família de um presidente participa institucionalmente da vida política do País. Nem a oposição consegue tisnar a imagem do governo de maneira tão evidente quanto os três filhos do presidente. Não importa as intenções de cada um, mas a conduta pública deles. Hoje, com o cenário que se criou, em que questiúnculas domésticas são confundidas com questões de Estado, o que fica aparente aos olhos de todos é que o presidente da República Jair Bolsonaro só é o mandatário do País formalmente, mas quem exerce o poder de fato são seus rebentos. Quem o Brasil elegeu afinal?

Desde a posse, a relação de Bolsonaro com seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo se tornou o principal fator de instabilidade do governo. O episódio mais rumoroso em que Carlos Bolsonaro foi o pivô da demissão de Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, é ilustrativo sobre quem é que goza de autoridade no Executivo. Com as bênçãos do presidente, Carlos não só se sobrepõe a ministros como comanda uma espécie de poder paralelo em Brasília. Não há quem o segure, e o único para quem presta continência é o pai.


Uma troca de mensagens entre Bolsonaro e Eduardo revelada em 2017 esclarecem bem como se dá a relação entre o pai agora presidente e seus filhos. Eduardo Bolsonaro faltara à sessão de eleição do presidente da Câmara porque tinha viajado aos Estados Unidos para comprar uma arma. Bolsonaro ficou irritadíssimo. Afinal, tinha ele mesmo se lançado à Presidência da Câmara. Conquistou apenas quatro votos. Poderia ter tido cinco, se seu filho estivesse presente. Bolsonaro já começa a conversa num tom incomum entre um pai e seu filho: “Papel de filho da puta que você está fazendo comigo. Tens moral para falar do Renan?”, escreve ele. 

Renan, no caso, é Renan Bolsonaro, o filho caçula do presidente, que não apresenta qualquer ação política até agora. Entrou na história como Pilatos no Credo. “Compre merdas por aí. Não vou te visitar na Papuda”, continua. A reação de Eduardo revela também um grau de agressividade inusual entre pais e filhos: “Quer me dar esporro, tudo bem. Vacilo foi meu. Achei que a eleição só fosse semana que vem. Me comparar com o merda do seu filho, calma lá”.

A família na intimidade
Em algumas postagens, revela-se aí como se trata na intimidade a família Bolsonaro. Algumas pessoas que passaram a integrar a campanha e o governo e a lidar com Bolsonaro e seus filhos avaliam que há na forma como transcorre essa relação um grau perigoso de complicação. Bolsonaro já está no quarto casamento. Seus filhos são de três mulheres diferentes. O que se verifica é que tal situação gera uma relação familiar em permanente estado de ebulição, que acaba por interferir no ambiente em que vive e trabalha o presidente.

Embora seja o mais novo dos três, Carlos, conhecido na família e entre amigos como Carluxo, foi o primeiro a ingressar na política. Elegeu-se em 2000 para uma vaga na Câmara de Vereadores pouco depois de completar 18 anos. A entrada de Carlos na política já foi pivô de uma questão familiar complexa. Bolsonaro não queria que sua ex-mulher Rogéria Nantes Braga Bolsonaro se reelegesse vereadora. Empurrou Carlos para a disputa com esse objetivo. Carlos aceitou derrotar sua mãe, depois de um complicado processo em que ficara três anos sem falar com o pai por conta do divórcio litigioso. Jair Bolsonaro, assim, colocou mãe e filho como adversários na disputa eleitoral. Hoje, o presidente fez as pazes com Carlos e também com Rogéria. 

Mas quem conhece a família interpreta que o presidente sente-se em dívida com Carlos por ter aceitado tal papel. E, por essa razão, não consegue conter o temperamento daquele que ele mesmo chama de “meu pitbull”. Livre, leve e solto, Carluxo indicou para o governo Tércio Arnaud e José Sales. No Planalto, são seus olhos e ouvidos Léo “Índio”, primo que já foi 58 vezes ao local, mais até que Bolsonaro.

Se com o pai, Carlos conseguiu contornar o conflito e desenvolver um sentimento de admiração, o mesmo não ocorre com o irmão mais velho, Flávio, que é senador da República. Apesar de ser também filho de Rogéria, Carluxo não se dá bem com Flávio. Aqueles que são próximos da família afirmam que o que interfere na relação entre os irmãos é o ciúme. Carlos chegou a querer ser ele o candidato ao Senado. Mas o escolhido foi Flávio. Assim como o irmão, Flávio também tem sido fonte de dor de cabeça para o presidente. Foi dele a causa da primeira crise enfrentada por Bolsonaro assim que assumiu a Presidência. Uma investigação do Coaf, no começo do ano, detectou movimentação estranha em suas contas. Hoje o fio deste novelo é tão extenso que ninguém arrisca como se chegará ao final.

Ao contrário dos irmãos, Eduardo Bolsonaro sempre se revelou avesso à política. Quem o conhece, garante que Eduardo prefere o surfe. Em dezembro, enquanto seu pai e irmão Carluxo cuidavam da transição do governo, ele disputava a etapa carioca do campeonato com amigos na Praia da Reserva, na Zona Oeste do Rio. Mas até mesmo Eduardo parece inebriado com o poder. Ele arrisca incursões na área externa. E, como os outros dois rebentos, consegue o que quer.

Como, por exemplo, emplacar pessoas de sua confiança na assessoria especial da Presidência para assuntos internacionais, caso de Filipe G. Martins, um jovem professor de política internacional. O próprio chanceler, Ernesto Araújo, para chegar lá teve de ter o aval de Eduardo Bolsonaro. Na Apex, o 03 encaixou uma dileta amiga: Letícia Catel, cujo estilo “tiro, porrada e bomba” já rendeu demissões e bate-bocas no órgão. O pai parece aprovar. Ou não reprovar, o que na prática dá no mesmo. Durante viagem do presidente Bolsonaro a Davos, lá estava Eduardo estrategicamente acomodado na poltrona ao seu lado no avião presidencial. A ala militar do governo, que Bolsonaro segue e respeita, já deu o recado. Com filhos assim, o presidente não precisa de oposição. Urge colocá-los na linha.

Revista IstoÉ


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Menos estado, mais prisão: a rota do milhão

Alguns candidatos continuam a pensar a segurança pública como sinônimo de arma, polícia e prisão, numa política de “ganha quem tiver calibre mais grosso”

Não existe Estado mínimo grátis. Estudiosos da segurança pública e da economia política do crime, em diversas partes do mundo, identificam que a retração de políticas de bem-estar gera expansionismo nas políticas de repressão: do minimalismo governamental ao maximalismo penal, o caminho de um ponto a outro não é acidente ou mera coincidência. Quanto menos dinheiro público de um lado, mais do outro. As variáveis e causalidades são mais complexas do que essa equação sugere, mas a síntese da correlação mostra-se universal. Falta-nos, portanto, um retrato fiel sobre o significado do Estado mínimo: o apelido do “Estado-guarda-noturno”, aquele vigia simpático que protege sua casa (em bairro nobre), na prática significa “Estado-penitenciária”. Sai caro para todo mundo.

O problema, claro, não é só de finanças públicas. O Brasil vive sob vertiginosa taxa de crescimento de sua população carcerária, que já ultrapassou os 700 mil, a terceira do mundo. Os presos sem condenação tangenciam os 300 mil. O déficit de vagas ultrapassa os 350 mil. Segundo dados oficiais, os mandados de prisão em aberto beiram os 600 mil. [não precisa esquentar: sempre cabe mais um.] Se tudo der certo, o projeto brasileiro de encarceramento em massa ultrapassará 1 milhão de “beneficiários” no fim desta década ou começo da próxima.

Corremos sem freio na rota do milhão, pequena parcela do Produto Interno da Brutalidade Brasileira, nosso PIBB.

O problema, claro, não é só de números. A população carcerária brasileira é composta de maioria de homens jovens, negros, que não completaram o ensino fundamental. Essa maioria foi presa por crimes contra o patrimônio (37%) ou de tráfico de drogas (28%), típicos de pessoas de alta vulnerabilidade socioeconômica. Por homicídios, apenas 11%. A Constituição de 1988 proíbe tratamento desumano ou degradante e também as penas cruéis (Art. 5º), uma homenagem insólita às condições de insalubridade de nossas prisões.[qualquer coisa que possa dificultar a vida fácil de um bandido é proibida pela 'constituição cidadã' - ela permite até que preso condenado a pena superior a doze anos e respondendo outros processos criminais, que vão gerar novas condenações, pretenda ser presidente da República.]
 
O problema, claro, não é só de violação de direitos. O crime organizado aprendeu a lucrar com isso. Multiplica a violência nas ruas e nossa sensação de insegurança. Nos últimos cinco anos, por exemplo, o PCC aumentou em 700% seus integrantes fora do estado de São Paulo (de 3 mil para 20 mil). O sucesso empresarial do PCC está imbricado no sistema prisional (recomendo o recém-lançado livro A guerra — A ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil, escrito por Bruno P. Manso e Camila N. Dias). Uma forma de resumir a lei geral do encarceramento brasileiro seria esta: quanto mais prisão, mais crime organizado; quanto mais crime organizado, maior corrosão da política e da democracia. Como muitas leis sociológicas, são contraintuitivas, ignoram ideologias e desafiam o senso comum. A política pública falha em neutralizá-las. Os autores morais e intelectuais do massacre prisional brasileiro não habitam apenas os palácios de governo, as Assembleias e os quartéis, mas também os palácios de Justiça.

As ciências sociais e a sociedade civil organizada, por meio de seus diagnósticos e recomendações, têm contribuído na elucidação do tema (para citar algumas instituições: Conectas, Instituto Sou da Paz, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Instituto Igarapé, IBCCRIM, Pastoral Carcerária, Rede Justiça Criminal, IDDD). As publicações “16 medidas contra o encarceramento em massa” e “Segurança pública é a solução”, disponíveis na rede, oferecem bons critérios para avaliar os programas de presidenciáveis.

Curar a desinteligência penal brasileira é uma missão que não perde de nenhuma conquista civilizatória da qual possamos nos orgulhar, como as abolições da escravatura, da pena de morte ou da tortura. Numa democracia com alto grau de desigualdade e elites com baixo grau de compromisso público e educação política, a missão de candidatos à Presidência de hoje e de amanhã é enfrentar o debate sem recorrer à cartilha do populismo penal, repleta de promessas de balas de prata. Os programas que estão na mesa variam em conhecimento técnico, seriedade e profundidade. Alguns continuam a pensar a segurança pública como sinônimo de arma, polícia e prisão, numa política de “ganha quem tiver calibre mais grosso”. Outros não subestimaram sua inteligência. Resta ler antes de votar.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

‘Foram dois segundos’, diz PM que matou assaltante em frente a escola

Em depoimento a VEJA desta semana, Kátia da Silva Sastre, 42 anos, afirma que teve pouco tempo para pensar e decidiu que ‘tinha de impedir a ocorrência’ 

A policial militar Kátia da Silva Sastre, 42 anos, ia buscar suas duas filhas, de 7 e 2 anos, na escola em Suzano, na Grande São Paulo, no sábado, 13, véspera do Dia das Mães, quando um homem armado anunciou um assalto. De folga, mas armada, reagiu e matou o assaltanteEm VEJA desta semana, ela relembra como foi o episódio e por que decidiu sacar a arma e impedir a continuidade da ação.

 A policial militar Kátia da Silva Sastre, 42 anos (Gilberto Marques/Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)

Leia abaixo um trecho desse depoimento, dado ao repórter Eduardo F. Filho.
“Era um dia de festa e estávamos todas felizes. Fui com a minha filha mais velha, de 7 anos, à comemoração do Dia das Mães na escola dela, em Suzano, na região metropolitana de São Paulo. À espera, na porta da escola, devia haver umas sete mães, cada uma com pelo menos um filho, e a toda hora chegava mais gente. Um pouco mais longe na rua, uma mãe estava estacionando quando o assaltante pediu a chave do carro. 

De onde eu estava, não dava para ver nada disso. A mãe que estava no carro não viu que o rapaz estava armado e correu até nós, como aparece no vídeo da segurança da escola que tanto circulou pela internet. “É ladrão, é ladrão”, ela disse. “Onde?”, eu perguntei. Eu estava sem visão por causa dos outros carros. As outras mães olhavam para a rua, com cara de medo. Foi quando vi o rapaz, já tirando a arma debaixo do braço

Ele foi em direção ao responsável pela segurança da escola, o único homem ali presente. Usei esse tempo para pegar a arma na minha bolsa. Contando isso agora, pode parecer que foi uma eternidade, que tive tempo para pensar em como reagir — mas não: no vídeo, foram dois segundos. O que passou pela minha cabeça na hora era que eu tinha de impedir a ocorrência.”

Assine agora o site para ler na íntegra esta reportagem e tenha acesso a todas as edições de VEJA:
 

quarta-feira, 12 de julho de 2017

O policial e o bandido [No Brasil, gentileza com bandido não funciona.]

Arma só deve ser usada como recurso extremo

Lembro-me de uma conversa com o amigo Ricardo Balestreri, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, que me contou sobre a participação de um policial brasileiro num curso na Polícia Montada do Canadá. Nosso agente ficou surpreso ao acompanhar a prisão de um homem após troca de tiros. Logo depois de imobilizar o suspeito, o canadense perguntou se ele estava bem. O procedimento causou espanto ao brasileiro, que em seguida ouviu do policial canadense uma frase que guardou como ensinamento: “Essa é a diferença entre o policial e o bandido”.

Não dá para esquecer os ensinamentos sobre o emprego de armas em operações policiais. Nos períodos em que ensinei técnicas e táticas de abordagem, repetia à exaustão: a arma só deve ser usada como recurso extremo e com precisão, não expondo inocentes ao perigo. Dizia, digo e repito: mesmo sendo alvo de uma agressão violenta, ou seja, aquela que coloca em risco a sua vida, o policial tem o dever de atentar para as circunstâncias que caracterizam o chamado “palco dos acontecimentos”. Em especial, para a existência de pessoas inocentes ao alcance de tiro, proximidade de escolas, sobretudo, quando o horário da ação coincidir com a entrada ou saída de alunos. Nessas situações, o policial teria a obrigação de permitir até a fuga do suspeito, aguardando ocasião mais propícia para efetuar a prisão.

Não falo apenas de teoria. Por 30 anos, atuei na linha de frente da segurança pública e, nesse período, me vi obrigado a usar a arma por três vezes. Repito: o policial só deve pensar em fazer uso de sua arma quando esgotados todos os meios para resolver o problema. É absolutamente necessário que o agente da lei tenha preparo técnico, tático, psicológico, além de conhecimento jurídico quanto à possibilidade e à oportunidade de emprego de sua arma. Em qualquer situação, especialmente em incursões nas favelas, que são comunidades densamente povoadas, o policial deve, antes de atirar, definir precisamente o alvo e avaliar se está amparado pelo instituto da legítima defesa.


Quando desabafou à imprensa sobre os tiros que atingiram recentemente alunos e uma professora dentro de escolas, o secretário municipal de Educação, César Benjamin, externou a indignação de um cidadão. Acompanhei seu périplo em busca de uma integração com os setores de segurança pública. Não é razoável que um blindado da polícia estacione próximo a uma escola durante uma operação. Esse foi um dos pedidos feitos pelo secretário. Uma pauta simples e legítima para garantir que nossas crianças tenham um futuro diferente da realidade em que vivem nas favelas. 

O uso de tecnologia é o caminho para garantir ações mais eficazes e sem vítimas. O dano colateral não é um mero número numa estatística. Estamos falando de vidas perdidas, histórias interrompidas e sofrimento para quem perde um filho, um pai ou mãe de família. É sintomático que a polícia que mais mata também é a que mais morre. É preciso rever os padrões de atuação. O árduo trabalho policial só tem respaldo na lei e nela deve conformar-se. Os agentes da lei devem sempre refletir, antes de pressionar o gatilho.

Por:  Paulo Amendola é secretário municipal de Ordem Pública e criador do Batalhão de Operações Especiais e da Guarda Municipal do Rio de Janeiro

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Cultura da bala - Com população armada, Estados Unidos tem 11 mil mortes por arma de fogo. Brasil “desarmado” tem o triplo


Derrotas na tentativa de controlar armas nos EUA se acumulam, e cultura bélica avança
Nenhum país tem mais maluco do que os outros, mas só os EUA dão os meios tecnológicos para eles brincarem de Deus. O diagnóstico, da jornalista Gail Collins, comprovou-se dramaticamente verdadeiro de novo: John Houser já passara uma temporada num hospital psiquiátrico, mas não teve a menor dificuldade ao comprar legalmente a arma usada para matar dois pacíficos jovens cidadãos, num cinema, quinta-feira, em Louisiana. [nada impede que um cidadão pacato, cumpridor dos deveres, tenha um acesso de loucura ao volante de um carro e mate duas ou três pessoas – o mesmo vale para armas.
Comparando o número de assassinatos por armas de fogo  ocorridos nos EUA  - em que o número de armas em circulação é quase igual ao da população  e  que são muitas as facilidades para adquirir e portar uma arma – com o número de assassinatos no Brasil, por armas de fogo, número bem superior  -  colônia em que adquirir e portar uma arma de fogo é algo extremamente burocrático e difícil -  se percebe que o livre porte e propriedade de armas reduzem à violência.
Estados Unidos população armada e onze mil mortes/ano;
Brasil, população desarmada -  legislação contra porte, posse e propriedade de armas extremamente rígida – 50.000 mortes/ano.]  

O histórico do assassino, um homem de 59 anos, violento e atormentado, mandado pelo juiz para testes psicológicos num sanatório, deveria assinalá-lo como perigoso no cadastro nacional consultado pelas lojas antes de vender uma arma. Só que não. Para preservar o direito dos doentes mentais, a lei não mantém os registros de quem não se internou por vontade própria e nada o impediu de cumprir seu destino. Frustrado com mais este massacre num país infestado de armas, o presidente reconhece seu fracasso frente ao lobby do rifle. “O tiroteio em Louisiana é parte de uma tragédia nacional com uma solução simples. Isto precisa levar a alguma transformação”, irritou-se Obama.

As derrotas acumulam-se, as mortes repetem-se. A Califórnia tem leis duras contra a venda de armas, mas, por ordem judicial, pode ser obrigada a acabar com as restrições impostas no estado. A bancada da bala considera ilegal os delegados de San Diego exigirem “uma boa razão” para os cidadãos terem o direito de andar armados em público. O argumento é o óbvio: armas ameaçam a segurança pública e só pessoas em situação de perigo de morte ou com a obrigação de transportar grandes somas de dinheiro poderiam portar armas.

Questão de bom senso, certo? Nada disso: a Associação Nacional do Rifle considera que é uma violação à Segunda Emenda, aquela que há 200 anos permite o porte de armas. O poderoso lobby venceu por dois a um na primeira sessão do tribunal e, acham os especialistas, o caso pode agora chegar a Suprema Corte.  “Esta é a grande questão pendente, não respondida pela Segunda Emenda, se você tem o direito de portar armas em público e em que circunstâncias”, diz Adam Winkler, professor de Direito da Universidade da Califórnia.

A cada tragédia volta a discussão sobre a restrição à venda de armas, uma prioridade política do governo Obama, derrotada ainda no primeiro mandato. A exigência de checar os antecedentes do comprador foi o único acordo possível entre os defensores das restrições e os advogados do direito individual de ter armas, uma loucura tipicamente americana. Segundo o “New York Times”, o supremacista branco Dylann Roof, assassino de nove negros na igreja de Charleston, também não poderia comprar armas por ter usado drogas ilegais. Os dados do cadastro eram imprecisos, a compra foi efetivada, e o massacre consumado.

Não pode funcionar, claro, um sistema que deixa a avaliação da saúde mental dos cidadãos nas mãos de burocratas espalhados pelo país. Há estados onde só 4 pessoas eram consideradas perigosas; em outros, milhões, demonstração óbvia de controle ineficiente. Em 40% dos casos, as armas são compradas on-line e em lojas privadas sem consulta a cadastros.

A cultura bélica avança, mesmo sob administração democrata. Quinze estados aprovaram leis que permitem a todos os civis com porte de arma a usá-las à vista de todo mundo, exatamente como no Velho Oeste. Podem carregá-las simplesmente na mão, em coldres na cintura ou embaixo do braço, engatilhadas ou não. E pior, apesar dos sucessivos massacres, é permitido entrar com armas no campus universitário, botá-las na mochila ou no porta-luvas do carro.  “Estamos diante de um novo fenômeno americano: o minimassacre”,  escreveu o jornalista Adam Gopnik, na “New Yorker", referindo-se à sequência sinistra de tiroteios que deixam dois mortos numa vez, quatro na outra.

Nós também conhecemos este filme aqui. A única boa notícia em toda essa história é a sociedade não ter perdido a capacidade de indignar-se com estas mortes em série nos Estados Unidos. Recentemente ficou evidente que o racismo ainda molda o presente de jovens negros na maior democracia do mundo e o movimento contra a violência policial conquistou vitórias contra a impunidade. Já nós, brasileiros, andamos resignados demais com a violência e o assassinato cotidiano dos jovens, na maioria pobres vivendo em comunidades. Já foi pior, mostram as estatísticas, mas ainda são 140 mortes por dia. É intolerável esta cultura da bala, aqui e lá.

Fonte: Helena Celestino – O Globo