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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Cultura da bala - Com população armada, Estados Unidos tem 11 mil mortes por arma de fogo. Brasil “desarmado” tem o triplo


Derrotas na tentativa de controlar armas nos EUA se acumulam, e cultura bélica avança
Nenhum país tem mais maluco do que os outros, mas só os EUA dão os meios tecnológicos para eles brincarem de Deus. O diagnóstico, da jornalista Gail Collins, comprovou-se dramaticamente verdadeiro de novo: John Houser já passara uma temporada num hospital psiquiátrico, mas não teve a menor dificuldade ao comprar legalmente a arma usada para matar dois pacíficos jovens cidadãos, num cinema, quinta-feira, em Louisiana. [nada impede que um cidadão pacato, cumpridor dos deveres, tenha um acesso de loucura ao volante de um carro e mate duas ou três pessoas – o mesmo vale para armas.
Comparando o número de assassinatos por armas de fogo  ocorridos nos EUA  - em que o número de armas em circulação é quase igual ao da população  e  que são muitas as facilidades para adquirir e portar uma arma – com o número de assassinatos no Brasil, por armas de fogo, número bem superior  -  colônia em que adquirir e portar uma arma de fogo é algo extremamente burocrático e difícil -  se percebe que o livre porte e propriedade de armas reduzem à violência.
Estados Unidos população armada e onze mil mortes/ano;
Brasil, população desarmada -  legislação contra porte, posse e propriedade de armas extremamente rígida – 50.000 mortes/ano.]  

O histórico do assassino, um homem de 59 anos, violento e atormentado, mandado pelo juiz para testes psicológicos num sanatório, deveria assinalá-lo como perigoso no cadastro nacional consultado pelas lojas antes de vender uma arma. Só que não. Para preservar o direito dos doentes mentais, a lei não mantém os registros de quem não se internou por vontade própria e nada o impediu de cumprir seu destino. Frustrado com mais este massacre num país infestado de armas, o presidente reconhece seu fracasso frente ao lobby do rifle. “O tiroteio em Louisiana é parte de uma tragédia nacional com uma solução simples. Isto precisa levar a alguma transformação”, irritou-se Obama.

As derrotas acumulam-se, as mortes repetem-se. A Califórnia tem leis duras contra a venda de armas, mas, por ordem judicial, pode ser obrigada a acabar com as restrições impostas no estado. A bancada da bala considera ilegal os delegados de San Diego exigirem “uma boa razão” para os cidadãos terem o direito de andar armados em público. O argumento é o óbvio: armas ameaçam a segurança pública e só pessoas em situação de perigo de morte ou com a obrigação de transportar grandes somas de dinheiro poderiam portar armas.

Questão de bom senso, certo? Nada disso: a Associação Nacional do Rifle considera que é uma violação à Segunda Emenda, aquela que há 200 anos permite o porte de armas. O poderoso lobby venceu por dois a um na primeira sessão do tribunal e, acham os especialistas, o caso pode agora chegar a Suprema Corte.  “Esta é a grande questão pendente, não respondida pela Segunda Emenda, se você tem o direito de portar armas em público e em que circunstâncias”, diz Adam Winkler, professor de Direito da Universidade da Califórnia.

A cada tragédia volta a discussão sobre a restrição à venda de armas, uma prioridade política do governo Obama, derrotada ainda no primeiro mandato. A exigência de checar os antecedentes do comprador foi o único acordo possível entre os defensores das restrições e os advogados do direito individual de ter armas, uma loucura tipicamente americana. Segundo o “New York Times”, o supremacista branco Dylann Roof, assassino de nove negros na igreja de Charleston, também não poderia comprar armas por ter usado drogas ilegais. Os dados do cadastro eram imprecisos, a compra foi efetivada, e o massacre consumado.

Não pode funcionar, claro, um sistema que deixa a avaliação da saúde mental dos cidadãos nas mãos de burocratas espalhados pelo país. Há estados onde só 4 pessoas eram consideradas perigosas; em outros, milhões, demonstração óbvia de controle ineficiente. Em 40% dos casos, as armas são compradas on-line e em lojas privadas sem consulta a cadastros.

A cultura bélica avança, mesmo sob administração democrata. Quinze estados aprovaram leis que permitem a todos os civis com porte de arma a usá-las à vista de todo mundo, exatamente como no Velho Oeste. Podem carregá-las simplesmente na mão, em coldres na cintura ou embaixo do braço, engatilhadas ou não. E pior, apesar dos sucessivos massacres, é permitido entrar com armas no campus universitário, botá-las na mochila ou no porta-luvas do carro.  “Estamos diante de um novo fenômeno americano: o minimassacre”,  escreveu o jornalista Adam Gopnik, na “New Yorker", referindo-se à sequência sinistra de tiroteios que deixam dois mortos numa vez, quatro na outra.

Nós também conhecemos este filme aqui. A única boa notícia em toda essa história é a sociedade não ter perdido a capacidade de indignar-se com estas mortes em série nos Estados Unidos. Recentemente ficou evidente que o racismo ainda molda o presente de jovens negros na maior democracia do mundo e o movimento contra a violência policial conquistou vitórias contra a impunidade. Já nós, brasileiros, andamos resignados demais com a violência e o assassinato cotidiano dos jovens, na maioria pobres vivendo em comunidades. Já foi pior, mostram as estatísticas, mas ainda são 140 mortes por dia. É intolerável esta cultura da bala, aqui e lá.

Fonte: Helena Celestino – O Globo


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