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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Putin é um estrategista frio e calculista e as sanções contra ele não vão dar em nada

Alexandre Garcia 

Conflito na Rússia

Foto: EFE/EPA/SERGEY GUNEEV/KREMLIN POOL/SPUTNIK

Bolsonaro está fazendo, obviamente, porque é adulto, o contrário do que sugerem seus adversários. Ou melhor, do que exigem seus adversários, que querem, claro, que ele cometa erros
Bolsonaro está conseguindo administrar bem uma neutralidade, sem deixar de registrar também a amizade entre ele e Putin.

Eu lembro que quando eu cobria a guerra no Atlântico Sul, a Guerra das Malvinas, eu vi que o Brasil estava ajudando a Foça Aérea argentina com munição, com especialistas e equipamento. Quando eu voltei para descansar em Brasília por dois ou três dias, eu fui procurar o presidente Figueiredo. Eu disse a ele: “O senhor está apoiando o agressor?”. E ele me disse: “Estou”.  E eu insisti: “Mas o Galtiere – o presidente argentino na época - é um bêbado, a Argentina é que a agressora!”. Aí o Figueiredo me respondeu: “É, mas eu sou amigo dele e a Argentina, olha aqui no mapa, é nossa vizinha, sempre vai ser nossa vizinha. A Inglaterra está a 10 mil quilômetros de distância, mas a Argentina é nossa vizinha e vai nos dever favores”.

Rússia, Ucrânia e Brasil: além da guerra real enfrentamos guerra de narrativas

E ele tinha toda razão. O chefe de Estado deve pensar no país, o interesse do país está em primeiro lugar. Várias nações da OTAN dizem que a Amazônia tem que ser do planeta, que ela não é do Brasil. Mas Putin disse “não, a Amazônia é do Brasil, sim”. Essas coisas têm de ser consideradas. Bolsonaro e Putin, quando se reuniram, falaram de multipluralidade, ou seja, que não querem um mundo entre os Estados Unidos e a China. Queremos ter a  nossa posição de brasileiros.

Mas, além disso, Bolsonaro resgatou os brasileiros da Ucrânia, essa primeira obrigação do governo brasileiro. Tirou da zona de guerra, está levando para a vizinha Romênia, e, de lá, eles embarcam para o Brasil. Tal como foi rápida e eficaz aquela operação quando explodiu o coronavírus lá na China. Resgatamos todo mundo que estava pelo caminho, e vieram para a quarentena na Base Aérea de Anápolis.

Há outra lição disso tudo. Como se sabe, o presidente da Ucrânia era um comediante. Aqui no Brasil nós tivemos um animador de auditório candidato à Presidência da República, que acabou desistindo.  
Temos de pensar que voto não é uma brincadeira, é uma coisa séria.
 Hoje vemos tantos líderes infantis ou infantilizados, como esse Trudeau, do Canadá; o Macron da França. Saudades da Merkel, da senhora Thatcher, que tinham presença tal como a do Putin.

O ocidente se enfraquece com as bobagens que estão por aí, e os líderes fortes vão tomar conta do mundo. 
Fizeram ações de apoio à Ucrânia, coloriram monumentos de Berlim e de Paris, cantaram Imagine em frente da embaixada russa em Bucareste. Teve apoio à Ucrânia dos Simpsons, do Sean Penn. A Anitta dizendo que o Putin é burro... Meu Deus! É a mesma coisa que dizer que tem girafa na Amazônia. Putin é um jogador de xadrez, um estrategista, inteligente, frio, culto, planejador. [Já a Anita ...]

Sanções

Todas essas sanções econômicas que estão fazendo contra a Rússia não vão dar em nada. A Rússia está com 680 bilhões em reserva, tem dívida de só 21% do PI a nossa é de 88% do PIB. 
Se tirar o Swift, da Rússia, a capacidade de transacionar entre os bancos, quem vai perder são bancos. 
A Rússia é o segundo em maior movimento financeiro e se ficar de fora do Swift, vai fazer as transações com a China. 
Mais da metade da Rússia é na Ásia; a Rússia vai do Báltico até o Pacífico.

Essas coisas precisam ser pensadas com maturidade. E a gente não deve brincar com voto como os ucranianos brincaram – é só olhar o que aconteceu. É bom lembrar que a Ucrânia assinou um pacto, em 2014 se não me engano, de desarmamento para que ela se mantivesse neutra. Agora, se ela chamar a OTAN, a OTAN vai enviar armas.

A OTAN é um pacto militar comandado pelos Estados Unidos. Tem base dentro de Portugal, nas Ilhas de Açores. Sobre esse equilíbrio de forças no mundo, não é cantando que ele acontece, são os arsenais que continuam pesando no equilíbrio de forças do mundo. E também a força econômica.

Vejam, por exemplo, a Alemanha, que parou com as usinas nucleares e agora está dependendo do gás da Rússia. A França também está retomando as usinas nucleares, construindo 12 novas usinas. Não adiante ficar cantando; É preciso pensar de forma madura e ter líderes maduros. Eleger líderes com maturidade

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 5 de março de 2020

Haja Confusão - William Waack

O Estado de S.Paulo


O cenário político está embaralhado, mas o pequeno PIB de 2019 não confunde

É óbvio que um presidente contracenando com humoristas faz parte do arsenal de promoção de imagem “humana” ou “popular” em qualquer lugar – Barack “Late Night Show” Obama que o diga. Mas quando Jair Bolsonaro divide a cena com um humorista fantasiado de presidente do Brasil diante do Alvorada (um edifício oficial) – como ocorreu ontem –, a quem encarrega de responder a perguntas de repórteres, e depois o próprio presidente divulga o vídeo em redes sociais, sugere uma confusão: afinal, quem é o comediante? [curioso é que durante o carnaval, um humorista em fim de carreira, o 'alguma coisa'  Adnet, desfilou fantasiado de presidente da República, simulando o uso de uma faixa presidencial e fazendo flexões e muitos criticaram Bolsonaro - ausente do local. Agora o presidente resolveu prestigiar um humorista e é criticado, suscitando a pergunta: 'quem é o comediante'?] 

Pode-se até acreditar que confusão seja uma arma conscientemente empregada por Bolsonaro para desequilibrar adversários, mas não se pode fugir à constatação de que virou uma de suas características permanentes. Para focar no que é mais recente, é confusa a pauta da manifestação que ele apoia (ou não?) para o dia 15, além da palavra de ordem mais abrangente de prestigiar o presidente.

Ficou confusa também a demanda, do ministro da Economia, Paulo Guedes, para que participantes do ato “defendam reformas”. No caso da tributária, qual a ser defendida? Existe uma do governo? Qual das várias que tramitam no Legislativo? Qual se deveria pedir em primeiro lugar? A PEC emergencial, talvez?  A favor de Bolsonaro deve-se assinalar que não é o único, de propósito ou não, a criar confusões. Na raiz da queda de braço entre Legislativo e Executivo para disputar migalhas do Orçamento (afinal, mais de 90% já estão comprometidos em despesas obrigatórias), está uma confusão política de autoria dos próprios parlamentares.

O fundo da questão não era o Orçamento impositivo, mas a esdrúxula criação do dispositivo que permitiria a um relator dispor de R$ 30 bilhões do Orçamento. Os parlamentares criaram uma perigosa confusão entre “legisladores” e “executores” do Orçamento. Que o governo, confuso, demorou para perceber.

Nos desdobramentos da original criou-se mais uma confusão espetacular. Os que apoiaram a manutenção de vetos presidenciais (que o Planalto havia negociado, depois repudiado, depois renegociado) à “emenda do relator” eram em boa parte senadores conhecidos pela oposição ao governo, mas cientes de uma confusão de interesses dentro do próprio Congresso. Querendo arranjar um jeito de continuar onde estão além do fim do ano, os dois presidentes das casas legislativas tinham topado uma manobra (a tal “emenda do relator”) de políticos aglomerados numa massa em geral amorfa (o tal “Centrão”), ao preço de deslegitimar a própria instituição.

Desembarcar de acordos “meia boca” discutidos em conversas de bastidores não ficou fácil pra ninguém dos dois lados da praça. Mesmo a projetada tramitação “normal” e seguindo ritos daquilo destinado a eliminar confusões – os projetos do governo regulamentando a execução de emendas, parte dos “acordos” – não diminuiu as ansiedades. Raposas felpudas no Congresso alertam para o fato de que na Comissão Mista Orçamentária, que vai examinar os tais projetos, jabuti sobe em árvore. Em outras palavras, não consideram letra morta a esdrúxula “emenda do relator”, pois é oCentrão seu motor e a grande força no Congresso.

De novo a favor de Bolsonaro deve-se reconhecer que ele tinha de proteger seu ministro da Economia ao retirar dele poderes para movimentar o Orçamento – que mais fazer, diante da confusão sobre aplicação e alcance do Orçamento impositivo? Note-se, porém, que, ao se evitar uma confusão dessas, torna-se ainda mais evidente uma outra de imensa abrangência na economia: a da insegurança jurídica. Fora a ironia do fato de Guedes ter ingressado no nutrido clube de gestores públicos que preferem nada decidir, pois temem ver seu CPF envolvido numa averiguação de órgãos de controle.

Nesse cenário, talvez só o PIB de 1,1% em 2019 não confunda. É muito pouco. 

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 15 de junho de 2018

Estupro e assassinato de uma comediante causa revolta na Austrália

Tragédia levantou o debate sobre violência contra a mulher e culpabilização da vítima; uma em cada cinco mulheres do país já sofreu agressão 

O estupro e assassinato da comediante Eurydice Dixon, de 22 anos, na última quarta-feira (13), causou indignação na Austrália, tanto por causa do crime em si quanto pela maneira com o qual foi tratado pela sociedade.

Eurydice estava no início de sua carreira como comediante na cidade de Melbourne e se apresentava em bares de comédia da cidade. Ela havia acabado de se apresentar em um bar local e estava voltando para a casa, por volta das 22h30 no horário local, quando foi atacada. Um rapaz de 19 anos é o principal suspeito e está preso.  Segundo a imprensa local, Eurydice estava a poucos metros de casa quando foi atacada e havia acabado de enviar uma mensagem a uma amiga avisando que estava chegando a salvo.

A vítima era uma defensora do feminismo e da igualdade de gênero e costumava abordar esses assuntos em seus shows. Seu estupro e assassinato reascenderam o debate no país, onde os índices de violência contra a mulher são relativamente altos. Diversos comediantes e o público estão utilizando as redes sociais para pedir o fim da violência e a não culpabilização da vítima. "Meu primeiro stand up foi quando eu tinha a mesma idade que Eurydice Dixon. Era sobre estar com medo de andar para casa à noite. Fazer piadas sobre isso era uma maneira de eu me sentir um pouco empoderada, em vez de pequena e assustada. Luto por essa jovem comediante, que tinha o direito de se sentir segura”, escreveu a comediante Alex Lee no Twitter.

Uma orientação da polícia também foi alvo de crítica nas redes sociais. O recado sugeria às pessoas terem ciência do que ocorria em seu entorno e prestar atenção em suas linguagens corporais. A recomendação foi interpretada como forma de culpar a vítima por ter sido atacada.  “Por favor, gente, não a culpem por andar em um parque à noite, como é a posição padrão da nossa sociedade. Culpe o agressor. As mulheres devem ser capazes de andar em segurança em nossas ruas e parques. Descanse em paz Eurídice Dixon”, escreveu Chloe Booker.


O governador de Melbourne, Daniel Andrews, escreveu: “Em poucos dias, mulheres em Melbourne farão uma vigília no Princes Park pela vida de Eurydice Dixon. Elas farão isso com a certeza de que Eurydice morreu por causa das decisões de seu agressor – não pelas suas. Elas estão certas. E precisamos aceitar esse fato também”.

Segundo a polícia, um jovem de 19 anos chamado Jaymes Todd se entregou à polícia na quarta-feira como responsável pelo  estupro e assassinato. Ele se recusou a pagar a fiança e aguarda seu julgamento marcado para 3 de outubro. Na quinta-feira (14), uma corte proibiu a divulgação de imagens do agressor. O argumento de seu advogado é de que a exposição pode coagi-lo e afetar seu depoimento.

A Austrália tem um alto índice de violência contra a mulher, segundo a comissão de direitos humanos do país. Segundo dados do governo, uma a cada cinco mulheres já sofreram algum tipo de violência e agressão sexual a partir dos 15 anos, contra um a cada 20 homens.


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