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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Não pode haver inteligência livre

Alexandre Garcia

O Brasil acaba de perder um de seus maiores poetas.  foi embora na sexta-feira, com 95 anos. Deixou para nós o seu maior poema, Os Estatutos do Homem, escrito em 1964, hoje atualíssimo, nesses tempos estranhos. "Fica decretado que agora vale a verdade", é seu primeiro verso. 
Vivemos tempos em que se decretam qual é a verdade e qual é a mentira, retirando da consciência julgadora de cada um o direito de avaliar o que é o quê. "Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira", proclama o poeta no art. V. Mas a mentira é um jugo que escraviza quem prefere não pensar, apenas aceita qualquer mentira porque é mais fácil se deixar conduzir.

No art. XII, "decreta-se que nada será obrigado". Nesses estranhos dias que vivemos, parece que tudo é obrigado, até o veto das palavras que não permitem que você ponha na sua própria boca. Escolhem as palavras da sua boca! Parafraseando outro poeta, Eduardo Alves da Costa, primeiro escolhem palavras que você deva pronunciar, e você permite. Depois põem frases completas na sua garganta, e você cede. Quando semearem ideias inteiras no seu pensamento, você não pode fazer mais nada, porque já não pode pensar. E você deixa de ser uma pessoa, para ser uma peça descartável do coletivo.

Como se opera isso? No art. XIII, Thiago de Mello registra "o grande baú do medo". Essa é a arma que abre as defesas do indivíduo. O medo enfraquece, paralisa. Ameaça-se com um grande mal que paira sobre todos, já covas abertas e caixões prontos para receber o seu cadáver. Mas se você obedecer, para o seu bem, poderá ser salvo, desde que entregue a sua liberdade, se una à multidão dos que transferiram seu destino a grandes condutores de massas.

Não pode haver inteligência livre. Os rebeldes são alvo do denuncismo, os que demonstrarem teses contrárias são censurados, banidos para o limbo. O livro 1984, de George Orwell, escrito em 1949, é profético, mostrando o que acontece num país totalitário chamado Oceania. Até o nome foi um prognóstico, diante das atuais anulações de liberdades na Austrália. Ironicamente, ontem fez 234 anos que lá chegaram 736 condenados ingleses para colonizar aquela terra sob a égide da liberdade.

Vivendo como condenados em um regime sem liberdades, mais de 280 mil venezuelanos já regularizados no Brasil fugiram de sua pátria, de sua própria terra natal. Ao acolhê-los, oferecemos liberdade. A mesma que precisamos legar a nossos filhos e netos. O artigo final dos Estatutos do Homem estabelece que será suprimida a palavra liberdade dos dicionários e do "pântano enganoso das bocas", porque a morada da liberdade "será sempre o coração do homem". Mas a premonição literária dos poetas e escritores aqui citados é hoje uma perigosa realidade ganhando corpo. Não podemos nos omitir de reconhecer que cada um de nós está desempenhando um papel, por ação ou inércia, nesses tempos que já foram apenas ficção. [Excelente artigo; aqui no Blog consideramos amparar refugiados um DEVER CRISTÃO. 
Só que preservar a vida é um DEVER CRISTÃO MAIOR e a generosidade com que o Brasil recebe os venezuelanos, não é suficiente para que um FATO seja esquecido: cada venezuelano que consegue emprego no Brasil é mais um brasileiro desempregado a permanecer na miséria.
Não é possível ajudar estrangeiros sacrificando os nacionais.]
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Gastança da cúpula do Judiciário chega aos tribunais dos estados mais pobres - VOZES

Despesas de milhões de reais com segurança para os desembargadores, compra de carrões, de móveis projetados, arranjos de flores e outras mordomias

Os tribunais de Justiça dos estados mais pobres reproduzem a fartura e o luxo do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) – tribunais que compõem a cúpula do Judiciário. O Tribunal de Justiça do Piauí gastou R$ 3,2 milhões na compra de 30 veículos. Reformou gabinetes, comprou xícaras de porcelana, contratou artista para fazer o retrato do presidente do tribunal.

O Tribunal do Maranhão comprou 100 pistolas Glock por R$ 280 mil e contratou empresa especializada na fabricação e montagem de móveis projetados para o gabinete de um desembargador. O Tribunal da Paraíba comprou 4,4 mil canecas de porcelana com o brasão do tribunal. As aquisições estão registradas nos contratos dos últimos quatro anos.

Em dezembro do ano passado, quando a pandemia da Covid-19 se encaminhava para a sua fase mais aguda, o TJPI decidiu renovar a sua frota de veículos comprando 16 sedans Toyota Corolla por um total de R$ 2,1 milhões dinheiro suficiente para comprar 42 mil doses de vacina contra o coronavírus. 
Dois anos antes, o tribunal já havia investido R$ 2,8 milhões na compra de 28 sedans e caminhonetes, incluindo 11 Mitsubishi Triton por R$ 153 mil a unidade. O Piauí é o antepenúltimo colocado no ranking do PIB per capita do país, com apenas US$ 2,8 mil – semelhante ao de Papua-Nova Guiné, país extremamente pobre da Oceania.

 Veja Também: Despesas com escolta policial de senadores já somam R$ 3,8 milhões

Os gastos milionários do STJ com segurança, jantares sofisticados, sala vip e beca de gala

Pistolas para proteger os magistrados
O TJMA afirmou ao blog que as 100 pistolas Glock, calibre 9 mm, são usadas pelos agentes de “segurança institucional”, sobretudo, policiais que compõe o grupo especial que realiza a “segurança orgânica e proteção de magistrados”. Em maio deste ano, o tribunal contratou serviços de vigilância armada para as suas unidades judiciais e administrativas, no valor de R$ 16,4 milhões, com vigência de 1 ano. O Maranhão tem o pior PIB per capita do país – US$ 2,5 mil – semelhante ao da Venezuela.

Mas sobra dinheiro no tribunal. No final do ano passado, foi assinado contrato para o fornecimento e instalação de móveis confeccionados “sob medida” para o gabinete da Presidência do tribunal, no valor de R$ 15 mil. Em 20 de setembro deste ano, foi assinado outro contrato de empresa especializada na fabricação e montagem de móveis projetados destinados ao gabinete do desembargador Marcelino Chaves Everton, no valor de R$ 58 mil.

A mesa de trabalho, no valor de R$ 8,5 mil, terá acabamento em laminado tipo carvalho ibiza ou similar com vidro liso incolor sobreposto ao tampo. A marca modelo é a Carvalho/Headway. O armário baixo, por R$ 7 mil, também deve ter o acabamento tipo carvalho ibiza. O tribunal afirmou ao blog que a contração foi feita em pregão eletrônico, “com a disputa de várias empresas”.

O TJMA destacou que a "mesa de trabalho" é uma estação de trabalho contínua dimensionada para acomodar seis pessoas, contendo meia divisória entre elas, no valor total de R$ 8,5 mil, com custo aproximado de R$ 1,46 mil para cada posto de trabalho. Sobre o armário, afirmou que o móvel possui "dimensões consideráveis", e projeto incluindo portas de abrir e basculantes que demandam ferragens específicas, "dentre elas os pistões hidráulicos para as portas basculantes, além do nicho e de prateleiras internas".

Xícaras, canecas e retrato do presidente
No ano passado, o TJPI também foi às compras, apesar da crise sanitária, fiscal e econômica que assolou o país. Buscou recursos no Fundo Especial de Reaparelhamento e Modernização do Poder Judiciário para a aquisição de mobiliário no valor total de R$ 2,65 milhões – mais 50 mil doses de vacina.

No item de requintes, no ano passado, o TJPI adquiriu 120 xícaras de porcelana, totalmente esmaltada, com pires, por R$ 12 mil. Contratou artista plástico, por R$ 5,5 mil, “com o fito de pintar o retrato” do presidente do tribunal em quadro a óleo sobre tela – uma prática que remonta os tempos do Renascimento. A aquisição de arranjos de flores e buquês para a inauguração e posse da nova mesa diretora custou R$ 19 mil. Tinha rosas helicônias, sorvetão, rostrata, alpinias. Mas também teve a inauguração do fórum da comarca de Picos. Mais R$ 16 mil gastos em arranjos florais.

O Tribunal do Piauí também torrou R$ 25 mil na compra de 4 mil canecas
de fibra de coco e comprou mais 2,8 mil copos ecológico pelo valor de R$ 33 mil. O Tribunal da Paraíba comprou R$ 4,4 mil canecas de cerâmica/porcelana com o brasão do tribunal, no valor total de R$ 47 mil. O Tribunal de Sergipe adquiriu 3,3 mil canecas de porcelana personalizadas, em 2018, pelo valor de R$ 53 mil. A caneca traz a logo do “Projeto +Verde, Sustentabilidade no Judiciário” e o nome personalizado de cada servidor ou magistrado.

O blog solicitou ao TJPI esclarecimentos e justificativas para as despesas feitas pelo tribunal. Em resposta aos questionamentos, afirmou que todas as informações solicitadas, bem como justificativas, são públicas e estão disponibilizadas no Portal da Transparência desta corte, bem como é dada publicidade no Diário Oficial de Justiça.
 
 Lucio Vaz, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Nova Zelândia entra em 2021 sem restrições; veja celebrações pelo mundo

País na Oceania conteve a pandemia e festejou a entrada no Ano Novo com certa normalidade

Exemplo na luta contra a pandemia do novo coronavírus, a Nova Zelândia entrou em 2021 com sua tradicional queima de fogos na torre do edifício SkyCity e luzes comemorativas na Ponte do Porto, ambos em Auckland, maior cidade do país na Oceania. Ao contrário de boa parte do mundo, por lá pessoas comemoraram nas ruas e sem máscaras de forma autorizada.

Outras nações do Sul do Pacífico foram os primeiros a saudar a chegada de 2021. A Austrália, ao contrário da vizinha Nova Zelândia, não liberou a presença do público na queima de fogos no Porto de Sydney, próximo à famosa casa de ópera da cidade. Cidades como Melbourne, porém, registraram aglomerações e pessoas nas ruas.

Em Seul, na Coreia do Sul, o governo cancelou, pela primeira vez desde 1953, a tradicional festa de Réveillon na região de Jongno, que costumava receber em torno de 100.000 pessoas por ano. Restrições e pedidos de que as pessoas evitem aglomerações também pautaram a chegada do novo ano no Japão. Oficiais foram fotografados nas ruas de Tóquio com placas dizendo que a contagem regressiva para o Ano Novo nas ruas estava cancelada.

Cidades com tradicionais queimas de fogos nas festas de Ano Novo tiveram de se adaptar. O Arco do Triunfo, em Paris, e a iluminada Las Vegas, este ano, não vão soltar fogos. Já a festa na Times Square, em Nova York, será sem plateia, apenas transmitida pela TV e internet.

Mundo - Revista VEJA

 

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Amazônia x Metade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?

J.R. Guzzo - Vozes

Boicote aos produtos do Brasil é a mais pura conversa fiadaMetade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?


 Metade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?| Foto: Michel Willian/Arquivo Gazeta do Povo 

O noticiário tem trazido, em geral com alarme, mais um lote de notícias (ou de desejos) sobre a situação de dificuldade, perene e aparentemente  insolúvel, que atravessam ao mesmo tempo a agricultura, a pecuária e a produção geral de alimentos no Brasil. O assunto é o de sempre: a “destruição das florestas” deste país, especialmente as da “Amazônia”.

A novidade seria uma espécie de boicote mundial, ou coisa parecida, à produção rural brasileira por parte de “300 grandes empresas” e outras potências do capitalismo moderno, recentemente transformadas em mocinhas da natureza, do ar puro e da “sustentabilidade”. Em suma: se os produtores brasileiros (que foram escalados para o papel de bandidos desse filme) não pararem de desmatar a Amazônia e incendiar as florestas, o Primeiro Mundo não vai comprar mais nada que venha daqui, nem investir um único tostão no Brasil.

Absurdos construídos com capricho, falsa ciência e muito dinheiro acabam um dia, como eventualmente acaba todo o charlatanismo de vendedor de elixir em feira livre – quando se verifica, pela força dos fatos, que a mercadoria posta à venda é falsa. Até lá, porém, fazem um barulho e tanto, como é o caso da “devastação” da Amazônia pelo “agronegócio”. Paciência. Não há como convencer quem quer ser enganado – o que se pode fazer é chamar de conto do vigário tudo aquilo que é conto do vigário, esperar que o tempo passe e continuar trabalhando. Fazer o quê?

Há pelo menos uma dúzia de realidades que demonstram a inexistência de relação entre desmatamento e o avanço a agropecuária brasileira — que saiu do nada para tornar-se em 40 anos uma das duas ou três maiores do mundo. Nenhuma delas serve. Por exemplo: mais de 70% da produção brasileira de grãos saem de apenas quatro estados, três dos quais nem sequer fazem fronteira com a Amazônia. São o Paraná, o Rio Grande do Sul e Goiás. O quarto, Mato Grosso, tem apenas a metade norte do seu território dentro do bioma amazônico. Mas o movimento de defesa do planeta sustentável não trabalha com essa aritmética, nem com essa geografia; só aceita a sua própria ciência.

O que o Paraná, por exemplo, tem a ver com a Amazônia? Um produtor de soja de Ponta Grossa ou Campo Mourão pode perfeitamente passar a vida inteira sem jamais ter ido lá, por um dia que seja. Há mais paranaenses que conhecem Paris do que São Gabriel da Cachoeira; têm tanto a ver com a floresta amazônica quanto com o Polo Norte. Mas vá explicar isso para um europeu-raiz.
Missão impossível, pois o sujeito nunca viu um mapa do Brasil; não sabe onde é o Paraná, nem o Amazonas e, para dizer a verdade, nem o Brasil. Também não está interessado em aprender; só está interessado em acreditar. Se você encarar, digamos, um bom holandês, disser que o Brasil fica na Oceania e fizer uma cara bem séria, há 50% de chance do sujeito achar que é isso mesmo. Aí não há o que fazer.
Enquanto isso, no mundo das coisas reais, o Brasil já colheu neste ano mais grãos do que em todo o ano passado; 50% da próxima safra, que ainda nem foi plantada, já está vendida. Fatos são um bicho teimoso.

J.R. Guzzo, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes



sábado, 18 de julho de 2020

Meu chapa, o genocida - Folha de S. Paulo

 Demétrio Magnoli

Banalizar o genocídio é uma forma de vestir a omissão com os andrajos do radicalismo retórico

Carl Jung escreveu que “contemplar o mal absoluto é uma rara e avassaladora experiência”. Genocídio é Auschwitz, o mal absoluto. Gilmar Mendes não tem o direito moral nem mesmo a pretexto de formular uma crítica urgente, justa e necessáriade mobilizar frivolamente o conceito. Genocídio é a figura histórica e jurídica que tipifica a operação deliberada, conduzida pelo Estado ou por forças em armas, de extermínio físico de uma população singular inteira. Contam-se, no século 20, além do Holocausto, três grandes eventos genocidas: o armênio, o do Camboja e o de Ruanda.

O Tribunal Penal Internacional (TPI), estabelecido para processar crimes contra a humanidade, classificou os massacres de muçulmanos bósnios no enclave de Srebrenica, em 1995, como “intenção de genocídio” e indiciou o ex-presidente sudanês Omar Bashir por crimes de genocídio cometidos na Guerra de Darfur, a partir de 2003. A invocação do crime dos crimes para fazer referência às imposturas do governo Bolsonaro diante da pandemia tem graves implicações filosóficas e práticas.


Filosoficamente, percorre-se a trilha da banalização do mal. Conrado Hübner sugere que o maior dos crimes “libertou-se das amarras do conceito jurídico-penal”, passando “a se referir a ações e omissões difusas que multiplicam a morte em grupos sociais específicos” (Folha, 7/7). Conceitos, porém, não cultivam o hábito de se “libertar” sozinhos, e o TPI continua a exigir a deliberação de extermínio para qualificar o genocídio. Daí, é forçoso concluir que a tentativa de diluir o conceito não passa de um truque de linguagem imerso nas polêmicas ideológicas circunstanciais.

No super-Estado de Oceania, de Orwell, o Partido suprimiu os registros históricos objetivos, fazendo de sua narrativa a fonte exclusiva de informação sobre o mundo exterior. Desse modo, instalou um presente perpétuo, no qual “o inimigo do momento sempre representou o mal absoluto”. A linguagem das redes sociais, que abomina a história, reproduz parcialmente o cenário orwelliano. Nessa moldura, a finalidade da palavra já não é nomear precisamente um fenômeno, mas causar escândalo, gerar comoção instantânea, marcar a ferro o alvo da hora. Nem mesmo juristas, que deviam saber mais, escapam à tentação.

O esporte tem consequências. Prevenindo-se de investigações por crimes de guerra, o governo dos EUA saltou do mero boicote para sanções diplomáticas contra o TPI. Para Trump, nada mais útil que a inundação da corte internacional por denúncias vazias de genocídio, baseadas em “ações e omissões difusas”. A transformação do tribunal em câmara de eco de controvérsias políticas nacionais significaria a desmoralização do instrumento principal de punição do mal absoluto.

Banalizar o genocídio é uma forma de vestir a omissão com os andrajos do radicalismo retórico. Na prática, troca-se a obrigação de abrir processo contra agentes de crimes definidos na lei por falsas exibições de coragem. Se o policial que assassinou George Floyd não fosse denunciado por homicídio qualificado, mas por genocídio, seria certamente absolvido. Quando um juiz da corte suprema aventa o crime maior, de competência do TPI, exime-se do dever de apontar os crimes efetivos do governo, que estão sob a jurisdição do STF. [se eximiu motivado pelo fato da não existência de crimes.]

Os juristas do grupo Prerrogativas alegaram que o ministro do STF limitou-se a manipular o recurso da “hipérbole”. Dias depois de sua manifestação hiperbólica, Gilmar Mendes telefonou para Bolsonaro e, na sequência, para Pazuello, fumando o cachimbo da paz com os supostos agente e cúmplice de genocídio. Ninguém será denunciado à corte de Haia. O governo seguirá, impunemente, violando o direito constitucional à saúde dos cidadãos. Os heróis da resistência já inscreveram seus nomes no panteão das redes sociais.


 Demétrio Magnoli, colunista -Folha de S. Paulo

sábado, 2 de maio de 2020

IBGE com problemas - Direita e esquerda ameaçam causar apagão estatístico - Merval Pereira

O Globo

Apagão estatístico

No caso do governador João Doria, ele foi acusado por partidos de direita, capitaneados pelo deputado Eduardo Bolsonaro, de promover uma invasão aos direitos individuais ao usar os celulares para identificar a mobilidade social nesses tempos de pandemia. Como vários países fazem, e até mesmo o próprio governo, cujo ministério de Ciência e Tecnologia havia feito um acordo com as operadoras telefônicas com o mesmo objetivo.

Nesta quarta-feira, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julga ação direta de inconstitucionalidade (ADI) da OAB e dos partidos PSDB,PSB, PSOL e PCB contra a medida provisória que permite ao IBGE usar a lista de assinantes das companhias telefônicas para fazer pesquisas neste período em que o distanciamento social exige a utilização de mecanismos não presenciais alternativos (telefone, vídeo, e-mail) para manter o fluxo de informações que evite o que já está sendo classificado de “apagão estatístico”, como alertaram vários ex-presidentes do IBGE em carta aberta.

Merval Pereira, colunista - O Globo



Para a OAB, a MP viola dados sigilosos de brasileiros e não apresenta mecanismos de segurança para minimizar o risco de acesso e o uso indevido deles. Não apenas a salada de siglas chama a atenção, mas a incongruência, pois o PSDB é o partido que tem em João Doria seu principal líder. Nem Eduardo Bolsonaro tem razão em criticar o monitoramento celular para identificar aglomerações, nem tem sentido a ação do PSDB e demais partidos, liderada pela OAB. [a ação não é contra a MP e sim contra o governo Bolsonaro - a salada de letras, capitaneada por essa OAB passando por partidos políticos, elegeram o presidente da República Federativa do Brasil, JAIR BOLSONARO - essa qualificação os enlouquece e os deixa desesperados -  eleito com quase 60.000.000 de votos - decidiram que se é Bolsonaro patrocina ou concorda com a medida eles são contra.]
Susana Cordeiro Guerra, presidente do IBGE, explica que crise do COVID-19 obrigou o IBGE a adiar o Censo Demográfico para 2021, e não está permitindo que seus entrevistadores percorram as residências coletando as informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD, a principal fonte de informações do país sobre emprego, educação, renda e condições de vida da população brasileira.
O IBGE fez também um convênio com o Ministério da Saúde para pesquisa domiciliar especial sobre o COVID-19, instrumento fundamental para ajudar a planejar a saída do confinamento imposto pela crise sanitária.

Os problemas encontrados pelo IBGE, que já tinha obstáculos específicos de países em desenvolvimento, como o receio da violência que dificultava o contato do pesquisador nos domicílios e o acesso a certas áreas das cidades dominadas pela bandidagem, são comuns a mais de 200 países que têm institutos de estatísticas oficiais. Em Nova York, por exemplo, há políticos que, em vez de barrar as entrevistas por telefone, estão enviando cartas a seus eleitores pedindo que cooperem com os institutos oficiais de pesquisa.

Em diferentes continentes constata-se a reorganização dos institutos de pesquisa, com exemplos nas Américas (Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, EUA e México), na Europa (Espanha, Finlândia, França, Holanda, Itália, Portugal, Reino Unido e Suécia) na Oceania (Austrália). No período de 16 de março a 16 de abril de 2020, foram identificadas, segundo o IBGE, medidas comuns adotadas, entre elas: “adoção de modalidades alternativas de pesquisa, de acordo com a natureza e as características de cada operação, para substituir a coleta de campo nas pesquisas contínuas e as atividades presenciais de coleta de dados”.

Os mecanismos não presenciais alternativos estão sendo recomendados pela comunidade estatística internacional, enquanto a emergência mundial da saúde continuar: “uso de registros administrativos para produção de estatísticas, adoção de entrevistas por telefone, preenchimento de formulários pela web e/ou e-mail, entre outros, preservando o sigilo e o rigor técnico das estatísticas oficiais”.
Ter acesso à lista de assinantes das operadoras telefônicas é o mesmo que consultar os antigos catálogos telefônicos que a tecnologia tirou de circulação. Mas em qualquer país civilizado, é possível acessar o catálogo telefônico digital através da internet.

sábado, 5 de outubro de 2019

O médium João de Deus, por onde anda?- O balcão de negócios de João de Deus - IstoÉ

O médium segue preso mas sua rede de negócios internacionais, inclusive consultas, continua funcionando

Apesar da prisão do médium estuprador, sua rede de “guias espirituais” continua arrebanhando clientes e ganhando muito dinheiro, enquanto promove uma campanha de contra-informação para tentar limpar sua imagem

O paranormal João de Deus, preso desde dezembro no Complexo Prisional Aparecida de Goiânia, em Goiás, acusado de centenas de crimes sexuais, foi transferido na semana passada para um hospital público por causa de problemas cardíacos. João parece combalido, cansado, fora de combate. Mas isso é só aparência. Seu balcão de negócios no exterior continua funcionando a todo vapor. Em décadas de trabalho internacional ele criou uma rede com dezenas de guias turísticos e espirituais atuantes na Europa, África e Oceania que hoje estão dedicados a convencer pessoas de que os crimes do médium não existiram e seu poder curativo é inabalável. São esses guias, homens e mulheres de total confiança de João de Deus, que arrebanham clientes e ainda trazem centenas de turistas estrangeiros todos os meses para a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia. Eles contam com sites para promover viagens para o Brasil e vender produtos e serviços. Vendem, por exemplo, sessões em camas de luz de cristais, remédios de passiflora, bijuterias, jóias e até serviços de cura por celular. Atualmente, 90% dos visitantes de Abadiânia vêm do exterior.


 ENGANO A cadeia não acabou com os negócios de João de Deus: visitantes internacionais movimentam a economia do centro espírita (Crédito: Reprodução / TV Globo)

 Uma excursão internacional de duas semanas para a cidade custa entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, dependendo da origem do turista. Considerando a frequência atual da casa, que não passa de mil pessoas por mês – nos tempos áureos, João chegava a receber 4,5 mil pessoas num único dia – o movimento financeiro gerado em torno da Casa Dom Inácio está em torno de R$ 15 milhões. Todas as semanas chegam turistas de países como Alemanha, Suíça, Finlândia, França, Itália, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia, que estão sustentando uma parte dos negócios criados pelo médium depois que ele saiu de cena. “João de Deus tem uma clientela muito rica no exterior e há uma campanha de contra-informação em que se tenta apresentá-lo como um injustiçado e perseguido pela imprensa e por ONGs”, diz a psicóloga Maria do Carmo Santos, membro do Grupo Vítimas Unidas e ativista de direitos humanos. “Ainda há gente que acredita cegamente nos seus poderes e há consultas por telefone celular realizadas por médiuns ligados ao centro”. Maria do Carmo conseguiu acessar pelo menos 40 sites internacionais que promovem a Casa Dom Inácio.



 Considerando a frequência atual de visitantes, o movimento
financeiro em torno da Casa Dom Inácio gira
em torno de R$ 15 milhões por mês

Em IstoÉ, MATÉRIA COMPLETA

 
 

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Estupro e assassinato de uma comediante causa revolta na Austrália

Tragédia levantou o debate sobre violência contra a mulher e culpabilização da vítima; uma em cada cinco mulheres do país já sofreu agressão 

O estupro e assassinato da comediante Eurydice Dixon, de 22 anos, na última quarta-feira (13), causou indignação na Austrália, tanto por causa do crime em si quanto pela maneira com o qual foi tratado pela sociedade.

Eurydice estava no início de sua carreira como comediante na cidade de Melbourne e se apresentava em bares de comédia da cidade. Ela havia acabado de se apresentar em um bar local e estava voltando para a casa, por volta das 22h30 no horário local, quando foi atacada. Um rapaz de 19 anos é o principal suspeito e está preso.  Segundo a imprensa local, Eurydice estava a poucos metros de casa quando foi atacada e havia acabado de enviar uma mensagem a uma amiga avisando que estava chegando a salvo.

A vítima era uma defensora do feminismo e da igualdade de gênero e costumava abordar esses assuntos em seus shows. Seu estupro e assassinato reascenderam o debate no país, onde os índices de violência contra a mulher são relativamente altos. Diversos comediantes e o público estão utilizando as redes sociais para pedir o fim da violência e a não culpabilização da vítima. "Meu primeiro stand up foi quando eu tinha a mesma idade que Eurydice Dixon. Era sobre estar com medo de andar para casa à noite. Fazer piadas sobre isso era uma maneira de eu me sentir um pouco empoderada, em vez de pequena e assustada. Luto por essa jovem comediante, que tinha o direito de se sentir segura”, escreveu a comediante Alex Lee no Twitter.

Uma orientação da polícia também foi alvo de crítica nas redes sociais. O recado sugeria às pessoas terem ciência do que ocorria em seu entorno e prestar atenção em suas linguagens corporais. A recomendação foi interpretada como forma de culpar a vítima por ter sido atacada.  “Por favor, gente, não a culpem por andar em um parque à noite, como é a posição padrão da nossa sociedade. Culpe o agressor. As mulheres devem ser capazes de andar em segurança em nossas ruas e parques. Descanse em paz Eurídice Dixon”, escreveu Chloe Booker.


O governador de Melbourne, Daniel Andrews, escreveu: “Em poucos dias, mulheres em Melbourne farão uma vigília no Princes Park pela vida de Eurydice Dixon. Elas farão isso com a certeza de que Eurydice morreu por causa das decisões de seu agressor – não pelas suas. Elas estão certas. E precisamos aceitar esse fato também”.

Segundo a polícia, um jovem de 19 anos chamado Jaymes Todd se entregou à polícia na quarta-feira como responsável pelo  estupro e assassinato. Ele se recusou a pagar a fiança e aguarda seu julgamento marcado para 3 de outubro. Na quinta-feira (14), uma corte proibiu a divulgação de imagens do agressor. O argumento de seu advogado é de que a exposição pode coagi-lo e afetar seu depoimento.

A Austrália tem um alto índice de violência contra a mulher, segundo a comissão de direitos humanos do país. Segundo dados do governo, uma a cada cinco mulheres já sofreram algum tipo de violência e agressão sexual a partir dos 15 anos, contra um a cada 20 homens.


Veja

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Brasil tentou extradição de brasileiro condenado a morte na Indonésia e ainda aguarda resposta



Execução de Marco Archer, condenado por tráfico de drogas, está marcada para o próximo domingo
O Itamaraty informou que foi realizado recentemente um pedido de extradição de Marco Archer, brasileiro condenado a morte na Indonésia que tem a execução marcada para este próximo domingo. O pedido ainda não foi julgado pelo poder Judiciário da Indonésia, mas é de conhecimento das autoridades brasileiras que a lei daquele país proíbe a extradição de pessoas condenadas por tráfico de drogas, caso de Archer. Nesta sexta-feira a presidente Dilma Rousseff conversou por telefone com Joko Widodo, presidente indonésia. Ela fez um novo pedido de clemência, que mais uma vez foi negado.

Causou desconforto ao Itamaraty o fato de a presidente Dilma ter de esperar por quase uma semana para ser atendida por telefone pelo presidente indonésio. O governo brasileiro está em contato com outros países que tem condenados a morte na Indonésia, mas o Itamaraty afirma que não há uma estratégia conjunta para eventual retaliação. O assessor especial da Presidência Marco Aurélio TOP TOP Garcia afirmou mais cedo que a execução poderá ter consequência nas relações entre Brasil e Indonésia .[O Brasil não tem nenhuma capacidade de retaliação em relação à Indonésia. Vamos ser brasileiros, patriotas, mas também realistas: um país cuja presidente espera uma semana para ser atendida, por telefone,  pelo presidente de outro país não goza de nenhum prestígio internacional.
Sem contar que a causa defendida por Dilma não é nobre – ela pretende salvar do justo castigo um traficante.
Cabe lembrar, sem segundas intenções, que Dilma foi terrorista, o que a coloca em um potencial criminoso no mínimo igual ao de um traficante.]

Em 2014 o comércio entre os dois países foi de US$ 4 bilhões. O Brasil teve saldo positivo de R$ 451 milhões. Segundo o Itamaraty estão em vigor memorandos de entendimentos nas áreas de educação, agricultura, energia, promoção de comércio e investimentos, entre outros. A companhia Vale atua desde 2006 naquele país na exploração e beneficiamento do níquel, sendo este um dos maiores investimentos estrangeiros na Indonésia.

Dados de 2013 do Itamaraty mostravam que havia 3.209 brasileiros presos no exterior, sendo que 1.415 já estão em cumprimento de pena. O maior percentual de presos é na Europa, onde há 1.108 brasileiros detidos. Na sequência aparecem América do Sul (864), América do Norte (729), Ásia (417), África (40), Oriente Médio (20), América Central (18) e Oceania (13). Cerca de 30% dos brasileiros presos no exterior (963) estão detidos por tráfico ou porte de drogas. O valor gasto pelo Itamaraty em 2013 para assistência a esses presos foi de US$ 120 mil.

Fonte: IstoÉ