O Globo - Amanda Almeida
CONGRESSO
Para senadores do G7, Renan Calheiros vazou trechos
do seu relatório final, em torno do qual ainda há muita divergência a
ser vencida, com a finalidade de emparedá-los. Nos cálculos desses
parlamentares, o relator os expôs à opinião pública como forma de
pressioná-los a não abrandar a peça final da CPI da Covid. [senadores que tinham o relator Calheiros como herói, agora estão com medinho = amarelaram com medo do alagoano.]
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Um dos temas polêmicos é o indiciamento de Bolsonaro por genocídio. Omar Aziz já se manifestou contrário, mas mesmo senadores de oposição entendem que a tipificação é precária. Por isso, queriam mais tempo para, internamente, vencer as diferenças.
Agora, com pontos cruciais do relatório divulgados, entendem que será difícil retirar trechos de que discordam sem passar a imagem para a população de que estão aliviando as responsabilidades dos citados, como o próprio presidente da República. O péssimo clima criado interrompeu as discussões e muitas das conversas entre os integrantes do colegiado.
Por outro lado, senadores entendem que, caso haja uma acerto da maioria para modificar partes sensíveis do relatório, um Renan contrariado pode tomar o gesto extremo de abandonar o posto e deixar a comissão. [Calheiros tivesse adotado o que agora chamam de gesto extremo, antes do Circo Covidão iniciar os trabalhos, a desmoralização de agora seria menor.] Exatamente como fez dois anos atrás quando, sentindo que perderia a eleição à Presidência do Senado para Davi Alcolumbre, abandonou a disputa e se retirou do plenário.
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Lauro Jardim, colunista - O Globo
O senador Renan Calheiros, relator da CPI
da Covid, fez uma jogada política em benefício próprio ao liberar
pontos importantes do que seria seu relatório final. Conseguiu ser o
centro do grande assunto dos últimos dias a decisão de indiciar o
presidente Bolsonaro por genocídio de indígenas e homicídio.
Outras
decisões polêmicas como indiciar o ministro da Defesa, general Braga
Netto, por sua atuação quando era chefe do Gabinete Civil, também
causaram rebuliço entre seus pares. Por isso o presidente da Comissão,
Omar Aziz, agiu certo ao retardar a divulgação do relatório oficial.
Quer divulgar “o relatório da CPI, não o relatório do Renan”.
Os
integrantes da CPI, principalmente os do grupo G7, senadores de oposição
ou independentes que fazem a maioria do plenário, ficaram irritados com
Renan porque temem que, além da questão política, o relator esteja indo
além das suas pernas, querendo imputar a Bolsonaro crimes difíceis de
apurar e de transformar em acusação de peso jurídico incontestável.
Deve-se
criticar o governo pelo atraso das providências e pela falta de
prioridade no atendimento aos indígenas,[a vida de um indígena, vale tanto quanto a de um brasileiro branco, de um quilombola, de um afrodescendente; pesando contra os índigenas o fato de que se ficassem - morassem - em suas reservas (terra para moradia não falta aos índios) não seriam contaminados.] mas é incontestável que, depois
de uma pressão da opinião pública, o governo Bolsonaro mandou auxílio e
vacinas para os territórios, descaracterizando assim o genocídio
indígena.
Também não se pode acusar que Bolsonaro teve intenção
de matar, embora seja inqualificável a aposta numa “imunidade de
rebanho” que até hoje seu filho Flávio defende em lugar da vacinação em
massa. [imunidade de rebanho = imunidade coletiva - que aos poucos começa a ser reconhecida por grande parte da mídia, ainda que a contragosto, como um dos fatores para controle da pandemia.] Bolsonaro foi culpado pela desorganização de seu governo no
combate à pandemia e há suspeitas de que tenha atrasado a compra de
vacinas aguardando a tal imunidade coletiva, que permitiria que a
economia não parasse.
Eu mesmo já escrevi aqui, impactado pelas
revelações da CPI e por depoimentos trágicos como os do médico da
Prevent Senior ou de parentes de vitimas da Covid-19, que a acusação de
genocídio já deixara de ser retórica política e passava a se basear em
fatos. No entanto não creio que os mais veementes indícios e provas
testemunhais sejam suficientes para conseguir uma condenação jurídica.
A
consequência dessa fixação absurda com a economia, na tentativa de não
prejudicar sua campanha pela reeleição, foram mortes evitáveis, devido à
inação de seu governo, mas daí a acusá-lo de homicídio é um passo muito
largo. Os senadores da CPI estão discutindo muito, porque temem que o
procurador-geral da República Augusto Aras possa arquivar o relatório
diante de acusações polêmicas e difíceis de comprovar.
Politicamente
é muito bom para Renan Calheiros, que disputa espaço com Arthur Lira em
Alagoas, acusar Bolsonaro de homicídio ou genocídio. Mas o mais
provável é que não traga as consequências jurídicas que os casos
revelados [ops... Merval, você esqueceu do termo provados - a frase correta é casos
revelados e provados] pela CPI deveriam merecer. É preciso mesmo um pente-fino no
relatório, para chegar a uma decisão mais aceitável do ponto de vista
jurídico, como quer o presidente da CPI, senador Omar Aziz.
Merval Pereira, colunista - O Globo