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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Emparedados, senadores do G7 temem reação de Renan e A responsabilidade da CPI - O Globo

O Globo -  Amanda Almeida

CONGRESSO

Para senadores do G7, Renan Calheiros vazou trechos do seu relatório final, em torno do qual ainda há muita divergência a ser vencida, com a finalidade de emparedá-los. Nos cálculos desses parlamentares, o relator os expôs à opinião pública como forma de pressioná-los a não abrandar a peça final da CPI da Covid. [senadores que tinham o relator Calheiros como herói, agora estão com medinho = amarelaram com medo do alagoano.]

LEIA MAIS: Vazamento de relatório final isola Renan na CPI

Um dos temas polêmicos é o indiciamento de Bolsonaro por genocídio. Omar Aziz já se manifestou contrário, mas mesmo senadores de oposição entendem que a tipificação é precária. Por isso, queriam mais tempo para, internamente, vencer as diferenças.

Agora, com pontos cruciais do relatório divulgados, entendem que será difícil retirar trechos de que discordam sem passar a imagem para a população de que estão aliviando as responsabilidades dos citados, como o próprio presidente da República. O péssimo clima criado interrompeu as discussões e muitas das conversas entre os integrantes do colegiado.

Por outro lado, senadores entendem que, caso haja uma acerto da maioria para modificar partes sensíveis do relatório, um Renan contrariado pode tomar o gesto extremo de abandonar o posto e deixar a comissão. [Calheiros tivesse adotado o que agora chamam de gesto extremo, antes do Circo Covidão iniciar os trabalhos, a desmoralização de agora seria menor.] Exatamente como fez dois anos atrás quando, sentindo que perderia a eleição à Presidência do Senado para Davi Alcolumbre, abandonou a disputa e se retirou do plenário.

LEIA TAMBÉM: 'Estou aberto para aceitar o ponto de vista da maioria', diz Renan sobre divergências na CPI da Covid

Lauro Jardim, colunista - O Globo

O senador Renan Calheiros, relator da CPI da Covid, fez uma jogada política em benefício próprio ao liberar pontos importantes do que seria seu relatório final. Conseguiu ser o centro do grande assunto dos últimos dias a decisão de indiciar o presidente Bolsonaro por genocídio de indígenas e homicídio.

Outras decisões polêmicas como indiciar o ministro da Defesa, general Braga Netto, por sua atuação quando era chefe do Gabinete Civil, também causaram rebuliço entre seus pares. Por isso o presidente da Comissão, Omar Aziz, agiu certo ao retardar a divulgação do relatório oficial. Quer divulgar “o relatório da CPI, não o relatório do Renan”.

Os integrantes da CPI, principalmente os do grupo G7, senadores de oposição ou independentes que fazem a maioria do plenário, ficaram irritados com Renan porque temem que, além da questão política, o relator esteja indo além das suas pernas, querendo imputar a Bolsonaro crimes difíceis de apurar e de transformar em acusação de peso jurídico incontestável.

Deve-se criticar o governo pelo atraso das providências e pela falta de prioridade no atendimento aos indígenas,[a vida de um indígena,  vale tanto quanto a de um brasileiro branco, de um quilombola, de um afrodescendente; pesando contra os índigenas o fato de que se ficassem - morassem - em suas reservas (terra para moradia não falta aos índios) não seriam contaminados.] mas é incontestável que, depois de uma pressão da opinião pública, o governo Bolsonaro mandou auxílio e vacinas para os territórios, descaracterizando assim o genocídio indígena.

Também não se pode acusar que Bolsonaro teve intenção de matar, embora seja inqualificável a aposta numa “imunidade de rebanho” que até hoje seu filho Flávio defende em lugar da vacinação em massa. [imunidade de rebanho = imunidade coletiva - que aos poucos começa a ser reconhecida por grande parte da mídia, ainda que a contragosto,  como um dos fatores para controle da pandemia.] Bolsonaro foi culpado pela desorganização de seu governo no combate à pandemia e há suspeitas de que tenha atrasado a compra de vacinas aguardando a tal imunidade coletiva, que permitiria que a economia não parasse.

Eu mesmo já escrevi aqui, impactado pelas revelações da CPI e por depoimentos trágicos como os do médico da Prevent Senior ou de parentes de vitimas da Covid-19, que a acusação de genocídio já deixara de ser retórica política e passava a se basear em fatos. No entanto não creio que os mais veementes indícios e provas testemunhais sejam suficientes para conseguir uma condenação jurídica.

A consequência dessa fixação absurda com a economia, na tentativa de não prejudicar sua campanha pela reeleição, foram mortes evitáveis, devido à inação de seu governo, mas daí a acusá-lo de homicídio é um passo muito largo. Os senadores da CPI estão discutindo muito, porque temem que o procurador-geral da República Augusto Aras possa arquivar o relatório diante de acusações polêmicas e difíceis de comprovar.

Politicamente é muito bom para Renan Calheiros, que disputa espaço com Arthur Lira em Alagoas, acusar Bolsonaro de homicídio ou genocídio. Mas o mais provável é que não traga as consequências jurídicas que os casos revelados [ops... Merval, você esqueceu do termo provados - a frase correta é
casos revelados e provados] pela CPI deveriam merecer. É preciso mesmo um pente-fino no relatório, para chegar a uma decisão mais aceitável do ponto de vista jurídico, como quer o presidente da CPI, senador Omar Aziz.

Merval Pereira, colunista - O Globo


sábado, 16 de outubro de 2021

Eles não querem que a pandemia acabe - Carta ao Leitor

Paula Leal e Silvio Navarro

Medo, politicagem, interesses econômicos, admissão de equívocos. Por que uma parte da sociedade não quer que a crise acabe?

Nesta semana, o Brasil atingiu a marca de 100 milhões de pessoas com o ciclo de vacinação completo. No Estado de São Paulo, 80% da população já recebeu ao menos uma dose. Em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, 70%. Algumas cidades decretaram o fim da exigência do uso de máscaras.

Nas grandes capitais, já há preparativos para as festas de Réveillon e Carnaval. Aos poucos, o torcedor está voltando aos estádios de futebol. Com a taxa de transmissão do coronavírus no menor patamar desde abril de 2020, as tímidas manchetes escondidas na imprensa tradicional mostram que a pandemia pode estar perto do fim. Mas não para todos.

Provavelmente, o leitor deve ter deparado recentemente com dezenas de situações bizarras. 
O praticante de atividade física mascarado ao ar livre, em alguns casos até dentro de piscinas. 
Pais obrigando crianças a usar as proteções faciais na marra. 
O motorista solitário paramentado dentro do carro. 
O vizinho que se recusa a usar o elevador em companhia. 
E, claro, a clássica foto que inunda as redes sociais há dois anos: máscara no rosto (às vezes duas) e a camiseta com os dizeres “Vacina sim, ele não”, acompanhada de uma legenda sobre a importância de aceitar o “novo normal”, doa a quem doer. 
Mas o leitor normal pode se perguntar: quem definiu esse consenso?

De todos os itens da cartilha de bom comportamento dos pandelovers, o mais controverso atualmente é o uso infinito de máscaras. O governador João Doria (PSDB), amparado por seu ex-centro de contingência, rebatizado de “comitê científico”, disse algumas vezes que pretende manter o uso de máscaras obrigatório até 31 de dezembro. Mas já foi demonstrado diversas vezes durante a pandemia que a “ciência” que orienta as políticas de gabinete pode mudar de acordo com os interesses dos governantes.

A máscara como gesto político
Passados dois anos, a medida nem sequer é uma unanimidade entre médicos. “Em lugar fechado, transporte público, elevador eu ainda seguraria”, diz o clínico-geral e doutor em imunologia Roberto Zeballos. “Em locais abertos, não vejo a menor necessidade de máscara.” Para ele, o Brasil caminha para alcançar a imunidade coletiva ou de rebanho, porque o “país já enfrentou dois grandes surtos e todos que passaram por essa epidemia e a venceram já estão imunes.”

As máscaras devem se limitar a ambientes de alto risco de contágio”, afirma o neurocirurgião Paulo Porto de Melo. “Não tem cabimento manter o uso da forma como está, e, aliás, não foi o prometido. O anunciado era que, quando todos estivessem vacinados, seriam eliminadas as máscaras. Ou seja, foi estelionato.”

Cobrir o rosto tornou-se um gesto político em meio à crise sanitária. No Brasil, uma resposta possível é que, ao ostentá-la publicamente, se trata de uma resposta à conduta do presidente Jair Bolsonaro. Não à toa, ele é recordista em multas aplicadas por prefeitos e governadores de oposição nos passeios de moto. A última delas ocorreu em Peruíbe, no litoral paulista, onde foi cercado por apoiadores enquanto comia pastel.

Bolsonaro se recusa a usar máscara há dois anos. Mas, ainda que a figura do presidente seja deixada de lado por um instante, a inquietação não para por aí. O Brasil tem hoje seus patrulheiros anônimos da covid. São dezenas de caras de reprovação e nojo. Um verdadeiro tribunal do “cancelamento”.  É como se o mundo tivesse se dividido em dois tipos de cidadãos: de um lado, os nobres, que se preocupam com a saúde pública e querem salvar a humanidade. Do outro, os “negacionistas” irremediáveis. O mesmo se aplica ao questionamento sobre a potência das vacinas e a autonomia médica para receitar tratamentos. Entramos na era da “ineficácia cientificamente comprovada” e da tirania do passaporte sanitário. Ao final, trata-se muito mais de um debate sobre liberdades individuais do que sobre ciência.

O jogo da imprensa
Uma das grandes responsáveis pela interdição do debate e pela imposição da “verdade absoluta” é a velha imprensa e seus especialistas. Chegaram ao ponto de apresentadores de televisão se mostrarem escandalizados porque homens em fuga do Talibã despencaram da fuselagem de um avião sem máscara. Ou durante entrevistas realizadas pelo computador ou com o devido distanciamento em que apresentador e entrevistado cobrem nariz e boca — é o uso “pedagógico” da máscara. Ou a nova modalidade dos comentaristas esportivos, que reclamavam dos rostos sem proteção na final do torneio de tênis de Wimbledon e da Eurocopa. Fora os campeonatos de futebol no Brasil, onde, além dessas queixas, é exibido um placar de mortos pela covid na tela. Independentemente se a partida é no Rio ou no interior de Goiás.

As manchetes da covid também descobriram alguns fenômenos. No mês passado, o instituto Datafolha, do jornal Folha de S.Paulo, encontrou 91% de brasileiros favoráveis à manutenção da obrigatoriedade das máscaras nas ruas. Seguramente, não eram as multidões que caminham aos domingos pela Avenida Paulista, nem as que frequentam a orla de Copacabana.

Outro levantamento, da Confederação Nacional de Municípios, consultou gestores de cerca de 2 mil municípios e revelou que quase 64% pretendem manter o uso obrigatório de máscara mesmo que a população esteja totalmente imunizada. Ou seja, a intenção da maioria das autoridades públicas é manter a vida no “modo pandêmico” por mais um bom tempo. Quem sabe, para sempre.

A turma do pijama
Além da crise sanitária que se espalhou pelo mundo, um surto de pânico paralisou parte da população que ficou isolada e agora pena para voltar à vida normal. Como ressaltou o colunista de Oeste Dagomir Marquezi, “quem não escapou da covid quase morreu de medo”.

Mesmo com o avanço da vacinação e os números da pandemia em queda livre, a volta à rotina gera medo, ansiedade e falta de ar em quem não se sente preparado para o retorno. No exterior, ganhou até um nome pomposo — Forto (“fear of returning to the office”, ou “medo de voltar ao escritório”). Se há uma parcela da população com problemas reais de saúde mental, há outro tanto que simplesmente se acomodou com a vida caseira e desenvolveu uma forma de preguiça social. São os fanáticos pelo lockdown.

A principal estratégia dos gestores da covid baseou-se em provar que o confinamento da população iria deter o coronavírus

“No contexto da pandemia, as pessoas que se isolaram desde o início ainda têm se mantido seguras num comportamento de retroalimentação” — explica o doutor em psicologia pela PUC-Campinas Luiz Ricardo Gonzaga. “Ou seja, quanto mais elas se isolam, mais o comportamento delas se mantém.” Para uma minoria que pode fazer o isolamento caviar, regado a comida por delivery, compras on-line e home office, a vida durante a pandemia não foi um fardo. Mas tudo cobra seu preço, mesmo entre os mais privilegiados.

A especialista em inteligência emocional Gisele Finardi orientou um grupo de empreendedoras para dar apoio durante a pandemia. “Muitas mulheres ficavam de pijama o dia todo e se queixavam de desânimo, apatia e baixa produtividade”, conta a psicóloga. “Ao ficar em casa, é como se as pessoas parassem de ter regras de horário, de compromisso. Os dias da semana passaram a ser domingo e a produtividade consequentemente baixou. Quando estou de pijama, o que meu cérebro recebe de informação? Descanso. Ele não quer trabalhar.”

Sair desse looping vicioso em que alguns se meteram vai ser desafiador, mas fundamental para voltar à ativa. A principal estratégia dos gestores da covid baseou-se em provar que o confinamento da população iria deter o coronavírus. Não funcionou. Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Alemanha mostrou que é possível manter a epidemia sob controle com estratégia, e não pela imposição de lockdowns sem respaldo científico.

Medidas como a realização de testes diagnósticos regulares, o rastreamento de contatos e políticas para isolar os infectados já se mostraram eficazes para conter o vírus em países asiáticos, como a China e a Coreia do Sul. O Brasil poderia ter aprendido com a experiência de outras nações. Mas aceitar essa linha da ciência seria admitir o erro de centenas de políticos que trancafiaram as pessoas em casa e estrangularam a economia como se essa fosse a única salvação para a crise.

A covid-19 continua ativa, é perigosa, e as medidas para evitar a contaminação devem ser levadas a sério. Mas quase dois anos depois, as justificativas da turma do #fiqueemcasa estão rareando. Se a tendência de queda nos números da covid se mantiver nos próximos meses, vai ficar cada vez mais difícil arrumar uma desculpa para não voltar ao convívio social.

Ao digitar a frase “quando a pandemia vai acabar”, o Google oferece quase 57 milhões de ocorrências. É sinal de que há interessados no tema. A pandemia criou labirintos, é fato. Mas, enquanto muita gente está em busca de saída, há aqueles que não pretendem procurá-la tão cedo.

Carta ao Leitor - Revista Oeste


terça-feira, 31 de agosto de 2021

Calmaria - Alon Feuerwerker

Análise Política

Os números brasileiros da Covid-19 apresentam queda consistente há semanas (leia).  
Fato certamente influenciado pelo ritmo da vacinação. 
Verdade que a aplicação da segunda dose cobre apenas uns 30% da população, mas a primeira já atinge o dobro disso.  
Junto com a imunização natural, provocada pelo próprio vírus, [queiram ou não, gostem, ou desgostem,  o nosso presidente sempre agiu corretamente quando se referiu à imunidade de rebanho, um sinônimo de  = imunidade coletiva = imunidade natural. 
As vacinas são e sempre serão intensificadores da imunidade coletiva. 
Aliás, quase sempre o presidente está certo no conteúdo do que fala, o que complica, e muito, é a forma que como fala e a narrativa que amplia eventual conteúdo negativo do que a maior autoridade da nação diz.] as vacinas estão ajudando o Brasil a superar a segunda onda da epidemia aqui.

Qual a dúvida? Se a chamada variante Delta, identificada inicialmente na Índia, vai impulsionar no país novas ondas de casos e mortes, a exemplo do que vem acontecendo em outros países, mesmo nos quais a empuxo inicial da vacinação foi bastante agressivo. Os casos mais noticiados são Estados Unidos e Israel. [não podemos esquecer a variante Ibaneis - que se destaca por desorganizar o esquema de vacinação no DF; 
ora ele estoca vacina, outras vezes adianta uma dose, a mais recente proeza é a de agora = prioridade para os menores de 18 anos (mesmo só sendo aplicável a eles um imunizante) e para a segunda dose - esqueceram de avisar para o ilustre governador que a segunda dose tem que ser antecedida pela primeira.
Outra proeza é a troca de secretário de Saúde - quatro em menos de uma semana.

O Brasil está mais defendido da Delta pelo avanço da vacinação (e da contaminação) ou apenas está atrasado para a chegada da terceira onda? Só os fatos vão responder. A calmaria (apesar do número de mortes ainda insuportavelmente alto) veio para ficar ou será como nos tsunamis, quando o mar recua apenas para antecipar a chegada da vaga destrutiva? 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

 

domingo, 6 de setembro de 2020

Gamaleya - Alon Feuerwerker

Análise Política


A gritaria segue, mas a caravana continua passando. Tem a turma que é contra vacinas. E tem o pessoal que é contra vacinas de países ideológica ou geopoliticamente “suspeitos”.

Ao fim e ao cabo, tiradas as operações de contra-informação motivadas por interesses comerciais, a disputa é mesmo entre a luz e as trevas. E tem a falsa oposição entre direitos individuais e coletivos. Ora, vacinação em massa não é para proteger apenas os indivíduos que se vacinam, mas o conjunto da população.

Vacinação coletiva tem o objetivo de produzir imunidade coletiva, algo só alcançado quando um certo percentual da coletividade se protege com a vacina. E parabéns ao Instituto Gamaleya (conheça), cuja vacina Sputnik 5 vem passando nos testes mais complicados.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político