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sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Eleição confirma: o próximo presidente [= Bolsonaro = conservador] vai governar um Brasil conservador

Os governadores reeleitos e a nova composição do Congresso mostram que o pêndulo ideológico do país oscilou para a direita

Em um olhar mais superficial, o resultado da votação de 2 de outubro é muito parecido com o de quatro anos atrás, quando foram para o segundo turno dois candidatos — Jair Bolsonaro e Fernando Haddadalimentados pela força do antipetismo e pela polarização política. A mensagem emitida pelas urnas agora, no entanto, é muito mais profunda e complexa, e vai além da escolha entre Lula e Bolsonaro. Ganhe quem ganhar, o novo presidente governará um país, a partir de janeiro de 2023, em que os conservadores fincaram sua bandeira não só na Praça dos Três Poderes, mas na própria sociedade. Os eleitores mostraram claramente que o pêndulo ideológico, por muito tempo estacionado entre o centro e a esquerda, mudou e oscilou para a direita.

Não foi exatamente uma virada inesperada. O conservadorismo estava latente na alma nacional, mas de forma envergonhada, disfarçado sob a fachada centrista. Não mais. Empurrada por uma série de fatores tanto no cenário doméstico quanto soprados por ventos internacionais, uma multidão de brasileiros postou-se sem filtros à direita do espectro político. “O conservadorismo saiu do armário”, resume a cientista política Camila Rocha, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Conservadorismo

Moldada sobre três bases a católica, a escravagista e a latifundiária —, tripé exposto com genialidade em Casa-Grande & Senzala, livro do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987), a identidade nacional nasceu e cresceu conservadora, cimentada em preceitos religiosos e morais escorados na tradição. A efervescência social associada ao fim da ditadura militar chacoalhou esse estado de coisas — os anos de chumbo foram sepultados por um ambiente progressista como nunca se vira antes, cristalizado na Constituição de 1988, plural e inclusiva. Os conservadores ou se calavam, ou caíam na trincheira da radicalização e eram ridicularizados condição que Bolsonaro, histriônico e boquirroto como parlamentar, conhece muito bem. 
Esse grupo tradicionalista foi remoendo sua insatisfação, alimentada pelos governos reformistas do PSDB e, principalmente, do PT.
 A Operação Lava-Jato serviu de gatilho para a explosão do descontentamento em protestos, já embalados em amarelo, em 2013 e nos meses que antecederam a queda do governo de Dilma Rousseff.

A direita brasileira mais aguerrida, empunhando a bandeira anticorrupção (que não era só dela, mas da qual se apoderou) e impulsionada pela ascensão do nacionalismo radical na Europa e nos Estados Unidos de Trump, em 2017, subiu no palanque e chegou ao poder. Seguiu-se então uma sequência de tropeços e equívocos embalados por um discurso de ódio associado ao negacionismo, atalho para se imaginar que fracassaria na arena política. Ao contrário, os conservadores ganharam tração, expressada na reeleição de nove governadores bolsonaristas no primeiro turno e, mais significativo ainda, na ocupação de quase todas as vagas para o Senado. “Começamos há vinte anos, fazendo reuniões com não mais que trinta pessoas, passando nossos valores adiante”, diz o pastor evangélico Magno Malta (PL), senador eleito pelo Espírito Santo e um dos pilares da muralha conservadora no Congresso.

EMPURRÃO - Manifestação contra o aborto: a onda direitista encampou a rejeição à liberalização dos costumes -
EMPURRÃO - Manifestação contra o aborto: a onda direitista encampou a rejeição à liberalização dos costumes – Sergio Lima/Poder360/.
No caldeirão conservador, o guisado temperado pelo antipetismo foi engrossado pela rejeição ao aborto, aos direitos dos homossexuais, à liberação das drogas e a outras pautas progressistas vistas como um desrespeito aos valores tradicionais
Direitistas extremados sempre foram contra tudo isso, mas agora se sentem à vontade para expor sua opinião na mesa do bar, no jantar em família, na reunião de negócios e, claro, no Congresso. “Antagonizar os progressistas é minha guerra genuína”, avisa, na ágora das redes sociais, Nikolas Ferreira, 26 anos, deputado federal mais votado do Brasil (1,5 milhão de votos). Vereador por Belo Horizonte, ele começou a carreira de influenciador fazendo palestras para grupos de jovens em igrejas evangélicas e batendo numa única tecla: o objetivo da esquerda é destruir a família e a tradição.

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UM VOTO DE FÉ - Aos 42 anos, Eliane Hauer, estudante de teologia e evangélica, nunca deu bola para política, até que viu avançar uma agenda progressista, que ela repudia. “Se dormirmos no ponto, os banheiros serão unissex e vão ficar abordando sexo nas escolas”, teme. -
UM VOTO DE FÉ – Aos 42 anos, Eliane Hauer, estudante de teologia e evangélica, nunca deu bola para política, até que viu avançar uma agenda progressista, que ela repudia. “Se dormirmos no ponto, os banheiros serão unissex e vão ficar abordando sexo nas escolas”, teme. – Guilherme Pupo/.
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Comprovando o tamanho de seu impacto nestas eleições, a questão religiosa foi a primeira a pipocar quando se definiram os candidatos ao Planalto no segundo turno. Mal fechadas as urnas, grupos bolsonaristas difundiram um vídeo que associava Lula ao satanismo.

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Durante a pandemia, a negação da ciência se manifestou, disfarçada de liberdade individual, na forma de minimização do perigo e inaceitáveis campanhas antivacina. O pretexto de levar o progresso a áreas atrasadas serviu para “passar a boiada” sobre os marcos regulatórios e leis de preservação da Amazônia. Os dois ex-ministros de Bolsonaro responsáveis por essas aberrações, Eduardo Pazuello, da Saúde, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente, se elegeram deputados federais e levam sua postura nociva para o Congresso. [em que pese a alegada e infundada nocividade ambos foram eleitos e Pauzuello, malhado pela CPI = Circo da Covid-19, foi o mais votado do Rio.]“O que vemos agora no Brasil está mais para reacionarismo do que para conservadorismo, um movimento de transformação estrutural que invalida avanços da democracia e glorifica o passado”, diz o cientista político Pedro Castelo Branco, professor da UERJ.

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A identificação da população brasileira com a direita mais do que triplicou entre 2010 e 2020, segundo o Latino barômetro, pesquisa anual de opinião pública realizada em dezoito países da América Latina. No mesmo período, a afinidade dos eleitores com partidos liberais, cristãos e nacionalistas se ampliou mais de cinco vezes. Em pesquisa recente do Datafolha, um terço dos brasileiros declara-se de direita. Mas a realidade das urnas mostra que a corrente conservadora arrasta uma legião de direitistas enrustidos. “Há uma vergonha no brasileiro em se dizer de direita, palavra vinculada à ditadura e ao autoritarismo, e as pessoas acabam se definindo de centro”, afirma o cientista político Guilherme Casarões.

Damares Alves
Damares Alves – Ton Molina/Fotoarena/.

Damares Alves
Senadora (Republicanos-DF)
714 562 votos
Posição: como ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, martelou uma pauta de costumes antiaborto, contra o casamento gay e a legalização das drogas — bandeiras que pretende agitar no Congresso.

Eduardo Pazuello
Eduardo Pazuello – @generalpazuello.oficial/Facebook

Eduardo Pazuello
Deputado Federal (PL-RJ)
205 324 votos
Posição: o ex-ministro da Saúde deu as costas à ciência quando a pandemia revelava sua face mortal, minimizando os efeitos da vacina, que custou a comprar, e defendendo o inócuo “tratamento precoce”.

Ricardo Salles
Ricardo Salles – @ricardosallesmma/Instagram

Ricardo Salles
Deputado Federal (PL-SP)
640 918 votos
Posição: o ex-ministro bateu na tecla de menos regras e mais flexibilização na área ambiental enquanto, sob sua gestão, o desmatamento na Amazônia registrava o maior índice em uma década.

Nikolas Ferreira
Nikolas Ferreira – @nikolasferreiradm/Facebook

Nikolas Ferreira
Deputado Federal (PL-https://veja.abril.com.br/politica/eleicao-confirma-o-proximo-presidente-vai-governar-um-brasil-conservador/MG)
1,5 milhão de votos
Posição: o influencer, de 26 anos, o mais votado no país para a Câmara Federal, diz que antagonizar com a esquerda é sua “guerra genuína” e acredita que cristianismo e política devem caminhar juntos.

Publicado em VEJA,  edição nº 2810,  de 12 de outubro de 2022

Política - Revista VEJA - MATÉRIA COMPLETA 

domingo, 17 de novembro de 2019

Por que tanto atraso? - Nas entrelinhas

“Na República, a constituição de empresas não dependia mais do governo, e sim da vontade dos empreendedores. Era uma revolução e o Brasil integrava-se à economia internacional”


Um comentário no Twitter do ministro da Educação, Abraham Weintraub, nos leva à indagação que intitula a coluna: “Não estou defendendo que voltemos à Monarquia mas… O que diabos estamos comemorando hoje? Há 130 anos foi cometida uma infâmia contra um patriota, honesto, iluminado, considerado um dos melhores gestores e governantes da História (Não estou restringindo a afirmação ao Brasil)”, disse o ministro, na sexta-feira, em meio a comemorações dos 130 anos da proclamação da República. Referia-se, obviamente, a D. Pedro II, que governou o país de 1840 a 1889.

A breve intervenção do ministro, que gerou muita polêmica nas redes sociais, revela muita coisa, a começar por um natural desconhecimento sobre a História do Brasil, sobretudo no Império, que sempre foi muito pouco estudado no ensino médio e nos cursinhos para vestibular. Em segundo lugar, indica uma nostalgia bem característica do pensamento reacionário, como já tivemos oportunidade de tratar por aqui. Em parte, isso acontece porque, para consolidar a República, nossos militares e políticos, impregnados de positivismo, tentaram passar uma borracha na história anterior ao15 de novembro de 1889. Diga-se de passagem, para alegria de uma elite latifundiária, patrimonialista e racista, que nunca admitiu a devida reparação aos ex-escravos e seus descendentes; muito pelo contrário, lutou para manter privilégios e obter indenizações, já que considerava o escravo uma propriedade privada, assegurada pela Constituição liberal de 1824, outorgada por D. Pedro I.

Ao contrário de todos os demais países do Novo Mundo, com exceção do Canadá e das Guianas, em 1922, o Brasil não se tornou uma república ao se tornar independente. Não foi apenas uma esperteza de D. João VI, que recomendou a iniciativa ao filho, se a ruptura com a Corte portuguesa fosse inevitável. Havia ali um projeto de reunificação do império colonial português, pois o príncipe D. Pedro I era herdeiro da casa de Bragança, e a intenção de manter o regime escravocrata (daí a tentativa, frustrada pelos ingleses, de anexar Angola para garantir o tráfico negreiro e dar a ele um caráter doméstico), com a qual conciliou José Bonifácio, patriota verdadeiro, mas monarquista convicto, traumatizado pelas revoluções europeias e a revolta dos escravos no Haiti.

Estagnação
No livro História da Riqueza no Brasil, Cinco Séculos de Pessoas, Costumes e Governos (Estação Brasil), o jornalista e sociólogo Jorge Caldeira, utilizando recursos de pesquisas como a antropologia e a econometria, lança luz sobre a estagnação econômica no período em que D. Pedro II governou o Brasil: “Com a acumulação dos dados, ficou cada vez mais evidente que, no final do século 18, a economia colonial brasileira era pujante, e pujante em decorrência do crescimento do seu mercado interno. Mais ainda, era uma economia bem maior que a da metrópole.”

Ao comparar dados do Brasil e de outros países, como os Estados Unidos, Caldeira mostra que foi exatamente aí que perdemos o bonde da história pela primeira vez (houve outras). Por volta de 1800, a economia brasileira tinha porte equivalente à dos EUA. Ao fim do período imperial, nos últimos anos do século 19, o peso econômico do país representava menos de 10% do ostentado pelos americanos. A economia brasileira era provavelmente maior que a dos Estados Unidos na primeira metade do século 19. As duas economias tinham exportações de valor semelhante (em torno de 4 milhões de libras esterlinas anuais), mas o mercado interno brasileiro ocupava uma área bem mais extensa e com atividades mais variadas que as 13 colônias originais.

A economia brasileira “teve uma expansão notável ao longo do século 18”, nos mostra Caldeira: “O ritmo de crescimento da produção econômica passa de 0,5% para nada menos de 1,5% ao ano, enquanto o crescimento populacional vai de 0,4% para 0,6%. O crescimento da renda per capita” salta de 0,1% para 0,9% anuais. No período que vai de 1820 a 1900, “a renda per capita do Brasil era de 670 dólares em 1820 — de 704 dólares no final do século. O crescimento teria sido de míseros 5% em um gigantesco período de 80 anos”. A economia local regrediu. A chave da estagnação foi a política monetária, focada nas exportações, e manutenção da escravidão, cujas sequelas estão presentes até hoje na sociedade brasileira, entre as quais a discriminação racial, os preconceitos e a profunda desigualdade.

Mas, entre 1906 e 1918, ou seja, após a proclamação da República, o Brasil volta a crescer de maneira vertiginosa. Durante a valorização [do café] a economia brasileira experimentou pela primeira vez uma taxa de crescimento real per capita superior à dos Estados Unidos. A taxa foi provavelmente maior que 2% ao ano. A economia cresceu rapidamente. Na República, a constituição de empresas não dependia mais do governo, e sim da vontade dos empreendedores. Era uma revolução e o Brasil integrava-se à economia internacional. O Estado finalmente liberava o mercado, o que levou ao crescimento econômico. Tratar a República Velha como um período de atraso é um equívoco, não resiste aos dados estatísticos comparativos; o que envelheceu foram certas análises sobre a formação econômica do Brasil. O Império, com suas restrições à iniciativa privada, travou parte da expansão econômica.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense