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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

A bomba de Israel saiu do armário - Elio Gaspari

Numa breve entrevista a uma rádio israelense, o ministro Amichai Eliyahu, encarregado dos assuntos de Jerusalém, disse que jogar uma bomba atômica na Faixa de Gaza é “um caminho”.  
Foi logo suspenso pelo primeiro-ministro Netanyahu, e o líder da oposição, Yair Lapid, pediu sua demissão. 
Eliyahu explicou que falou na bomba “metaforicamente”. 
Tudo bem, mas falou. Jogar uma bomba atômica em Gaza seria maluquice, mas Eliyahu tirou do armário o poderio nuclear israelense.

Para sair da teoria e das metáforas, hoje, num cenário de envolvimento do Irã na guerra, o quadro seria outro, e todos os envolvidos no conflito sabem disso.

Desde as explosões de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, militares e civis já cogitaram o uso de artefatos nucleares em campos de batalha. 
Entre 1950 e 1968, três presidentes americanos (Harry Truman, Dwight Eisenhower e Lyndon Johnson) recusaram pelo menos uma dúzia de pedidos para lançar bombas na Coreia, na China e no Vietnã.

Nessa época, um jovem professor americano chamado Henry Kissinger despontava com um livro em que discutia o uso de artefatos nucleares com baixo teor explosivo, como armas táticas.

Pelo lado de Israel, construiu-se uma história de clarividência, tenacidade e astúcia diplomática
David Ben-Gurion começou a tratar da bomba em 1945, logo depois da explosão de Hiroshima. 
Ele era um líder sionista na Palestina, e o Estado de Israel era apenas uma ideia. 
Seu interlocutor era um jovem cientista que fazia explosivos para combatentes da Haganá.

Em abril de 1948, um mês antes da criação de Israel, Ben-Gurion começou a recrutar cientistas. Anos depois, aos 29 anos, Shimon Peres tornou-se diretor do Ministério da Defesa. Ele começaria as conversas com a França para a construção de um pequeno reator em Israel. Ben-Gurion seria claro: — Eu quero a opção nuclear.

Em 1957, Peres fechou o acordo para a construção do reator em Dimona, no Deserto do Negev. Os Estados Unidos desconfiaram desse reator desde a primeira hora. Em segredo, Israel construiu uma usina subterrânea para o reprocessamento do plutônio usado no reator. 
Sete inspeções de cientistas e diplomatas americanos não suspeitaram (ou não quiseram suspeitar) de sua existência.
 
Em 1967, Israel já tinha dois artefatos. Hoje teria entre 60 e 400.  
Seu uso foi chamado pelo primeiro-ministro Levi Eshkol de “opção de Sansão”, aquele que destruiu o templo dos filisteus. 
Ao contrário da Índia, do Paquistão e da Coreia do Norte, Israel nega que tenha as bombas. (Em 1969, o presidente Nixon perguntou a Golda Meir se ela tinha “coisas perigosas”, e ela respondeu que tinha. Quando Golda ia saindo do encontro, ele lhe disse: “Tome cuidado”.)

Por décadas, Israel produziu e estocou artefatos nucleares. Seus desmentidos preservam um segredo de polichinelo. Os inimigos de Israel cultivam uma ilusão, de que um país se deixará destruir sem usar todas as armas de que dispõe. Amichai Eliyahu pode ser um radical aloprado, mas sua “metáfora” reflete a realidade.

Tirando as bombas do armário, ele colocou a discussão da guerra no seu devido patamar. Uma coisa são as operações contra o Hamas em Gaza. Bem outra seria uma expansão da guerra, com uma possível entrada do Irã no conflito. Nesse caso, o risco é outro.

Elio Gaspari, colunista - O Globo


domingo, 9 de janeiro de 2022

O lavajatismo contamina a eleição ( Márcio França seu alvo mais recente) Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Márcio França, ex-governador de São Paulo que tenta voltar ao cargo, é a vítima mais recente da espetacularização do combate à corrupção

Márcio França, que governou São Paulo em 2018 e é candidato ao cargo, foi a última vítima do lavajatismo, a variante espetaculosa e instrumental das iniciativas que combatem a corrupção na administração pública.

A Polícia Civil de São Paulo, autorizada pela Justiça, cumpriu mandados de busca e apreensão em 34 endereços de pelo menos seis cidades do estado. Alguns deles estavam “ligados” a França. O que significa “ligado”, não se sabe. A investigação, que corre em segredo de Justiça, seguiu a regra básica do lavajatismo, com vazamentos dosados e temperados com uma cifra: os acusados estavam metidos em operações que lesaram a Viúva em cerca de R$ 500 milhões, numa estimativa de dezembro, feita pela Corregedoria-Geral da Administração. (Isso tudo nos dias em que lembrou-se o primeiro aniversário da invasão do Capitólio, em Washington. De lá para cá, o Federal Bureau of Investigation prendeu centenas de pessoas sem espetáculo algum.)

A blitz foi um prolongamento da Operação Raio-X, iniciada em 2020. Ela investiga roubalheiras de Organizações Sociais metidas na rede de saúde, com suas conexões políticas. Serviço bem feito, ela operou sem espetáculos, cumpriu 327 mandados de busca, prendeu 64 pessoas, levou o Ministério Público a denunciar mais de 70 e permitiu a condenação de pelo menos 15 pessoas, uma delas a 104 anos de prisão. Tudo isso sem espetáculo, monitorando os investigados que destruíam documentos.

Até os esparadrapos dos hospitais sabem como funcionam, em vários estados, algumas dessas organizações sociais, às vezes com nomes de santos. No Rio, o ex-governador Wilson Witzel levantou o tema, mas teve pouca atenção. O lavajatismo poluiu a Operação Raio-X valendo-se de uma velha receita. Pega-se uma roubalheira documentada, cria-se o enredo da busca e apreensão, divulga-se uma cifra, e nesse guisado entra o nome de um político. No caso, entrou na roda Márcio França. Como governador, dias antes de deixar o cargo, ele aliviou o acusado que mais tarde veio a receber a condenação centenária. Para a polícia, surgiram “indícios veementes de um forte vínculo entre os dois”. Em dezembro, a polícia apresentou à Justiça um documento reservado de 212 páginas pedindo os mandados de busca. França é o principal personagem em mais de 50 dessas páginas. Cabe à Justiça decidir o valor dessas acusações. Fora daí, é lavajatismo.

Desde abril do ano passado, o Ministério Público paulista investiga, sem teatro, um irmão do governador. Ele tem empresas na rede de prestação de serviços de saúde e foi grampeado em diálogos impróprios, “estarrecedores”, na palavra da polícia. Esse foi o jogo jogado de uma operação bem-sucedida.

O lavajatismo é a doença senil do combate à corrupção e contaminou as atividades da República de Curitiba. Ela conseguiu 174 condenações, detonou o maior esquema de corrupção já descoberto na República. Foi manchada pela instrumentalização política e pela espetacularização de suas atividades. Graças às investigações da Operação Raio-X, na primeira quinzena de dezembro a Justiça de Penápolis (SP) condenou 12 pessoas, entre elas o ex-secretário de Saúde do município a 21 anos de cadeia.

Serviço bem feito não precisa de coreografia. Num ano de eleições, será forte a tentação para instrumentalizar ações policiais. Elas acabam viciando a boa causa.

França com o cajado
Em 2018, quando governava São Paulo, o doutor Márcio França ensinou:“As pessoas têm que entender que a farda deles (PMs) é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. 
Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. 
É assim que tem que ser”.

Passado o tempo, encrencado com a Polícia Civil, França talvez tenha

Johnson sabia tudo
Lyndon Johnson, presidente dos Estados Unidos de 1963 a 1969, foi um dos políticos mais espertos de seu tempo. Aqui vai uma de suas histórias preferidas:
Numa pequena cidade do Texas, o candidato a prefeito procura um amigo, diretor do jornal e, às vésperas da eleição, pede-lhe que publique a notícia de que seu rival foi visto mantendo relações sexuais com um animal. Ele vai desmentir, diz o dono do jornal.
É exatamente isso que eu quero, responde o candidato.

O médico avisou
O médico Antônio Luiz Macedo recomendou ao paciente Jair Bolsonaro que caminhe mais e mastigue melhor. A ver.

Em setembro de 1982, o cardiologista americano que acompanhava a saúde do presidente João Figueiredo escreveu-lhe: “O senhor pode estar cavando sua sepultura com o talher”.

Figueiredo não tomou jeito, e dez meses depois estava no centro cirúrgico de Cleveland, onde puseram-lhe uma ponte de safena e uma mamária.

Ele só foi para a sepultura em 1999, aos 81 anos.
 
(...)

[um alerta: alguns jornais que integram a mídia militante começam a divulgar matérias sobre suposta emenda buscando revogar a reeleição. 
Trata-se apenas de um, 'balão de ensaio' dos inimigos do Brasil que, desesperados pelo FATO  de Bolsonaro só não vencer a reeleição em 2022, se for proibido de concorrer = acabar com a reeleição = buscam sondar as chances que possuem de acabar com o instituto da reeleição.
Considerando que Bolsonaro só perde a eleição de 2022 nas pesquisas dos 'datas' qualquer coisa, sugerimos a tais pessoas que voltem a investir no impeachment do capitão = vão perder de qualquer maneira, assim é melhor e menos complicado investir na derrota que já está na quadra final.] 
 
MATÉRIA COMPLETA - Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista



domingo, 31 de outubro de 2021

Moraes chegará à presidência do TSE com estrela de xerife no peito - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Pontes não é burro
O ministro Marcos Pontes, da Tecnologia, levou na esportiva o fato de seu colega Paulo Guedes tê-lo chamado de “burro”.  Ex-aluno do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e coronel da reserva da FAB, é provável que burro ele não seja. [temos que concordar que Pontes não é burro. Afinal, conseguiu ser astronauta, sendo que até hoje não se sabe as razões do feito e o único resultado é que a FAB nada ganhou, menos ainda o Brasil.] 
 
Em abril do ano passado o doutor anunciou a descoberta de dois remédios com 94% de eficácia contra o coronavírus: — No máximo na metade de maio, um momento crítico, nós teremos aqui uma solução de um tratamento.

Pontes não é burro, acha que os outros são.
 
Esteves errou a conta
O banqueiro André Esteves lida com números. Noves fora outras impropriedades cometidas em sua fala aos clientes do BTG, ele disse que “no dia 31 de março de 1964 não teve nenhum tiro, ninguém foi preso, as crianças foram para escola, o mercado funcionou.”

O dia 31 de março, quando o general Olímpio Mourão Filho se rebelou em Juiz de Fora, foi relativamente normal, com umas poucas prisões. Como disse o marechal Cordeiro de Farias, “o Exército dormiu janguista”. Cordeiro, um revoltoso desde 1924, foi um patriarca das conspirações do século passado e sabia o que aconteceu naquelas horas. No dia seguinte, acrescentou o marechal, o Exército “acordou revolucionário”. Foram presas centenas de pessoas, entre as quais o governador Miguel Arraes, de Pernambuco, mandado para Fernando de Noronha. Estádios e navios foram usados como cadeias. [as prisões foram necessárias e oportunas; tomando como exemplo o preso citado na matéria, governava um estado que sediava as 'ligas camponesas', lideradas por Francisco Julião.]

Mais: no dia 1º de abril morreram sete pessoas.

Para os padrões, foi um golpe incruento mas, como lembrou a Central Intelligence Agency ao presidente Lyndon Johnson na manhã de 7 de abril: “Cresce o medo, não só no Congresso, mas mesmo entre aliados da revolta, que a revolução tenha gerado um monstro.”


O aviso do xerife de 2022
Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro

Um ano antes do pleito de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral escreveu uma boa página de sua história. [Livrou a chapa de Jair Bolsonaro da cassação*] e avisou aos interessados que se repetirem o golpe das notícias falsas e das milícias eletrônicas, pagarão pelos seus delitos. Nas palavras do ministro Alexandre de Moraes, que presidirá a Corte em 2020: “Irão para a cadeia”.

A decisão unânime do TSE acompanhou o voto de 51 páginas do corregedor Luiz Felipe Salomão. No ambiente envenenado da política nacional, Salomão apresentou uma peça redonda e cirúrgica na demonstração das malfeitorias cometidas e equilibrada na conclusão de que [*faltaram provas e as impressões digitais necessárias para justificar a cassação de uma chapa três anos depois de sua posse.] O magistrado mostrou a letalidade do vírus e abriu o caminho para a advertência de Moraes.

Passados três anos do festival de patranhas de 20018, Alexandre de Moraes chegará à presidência do TSE em agosto, com a estrela de xerife no peito. Salomão fez sua carreira na magistratura; Moraes, no Ministério Público, com uma passagem pela Secretaria de Segurança de São Paulo. Além disso, na condução do inquérito das notícias falsas conhece as obras e pompas das milícias eletrônicas e mostrou-se rápido no gatilho ao mandar delinquentes para a cadeia. Zé Trovão, o caminhoneiro foragido, decidiu entregar-se à Polícia Federal. Na estrela de xerife de Moraes brilha o destempero com que Jair Bolsonaro investiu contra ele, chamando-o de “canalha”.

Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro. Salomão, por seu turno, já firmou a jurisprudência que congela os recursos que as alimentam. As conexões internacionais dessas milícias, um fato que há três anos estavam no campo da ficção cibernética, hoje estão mapeadas. Se há um ano elas tinham o beneplácito do governo americano, hoje têm o FBI no seu encalço,

Com Moraes na presidência do TSE é possível prever que entre o início dos disparos propagadores de mentiras e a chegada dos responsáveis à carceragem passarão apenas dias ou, no máximo, poucas semanas. Basta ler o voto de Salomão e acompanhar as decisões de Moraes para se perceber que os reis das patranhas de 20018 são hoje sócios de colônias de nudismo. [os brasileiros que são realmente democratas e que não atacam a democracia sob o pretexto de preservá-la, consideram:
- em 2022, Bolsonaro terá mais de 90.000.000 de votos.
Para tanto, esperam e confiam que eventuais prisões sejam realizadas com estrita observância do texto da legislação vigente e não fundamentas em interpretações da mesma legislação.
Que as prisões não impeçam os eleitores de exercerem o constitucional DIREITO DE VOTAR,  inerente a todos os cidadãos brasileiros.]

(........)
 
Elio Gaspari, colunista - Folha de S. Paulo - O Globo - MATÉRIA COMPLETA

terça-feira, 14 de abril de 2020

Mourão: "Mandetta cruzou a linha da bola e fez falta grave" - Correio Braziliense

O general afirma que o ministro da Saúde não precisava ter dito algumas coisas, mas opina que o presidente Jair Bolsonaro não deve trocá-lo agora

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, disse, nesta terça-feira (14/4) que o novo coronavírus está sendo politizado no Brasil, fruto da polarização, mas que isso também ocorre em outros países. Em videoconferência, afirmou que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “cruzou a linha da bola”, cometendo uma falta grave (no pólo, jogo praticado pelo vice-presidente) durante a entrevista que concedeu no domingo, quando disse queo povo não sabe se escuta o presidente Jair Bolsonaro ou o ministro da Saúde”. “Ele não precisava ter dito algumas coisas”, destacou. No entanto, Mourão opinou que ele não deve sair. “Existe muita especulação e o presidente não deve trocar o ministro agora”, disse.

O general rechaçou que a ala militar tenha tido influência na manutenção de Mandetta no cargo. “Tem sido nossa grande preocupação separar as Forças Armadas dos elementos militares que fazem parte do governo. Nenhum comandante fica dando apoio expresso ao governo, porém cumpre sua missão, como irá cumprir com relação a qualquer governo”, destacou. “Ala militar foi um figura militar criada por parte da imprensa. O que existe são ministros militares. O general Heleno, do GSI, ocupa um cargo tradicional do Exército. Então, no Planalto, tem mais dois ali onde não havia militares e eu, que fui eleito junto com o presidente. No caso do ministro Mandetta, está sendo considerado muito bom, agora, então, capitaneado pelo ministro Braga Netto (Casa Civil), porque precisa de um coordenador. A questão envolve vários ministérios, Cidadania, Relações Exteriores”, disse.

“Não será favorável nessa hora (a troca). Avaliando a situação e o trabalho do Mandetta cabe muito mais uma conversa, chamar e acertar a passada, e discutir intramuros e não via imprensa. Eu não estava na conversa que tiveram (Bolsonaro e Mandetta) na semana passada. Todo mundo diz que existe um anão embaixo da mesa do presidente. Então, a não ser o anão tenha ouvido alguma coisa…”, brincou. Mourão, entretanto, negou que tenha havido entrevero na reunião ministerial da semana passada. “Ele abriu a reunião em relação a todo o ministério, sobre a necessidade para uma maior coordenação. Quando chegou a hora do Mandetta falar, ele apresentou suas ponderações sobre a situação, a coisa transcorreu num nível de serenidade e lealdade. Não houve essa briga.”

[FORA DO TEMA, mas oportuno.........

"A Justiça e a contaminação de banditismo em meio ao coronavírus"

CNJ e a contaminação de bandidolatria

CNJ legislou ao promover mudança constitucional - mais grave: em CLÁUSULA PÉTREA.
Mortes causadas pela infestação de bandidos gerada pela Justiça

Gazeta do Povo - Vozes

Isolamento
Ao ser questionado sobre qual forma de isolamento acha melhor, se a horizontal, proposta por Mandetta, ou a vertical, defendida pelo presidente, Mourão respondeu que prefere o isolamento inteligente. “A realidade é que temos que buscar os dados concretos para conhecer a real situação que está sendo enfrentada. Na minha opinião, o que está ocorrendo, apesar de não termos exata dimensão por falta de testes, é que a curva vem sendo controlada e colocada de forma amena para realidade do nosso país”, destacou.

“Para buscar um isolamento inteligente, precisamos ter uma testagem maior a fim de definir grupos onde há risco ou onde é menor. O presidente tem chamado a atenção para isso, temos que olhar mais para as ações do que as palavras”, sustentou. Segundo Mourão, apenas 500 municípios, de 5,5 mil, têm grande incidência de contaminados. “Poderíamos isolar áreas não contaminadas e elas poderiam operar normalmente. Com medidas mais restritivas nas áreas onde há mais infectados. Essa avaliação ainda não ocorre”, disse.

Defesa
(.....)

Citou o 36º presidente norte-americano, Lyndon Johnson, para justificar algumas atitudes de Bolsonaro. “O vírus está sendo politizado, em outros países e aqui no Brasil, fruto da polarização. Eu não critico governador A ou governador B. Mas Lyndon Johnson, que lutou de todas as formas em passar a legislação específica para cidadania aos negros americanos, disse uma coisa certa: se o homem não pode implementar o que acha correto na presidência para que ser presidente?”.

Mourão defendeu Bolsonaro ao dizer que o presidente mostra, desde o início, uma  preocupação com a população desassistida, àquela em que o Estado tem mais dificuldade de chegar. E criticou as carreatas de domingo. “As pessoas que vão às ruas -- estamos há um mês com a turma confinada -- eu chamo de isolamento zona sul. Pessoal cujo salário não foi afetado e recebe comida por delivery dos melhores restaurantes. Essa turma está incomodada e executou seu direito de se expressar. Mas não foram (carreatas) expressivas. A favela não foi protestar.”

Cloroquina
“Essa questão da cloroquina, eu passei um ano em Angola e tomava semanalmente para evitar malária. Existe parte do grupo médico que considera que ela tem resultado (no grupo dos extremamente graves se salvar a vida de 15% dos que iriam falecer, tem validade). Existe um debate, eu prefiro esperar. Temos a turma que defende que depois do segundo ou terceiro dia já poderia ser usado, mas tem reações no sistema cardíaco. Como não tem um estudo consistente, e estamos no calor da disputa, acontece esse antagonismo em relação ao remédio.”

(.....)

Atraso de salários dos servidoresIndagado se concorda que funcionários públicos devem dar sua cota de sacrifício, com redução salarial, o general disse que essa discussão está dentro da proposta de reforma administrativa. “Estava no forno, previa uma série de medidas para conter o avanço das despesas, o funcionalismo é um dos responsáveis pelo desequilíbrio fiscal”, destacou. Além disso, essa cota estava prevista no Plano Mansueto, que o vice-presidente chamou de Mãesueto. “Mas a Câmara optou por não incluir (o corte nos salários). Poderá ocorrer o que já acontece no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, ou seja, o pagamento será atrasado. Às vezes, é melhor ter um recuo agora para voltar à normalidade daqui a quatro, cinco meses”, afirmou.

Tutela
Mourão negou tutela sobre o presidente. “O que existe é um processo decisório. A situação é estudada por diferentes grupos que definem linhas de ação e tudo é levado ao presidente. Cada grupo vai defender sua linha de ação, mas ele é o decisor de acordo com as observações que foram feitas. Não há tutela e nem insubordinação, que é previsto no código militar, mas não no civil. As nuances, ainda mais na política, são totalmente distintas da caserna.” 

(....)

Vice-presidência 
Mourão afirmou que poderá acompanhar Bolsonaro na reeleição se isso for da vontade do presidente. “Minha relação com o mundo político é de respeito, mesmo discordando das ações de vários, mas isso faz parte da política. Quando terminar esse período, se Bolsonaro me quiser para acompanhá-lo, vou. Mas estarei com quase 70 anos e, se não for, terei tempo para os meus netos.”

Correio Braziliense, MATÉRIA COMPLETA 


domingo, 8 de dezembro de 2019

Um jabuti gigante olhando para Bolsonaro - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo/UOL - O Globo

Irregularidades apontadas pelo CGU em edital de R$ 3 bilhões do Ministério da Educação testa compromisso do presidente com finanças públicas

Licitação de R$ 3 bi da Educação foi cancelada por irregularidades  

[A DIFERENÇA entre o governo do Presidente JAIR BOLSONARO e os que o antecederam é que ocorrem tentativas de fraudes - impossível se evitar, especialmente a médio prazo - mas, logo que um esquema fraudulento é descoberto, é imediatamente desbaratado, cessando a prática criminosa - caso presente; 

- difícil prender todos os envolvidos, pelo simples motivo de que processar criminalmente um ladrão - ou quase ladrão que não cessou de livre e espontânea vontade a prática criminosa, foi compelido a tal - é complicado, por estarmos no Brasil em que colocar um corrupto na cadeia é quase impossível, tem que se mover um processo que pode nunca chegar a um final.  

Mas, no governo BOLSONARO, qualquer denúncia é apurada e os autores punidos com, no mínimo, a perda do cargo - fiquem certos que outras demissões ocorrerão, não pode ir muito rápido, visto o risco dos demitidos recorrerem ao Judiciário e conseguirem sustar o processo por 'falta de provas'.]

Alguém sentiu cheiro de queimado. O presidente do FNDE, nomeado em fevereiro, foi dispensado e seu sucessor, Rodrigo Dias, assumiu no dia 30 de agosto. A 4 de setembro revogou preventivamente o edital.

Entre agosto e as duas primeiras semanas de setembro a Controladoria-Geral da União apontou “inconsistências” no edital. Põe inconsistência nisso. Noves fora que o Ministério da Economia não foi consultado para uma licitação de R$ 3 bilhões, ficando-se só em dois pontos apontados pela CGU, via-se que:
Os 255 alunos da Escola Municipal Laura Queiroz, de Itabirito (MG), receberiam 30 mil laptops (118 para cada um). Poderia ter sido um erro de digitação, mas a CGU mostrou que 355 escolas receberiam mais de um laptop por aluno, e 46 delas, mais de dois. Cada jovem da Chiquita Mendes, de Santa Bárbara do Tugúrio (MG), receberia cinco.

Na outra ponta do negócio, o das empresas que ofereciam equipamentos, a  CGU achou duas, a Daruma (de Taubaté) e a Movplan (de Ribeirão Preto). Ambas mandaram cartas de cinco linhas, com o mesmo fraseado e o mesmo erro de português:
“Sem mais, para o momento, colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessária.”
A Movplan fica em Ribeirão Preto (SP), mas datou sua carta de Taubaté (SP), onde mora a Daruma. [no governo petista um erro desse tipo passava fácil; 
apesar de muitos letrados no governo, eles para não ofenderem a regra petista, se faziam, ainda que inocentes (nem todos) de analfabetos.

A regra do governo petista era:
- presidente além de  semianalfabeto, era filho de mãe que nasceu analfabeta, se orgulhava de nunca ter lido um livro e não ter diploma.
Seu atual diploma é um Alvará, provisório, lhe concedendo, provisoriamente, a condição de ex-presidiário.]

As “inconsistências” apontadas pela CGU foram rebatidas pelo FNDE num documento de 20 páginas. A autorização do Ministério da Economia não seria necessária, não se tratou da coincidência gramatical das duas cartas e a remessa para as escolas de um número de laptops superior ao de alunos seria corrigida. O FNDE alegrou-se, informando que só na escola Laura Queiroz, a Viúva economizaria R$ 54,7 milhões.
O edital foi finalmente revogado pelo FNDE no dia 9 de outubro, data da conclusão do Relatório de Avaliação da CGU. Final feliz, graças à vigilância de competência de um órgão controlador da administração pública.

O que pode parecer um desfecho, deveria funcionar para Bolsonaro como um começo: Como é que esse edital apareceu? Uma despesa de R$ 3 bilhões não é um jabuti qualquer. A burocracia do FNDE blindou-se diante das advertências da CGU. Blindada, continuou depois da posse do novo presidente e da revogação preventiva do edital. Cada ato administrativo praticado nessa novela tem um responsável, ou vários. O mesmo se pode dizer das empresas que foram atraídas (ou fizeram-se atrair) pela bonança do negócio. Os auditores da CGU defenderam a bolsa da Viúva, mas se o caso terminar com a simples revogação do edital e zero a zero, bola ao centro, sem a exposição dos responsáveis, eles estarão enxugando gelo.

Serviço: O relatório da CGU, a réplica do FNDE e a tréplica dos auditores, estão na rede, neste link .
São 66 páginas de textos com algum “juridiquês” e muito “computês”, mas alegrarão quem acredita que há uma banda competente e vigilante no serviço público.

Os lençóis da Casa de Windsor



Numa perfídia dos deuses, enquanto a Netflix mostra mais um episódio de “The Crown”, estão no ar as lambanças do príncipe Andrew, o duque de York, terceiro filho da rainha Elizabeth. É como se a vida real competisse com a ficção mas, olhando-se bem, a história é uma só.  Andrew foi banido da família real porque frequentava a roda de um americano bilionário e cafetão que se matou na cadeia. “The Crown” já sugeriu que a rainha teve um caso com o chefe de suas cavalariças, Lord Porchester, ou “Porchie”. Em 1991 o jornalista Christopher Hitchens escreveu no “New York Times” que, segundo um cronista da família real, basta olhar para uma fotografia de Andrew e outra de “Porchie” para se perceber que dificilmente o príncipe Philip é seu pai. Assim como basta olhar para o cabelo de Harry, para se ver que Charles não foi seu pai. (Coisa que ele teria percebido na maternidade, ao ver o bebê ruivo.)

Na vida real, os lençóis da casa Windsor serviram ao roteiro de “The Crown”: A princesa Anne (filha da rainha) namorou Andrew Parker Bowles, que namorava Camila Shand, cuja avó namorou o avô do príncipe Charles, que ela passou a namorar. Na próxima série Charles vai se casar com Diana, que não havia namorado ninguém, enquanto ele continuou namorando Camila, com quem está casado, e ela foi em frente.

A série que está no ar perdeu a sutileza das anteriores. Numa cama de Tony Armstrong-Jones, futuro marido da princesa Margaret, viram-se cinco pernas. Agora, a senhora (uma jararaca) aparece beijando o presidente americano Lyndon Johnson, coisa que nunca aconteceu. Lord Mountbatten também não foi tão longe na armação do golpe de estado contra o primeiro-ministro Harold Wilson. Apesar do grande desempenho do ator Josh O’Connor, ele está exageradamente abobalhado.

Até o reinado de Elizabeth os Windsor metiam-se em trapalhadas, mas evitavam picaretagens e promiscuidades explícitas como aquelas em que se  meteram Andrew e sua primeira mulher, Sarah Ferguson.
Pelo visto, a próxima série de “The Crown” será animada pela entrada em cena de Diana. Com alguma sorte, poderá mostrar a nobreza dos plebeus. Nenhum dos três namorados de Kate Middleton antes de seu casamento com o príncipe William abriu a boca, e um deles é jornalista.

Na Folha de S. Paulo e em O GLOBO, leia a MATÉRIA COMPLETA - Elio Gaspari, jornalista


domingo, 24 de março de 2019

Está no ar a barafunda Bolsonaro

Presidente superou as marcas de impopularidade de seus antecessores 

[afirmando: quadros adversos podem ser revertidos e os excelentes resultados costumam surpreender - o atual presidente da República Federativa do Brasil (milhões odeiam essa afirmativa) vai fazer um bom Governo e será reeleito.

Clique aqui para vídeo esclarecedor do Plano B.

Governo enriquece Lei de Murphy: se algo pode dar certo, trabalha para que dê errado [é só questão de ajustar o ritmo.]

Jair Bolsonaro superou as marcas de impopularidade de seus antecessores no início do primeiro mandato. Com viés de piora, esse desempenho deve-se em parte a um processo de autocombustão, mas nem tudo pode ser atribuído a Bolsonaro. Ele teve a ajuda de ministros civis e militares. Resolveram fazer uma reforma da Previdência. Poderiam ter seguido a sugestão do economista Paulo Tafner, fatiando-a. Mandariam primeiro o corte dos privilégios dos marajás e depois cuidariam dos miseráveis. Resolveram juntar as duas brigas. Vá lá.

É elementar que a profissão e a Previdência dos militares nada têm a ver com as dos servidores civis. Poderiam ter separado as duas questões. Não só juntaram os debates, como decidiram botar no combo um projeto de reestruturação da carreira militar, coisa que não tem nada a ver com a Previdência. Todas essas decisões embaralham o debate e dificultam a aprovação de algo parecido com o projeto original do governo. Como alguma reforma haverá de ser aprovada sempre se poderá cantar vitória. Afinal, Fernando Henrique Cardoso e Lula também fizeram reformas da Previdência. Nenhum deles atritou-se com o presidente da Câmara.
[comentando: o grande problema, o maior deles é que o presidente da Câmara, do alto dos seus 70.000 e poucos votos - foi o que  obteve nas eleições 2018 - resolveu governar o Brasil (agora em um governo paralelo e em 2022 espera ser eleito), até mudou a rotina  
(o usual é o Supremo, as vezes até o Executivo, invadir a competência do Legislativo, só que agora é a Câmara dos Deputados quem quer ditar as regras de trabalho do Poder Executivo na tramitação das reformas, conforme a Constituição e o RI da Câmara, os deputados mandam, mas, não podem cobrar, nem exigir e menos ainda impor)  
decidindo que a reforma da Previdência só começaria a tramitar quando chegasse o Projeto de Lei dos militares, foi dos senhores deputados.]

A barafunda vai além da reforma. O ministro Sergio Moro resolveu peitar Rodrigo Maia com mais uma de suas jeremíadas. Tomou um tranco e ficou em paz. Durante a visita de Bolsonaro a Washington, o ministro das Relações Exteriores foi humilhado, um filho do presidente disse que os brasileiros que vivem nos Estados Unidos sem documentação são “vergonha nossa” e o condestável da Economia informou que gosta de Coca-Cola e da Disneylândia. (Quem passava dias sozinho na Disney era o professor Mário Henrique Simonsen, mas ele nunca anunciou isso a uma plateia de empresários.)

Se tudo isso fosse pouco, Bolsonaro disse na Casa Branca que acredita “piamente” na reeleição de Donald Trump. Sentiu cheiro de banana e foi procurar a casca para escorregar. Os dois presidentes que mais ajudaram a ditadura brasileira foram Lyndon Johnson e Richard Nixon. Um encantou-se com o marechal Costa e Silva, o outro com Emilio Médici. Ambos foram eleitos com memoráveis maiorias e acabaram naufragando. Amaldiçoado, Johnson desistiu da reeleição. Acuado, Nixon renunciou. Os presidentes brasileiros não disseram coisa parecida. Trump nunca teve a força de qualquer um desses antecessores.

A Lei de Murphy diz que, se uma coisa pode dar errado, errado ela dará. O governo do capitão parece disposto a enriquecê-la: Se uma coisa pode dar certo, trabalham para que dê errado.

BRETAS PRENDEU TEMER PORQUE QUIS
Lula foi para a carceragem de Curitiba depois de ter sido indiciado, denunciado e condenado em duas instâncias. Temer foi encarcerado sem ter sido ouvido, indiciado, denunciado ou condenado. Tudo bem, o juiz Marcelo Bretas prendeu-o preventivamente e decisão judicial deve ser cumprida. Na sua decisão o doutor Bretas reconheceu que Temer não foi condenado e ofereceu uma “análise ainda superficial” dos crimes que o ex-presidente teria cometido.

Cuidando do “superficial”, ocupou 40 páginas de sua decisão. Sua análise faz sentido, e muito, mas é apenas uma opinião. Justificando a prisão preventiva de Temer, Bretas não escreveu uma só linha. Justificou-a genericamente, quando associou-a à de outros integrantes da “suposta organização criminosa”, e nisso ocupou três páginas. Nelas, justificou as preventivas porque “no atual estágio de modernidade, bastam um telefonema ou uma mensagem instantânea” para ocultar “grandes somas de dinheiro”. (São Paulo tem rede de telefonia desde o início do século passado.) [comentando: O Brasil espera que no dia 27 se faça JUSTIÇA: o TRF-2 determine a imediata libertação de Temer.]

Mais: o coronel Lima, faz-tudo de Temer, cuidava de apagar rastros e documentos no próprio escritório. (Bretas não fez qualquer referência à tentativa de depósito de R$ 20 milhões em dinheiro vivo na conta do coronel.) Mesmo admitindo-se que tudo o que Bretas atribuiu a Temer na sua “análise ainda superficial” seja apenas parte de uma horrível verdade, as razões que citou para encarcerá-lo preventivamente são ralas. O Brasil teve dois ex-presidentes presos. Um porque foi condenado. O outro não foi ouvido, indiciado, denunciado ou sentenciado. Os tempos estranhos ficaram mais estranhos.



EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e acredita em tudo o que dizem os presos, a polícia e os procuradores, só não entende como alguém entrou numa agência bancária para depositar R$ 20 milhões em dinheiro vivo.

Alguém deveria carregar duas malas, cada uma pesando 25 quilos.

O cretino acha que existe um vídeo registrando a passagem desse estranho personagem pelo banco. O Ministério Público informou que esse fato “ainda precisa ser investigado e apurado”.


BOA NOTÍCIA
Uma dezena de fundações privadas cacifam o programa Ensina Brasil, que seleciona jovens formados em universidades públicas e privadas interessados em trabalhar por dois anos como professores nas redes escolares do país. Eles já atuam em alguns municípios de Pernambuco, Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Programas semelhantes existem em 45 países.

A sabedoria convencional ensina que poucos recém-formados em seja lá o que for topariam trabalhar dois anos como professor. Pois neste ano o Ensina Brasil teve 10 mil candidatos para 123 vagas. Depois de um processo seletivo, eles passam por quatro semanas de curso presencial em São Paulo e assistem a 2.000 horas de aulas a distância. A ideia do projeto é achar gente interessada em melhorar a educação no país, formando lideranças nessa área.

Os jovens que entram no Ensina Brasil recebem os salários da escola e uma pequena ajuda do programa. Como nem tudo são flores, há estados onde os sindicatos de professores não querem nem ouvir falar no assunto. [sindicatos, felizmente, caminham para a extinção - pena que extingui-los por sufoco financeiro tem um inconveniente: é mais demorado]
Elio Gaspari, jornalista -  O Globo e  Folha de S. Paulo


 

domingo, 17 de março de 2019

O STF quebrou um pé da Lava Jato

Chamar roubalheiras de políticos de caixa 2 sempre foi um sonho de consumo

Por 6 a 5, o Supremo Tribunal Federal decidiu que os delitos de caixa dois e as práticas que lhes são conexas devem ficar no âmbito da Justiça Eleitoral. Jogo jogado. Em 2006, por unanimidade, o mesmo Supremo decidiu que a cláusula de barreira era inconstitucional. Ao fazer isso, as togas dos 11 ministros serviram de cobertura para pequenos partidos que mamavam recursos do fundo partidário e o tempo dos horários gratuito de televisão. Veio a Lava Jato e, com ela, escancarou-se a roubalheira nacional. Graças ao clima que Curitiba criou, o Congresso aprovou uma nova modalidade de barreira.

Em 2017, o ministro Gilmar Mendes, que estava na unanimidade de 2006, disse que “hoje muitos de nós fazemos um mea-culpa, reconhecemos que foi uma intervenção indevida, inclusive pela multiplicação de partidos”. (Ele foi o único a fazer o mea-culpa, mas deixa pra lá.) O 6 a 5 de quinta-feira poderá ser avaliado daqui a anos. Entre a unanimidade de 2006 e o mea-culpa de 2017 passaram-se nove anos.
Chamar de caixa dois as roubalheiras de políticos sempre foi um sonho de consumo. Esse truque saiu da cartola de Lula em 2005, quando surgiu o escândalo do mensalão.

Quando o Supremo matou a cláusula de barreira, os ministros sabiam que, junto com a defesa da liberdade de expressão, abriam a porteira para otras cositas más. Hoje, na estrada do caixa dois há 50 tons de capilés. Numa ponta está o candidato que aceita uma ajuda (monetária ou não) e deixa de registrá-la junto à Justiça Eleitoral. Na outra, está o magnífico Sérgio Cabral. Até bem pouco tempo ele dizia que amealhara dezenas de milhões de dólares valendo-se do desvio de dinheiro eleitoral. 
Era mentira. Num exagero, mandar para a Justiça Eleitoral o processo de um coletor de propinas porque ele diz que tudo era caixa dois seria o mesmo que começar numa Vara de Família o processo do assassino de um casal que deixou quatro filhos, tornando-os órfãos.

Num voto seco, técnico, o ministro Luis Roberto Barroso sintetizou a questão: o que importa não é para onde o dinheiro vai, mas de onde ele vem. Se ele vem de propinas, o delito não é eleitoral, mas corrupção.  Barroso ficou na minoria. A sessão do Supremo teve um momento de teatralidade com Gilmar Mendes chamando procuradores de “gângsters”, mas foi ele quem melhor definiu o debate: ”O que se trava aqui é uma disputa de poder”. Saiu satisfeito o lado de quem tenta esconder suas roubalheiras atrás do caixa dois, e quem perdeu foi a turma da Lava Jato. 

O tempo mostrará as consequências do 6 a 5. Em cinco anos, a República de Curitiba destampou a panela da corrupção nacional como nenhum grupo de procuradores ou tribunal conseguiu fazê-lo desde que a Terra dos Papagaios chama-se Brasil. A turma da Lava Jato acertou muito e errou pouco, mas tropeçou na soberba.

Sergio Moro não deveria ter divulgado o grampo de uma conversa de Dilma Rousseff com Lula sabendo que ela ocorreu fora do prazo autorizado pela Justiça. Também não deveria ter divulgado um anexo irrelevante e inconclusivo da colaboração do comissário Antonio Palocci no calor da campanha eleitoral do ano passado. Talvez não devesse ter deixado a Vara de Curitiba, e certamente os 12 procuradores signatários do acordo que criaria uma fundação de direito privado com recursos da Petrobras deveriam ter medido melhor os riscos que corriam.
Tanto a turma de Curitiba como os seis ministros do STF acharam que são supremos.


(...)

Recordar é viver

Para que os operadores políticos de Bolsonaro percebam o peso que os políticos dão aos seus pedidos.
Em 1962, o vice-presidente americano Lyndon Johnson pediu a John Kennedy a nomeação de uma juíza para Dallas. Nada feito. Johnson era um protegido do presidente da Câmara e ele avisou ao governo: enquanto ela não for nomeada, a sua pauta está trancada. A nomeação saiu no dia seguinte.

No início da tarde de 22 de novembro de 1963, diante de um mundo perplexo, Kennedy estava morto e Johnson foi levado para o avião presidencial, onde deveria prestar juramento diante de um juiz federal
O ar refrigerado do Air Force One estava desligado e fazia um calor horrível em Dallas. O novo presidente pediu que achassem a juíza Sarah Hughes, pois queria que ela presidisse a cerimônia de sua posse.
Poucas pessoas notaram que ele fora à forra.

MATÉRIA COMPLETA na Folha de S. Paulo



quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Donald Trump e os psiquiatras



Não se pode diagnosticar que ele seja doido, mas pode-se garantir que naquela cabeça mora o perigo 

Na hora em que um estudioso do comportamento humano ganhou o Prêmio Nobel de Economia, saiu nos Estados Unidos, e está na rede, o livro “The Dangerous Case of Donald Trump” (“O perigoso caso de Donald Trump”), com 27 artigos de psiquiatras, psicanalistas e terapeutas, mais dois escritores e um advogado. Eles ficam a um passo da declaração formal de que o presidente dos Estados Unidos é maluco.

Narcisista, paranoico, mentiroso e delirante, Trump é uma ameaça à segurança do mundo. Todos os políticos têm essas características (ou, pelo menos, são acusados de tê-las), mas com Trump elas compõem um caso clínico. É comum ouvir que alguém vive “no mundo da lua”. Ele vive no mundo do sol, e o sol é Donald Trump. Orgulha-se de não confiar em ninguém, elogia tiranos como o “amado líder” Kim Jong-un da Coreia do Norte ou o sírio Bashar al-Assad e inventa situações fantásticas (Barack Obama é muçulmano e nasceu no Quênia), não se retrata e se diz perseguido.

A coletânea é apresentada pelo professor Robert Jay Lifton, um dos mais respeitados psiquiatras do país. Num dos melhores artigos do livro, o psicólogo Michael Tansey disseca os cinco minutos finais de um discurso de Trump na sede da CIA, logo depois de sua posse. (A fala está na rede.) Depois de ter chamado a Agência de incompetente, disse que estava “100%” ao seu lado. Não terminou algumas frases e garantiu que na plateia de sua posse havia uma multidão jamais vista.  O livro compilou mentiras e delírios dos primeiros seis meses de Trump. Sabidamente, ele foi além. Todos os autores temem pela sua conduta numa crise semelhante à de 1962, quando o mundo esteve perto da guerra nuclear e foi salvo pelo sangue-frio do presidente John Kennedy.

Os psiquiatras e psicanalistas lutam contra Trump e contra uma norma da guilda dos doutores que os proíbe de diagnosticar maluquice em pessoas que não examinaram profissionalmente. Ela impede que algum deles use claramente a palavra “maluco”. Contudo, usam todos os sinônimos disponíveis. A norma da Associação Americana de Psiquiatria foi baixada no século passado, quando o republicano Barry Goldwater disputava a presidência com Lyndon Johnson e foi dado por paranoico numa pesquisa junto a psiquiatras, por ter sugerido a possibilidade de uso de armas nucleares.

Uma trapaça da história fez com que Goldwater, batido, seja visto como um dos fundadores do moderno conservadorismo americano. Johnson reelegeu-se e muitos dos psiquiatras que apontam para a maluquice de Trump concordam num ponto: o paranoico era Johnson. Tudo bem, mas se não fosse pela sua desastrosa política na Guerra do Vietnã, ele seria um dos melhores presidentes do século. Outro paranoico de papel passado foi Richard Nixon, mas deve-se a ele a reaproximação dos Estados Unidos com a China. Para ficar nos desafios da psiquiatria política, Abraham Lincoln era depressivo.

O livro dos doutores solidifica a noção de que Trump é um perigo para o mundo, porque o seu cotidiano, as suas piruetas e algumas de suas políticas relacionam-se diretamente com seu desequilíbrio mental. Nixon mentia, mas não mentia a cada hora. Lincoln era depressivo, mas doidos estavam os estados do Sul ao se rebelarem.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista