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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Uma carta de amor ao Brasil - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Naquele 7 de Setembro, quando ouvia nosso hino ser tocado ou cantarolado em algum ponto da Paulista, era como se eu estivesse em uma viagem boa no tempo quando a melodia era ouvida nos pódios pelo mundo afora


Foto: Shutterstock

Eu sei que você ficou triste com este 7 de Setembro. Nós também.

Foram muitos anos te presenteando com as ruas pintadas de verde e amarelo. Nos últimos quatro anos, então… parecia uma Copa do Mundo por ano! Amor, muito amor por você. Sua bandeira estava por todos os lados! Carros, janelas, sacadas, carros e carrinhos de bebês, sua bandeira era estampada e tatuada em jovens, idosos, crianças e animais de estimação! Sempre uma festa com milhões de convidados por todo o Brasil. Seu hino podia ser ouvido em caminhões ou em rodinhas de bar onde as pessoas celebravam o orgulho de te amar de novo!

Neste 7 de Setembro foi diferente, eu sei. Havia um presidente amigo de ditadores desfilando em carro aberto com uma primeira-dama vestida de vermelho. As ruas estavam vazias, e eu posso imaginar que você esteja pensando que não te amamos mais. Por favor, não se precipite em qualquer conclusão. As ruas estavam vazias exatamente porque havia um presidente amigo de ditadores desfilando com uma primeira-dama vestida de vermelho. As avenidas estavam fantasmagóricas exatamente porque te amamos demais. Os últimos meses foram de enorme provação para todos nós, você sabe. Desafios que nunca imaginamos encontrar. Já há algum tempo, tiranos covardes vêm tentando desvirtuar suas instituições, ignorar suas leis e a vontade do povo, censurar nossas dúvidas e amordaçar nossas ideias. E, você sabe como ninguém, resistimos como pudemos durante quatro anos.

Eu sei que a ausência do povo e o silêncio das ruas te incomodou. Foi muito difícil para nós também. Ainda estamos nos recuperando de imensas injustiças cometidas contra a sua gente. 
Inocentes estão presos, famílias estão quebradas, jornalistas e cidadãos estão sendo perseguidos e silenciados; e um perigoso regime totalitário só visto em páginas de livros de história anda assolando a sua democrática estrutura. Você é grande, às vezes consegue absorver o impacto e seguir, mas nós estamos assustados. Mesmo assim, não pense que nossa conclusão é de que perdemos tempo com tantas manifestações pacíficas para você em quatro anos. Não! Se te disserem isso, não acredite! 
Por você faríamos tudo de novo. Sigo tendo orgulho de você, de quem sou e de onde vim. O meu coração é seu, afinal, foram mais de duas décadas juntos e entrelaçados por tantos céus e estradas, não é mesmo? Você sabe que sempre foi difícil segurar as lágrimas quando tocava o seu hino em algum lugar do globo e eu, orgulhosa, colocava a mão no peito para mostrar o meu mais profundo amor e respeito por você. 

Por favor, não se chateie que nesta data as lágrimas não sejam de alegria. Não fique triste comigo, ainda sinto um orgulho imenso de você. Sua gente, mesmo tendo o espírito esmagado por tantas injustiças, segue lutando bravamente contra quem te usa sem escrúpulos e abusa de suas qualidades e belezas por projetos nefastos de poder. 

Ah… foram tantos anos sorrindo com você. E como demos muitas risadas juntos… Quando olho para as páginas da nossa relação, mesmo quando as lágrimas vinham, por alguma derrota ou decepção, suas cores sempre se destacavam e você me fazia sentir grande, potente! Apesar de todos os anos percorrendo o mundo com você nos ombros e nos uniformes, debaixo de sol e chuva, suas cores nunca deixaram de estar vibrantes. Todos sabiam de onde eu vinha porque suas cores me envolviam e brilhavam! 

Neste 7 de Setembro, essas cores e nossos corações estão desbotados. Perdoe-me a angústia nestas linhas. Peço, de coração aberto, que tente entender minha tristeza e por que não encontrei motivos para celebrações na semana do aniversário de sua Independência. 

(...)

Posso te confessar uma coisa? Naquele dia, não consegui evitar que um longo filme de mais de duas décadas com você e como atleta profissional passasse pela cabeça. Todas aquelas viagens pelo mundo com a sua bandeira talhada em nossos uniformes. Naquele 7 de Setembro, quando ouvia nosso hino ser tocado ou cantarolado em algum ponto da Paulista, era como se eu estivesse em uma viagem boa no tempo quando a melodia era ouvida nos pódios pelo mundo afora. As lembranças do passado se misturavam com as cenas da realidade diante dos meus olhos, e isso me trazia algumas lágrimas aos olhos que, algumas vezes, confesso, tentei esconder. Uma bobagem. O amor faz isso com a gente mesmo. Aquela sensação que senti tantas vezes em mundiais e olimpíadas estava de volta! 

Eu estava em uma grande — na verdade, em uma gigantesca — delegação olímpica pelo Brasil! A maior e mais bonita de todas elas! Era uma multidão feliz! E não havia lixo jogado nas ruas, não havia baderna, não havia vandalismo, não havia brigas e discussões. Havia um grande senso de civilidade e responsabilidade de te fazer feliz. Havia uma paixão profunda por você exarada no rosto das pessoas! As pessoas tinham o mesmo semblante de quando tirávamos da mala nossos uniformes novos com a bandeira do Brasil bordada na manga, como as que os soldados usam em seus uniformes nas guerras. 

(...)

Quem vive na prostituição intelectual resiste à verdade, à verdadeira luz. Neste triste 7 de Setembro, os olhos estão magoados, sim, mas entenda: agora conhecemos você como você merece ser conhecido e amado, e como você, de fato, é. Milhões de brasileiros saíram da caverna e descobriram que as sombras na parede não eram reais, que fomos manipulados e empurrados por tempo demais para que não chegássemos à superfície para apreciar o sol. 

Como escreveu Drummond, um de seus poetas mais fascinantes, também lá das minhas Gerais:

“Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.”

Meu amado Brasil, apesar da tristeza, não vamos mais voltar para a escuridão. 

Leia também “As caixas de dona Ruth”

CLIQUE AQUI, MATÉRIA COMPLETA

 

Ana Paula Henkel, colunista  

 

 


 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O azeite verde-amarelo - Evaristo de Miranda

Evaristo de Miranda

Azeites nacionais começam a ganhar prêmios internacionais por qualidade. O Rio Grande do Sul é o maior produtor, com 75% da produção nacional, à frente de Minas e SP 

 Azeite, um alimento antigo, clássico da culinária contemporânea, regular na dieta mediterrânea | Foto: Shutterstock

Azeite, um alimento antigo, clássico da culinária contemporânea, regular na dieta mediterrânea - Foto: Shutterstock  

O azeite, apreciado por suas qualidades na dieta mediterrânica, é consumido cada vez mais. São mais de 3,3 milhões de toneladas anuais, produzidas em 64 países. 
 Na Espanha, maior produtor mundial, os subsídios governamentais ao olivicultor alcançam um terço do valor da produção! 
Os gregos são os maiores consumidores: cerca de 23 quilos de azeite por habitante/ano.  
O Brasil é o segundo consumidor e importador mundial: cerca de 90.000 toneladas de azeite e 120.000 toneladas de azeitonas de mesa. Só perde para os Estados Unidos, responsáveis por 36% das importações mundiais. 
 
Com a pesquisa e o empreendedorismo dos agricultores, cada vez mais, o Brasil planta oliveiras e produz azeites de excelente qualidade.          Os países produtores na América do Sul são Chile, Argentina, Uruguai, Peru e agora também o Brasil. 
Aqui a olivicultura tem uma longa história, desde os anos de 1940. 
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) foi pioneira nas pesquisas e desenvolveu as primeiras e únicas oito cultivares de oliveiras brasileiras, registradas no Ministério da Agricultura.

Em regiões montanhosas, como na Serra da Mantiqueira, ou no Sul, os produtores encontram as 300 horas abaixo de 12º necessárias para induzir a floração e a produção de azeitonas. Em 9 de fevereiro ocorreu a XI Abertura da Colheita da Oliva, no município gaúcho de Encruzilhada do Sul. No Rio Grande do Sul, a área cultivada já é de cerca de 6 mil hectares. São 321 produtores, e Encruzilhada do Sul possui mais de mil hectares, a maior área plantada com oliveiras no Brasil, onde a área total aproxima 10.000 hectares.

Oliveira centenária cultivada por monges do Mosteiro de Mar Elias, 
em Jerusalém, Israel | Foto: John Theodor/Shutterstock

A oliveira, a árvore eterna, é muito persistente. Sua capacidade de regenerar-se com vigor, mesmo se podada, cortada ou queimada, rebrota até a partir das raízes, é uma representação da perseverança. Com sua folhagem perene, ela resiste ao inverno sem queda de folhas e se destaca em meio à vegetação. Elogiada por Ulisses na Odisseia, de Homero (Canto VII), a perenidade da folhagem, as tonalidades dos frutos, o prateado das folhas e o ouro líquido do azeite conferem riqueza simbólica à oliveira: paz (pomba bíblica com ramo de oliveira), fecundidade, purificação, iluminação, força, vitória e recompensa. Uma coroa de oliveira selvagem, kotinos, cujos ramos eram cortados com uma tesoura dourada, era o prêmio do vencedor nos antigos Jogos Olímpicos e dos soldados triunfantes em Roma. Dois ramos de oliveira envolvem o globo terrestre no emblema das Nações Unidas! Não é pouco. 

Oliveira milenar, na Ilha de Creta, Grécia |
 Foto: Cortesia Liana John

A altura das oliveiras é da ordem de 5 metros e chega a 20 metros, sem podas. Pode viver mais de um século. Em Creta há árvores milenares e, talvez, uma das mais antigas, com cerca de 3.000 anos, no vilarejo de Pano Vouves. Milenar é a oliveira ao lado da Sé Velha, em Coimbra, uma das mais antigas igrejas de Portugal (1162). Todas vegetam e produzem azeitonas.

Oliveira milenar, ao lado da Igreja da Sé Velha, em 
Coimbra, Portugal | Foto: Reprodução

A azeitona é uma drupa, como o pêssego e a manga. Tem baixo teor de açúcar (2,6% a 6%) e contém um princípio amargo, a oleuropeína. Seus frutos não são diretamente comestíveis. As azeitonas de mesa, de intenso sabor, passam por um longo tratamento pós-colheita: a “queima” da oleuropeína com soda cáustica (hidróxido de sódio), a lavagem, a salmoura com sal, ácidos e bactérias láticas para fermentar por 90 a 120 dias, a última lavagem e o envase. Quando o destino das azeitonas é a produção de azeite, elas são esmagadas imediatamente após a colheita.

O azeite é rico em polifenóis, poderosos antioxidantes, eficazes contra o envelhecimento. Seu consumo traz benefícios atestados à saúde: redução de doenças cardiovasculares, da incidência do mal de Alzheimer e do envelhecimento cutâneo

“Azeite de oliva” é um pleonasmo. O azeite é sempre de oliva. O resto são óleos: de soja, algodão, milho etc. Há duas raízes nas palavras: óleo, oliva, oliveira, azeitona e azeite. Óleo, do cretense elaiwa, deriva do semítico ulu. Tornou-se oleum em latim e oli nas línguas romanas, como olio em italiano. Azeitona, zait em hebraico, também de origem semítica, tornou-se zaitum em árabe e azeitona em português. Os mouros designavam o sumo da azeitona az zait ou azeite, em português e espanhol. Oliveira, Olivier, Oliveros, Olivença e Oliva são nomes e sobrenomes nos países latinos. Eles nomeiam municípios em Minas Gerais (Oliveira), Alagoas (Olivença) e Bahia (Oliveira dos Brejinhos).

Oliveira sagrada de Atena, ao lado do Templo Erecteion, 
perto do Parthenon, na Colina da Acrópole, em Atenas, Grécia - 
Foto: Kirk Fisher/Shutterstock

Para a mitologia grega, a oliveira surgiu de uma disputa entre Atena (Minerva), a deusa da sabedoria, e Poseidon (Netuno), o deus do mar e dos rios, sobre qual a melhor proteção para uma nova cidade e seus habitantes. Para resolver essa disputa, Zeus (Júpiter) propôs a cada um oferecer o seu dom protetor. Os humanos decidiriam. Poseidon brandiu seu tridente, tocou uma rocha e surgiu um magnífico cavalo. Ele carregaria cavaleiros com suas armas, puxaria carros, arados e seria decisivo nas batalhas. Atena tocou a terra com sua lança e surgiu uma árvore florida, a oliveira. Ela forneceria alimento, unguento para ferimentos, óleo para lâmpadas e cozinha. Sempre verde, essa árvore seria eterna. Ela foi aclamada como o dom de maior utilidade. Atena obteve com ela a proteção e deu seu nome à cidade: Atenas. Os rebrotes de oliveira no entorno da Acrópole seriam descendentes da oliveira de Atena. Dizem. Nas mais belas fontes da Europa, em meio a jatos d´água, entre cavalos, ainda Poseidon ergue seu tridente. 

(...)

Desde o século 9 a.C., o azeite servia como combustível para iluminação artificial. Oleiros fenícios inventaram e difundiram a lâmpada a óleo. Os romanos o utilizaram para fins medicinais, em pomadas aplicadas em ferimentos e sobre a pele como protetor solar. Eles aperfeiçoaram o cultivo das oliveiras e foram os primeiros a classificar o azeite em função dos diferentes tipos de prensagem. O azeite era relativamente caro e consumido pelos mais ricos. Os pobres usavam banha e toucinho.

Na Idade Média ampliaram-se irrigação, enxertia e poda para melhorar a qualidade e aumentar a produtividade. Além de autores cristãos, médicos e agrônomos árabes, como Ibn Butlan (Bagdá) e Ibn Alwan (Sevilha), atestam o uso dessas técnicas nos séculos 11 e 12. No século 16, houve nova expansão, com a invenção da prensa hidráulica. No século 20 cresceu o consumo do azeite em função da gastronomia e dos benefícios para a saúde.

O azeite é rico em polifenóis, poderosos antioxidantes, eficazes contra o envelhecimento. Seu consumo traz benefícios atestados à saúde: redução de doenças cardiovasculares, da incidência do mal de Alzheimer e do envelhecimento cutâneo. Ele também é rico ácido oleico (ômega 9), matéria-prima de todas as membranas celulares. Além de reforçar as células humanas, facilita a “comunicação” entre elas e o bom funcionamento do organismo.

(.....)

Em 2022, a safra brasileira foi da ordem 445 mil litros de azeite. Produzir azeitonas exige investimento alto. Os olivais levam cinco anos para produzir. Cerca de um terço dos olivais brasileiros está em produção. Mais um terço produzirá nos próximos anos. Os plantios seguem em expansão. O Rio Grande do Sul é o maior produtor com 75% da produção nacional, à frente de Minas Gerais e São Paulo. Na Serra da Mantiqueira, uma associação de olivicultores reúne mais de 100 produtores num total de 2.000 hectares.

Os plantios de oliveiras são homogêneos. Os produtores plantam duas a três variedades, sem misturá-las no campo. A maioria dos azeites brasileiros são varietais, frutos de um tipo de oliveira. Entre as principais variedades estão Arbequina, Koroneiki, Picual, Arbosana e Frantoio. Sem interferência estatal, surge aos poucos um mercado de azeites extravirgens, diferenciados dos oferecidos pela grande indústria. E apreciado por gastrônomos, chefs e consumidores. Os equipamentos importados dos lagares são modernos e eficientes, inclusive do ponto de vista ambiental. Os subprodutos do esmagamento das oliveiras e da extração do azeite são reciclados.

Colheita com derriçadeira, em Creta, análoga à que se faz com o 
café no Brasil | Foto: Cortesia Liana John

Azeites nacionais começam a ganhar prêmios internacionais por qualidade. O Sabiá da Mantiqueira, azeite extravirgem premium, produzido na Fazenda do Campo Alto, em Santo Antônio do Pinhal (SP), foi classificado entre os dez melhores do concurso Evooleum de 2022 e incluído no Evooleum World’s Top 100 Extra Virgin Olive Oils. O produtor acumula 57 prêmios nacionais e internacionais. Depois do café, “ouro verde” dos séculos 19 e 20, haverá o milagre do “ouro líquido”? O futuro parece fluido e luminoso para o azeite nacional e, n’en déplaise, com muitos tons de verde-amarelo.

O azeite Sabiá é produzido no Brasil e foi eleito um dos dez melhores azeites do mundo | Foto: Divulgação/Azeite Sabiá

Sobre a sacralidade da oliveira, um relato pessoal. Num verão dos anos 1970, um agricultor no sul da França andava preocupado com uma víbora. Ela já havia matado um de seus cachorros. Eu era estagiário de agronomia na sua fazenda. Ele me avisou do perigo. Um dia, em plena colheita de feno, a víbora surgiu. Ele tentou matá-la. Grande e ágil, ela escapou entre palhas e capins. Logo, eu a vi parada sob uma velha oliveira, junto ao tronco. Quando preparei um golpe, o agricultor gritou: — Pare! Eu me detive. Temi mal maior. — Ela está sob a proteção da oliveira. Ele explicou: só essas árvores sagradas assistiram a Jesus em sua agonia no Jardim das Oliveiras, o Getsêmani. Em hebraico Gat Smanim significa lagar dos azeites. Recuamos em silêncio.


Leia também “Cuidado com a gripe, aviária”

 Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste -

MATÉRIA COMPLETA, LIVRE

 

quinta-feira, 10 de março de 2022

As big bags, o agro na Faria Lima e o vexame do Itaú - Revista Oeste

Bruno Meyer
 

Para o bilionário Marino Colpo, a safra de 2022 vai ser ótima. A de 2023, nem tanto

Menos de um ano depois de ter levantado R$ 460 milhões em sua IPO (oferta pública inicial de ações), a goiana Boa Safra Sementes vai anunciar nos próximos dias a ampliação da linha de produção e estocagem. Ela vai acontecer na unidade de Cabeceiras, cidade de 7 mil habitantes em Goiás. A ideia é aumentar a armazenagem e o beneficiamento de sementes de soja.  
A empresa vai adicionar 9 mil quilômetros de área no centro de armazenamento refrigerado, o que possibilitará estocar 20 mil big bags, elevando a capacidade para 60 mil big bags na unidade
Cada big bag armazena cerca de 1 tonelada de sementes de soja. A expansão da planta de Cabeceiras se junta ao anúncio de um novo centro de distribuição da empresa, em Sorriso, em Mato Grosso, com capacidade de armazenar 40 mil big bags refrigeradas. São os dois principais investimentos da companhia para 2022.

Musical <i>Chicago</i> | Foto: Divulgação
Musical Chicago - Foto: Divulgação 
 
Do carrinho de rolimã ao bilhão
Fundada em 2009 pelos irmãos Marino e Camila Colpo, a Boa Safra produz e vende sementes de soja para 12 Estados brasileiros, além do Distrito Federal. De família de classe média de Formosa, cidade de 120 mil habitantes nos rincões de Goiás, Marino conta que viveu uma infância raiz, com direito a “carrinho de rolimã, muita bicicleta e subidas em pés de manga”. Mas com um diferencial se comparado aos amigos: seu pai, produtor rural de classe baixa, o incentivava a ler os jornais diariamente, especialmente os focados em economia e negócios, como o Gazeta Mercantil. “Meu pai falava que um grande empresário precisava estar na bolsa de valores”, lembra Colpo. A frase ecoou na mente do jovem de 15 anos. Quase duas décadas depois, ele e a irmã fizeram a empresa abrir capital, em abril de 2021, transformando os dois goianos — ele, hoje com 37 anos; ela, com 32 — em novos bilionários brasileiros. A fortuna de cada um é estimada em R$ 1,8 bilhão, de acordo com a Forbes. Colpo afirma que o montante nunca foi uma obsessão, e a divulgação do patrimônio o fez pensar em questões relacionadas à segurança. Como é de esperar de bilionários brasileiros, os carros da família passaram a ser blindados.  

Rússia e China no caminho

O agronegócio brasileiro vai sofrer impacto, sim, com a invasão da Rússia na Ucrânia. Para Colpo, o setor já vinha sendo pressionado pela alta dos insumos causada por problemas de energia na China e pela falta de carvão. Muitas fábricas chinesas acabaram operando por menos horas, o que baixou a produção e elevou os preços. Com a guerra na Ucrânia, o agro em peso olha com lupa as produções de fertilizantes e trigo. A Rússia é o principal exportador de insumos para a produção de fertilizantes. Segundo Colpo, um fato é inevitável: o preço do trigo vai subir no mercado internacional.
 
A distante Faria Lima
A entrada da Boa Safra na bolsa brasileira mexeu com os brios do poderoso agronegócio brasileiro. A discrepância do setor — que representa 26% do PIB nacional, mas apenas 2% na B3 — deve diminuir nos próximos anos. Analistas financeiros focados no agronegócio foram contratados em corretoras, gestoras e empresas, como a XP, desde abril de 2021, e novas captações já estão no radar dos gestores. “A Faria Lima é distante de Goiás e do campo”, resume Colpo. A própria abertura de capital da Boa Safra foi trabalhosa, de acordo com o fundador, com inúmeras viagens do mercado financeiro de São Paulo para Estados como Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. “Tivemos o trabalho de levar gestores de fundos para conhecer o que é o agro brasileiro, o que é a empresa, e o que é a soja.” 
Safra boa
Analistas ouvidos falam que as perspectivas do agronegócio brasileiro para 2022 são boas — alguns poucos falam em moderadas. Para Colpo, 2022 vai ser um ótimo ano para o setor. A maior parte dos produtores rurais antecipou e comprou os insumos, antes da alta dos fertilizantes, a partir de setembro de 2021. “A safra vai ser boa e o produtor vai ter um custo competitivo na mão”, resume. O mesmo não deve ocorrer em 2023. “O aperto vai ser maior. As margens do agricultor serão menores, pelo aumento dos custos dos insumos.” A nova safra começará a ser plantada em setembro, para colheita nos primeiros meses de 2023.
 
Socorro, o dinheiro sumiu! 
O Itaú, maior banco privado do Brasil, cujo lucro foi de quase R$ 30 bilhões só em 2021, levou ao desespero um número incontável de clientes na quinta-feira 3.  
Os mais variados tipos de problemas foram notificados: sumiço de dinheiro, dificuldades para o acesso ao aplicativo, saques indevidos, depósitos inesperados e até o extrato zerado. Questionado por Oeste sobre um eventual ataque cibernético, à la Lojas Renner e CVC, o banco negou. “A situação não tem nenhuma relação com quaisquer eventos externos”, garantiu o Itaú. “A origem do problema está relacionada a um atraso no processamento de dados bancários.” Então tá.
 
Mais sólido do que uma rocha
Michel e Marcela Temer separados? Essa foi a postagem de um blog de Brasília na última semana. Elsinho Mouco, o fiel comunicador do ex-presidente (e autor de parte da famosa carta que selou a paz por um momento entre Bolsonaro e o STF, em 2021), garantiu a Oeste que a nota é totalmente inverídica. E que o casamento de Temer está “mais sólido do que nunca”.
 
(...)
R$ 2,3 bilhões em 24 horas
Prossegue a farra dos estrangeiros nas empresas brasileiras listadas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. Na sexta-feira (25), o volume de entrada no país vindo de fora chegou a mais de R$ 2 bilhões. No acumulado do ano, o saldo positivo é de cerca de R$ 60 bilhões. 

bruno@revistaoeste.com 

Leia também “O jogo da terceira via e a animação de Tarcísio”

domingo, 26 de abril de 2015

Racionamento de mangas na Venezuela - todas serão atiradas em Maduro

Venezuelana atira manga em Maduro e é recompensada com apartamento

Presidente entrou em contato com mulher, que vive problema em sua casa atual

Uma mulher que atingiu com uma manga a cabeça do presidente da Venezuela Nicolas Maduro, foi recompensada com a promessa de um novo apartamento para morar. O caso surreal aconteceu no final de semana passado quando o presidente, em uma aparição pública, dirigia um ônibus pela multidão no estado de Aragua. A fruta jogada por Marleny Olivo continha o pedido "Se você puder, me ligue" e um número de telefone. A manga foi exibida pelo presidente em rede nacional.  — Marleny Olivo tinha um problema com a sua casa. Ligamos para ela. Ela estava assustada, não acreditava que era verdade. Aprovei um apartamento para você morar, Marleny, como parte da “Grande missão venezuelana por habitação” — disse Maduro, afirmando que vai comer a manga.

A história se tornou viral na Venezuela, motivando elogios e críticas de internautas à atitude de Maduro e gerando piadas. “Se por uma manga estão dando apartamentos, então sabemos o que fazer: jogar um abacaxi nele”, disparou o Dolar Today, site de oposição a Maduro que lista o valor do dólar no mercado negro. 

Assim como Hugo Chávez, morto em 2013, Maduro recebe dezenas de petições da população durante suas viagens. Esta é a primeira vez que uma delas é entregue numa manga, ao invés de papel. O hábito do governo venezuelano de atender alguns dos pedidos agrada à população mais pobre, mas é criticado por opositores. Maduro frequentemente dá casas, eletrodomésticos ou pensões para venezuelanos pobres. 

Ao contrário de Chavéz, porém, Maduro enfrenta um momento de baixa em sua popularidade. De acordo com a pesquisa mais recente do instituto Datanalisis, de abril, cerca de 28,2% dos venezuelanos aprovam o seu governo. O número é metade do apoio que tinha quando se elegeu, mas é uma melhora em relação ao índice do mês anterior, de 24,7%.

A pesquisa mostra ainda que cerca de 45,8% dos eleitores planejam votar na oposição durante as eleições parlamentares neste ano. As crises no fornecimento de alimentos e remédios no país seriam os grandes responsáveis pela queda de popularidade.


Fonte: Reuters