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quarta-feira, 13 de março de 2019

Bolsonaro, os mortos que saem no xixi e bala ao lado da cama, não a Bíblia


O que o presidente Jair Bolsonaro tem a ver com a tragédia na escola de Suzano? Tudo! É claro que ele não pode ser responsabilizado pelo ato tresloucado de duas pessoas. Não se trata de responsabilização penal, mas de responsabilidade política. E, nesse caso, seu discurso está na raiz do problema. Não fosse assim, ele teria se manifestado de pronto. Mas com que cara? O que se tem, até agora, é só uma nota fria, que transforma os mortos em dados de burocracia. Fazer o quê? Pouco antes, o presidente havia afirmado, numa conversa com um grupo de jornalistas, que dorme com uma arma ao lado da cama, embora seja uma das pessoas mais bem protegidas do mundo. [a arma mais confiável é a que está ao nosso lado, em qualquer lugar - debaixo do travesseiro é um dos melhores, tem que estar ao alcance da mão e possibilitar o uso rápido.

Dois pontos precisam ser lembrados:
1 - a recente modificação no 'estatuto do desarmamento' - a primeira de muitas, esperamos que em breve seja simples e totalmente revogado - ocorreu há pouco mais de 30 dias.

Na tragédia em Suzano a arma mais moderna, um revólver .38, existe no Brasil há mais de 100 anos e pode ser encontrada facilmente - mesmo com o famigerado estatuto ainda em vigor.
As demais armas foram machados, arco e flecha, besta - algumas sequer podem ser classificadas como armas brancas - o que a torna de livre posse e porte;

2 - Bolsonaro desde a campanha defende a militarização das escolas e uma das formas já está sendo iniciada em Brasília - DF, com excelentes resultados.
Com a presença de policiais em escolas públicas, tragédias como a de Suzano não ocorrerão.
Os candidatos a atiradores serão abatidos ao primeiro embate. 

Da mesma forma, a tragédia ocorrida no Rio, em Realengo, em 2011, na qual um ex aluno matou vários estudantes e se suicidous também não se repetirá - apenas para registro tal tragédia, ocorreu quando Bolsonaro sequer pensava em ser presidente e ter como um de seus compromissos de campanha a revogação do estatuto que arma os bandidos e desarma as pessoas de bem.]


Manifestou-se assim o Palácio: "Mais uma vez, nosso país é abalado por uma grande tragédia. O Governo Federal manifesta seu profundo pesar com os fatos ocorridos na cidade de Suzano, em São Paulo, apresentando suas condolências e sinceros sentimentos às famílias das vítimas de tão desumana ação. Ao Estado de São Paulo, colocamos nosso total apoio para auxiliar na apuração dos fatos".

Sobre um sujeito que urina em outro, proselitismo vulgar; sobre o massacre numa escola, o silêncio. O tuíte do xixi tinha 177 toques sem espaço. A parte da nota planaltina que se refere aos mortos e seus familiares, 170. Desconto, nesse caso, o cabeçalho genérico e a oferta feita a São Paulo, o ente federativo, que não levou tiro. Um presidente é uma referência política, moral e cultural. O nosso poderia simbolizar, a exemplo de muitos mundo afora, a cultura da não-violência, da não-retaliação, da convivência entre divergentes e opostos. Mas ele faz justamente o contrário. Alguns massacram ex-colegas de escola. Outros massacram jornalistas com base em informações falsas. Nos dois casos, a perspectiva da eliminação do "outro" que me atrapalha, do "outro" que não segue a minha cartilha, do "outro" que quer o meu mal.

Aos jornalistas, o presidente disse que pretende também flexibilizar o porte de armas. E aí, sim, mora um grande perigo. Aquele decreto ampliando a posse, embora já irresponsável, não tem grande relevância na violência cotidiana. Já o caso da generalização da posse pode ter efeito explosivo. Estudos às pencas indicam que parte considerável dos eventos com armas tem motivação fútil. Segundo o Atlas da Violência, foram 62.517 homicídios no país em 2016; 71,7% praticados por intermédio de armas de fogo, como aquela que Bolsonaro disse, na conversa com os jornalistas, repousar em seu criado-mudo (espero que não seja debaixo do travesseiro) enquanto dorme.

Por que alguém rigidamente protegido pela Polícia Federal e por serviços especiais das Forças Armadas precisa dormir praticamente agarrado a uma arma? Desconfiança de que sua segurança tenha sido infiltrada por pessoas interessadas na sua morte? Nesse caso, convém contratar alguém para provar a comida, o cafezinho, os produtos de higiene pessoal… Nunca se sabe quando alguém pode meter Antrax no sabonete, não é mesmo? É evidente que não se sente inseguro. Ele estava apenas expressando, mais uma vez, a sua devoção às armas, o que vale como um convite e uma recomendação para ao restante dos brasileiros. Se ele, protegido por uma multidão armada até os dentes, precisa de um revólver para se sentir seguro, o que deveríamos fazer nós? [os que apesar de super protegidos, rigoroso e eficiente esquema de segurança, costumam dormir com uma arma ao alcande da mão são motivados, na maioria das vezes, pelo hábito.
Estar sem uma arma ao alcance da mão, deixa muitos com a sensação de que estão despidos.] O que deveriam fazer os milhões de brasileiros que moram em favelas, em barracos que nem de alvenaria são, sujeitos a balas perdidas?

Imaginem esses aglomerados urbanos armados até os dentes, com balas a atravessar paredes sem atritos, encontrando seu destino final na carne humana. Sim, é verdade!, eu estou falando de uma gente mais escura, não é?, que mora nesses locais. Segundo o Atlas da violência, 71,5% das vítimas de homicídio em 2016 eram negras ou pardas. A carne preta continua a ser a mais barata do mercado, como na música. Suas afirmações infelizes foram feitas pouco antes da tragé

dia de Suzano, o que demonstra que os fatos começam a perseguir as bobagens de Bolsonaro. Não há nada de místico nisso. É que tragédias, com efeito, acontecem. E elas perseguem com especial afinco aqueles que mais dizem tolices. Governistas outros disseram coisas odiosas, sim. Ainda voltarei ao assunto. Precisamos de lideranças políticas que desarmem pessoas e espíritos.

Bolsonaro faz o contrário. E, como se vê, tem mais a dizer sobre xixi do que sobre pessoas que morrem à bala. Ah, sim: a julgar pelo João 8:32 que o presidente vive citando, imaginei que ele dormisse ao lado da Bíblia. Mas há uma hierarquia, pelo visto. Primeiro vem a bala. Nem sempre a verdade liberta, não é mesmo?.

[apenas para registro: 

MST não tem personalidade jurídica;

PCC, CV e outras facções também não;

MST não tem sede estabelecida e publicamente conhecida;

PCC, CV e outras facções também não possuem endereço oficial.

Existe outras semelhanças. Mas, bastam as citadas para justificar a emissão de um Decreto pelo presidente da República proibindo que órgãos públicos dialoguem com bandidos.

O general Santos Cruz tem uma excelente resposta para os que defendem o diálogo do governo com quadrilhas de bandidos, entre elas o MST.]

 

 



Bolsonaro, os mortos que saem no xixi e bala ao lado da cama, não a Bíblia ... - Veja mais em https://reinaldoazevedo.blogosfera.uol.com.br/?cmpid=copiaecola
Bolsonaro, os mortos que saem no xixi e bala ao lado da cama, não a Bíblia ... - Veja mais em https://reinaldoazevedo.blogosfera.uol.com.br/?cmpid=copiaecola

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

A eleição para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado foi igual, o governo confirmou sua maioria potencial. Mas foi diferente num aspecto importante de acompanhar no tempo: os deputados preservaram a liderança do establishment parlamentar, os senadores não.    Em consequência, o cenário da Câmara dos Deputados emerge mais organizado. Nada que no Senado não possa ser resolvido conforme os solavancos da estrada vão acomodando as melancias na carroceria do caminhão. Mas vai exigir algum trabalho do Palácio do Planalto.

No Senado, a liderança tradicional foi varrida, e o novo presidente, Davi Alcolumbre (DEM-AP), terá uma ampla base de apoio, mas não é um líder político automático. Foi mais um candidato “anti”. Mas um bom líder e um bom diálogo com Alcolumbre são caminhos ao alcance do governo.   Na oposição, a vida anda um pouco mais complicada, mas ela sobreviveu. Na Câmara, PT, PSB, PSOL e Rede entregaram a seus candidatos 80% de seus votos. Marcelo Freixo (PSOL-RJ) foi prejudicado pela luta interna do PT, mas mesmo aqui a ampla maioria seguiu a direção partidária.

O governismo na Câmara está distribuído em dois blocos. Um duro, com três centenas de deputados, e um mais dito centrista, com pouco mais de cem integrantes. Neste segundo, há uma minoria, PDT e PCdoB, que está ali por razões táticas. Mas a ampla maioria é governista na agenda. Na Câmara, os votos que eventualmente faltarem ao governo na sua base dura poderão ser pescados no varejo da sublegenda light. Já no Senado, o “anti-Renan” mostrou-se esmagador ao final, mas é impossível saber agora quantos desses votos estão comprometidos com a agenda do Planalto.  De todo modo, o governo ultrapassou a primeira barreira. Na Câmara, uma situação relativamente pacificada. Já no Senado, além de tudo, será preciso observar como a “nova política” impactará o caso de Flávio Bolsonaro. Será, no curto prazo, um bom termômetro do grau de controle.

A tragédia de Brumadinho é um problema para a agenda produtivista do governo Bolsonaro. Mas o avanço das investigações parece indicar que a causa está mais na esfera criminal que na conceitual, ou ideológica. Resta monitorar como o acontecimento vai refletir no Congresso.   Mais provável é os efeitos não serem sistêmicos. Um caminho possível é a caça aos culpados dominar a pauta. O que permitiria aos parlamentares da esfera bolsonarista dar uma satisfação à opinião pública sem abrir mão de políticas de desenvolvimento de forças produtivas.

O realismo fantástico da política brasileira, com sua abundância de notícias atraentes todos os dias, impede que se preste mais atenção no cenário internacional. As tensões entre de um lado Estados Unidos e União Europeia e de outro Rússia e China escalam de maneira consistente.   Estados Unidos e Europa têm um problema. Não produzem quase nada que algum outro não produza, ou não possa produzir, melhor e mais barato. Em consequência, precisam apertar o torniquete, inclusive militar. Um cenário que tem semelhanças com um século atrás. Não significa que vai haver guerra, mas uma pradaria seca pode pegar fogo num acidente.

Alon Feuerwerker
jornalista e analista político/FSB Comunicação




domingo, 27 de janeiro de 2019

As tragédias permitidas

[Qual a razão para os opositores, os adversários do presidente Bolsonaro - inimigos, é o adjetivo mais adequado - insistirem em só destacar eventuais falhas do atual presidente?

São pessoas sensatas, inteligentes, experientes na vida profissional e do dia a dia e sabem que JAIR BOLSONARO é presidente do Brasil, com as bençãos de DEUS vai fazer um bom governo e terá chances concretas de reeleição.

Então o que resta aos inimigos de Bolsonaro é se conformar, aceitar o inevitável = BOLSONARO, presidente do Brasil = e aproveitar os tempos melhores que virão para a nossa Pátria Amada.]

(...)
ESTÁ NO AR
Excluído do Exército, sob ponderações no Superior Tribunal Militar que puseram em dúvida até seu equilíbrio mental, Bolsonaro ficou à distância de sua classe por muito tempo. [o processo ao qual Bolsonaro respondeu, há três décadas, se encontra nos arquivos do STM, pode ser consultado e o resultado da consulta mostrará que nem sempre o afirmado na Imprensa combina com o que está no processo.] Embora refletindo-a nas opiniões e, proveito também eleitoral, nas reivindicações. A perspectiva da candidatura à Presidência mudou sua relação com o passado. Por utilitarismo, sem dúvida, Bolsonaro empenhou-se em ser dado como capitão, representante legítimo de todas as idiossincrasias e da radicalidade conservadora, anticultural e patrioteira da caserna. [Bolsonaro não precisou, da mesma forma que qualquer militar da reserva não precisa, ser dado como capitão - o militar da reserva permanece sujeito a todas as regras militares, tanto na parte dos DEVERES quanto das PRERROGATIVAS - está na Lei.] O candidato identificado com as Forças Armadas.
Os comandos do Exército aceitaram o risco dessa identificação, apesar da preocupação até revelada. Os da reserva, categoria em que as pretensões de superioridade e os sectarismos podem se mostrar mais, regozijaram-se com a atitude de Bolsonaro. O então comandante do Exército, general Villas Bôas, que se reconhecera como um dos preocupados, formalizou a aceitação do risco, aparentando dá-lo por extinto.

Em duas semanas após a posse, a preocupação voltou a muitos. Pelo avesso, porém. Como preocupação com a possibilidade de identificação, aos olhares internos e sobretudo externos, dos militares e seus generais com Bolsonaro, suas ideias irrealistas e o círculo familiar-religioso insustentável. Desde a terceira semana, o lento desenrolar do caso Flávio Bolsonaro e seus tentáculos até o próprio Bolsonaro tiveram a contribuição do vexame no Fórum Econômico Mundial para agravar o estado de coisas. [o que tem atrapalhado, atrasado,  as investigações da movimentação atípica de um ex-assessor de Flávio Bolsonaro (ressalte-se que movimentações atípicas não são necessariamente ilegais) movimentações que parte da Imprensa suspeita envolver o deputado Flávio e outra parte já considera (baseada em que não se sabe) o presidente da República, JAIR BOLSONARO, envolvido nas mesmas, é que uma câncer - doença gravíssima, especialmente quando em estágio avançado, caso do Queiroz - resolveu aparecer por agora e tem impedido que os esclarecimentos sejam prestados.
 
Enquanto isso não ocorre, parte da imprensa insiste em requentar a notícia antiga com manchetes de duplo sentido.
 
Dificil de acreditar, mas, já tem inimigos de Bolsonaro, com acesso à Imprensa anti Bolsonaro, insinuando que o presidiu decidir retirar a bolsa de colostomia nesta semana, para se livrar de qualquer compromisso advindo da posse dos novos parlamentares.
 
Só não estão acusando Bolsonaro pela tragédia de Brumadinho - que lamentamos - devido o calendário não permitir.] 
 
(...)
 
 
Comentário inserido em transcrição parcial do artigo 'as tragédias permitidas', Jânio de Freitas, Folha de S. Paulo. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A tragédia do ensino médio

Recente estudo sobre a evolução do acesso ao sistema de ensino e sobre sua qualidade, promovido pelo movimento Todos pela Educação, uma entidade sem fins lucrativos integrada por pedagogos, gestores escolares e representantes da iniciativa privada, mostra como a crise educacional do País vem sacrificando o futuro das novas gerações. 
Em 2018, segundo a pesquisa, quase 4 em cada 10 jovens na faixa etária de 19 anos não concluíram o ensino médio na idade considerada para esse ciclo educacional. E, do total de brasileiros nessa faixa etária, 62% já estão fora da escola e 55% pararam de estudar ainda no ensino fundamental. O estudo foi promovido com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Todos pela Educação definiu uma lista de cinco metas para o crescimento e modernização da educação brasileira até 2022 e, na pesquisa de 2018, constatou que o País continua longe de alcançá-las.


 Uma das metas era fazer com que o Brasil tivesse, até o ano passado, mais de 90% dos jovens de 19 anos com o ensino médio completo. Em 2018, só 63,5% atingiram esse objetivo. E, como a qualidade desse ciclo educacional é ruim, entre os alunos que conseguem concluí-lo muitos apresentam conhecimento insuficiente em leitura, ciências e matemática, enfrentando problemas para ler palavras com mais de uma sílaba, identificar o assunto de um texto, reconhecer figuras geométricas e contar objetos. Na Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2017, o ensino médio alcançou o nível 2 de proficiência, numa escala de 0 a 9 – quanto mais baixo é o número, pior é a avaliação.
Com excesso de matérias, currículo desconectado da realidade socioeconômica e conteúdos ultrapassados, o ensino médio é considerado o mais problemático de todos os ciclos do sistema educacional. E é justamente por isso que ele se destaca por altas taxas de abandono e de reprovação.

“Falta muito para avançarmos e há um desafio para a educação básica como um todo. Muitos jovens estão fora da escola ou não se formam por causa da qualidade do ensino. Se o aluno avança de etapa sem uma base sólida e chega ao ensino médio com déficit, ele é quase induzido a sair do sistema de ensino”, afirma o diretor de políticas educacionais do Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho. O desinteresse dos estudantes pode ser visto já na primeira das três séries do ensino médio, onde 23% dos alunos abandonam as salas de aula. E é justamente por isso que a taxa de crescimento de concluintes das três séries não tem a velocidade necessária para atingir a meta prevista para 2022, lembram os técnicos do Todos pela Educação.
Entre 2012 e 2018, o número de concluintes na faixa etária de 19 anos cresceu apenas 1,9% por ano, em média, quando seria necessário que aumentasse 7,2% anualmente, para que a meta pudesse ser atingida. “O crescimento é muito lento. Ainda estamos muito distantes para dizer que o País está a caminho da universalização do ensino básico”, diz o gerente de políticas educacionais da entidade, Gabriel Corrêa.
Na realidade, os problemas estruturais do ensino médio são antigos e a saída é conhecida. Em vez de concessões a modismos pedagógicos e políticas demagógicas, é preciso reduzir o número de matérias, rever os currículos e tornar os gastos no setor mais produtivos, mediante programas de aprimoramento da formação de professores, por exemplo. E tudo isso exige maior articulação entre o governo federal e as áreas educacionais dos Estados e municípios. Sem fortalecer o ensino de disciplinas essenciais e sem motivar os alunos do ensino médio a concluir esse ciclo educacional, o Brasil continuará incapaz de formar mão de obra tão produtiva quanto a de outras economias emergentes. Não conseguirá formar o capital humano de que necessita para voltar a crescer de modo sustentado. E perpetuará as condições do atraso, da desigualdade e da pobreza, impedindo que as novas gerações se emancipem intelectual, social e economicamente.
Opinião - O Estado de S. Paulo

terça-feira, 24 de julho de 2018

Livrai-nos de tanta loucura

Nos últimos dias, tenho a impressão de que estão enlouquecendo nas altas esferas do poder e talvez não possamos fazer muito a respeito.  No Brasil, o Congresso decidiu aprovar um pacote de benesses que vai nos custar mais R$ 100 bilhões.Considerando nossa crise, isso representa grandes problemas no ano que vem: falta de recursos, atraso em pagamentos, quebradeira. O interessante é que os candidatos à presidência não protestaram. Protestar contra a farra de gastos tira votos. E eles dividem o tempo com muita precisão: uma coisa é o período eleitoral, outra o mandato.

Não percebem que, ao se calarem agora, perdem a possibilidade de resistir lá na frente. Isso pode significar não só crise política séria, mas até mesmo impeachment.  De qualquer forma, o futuro imediato do Brasil está comprometido por essas aventuras irresponsáveis. Há pouco o que fazer, exceto votar bem mas ainda assim por mais que se acerte aqui e ali, o conjunto do Congresso será assustador. A pesada máquina do atraso continuará esmagando as chances de crescimento sustentável, renovação política e recuperação da confiança nacional.  Lá fora, a loucura ainda é maior. O Presidente dos Estados Unidos critica duramente os aliados europeus e vai se prostrar aos pés de um líder autoritário russo.  Essa manobra de Trump, assim como a dos deputados brasileiros, é uma ação disruptiva. Não usaria o termo subversiva pois ele implica em alteração da ordem.

O que está acontecendo é apenas algo destinado a bagunçar, criar as bases instáveis para a chegada do caos. Os parlamentares brasileiros querem apenas alguns votos para garantir sua permanência no poder. Eles já articularam uma reforma que lhes garante o dinheiro público para disputar as eleições. Insatisfeitos, cavam o próximo abismo sabendo que dinheiro não lhes faltará. Em último caso, há sempre o aumento de impostos.  O problema é que a sociedade brasileira parece aceitar isso. A suposição de que o estado pode gastar ilimitadamente ainda é um fato na cabeça de muitos, mesmo os que não são diretamente interessados em conquistas corporativas.  O que torna a questão mais angustiante ainda: a loucura dos dirigentes não é apenas um descaminho lógico em suas cabeças mas algo que tem base na própria tolerância social.

Da mesma forma, o que acontece na conjuntura mundial não revela apenas um desvario individual. Dizem que os russos têm documentos que comprometem Trump daí sua subserviência em Helsinque.  Creio que a intepretação mais correta passa pelo fascínio que Trump mostra por governos autoritários. Ao mesmo tempo, ele representa a democracia mais poderosa do mundo.  Muitas coisas estao mudando. Rejeitar os laços culturais e políticos com uma Europa que sempre foi nossa referência, parece-me tão iconoclástico para o Ocidente, como os talibãs destruindo estátuas budistas.  De todas as formas é assim que o mundo caminha. Salvaguardas existem tanto no Brasil como nos Estados Unidos. É sempre possivel atenuar o estrago.  Mas é preciso muita água para apagar um incêndio que vem de cima. Quando deputados decidem quebrar o país e Trump colocar-se ao lado da Rússia contra aliados e o próprio serviço inteligência americano, entramos num espaço mais difícil do que o combate à corrupção e à incompetência.

Não basta apenas supor que estejam enlouquecendo. É preciso entender como as sociedades não só convivem como, de certa forma, sustentam essa loucura.  Não se trata de realizar um esforço idealista para afirmar que exista uma razão inequívoca e ela triunfará sobre os desvarios do poder. Tudo que nos resta é trocar de ilusão na tentativa de nos aproximarmos um pouco mais da realidade. A ideia de que é possivel gastar sem limites, no entanto, parece-me um componente de tragédia. Hegel dizia que na tragédia há um conflito entre o certo e o certo. Muitas vezes, no entanto, ela é apenas o resultado da imprudência humana.

Blog do Gabeira 

 

terça-feira, 8 de maio de 2018

Sob as cinzas paulistanas



A tragédia num prédio público em São Paulo expõe uma história pouco conhecida: o governo é o maior administrador imobiliário do país, mas acumula resultados catastróficos

Por trás da tragédia da ocupação, incêndio, desabamento e morte num prédio público no Centro de São Paulo há uma história pouco conhecida: o governo federal é o maior administrador imobiliário do país, mas acumula resultados catastróficos na gestão desse patrimônio. Estima-se em 652,6 mil o número de imóveis de propriedade da União. Dados do Ministério do Planejamento indicam a existência de outros 2,3 mil alugados pelo governo. 

O patrimônio público cresce de forma constante, com a incorporação de propriedades de devedores do Erário. Por mais incrível que pareça, depois de 129 anos de República, a burocracia federal ainda não conseguiu ter uma dimensão precisa, o valor exato e dados confiáveis sobre os imóveis da União. Nem mesmo sobre quem são as pessoas e empresas locatárias e ocupantes das suas edificações e terrenos nos 5.570 municípios. O cadastro federal não é confiável. Relaciona 652,6 mil imóveis e situações esdrúxulas, como as detectadas em recente auditoria. Eis algumas:
- existem 864 terrenos com uma área total inferior a 15 metros quadrados;
- pelo menos 27 imóveis estão cadastrados com uma área igual a "ZERO";
- entre as pessoas e empresas locatárias, pelo menos 26 mil sequer existem para a Receita. Não têm identificação (CPF ou CNPJ) localizável;
- contam-se 36 mil nomes de pessoas físicas na relação de locatários da União que, comprovadamente, morreram há muito tempo;
- outras 1.112 pessoas nasceram antes do século XX. Teriam mais de 117 anos;
dezenas são menores de 16 anos;
- há um grupo de 57 locatários (pessoas e empresas) registrados com nomes que incluem dígitos — algo como “José” ou “Cia.”, “1,2,3,4”... 

A negligência é obra de sucessivos governos. E um dos resultados é o desperdício de dinheiro: apesar do patrimônio, a administração federal gasta mais do que recebe com aluguel de imóveis. A despesa pública com locações imobiliárias para atividades burocráticas e prestação de serviços é de R$ 1,6 bilhão por ano. Isso equivale ao dobro daquilo que o governo recebe com aluguel de bens a particulares, pessoas e empresas.  O quadro piora com o calote privado. O governo cobra taxas — além do aluguel — dos ocupantes ou beneficiários de propriedades da União. Em tese, existem 519.855 imóveis públicos cujos ocupantes estão sujeitos ao pagamento. Na vida real, a maioria simplesmente não paga: “Estima-se em, aproximadamente, 60% de taxa de inadimplência no pagamento de taxas de ocupação e foro devidas”, repetem relatórios oficiais dos últimos 24 meses. 

São 312 mil os ocupantes de imóveis públicos que devem e não pagam. O Ministério do Planejamento, que abriga a Secretaria de Patrimônio da União, informa ter iniciado “processo de cobrança administrativa” dessas pessoas e empresas. Dentro desse grupo de devedores estão 12,6 mil pessoas e empresas, situados em 14 estados e no Distrito Federal, com débitos individuais superiores a R$ 500 mil. Juntos, somam uma dívida de R$ 566,7 milhões.  Sob as cinzas paulistanas tem-se um histórico de incúria com bens públicos, pontuado pela manipulação política da miséria e pela impunidade. 

José Casado - O Globo