O que o
presidente Jair Bolsonaro tem a ver com a tragédia na escola de Suzano? Tudo! É
claro que ele não pode ser responsabilizado pelo ato tresloucado de duas
pessoas. Não se trata de responsabilização penal, mas de responsabilidade política.
E, nesse caso, seu discurso está na raiz do problema. Não fosse assim, ele
teria se manifestado de pronto. Mas com que cara? O que se tem, até agora, é só
uma nota fria, que transforma os mortos em dados de burocracia. Fazer o quê?
Pouco antes, o presidente havia afirmado, numa conversa com um grupo de
jornalistas, que dorme com uma arma ao lado da cama, embora seja uma das
pessoas mais bem protegidas do mundo. [a arma mais confiável é a que está ao nosso lado, em qualquer lugar - debaixo do travesseiro é um dos melhores, tem que estar ao alcance da mão e possibilitar o uso rápido.
Dois pontos precisam ser lembrados:
1 - a recente modificação no 'estatuto do desarmamento' - a primeira de muitas, esperamos que em breve seja simples e totalmente revogado - ocorreu há pouco mais de 30 dias.
Na tragédia em Suzano a arma mais moderna, um revólver .38, existe no Brasil há mais de 100 anos e pode ser encontrada facilmente - mesmo com o famigerado estatuto ainda em vigor.
As demais armas foram machados, arco e flecha, besta - algumas sequer podem ser classificadas como armas brancas - o que a torna de livre posse e porte;
2 - Bolsonaro desde a campanha defende a militarização das escolas e uma das formas já está sendo iniciada em Brasília - DF, com excelentes resultados.
Com a presença de policiais em escolas públicas, tragédias como a de Suzano não ocorrerão.
Os candidatos a atiradores serão abatidos ao primeiro embate.
Da mesma forma, a tragédia ocorrida no Rio, em Realengo, em 2011, na qual um ex aluno matou vários estudantes e se suicidous também não se repetirá - apenas para registro tal tragédia, ocorreu quando Bolsonaro sequer pensava em ser presidente e ter como um de seus compromissos de campanha a revogação do estatuto que arma os bandidos e desarma as pessoas de bem.]
Manifestou-se
assim o Palácio: "Mais uma vez, nosso país é abalado por uma grande
tragédia. O Governo Federal manifesta seu profundo pesar com os fatos ocorridos
na cidade de Suzano, em São Paulo, apresentando suas condolências e sinceros
sentimentos às famílias das vítimas de tão desumana ação. Ao Estado de São
Paulo, colocamos nosso total apoio para auxiliar na apuração dos fatos".
Sobre um sujeito que urina em outro, proselitismo vulgar; sobre o
massacre numa escola, o silêncio. O tuíte do xixi tinha 177 toques sem espaço.
A parte da nota planaltina que se refere aos mortos e seus familiares, 170.
Desconto, nesse caso, o cabeçalho genérico e a oferta feita a São Paulo, o ente
federativo, que não levou tiro. Um presidente é uma referência política, moral
e cultural. O nosso poderia simbolizar, a exemplo de muitos mundo afora, a cultura
da não-violência, da não-retaliação, da convivência entre divergentes e
opostos. Mas ele faz justamente o contrário. Alguns massacram ex-colegas de
escola. Outros massacram jornalistas com base em informações falsas. Nos dois
casos, a perspectiva da eliminação do "outro" que me atrapalha, do
"outro" que não segue a minha cartilha, do "outro" que quer
o meu mal.
Aos
jornalistas, o presidente disse que pretende também flexibilizar o porte de
armas. E aí, sim, mora um grande perigo. Aquele decreto ampliando a posse,
embora já irresponsável, não tem grande relevância na violência cotidiana. Já o
caso da generalização da posse pode ter efeito explosivo. Estudos às pencas
indicam que parte considerável dos eventos com armas tem motivação fútil.
Segundo o Atlas da Violência, foram 62.517 homicídios no país em 2016; 71,7%
praticados por intermédio de armas de fogo, como aquela que Bolsonaro disse, na
conversa com os jornalistas, repousar em seu criado-mudo (espero que não seja
debaixo do travesseiro) enquanto dorme.
Por que alguém rigidamente protegido pela Polícia Federal e por serviços
especiais das Forças Armadas precisa dormir praticamente agarrado a uma arma?
Desconfiança de que sua segurança tenha sido infiltrada por pessoas
interessadas na sua morte? Nesse caso, convém contratar alguém para provar a comida,
o cafezinho, os produtos de higiene pessoal… Nunca se sabe quando alguém pode
meter Antrax no sabonete, não é mesmo? É evidente que não se sente inseguro.
Ele estava apenas expressando, mais uma vez, a sua devoção às armas, o que vale
como um convite e uma recomendação para ao restante dos brasileiros. Se ele,
protegido por uma multidão armada até os dentes, precisa de um revólver para se
sentir seguro, o que deveríamos fazer nós? [os que apesar de super protegidos, rigoroso e eficiente esquema de segurança, costumam dormir com uma arma ao alcande da mão são motivados, na maioria das vezes, pelo hábito.
Estar sem uma arma ao alcance da mão, deixa muitos com a sensação de que estão despidos.] O que deveriam fazer os milhões de
brasileiros que moram em favelas, em barracos que nem de alvenaria são,
sujeitos a balas perdidas?
Imaginem esses aglomerados urbanos armados até os dentes, com balas a
atravessar paredes sem atritos, encontrando seu destino final na carne humana.
Sim, é verdade!, eu estou falando de uma gente mais escura, não é?, que mora
nesses locais. Segundo o Atlas da violência, 71,5% das vítimas de homicídio em
2016 eram negras ou pardas. A carne preta continua a ser a mais barata do
mercado, como na música. Suas afirmações infelizes foram feitas pouco antes da
tragé
dia de Suzano, o que demonstra que os fatos começam a perseguir as
bobagens de Bolsonaro. Não há nada de místico nisso. É que tragédias, com
efeito, acontecem. E elas perseguem com especial afinco aqueles que mais dizem
tolices. Governistas outros disseram coisas odiosas, sim. Ainda voltarei ao
assunto. Precisamos de lideranças políticas que desarmem pessoas e espíritos.
Bolsonaro
faz o contrário. E, como se vê, tem mais a dizer sobre xixi do que sobre
pessoas que morrem à bala. Ah, sim: a julgar pelo João 8:32 que o presidente
vive citando, imaginei que ele dormisse ao lado da Bíblia. Mas há uma
hierarquia, pelo visto. Primeiro vem a bala. Nem sempre a verdade liberta, não
é mesmo?.
[apenas para registro:
MST não tem personalidade jurídica;
PCC, CV e outras facções também não;
MST não tem sede estabelecida e publicamente conhecida;
PCC, CV e outras facções também não possuem endereço oficial.
Existe outras semelhanças. Mas, bastam as citadas para justificar a emissão de um Decreto pelo presidente da República proibindo que órgãos públicos dialoguem com bandidos.
Bolsonaro, os mortos
que saem no xixi e bala ao lado da cama, não a Bíblia ... - Veja mais em
https://reinaldoazevedo.blogosfera.uol.com.br/?cmpid=copiaecola
Bolsonaro, os mortos
que saem no xixi e bala ao lado da cama, não a Bíblia ... - Veja mais em
https://reinaldoazevedo.blogosfera.uol.com.br/?cmpid=copiaecola