O PSDB arrisca ficar com o mico de Temer
O quadro
“Salvator Mundi”, de Leonardo da Vinci, foi arrematado por US$ 450 milhões,
batendo o recorde de US$ 170 milhões de um Picasso. Foi também um sinal dos
tempos. Entenda-se
que se uma pessoa achou que o quadro valia US 450 milhões, para ela o preço foi
justo. Nenhum museu entrou na disputa e nenhum especialista endossou o que
parece ter sido uma maluquice. Em 2005, com sua atribuição discutida, o quadro
valeu US$ 10 mil. Em 2012, já atribuído a Leonardo, ele foi vendido por US$ 127
milhões a um bilionário russo. De lá para cá começou a ser conhecido como “o
último Leonardo” que chegava ao mercado, ou ainda a “Mona Lisa masculina”.
O
"Salvator Mundi" não é uma Mona Lisa porque muito do que Leonardo
pintou em 1500 foi-se embora em sucessivas restaurações, numa das quais
puseram-lhe um bigode, raspado depois. Nos US$ 450 milhões pagos pelo quadro
houve muito marketing e, acima de tudo, o reflexo do excesso de dinheiro nas
mãos de quem tem muito. No início
dos anos 30 o banqueiro americano Andrew Mellon comprou 21 quadros numa
liquidação de obras-primas vendidas pelo museu russo do Hermitage e pagou US$
1,1 milhão (equivalentes a US$ 1,8 bilhão em dinheiro de hoje). Levou a “Alba
Madonna” e o “São Jorge” de Rafael, mais uma “Anunciação” de Jan Van Eick, quatro
Rembrandts e um Boticelli. Em 1967 sua filha Ailsa comprou por US$ 5 milhões
(US$ 40 milhões de hoje), o magnífico retrato de Ginevra di Benci, o único
Leonardo que está fora da Europa. (Os Mellons doaram tudo ao povo americano.)
O Conde
Francisco Matarazzo ensinava que “mercadoria não tem preço de mercado, terá
preço se tiver quem a compre”. Se isso valia para banha e biscoitos, estimar o
valor de uma obra de arte é coisa muito mais difícil. Ainda assim, houve algo
de extravagância nos US$ 450 milhões do Leonardo. Para quem
quiser, há uma reflexão do grande crítico Robert Hughes sobre arte e dinheiro,
feita em 1984. Chama-se “Art and Money” e está na rede. Nela, Hughes previu o
colapso do mercado de arte contemporânea. Não deu outra.
O PSDB
arrisca ficar com o mico de Temer
Quando o
senador Renan Calheiros empossou Michel Temer na Presidência da República,
disse-lhe baixinho: “Estamos juntos.” Durou pouco, pois Renan foi o primeiro
cacique do PMDB a pular do barco da impopularidade de Temer. Aproximou-se do
PT, protegendo sua base de poder em Alagoas, estado governado por seu filho. Quem foi
para a rua ou bateu panela contra o PT em 2016 está hoje diante de uma amarga
realidade. O PMDB que deu os votos para a deposição de Dilma Rousseff está
namorando o PT e vice-versa. Lula e Dilma falam em “perdoar” quem defendeu o
impeachment. É uma manobra oportunista, pois a dupla é que deveria pedir perdão
por ter jogado o país numa de suas piores crises econômicas.
O PT e o
PMDB costuram seus acordos nas bases municipais e estaduais. Isso começou em
Alagoas e hoje já está no Ceará de Eunício Oliveira e no Pará de Jader
Barbalho. No Paraná de Roberto Requião a aliança é mais velha. Com isso, o
grande mico do jogo vai para o tucanato, ainda incapaz de desistir de um governo
que o PMDB está abandonando pela beira. Renan
Calheiros mostrou-se um sábio, mas ele simboliza também o produto da esperteza
da oligarquia política nacional. Sua base eleitoral irradiou-se a partir do
município de Murici, com cerca de 40 mil habitantes. Em 2010, 30% de sua
população com mais de 15 anos era analfabeta. Boa parte dela está no Bolsa
Família.
O odiado
Filinto
Está nas
livrarias “O homem mais perigoso do país”, do professor americano R. S. Rose.
Numa época de certezas rancorosas, essa biografia de Filinto Muller (1900-1973)
é um convite à reflexão. Desde os anos 30, quando foi o chefe de polícia do
Estado Novo, até sua morte, como presidente da Arena, o partido da ditadura,
ele foi um dos homens mais odiados do país. Fugiu da
Coluna Prestes e foi um dos responsáveis pela extradição para a Alemanha
nazista da judia comunista Olga Benário, grávida. Tudo falso. Quando Filinto
exilou-se na Argentina, a chamada Coluna Prestes não existia. Olga Benário foi
extraditada por ordem de Getúlio Vargas e Filinto não tinha voto na reunião do
ministério em que isso foi decidido. [a extradição de Olga Benário foi legítima, legal e trouxe vantagens para o Brasil; tratava-se de terrorista condenada na Alemanha, condenação ocorrida antes de Hitler assumir o poder (portanto, não pode ser atribuída a uma injustiça cometida por Hitler), invadiu a prisão de Moabit para libertar outros comparsas comunistas presos, fez estágio na União Soviética e foi enviada para o Brasil com vistas a coordenar movimento visando transformar nosso País em uma satélite comunista, já sendo cúmplice do comunista Luis Carlos Prestes.
Prestes, ela e outros comunistas lideraram a Intentona Comunista de 35 e felizmente fracassaram (é indiscutível que a 'intentona comunista de 35' foi um ato covarde dos comunistas, visto que em ato traiçoeiro mataram soldados brasileiros que se encontravam dormindo e todo o movimento foi um ato de ALTA TRAIÇÃO À PÁTRIA.) e se tornaram fugitivos.
Viveu algum tempo na clandestinidade, foi presa e deportada para a Alemanha, grávida. Apesar de presa teve uma gravidez normal, parto normal e toda a legislação alemão foi seguida.
Finalmente foi executada em 1942 e sua filha entregue para a avó paterna em perfeitas condições de saúde.]
Filinto
ficou com a conta das torturas do Estado Novo porque era o chefe de polícia e
sabia delas, mas os chefes militares e Vargas saíram ilesos. Uma CPI
encarregada de investigar o assunto teve muitos depoimentos e nenhum resultado.
O levantamento que Rose fez desse trabalho é primoroso. “O homem
mais perigoso do País” foi um militar germanófilo e autoritário. Rose mostra-o
como um “conservador, nacionalista, imperturbável no seu apoio a duas
ditaduras”, ambas anticomunistas.
O
professor pesquisou perto de 70 mil documentos com a volúpia de um
“criminologista qualitativo”. Por isso ele informa: os 18 do Forte foram 23 e
um deles, o tenente Eduardo Gomes, que viria a ser conhecido como o
“Brigadeiro”, foi ferido por tiros que lhe atingiram os testículos.
(Curiosidade: vem daí o nome do doce que se apropriou do apelido.)
Madame
Natasha
A boa
senhora gostaria de saber por que tanta gente resolveu dizer que existe uma
coisa chamada “fake news”. Isso quer dizer “notícias falsas”, ou mentiras, mas
em inglês tudo fica mais chique.
MATÉRIA COMPLETA em Elio Gaspari - Folha de S. Paulo