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sexta-feira, 28 de abril de 2023

O Cara nunca existiu - Augusto Nunes

 Revista Oeste

O mundo começou a enxergar a face sombria de Lula

 

Janja e Lula | Foto: Reprodução

Em 22 de janeiro deste ano, o presidente da República reassumiu o posto de Primeiro Passageiro do Aerolula para uma visita à Argentina e ao Uruguai. Nos dois países, cumprimentou-se por ter livrado o Brasil de Jair Bolsonaro e prometeu reabrir o cofre do BNDES para socorrer nações necessitadas em geral e, em particular, ditaduras amigas. 
 
Em fevereiro, Lula baixou nos Estados Unidos. Na conversa com Joe Biden, disse que “Bolsonaro se automarginalizou durante quatro anos”, louvou-se por ter afastado do poder o cúmplice do inimigo comum Donald Trump e sugeriu que ambos se unissem “para impedir que haja algo semelhante ao Capitólio nos Estados Unidos ou à Praça dos Três Poderes no 8 de Janeiro”
Na hora da foto oficial do encontro na Casa Branca, numa demonstração de amor sem precedentes, chamou a primeira-dama para ficar entre ele e Biden. Janja capricha no sorriso de quem, poucos meses depois de noivar na cadeia em Curitiba, tem ao lado o número 1 do Brasil e o governante mais poderoso do planeta. Lula, Janja e Joe Biden - Foto: Reprodução/Instagram [Observem com atenção a foto e verão que Biden apesar de octogenário não perdeu tempo = enquanto o 'boquirroto' expelia, via oral, bobagens, Biden foi mais objetivo].

Entre janeiro de 2003 e dezembro de 2010, as duas mulheres que se alternaram no posto hoje ocupado por Janja nem sonharam com tamanho privilégio. Tanto a primeira-dama Marisa Letícia (por timidez) quanto a segunda-dama Rosemary Noronha (porque até no reino de um Lula há limites para a desfaçatez) nunca deram as caras em fotos nas quais só cabem chefes de Estado. Chance é que não faltou. 
Somados os dois primeiros mandatos, Lula fez 139 viagens internacionais e zanzou por 80 países, além de instalar o palanque ambulante na Antártida, na Guiana Francesa e na Palestina. Na segunda temporada no poder, resolveu aumentar a plateia de acompanhantes
Como era gente demais para o Aerolula, um segundo avião de grande porte foi requisitado para os deslocamentos presidenciais. Neste terceiro mandato, duas aeronaves têm transportado Lula e um séquito nunca inferior a 80 cabeças. A economia brasileira vai atravessando uma zona de turbulência de dimensões portentosas, mas o patrocínio compulsório dos pagadores de impostos induz a turma da primeira classe a enxergar o tempo todo um céu de brigadeiro.

Surpreendido pelo coronavírus, Lula teve de adiar a viagem à China marcada para o fim de março. Condenado a um mês inteiro sem voos transatlânticos, ordenou ao inventivo setor de viagens do Planalto que tratasse de evitar a reprise dessa tragédia em qualquer outro mês de 2023. É quase certo que o presidente itinerante revisitará a África em maio o roteiro inclui Angola, Moçambique e África do Sul. 
Ainda em maio, estará no Japão para acompanhar a reunião de cúpula do G7 a convite do grupo que reúne as sete maiores potências econômicas do mundo. 
Em setembro, pousará na Índia para participar do G20. 
No mesmo mês, vai discursar em Nova York na sessão de abertura da assembleia geral da Organização das Nações Unidas. Não é pouca coisa. Mas o presidente itinerante é ansioso. 
 Ainda não completara a convalescença quando esticou a passagem pela China com uma escala nos Emirados Árabes. 
No começo de abril, baixou em Pequim à frente de uma comitiva de espantar a realeza saudita — e com um bom pedaço do mesmo mês reservado a incursões pela Península Ibérica.

Os delirantes discursos de improviso informam que Lula 3, embora continue fazendo bonito na modalidade bravatas & bazófias, vai se tornando uma caricatura do populista espertalhão do começo do século 
 
Nesta quinta-feira, depois das cobranças e hostilidades engolidas em Portugal, Lula enfrentava na Espanha a onda de indignação provocada pelo besteirol produzido em território chinês — a que se somou o desempenho bisonho em solo europeu. 
Na China, claro, não faltaram insultos a Bolsonaro. Mas, animado com o sorriso profissional dos anfitriões, com o sorriso subalterno da comitiva, com o sorriso de professorinha-em-lua-de-mel de Janja, o pacificador de picadeiro revelou-se em sua repulsiva inteireza
Ficou claro que Lula sonha com a vitória da Rússia na guerra que Vladimir Putin tornou inevitável ao ordenar a invasão da Ucrânia. 
De novo, recorreu a argumentos que escancararam, mais que o desprezo pela soberania dos países, a profunda estupidez geopolítica e histórica. Lula ignora, por exemplo, que a Crimeia foi parte do mapa da Ucrânia até ser brutalmente confiscada por Putin
Ele também acha que os Estados Unidos e a União Europeia se meteram no conflito não para socorrer o agredido, mas para aumentar os lucros da indústria bélica dos aliados ocidentais. 
E continua convencido de que só a entrada do Brasil vai fazer funcionar o Conselho de Segurança da ONU. 
 
Sitiado por jornalistas independentes, o mais antigo candidato sem chances ao Nobel da Paz revidou com rajadas de mentiras. 
Afirmou que nunca dissera o que disse. Jurou que jamais atribuíra à Ucrânia um único e escasso pecado. 
Garantiu que a política externa da canalhice, que montou em parceria com Celso Amorim, é uma flor de neutralidade
Murmurou que o Brasil condenou a invasão na assembleia da ONU (sem informar que isso aconteceu no governo Bolsonaro).  
Vaiado nas ruas e repreendido no Parlamento, qualificou tais manifestações de “papelão”. Em Lisboa, não entendeu (ou fingiu não entender, para fugir do tema) uma pergunta formulada em português de Portugal). Reprisou o numerito em Madri, ao ouvir uma pergunta em espanhol com tradução simultânea para o português.

"Lula tem dificuldade para entender pergunta de jornalista em Portugal"
 
 
"Mesmo com tradução simultânea, Lula não entende pergunta em Madri" 

O mais idoso brasileiro a assumir a Presidência da República tem 77 anos. Mas com tesão de 20, ressalva nosso Charles Chaplin de botequim. Tanto assim que vai muito bem o casamento com Janja, 56. Tanto assim que já anda pensando na candidatura à reeleição. 
Ele já sabe que Barack Obama, em seu livro de memórias, confessou que abandonou o time de admiradores do colega brasileiro depois de descobertas as bandalheiras em que se envolvera. 
 Falta alguém disposto a contar a Lula que não foi Obama quem o promoveu a O Cara.  
Foi o intérprete que acompanhava o governante brasileiro numa reunião de chefes de Estado.

“I love this guy”, disse Obama a assessores ao topar com Lula. Tradução correta: “Eu gosto desse rapaz”. Para lustrar o ego do chefe monoglota, o intérprete fingiu ignorar que gírias não têm correspondentes em outros idiomas e, resolvido a transformar afago em condecoração, promoveu “this guy” a “O Cara”. 
 O mundo enfim começou a ver a face sombria do rapaz que sumiu com a passagem do tempo. O Cara, esse nunca existiu.

Leia também “Dias de loucura”
 
 
 
 

domingo, 8 de janeiro de 2023

O novo ato subversivo das Forças Armadas contra Lula

O governo Lula está perdendo uma grande oportunidade que lhe foi dada pelas urnas: colocar – de uma vez por todas – um freio nas Forças Armadas.

Nesta semana, um (insubordinado) ex-comandante da Marinha não participou da tradicional cerimônia de passagem de comando da força. É a primeira vez que isso acontece desde a redemocratização.

As Forças Armadas são cercadas de rituais, por isso, mais do que em qualquer outro braço do Estado, os atos de militares precisam ser lidos como mensagens. E o significado dessa ausência foi a de desrespeito ao comandante em chefe do Exército, Marinha e Aeronáutica, Luiz Inácio Lula da Silva.

O almirante de esquadra Almir Garnier Santos resolveu fazer de sua saída da força um ato político. Nele, demonstra a contrariedade com a vitória do presidente. Dentro da Marinha não é segredo que ele serve ao bolsonarismo. E quis deixar essa marca, mesmo descumprindo as regras básicas do mundo militar: a disciplina e o respeito à hierarquia.

Não foi o único militar a desrespeitar o código militar. O novo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, não citou o presidente Lula que o nomeou – em seu discurso, e disse que enfrentou “a incompreensão” de pessoas próximas.

“Como filho da pátria tão idolatrada eu não fugiria à luta, nem me furtaria à nobre missão”. O brigadeiro apresentou sua promoção como um sacrifício, um “não fugir à luta”.

Tanto o comandante da Aeronáutica, quanto o do Exército do governo Bolsonaro exigiram entregar seus cargos antes. Não queriam bater continência para o novo Comandante em Chefe, que é Lula.

O general Freire Gomes, o almirante Almir Garnier e o brigadeiro Baptista Júnior participaram dessa conspiração o nome é esse, conspiração – para entregar seus cargos antes. O almirante ficou, mas fez da sua ausência a mensagem de que estava no movimento de rebelião ao resultado das urnas.

Qual o tamanho do simbolismo disso? Enorme.

O bolsonarismo, que politizou os quartéis com uma visão deturpada da ditadura militar, permanece vivo e precisa ser combatido imediatamente.  
Existem outros como esses comandantes pensando a mesma coisa agora, no serviço da ativa.

Aliás, marcado pela visão subjetiva da realidade, o simbolismo foi um dos mais importantes movimentos literários do final do século XIX. Partindo daquele prisma, Bolsonaro venceu uma batalha, mesmo na sua derrota.

Como revelou a coluna, a ideia da gestão José Múcio à frente da Defesa é a de contemporizar esses atos políticos de agentes armados, os mesmos que deveriam exercer uma função de Estado. Acha que o melhor é por água na fervura.

A estratégia é arriscada. É preciso lembrar que o bolsonarismo só nasceu porque não houve o enfrentamento dos crimes cometidos por agentes de Estado durante a ditadura militar. Não deveria ser necessário lembrar um passado tão recente.Até a Bíblia ensina: “assim como o chicote foi feito para o cavalo, e o freio, para o jumento, a vara da disciplina é para as costas de quem não tem juízo”. [a sugestão do repórter apresentada no primeiro parágrafo " colocar – de uma vez por todas – um freio nas Forças Armadas.", nos faz lembrar a fábula dos ratos colocando guizo no pescoço do gato. 
Vai ver que faltou ao ex-presidiário quem se dispusesse a colocar o guizo no gato. 
O mesmo vale para seguir a disciplina prevista na Biblia.]

Nesse caso, nem o almirante – ou o brigadeiro e o general – de Bolsonaro, nem o ministro de Lula parecem ter entendido o comando.

Matheus Leitão - Coluna Revista VEJA

 

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Comandante da Aeronáutica é alvo de críticas de ministros no STF [opinião, cada um tem a sua]

A conduta do comandante, muito política para o posto que ocupa, prejudica a imagem das Forças Armadas, avaliam ministros ouvidos pelo Radar

Não foi apenas Jair Bolsonaro, com suas grosserias contra o ministro Luis Roberto Barroso, que irritou os ministros do STF na semana passada. Integrantes da Corte também estão insatisfeitos com o lado “tuiteiro” do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior, que anda, na visão dos ministros da Corte, avançando em temas políticos em algumas falas.

Numa entrevista ao Globo, por exemplo, Baptista disse que a nota da Defesa, sobre “não aceitar” críticas aos militares envolvidos em supostos casos de corrupção no governo, era um “alerta”. Ele também curtiu postagens de apoiadores de Bolsonaro que pediam uma “faxina” no país.

Para um importante ministro da Corte ouvido pelo Radar, [detalhe: tem ministro do STF mais desimportante do que um outro = seu par?como se avalia a importância de um ministro do STF? antigamente eram todos iguais em importância? por exemplo, a conduta do comandante prejudica a imagem das Forças Armadas. “O que esse comandante da aeronáutica quer dizer? Vai pegar em armas? Se Bolsonaro não conseguiu dar golpe em 2019, que era um presidente forte. Agora, que é fraco e já não governa – é governado pelo Congresso – é que não vai conseguir”, diz o ministro. [em nossa modesta opinião, um golpe - não estamos defendendo golpe ou dizendo que vai acontecer um - para ocorrer independe da força do presidente junto ao Congresso, junto ao STF.]

Outros ministros manifestam pensamento semelhante, ao avaliar que a postura do chefe da Aeronáutica contribui para o clima de polarização eleitoral que o presidente tenta criar. “As Forças Armadas não precisam de cabo eleitoral”, ironiza um magistrado.

Radar - VEJA


sexta-feira, 9 de julho de 2021

Comandante da Aeronáutica refaz a ameaça e diz que as Forças Armadas têm base legal para agir - Míriam Leitão

[O Governo Bolsonaro precisa ter em conta que acusou, insinuou prática criminosa, tem que provar - o ônus da prova cabe ao acusador. Não provando, tem que ser processado, punido na área cível e criminal.
Senador da República não pode usar o cargo para efetuar denúncias infundadas - especialmente se valer do caráter circense da CPI Covidão para assacar aleivosias contra as Forças Armadas do Brasil. 
E, não foi uma ameaça, apenas um alerta = oportuno e necessário.
Um senador da República, não pode e nem deve acusar sem provas - pode até denunciar uma suspeita para que seja investigada - JAMAIS acusar.
Quanto à lembrança apresentada  pelo Comandante da Aeronáutica que 'homem armado não ameaça",  foi apenas um oportuno lembrete a uma das regras básicas que se aprende junto com o aprendizado sobre o manuseio de uma arma:  jamais se deve sacar uma arma para fins de exibição. Tiro de advertência pode até ser efetuado, mas em situações específicas e dentro daquele regra: casa caso é um caso. ]

Entrevista boa é a que revela. E essa dada pelo comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior, à Tânia Monteiro para o "O Globo" reforça o tom de  ameaça da nota divulgada contra o senador Omar Aziz em vários pontos. Quando a repórter perguntou o que a nota quis dizer com “não vamos aceitar”, o brigadeiro responde que a nota é um "alerta" e que não irão enviar "50 notas para ele (Omar Aziz). É apenas essa". É como quem diz: é a última vez que vamos falar.

Quando ela insiste: “o que pode acontecer?”, ele diz que as Forças Armadas têm  "mecanismo dentro da base legal para evitar isso". Eles não têm base legal alguma para ameaçar um senador e, portanto, todo o Senado. O que eles vão fazer? Fechar o Congresso? Prender o Omar?
Em outro trecho, o brigadeiro diz que "homem armado não ameaça". Como a dizer que ele  (o homem armado) age. Só gostaria de lembrar ao brigadeiro que a arma que ele tem nas mãos deles foi colocada pelos nossos impostos, para defender o Brasil e não nos ameaçar. 
 
De acordo com a sua interpretação de fatos, a imprensa e a oposição têm uma pauta. A de "colocar no imaginário popular que os militares, principalmente os de mais alta patente, não são tão honestos, sequer tão capazes, é uma pauta que parte da imprensa vem tentando incutir nas suas matérias. E parte da oposição também". [essa pauta existe e sempre que pode é destacada, lembrada = é nítido o esforço que parte da mídia faz,  para desacreditar as Forças Armadas e desmoralizar o Governo Bolsonaro - o sonho dessa parte marrom da mídia, acertadamente chamada de mídia militante, é que Bolsonaro se torne um presidente sem autoridade e as Forças Armadas do Brasil percam a credibilidade que possuem.]

E em seguida ele passa para a defesa política aberta de Bolsonaro, entrando diretamente na briga política, o que ele está proibido de fazer. “Alguns valores como combate à corrupção, valores republicanos, foram a base da campanha do presidente Bolsonaro, que o elegeram. Para que a oposição tente voltar, ela tem que combater esses valores”. [afinal de contas, a quase totalidade da chamada oposição, com destaque para a maldita esquerda, não cultua o combate à corrupção e outros valores republicanos.] Como pessoa, Carlos Almeida Baptista Junior pode ter preferências políticas, como comandante da Aeronáutica não pode.

É importante a gente ter em mente que o brigadeiro é o mais explicitamente bolsonarista dos comandantes militares. E ele tem cruzado a linha de não manifestação política dos militares constantemente nas redes sociais. Disse que votou em Bia Kicis, uma das mais radicais deste grupo político e que já fez ataques diretos ao STF. [a colunista quer julgar as pessoas pelo exercício do direito de votar em quem quiserem? e os milhões de brasileiros que votaram no celerado Lula? ? a permissão constitucional dando a todos o direito de possuirem opinião e de expressá-la, não é válida se a opinião for contra o Supremo?] Faz tuítes e retuíta posts com conteúdo político a favor do governo e criticando a oposição.  Como comandante da Aeronáutica ele não pode se preocupar se fica esse governo ou volta a oposição, porque as Forças Armadas são instituições do Estado brasileiro e não deste ou daquele governo.

O brigadeiro deu a entender ainda que não pode se investigar nem Eduardo Pazuello nem Elcio Franco. Diz implicitamente que Aziz tem feito ilações contra o ex-ministro da Saúde. Considera que o presidente da CPI está julgando Pazuello prematuramente. "Um general da ativa, isso é muito desagradável e não podemos aceitar". Pazuello, Franco e até Braga Neto estão na linha de comando de decisões que estão sendo investigadas pela CPI, porque foram atos governamentais que levaram ao aumento do número de mortos. Eles precisam ser investigados porque esse é o fato determinado da CPI [A ilustre colunista sabe mais que este escriba,  que o chamado por ela fato determinado da CPI, não é o objetivo real dos 'donos da CPI'.] E as Forças Armadas não podem preliminarmente dizer que não irão aceitar que uma pessoa não possa ser investigada. Essa entrevista é uma escalada da mesma ameaça que está na nota dos comandantes militares e do ministro da Defesa.
 
Míriam Leitão, colunista - Coluna em O Globo

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A Justiça Eleitoral é coisa nossa

Ao custo de R$ 25 milhões por dia, essa invenção nacional trata de demandas que poderiam ser resolvidas na Justiça comum e escancara a ineficiência do Estado

Assim como a jabuticaba, o brigadeiro, o pão de queijo, a tomada de três pinos e o frescobol, a Justiça Eleitoral também é uma brasileirice.

Com 25 mil servidores, a Justiça Eleitoral dispõe de uma verba de R$ 9,2 bilhões em 2020. O valor ultrapassa o orçamento anual de cidades como Guarulhos (1,4 milhão de habitantes e orçamento de R$ 4,26 bilhões), Manaus (2,2 milhões e R$ 6,25 bilhões) ou Porto Alegre 
(1,5 milhão e R$ 8 bilhões), e é superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de 5.459 dos 5.570 municípios brasileiros.
Vale a pena destrinchar a cifra desta que é uma das cinco repartições do Poder Judiciário no país. 
São R$ 766 milhões por mês. Ou R$ 25 milhões por dia. Ou R$ 1 milhão por hora. Ou 17,5 mil por minuto. Ou mais de R$ 290 a cada segundo. 
A quantia por segundo equivale ao valor atual do auxílio emergencial, de R$ 300, pago pelo governo federal para tentar minimizar as consequências econômicas da epidemia de coronavírus para os trabalhadores.
O montante inclui os gastos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que corresponde a mais de R$ 2 bilhões, dos 27 Tribunais Regionais Eleitorais (somados, cerca de R$ 6 bilhões) e do Fundo Partidário (quase R$ 1 bilhão). Mas não inclui o Fundo Eleitoral, que neste ano ultrapassou a marca de R$ 2 bilhões. [Fundo Eleitoral + Fundo Partidário = 3 BILHÕES = (DEZ BILHÕES) 10.000.000 DE AUXÍLIO EMERGENCIAL no valor de R$ 300,00.
Decisão da 1ª Instância da Justiça Federal autorizava a que o dinheiro dos dois fundos fosse usado no combate ao covid-19 - só que o senador Alcolumbre, presidente do Senado, recorreu e a decisão foi revertida.]

(..........)

Histórico
Assim como a jabuticaba, o brigadeiro, o pão de queijo, a tomada de três pinos e o frescobol, a Justiça Eleitoral também é uma brasileirice. Na maioria dos países, pendências eleitorais são decididas pela Justiça comum. “O modelo brasileiro surgiu por causa das fraudes eleitorais rotineiras durante a República Velha, quando os pleitos eram organizados pelo Executivo federal e lideranças locais”, explica o procurador regional da República Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, que foi procurador eleitoral até setembro deste ano e acredita na eficácia do sistema brasileiro. “Naquela época havia, por exemplo, o ‘voto de cabresto’, quando os coronéis levavam os eleitores para votar em quem eles mandavam.” Vem daí a expressão “curral eleitoral”, já que o povo era conduzido como se fosse um rebanho.

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“As atribuições da Justiça Eleitoral certamente poderiam estar sob a alçada da Justiça comum”, afirma o cientista político Rubens Figueiredo, da Universidade de São Paulo. Ele salienta que o Brasil gasta hoje quase 1,8% do PIB com o Sistema Judiciário, valor muito superior ao despendido pela Argentina (0,13%), Alemanha (0,37%) ou França (0,2%), países providos de bons juízes nessa especialidade.

Para Figueiredo, o fato de a legislação eleitoral brasileira ser complexa e mudar a cada ano, o que a torna de difícil assimilação, colabora para o que ele chamou de “barafunda jurídica”. “O Brasil já é um país extremamente judicializado”, observa. “Essa falta de clareza e de transparência das leis acaba entupindo a Justiça Eleitoral de processos. É preciso simplificar as leis e, principalmente, não modificá-las a cada dois anos. Antes, por exemplo, os brindes e showmícios eram permitidos. Hoje, não são. Uma hora se pode colocar cavaletes nas calçadas. No ano seguinte, está proibido. Parece que as leis são feitas para gerar demandas judiciais.”

Figueiredo também qualifica de “ficção científica” a prestação de contas obrigatória. “O candidato finge que gastou aquilo e a Justiça finge que acredita”, resumiu. “Nas eleições deste ano há mais de 550 mil candidatos. Alguém acha que vão conferir tudo?”

Como tem acontecido no Brasil, a confirmação de uma eleição muitas vezes é feita na Justiça. “Você tem o primeiro turno e o segundo nas urnas. E o terceiro agora acontece no Judiciário”, lamenta Figueiredo. “O custo para quem move uma ação é muito pequeno e, mesmo quando ela não faz o menor sentido, não acontece nada com quem a propôs.”

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Os 27 TREs
Apesar das diferentes dimensões regionais existentes entre os Estados, todos os TREs têm sete juízes. No Tribunal de São Paulo, os casos pendentes são 23 mil. Cada juiz, portanto, lida com 3 mil processos. Em contrapartida, no Acre, o lote de cada juiz não chega a 200.

Leia também nesta edição o artigo “As piores eleições do mundo”, de J. R. Guzzo

Como constata J. R. Guzzo, colunista da Revista Oeste, se ter uma Justiça Eleitoral — e pagar bem por ela — fosse sinônimo de qualidade, o Brasil teria os melhores políticos do mundo. Não é o que se vê.

 Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA
 

domingo, 19 de novembro de 2017

Sinal dos tempos, o Leonardo de US$ 450 milhões



O PSDB arrisca ficar com o mico de Temer

O quadro “Salvator Mundi”, de Leonardo da Vinci, foi arrematado por US$ 450 milhões, batendo o recorde de US$ 170 milhões de um Picasso. Foi também um sinal dos tempos.  Entenda-se que se uma pessoa achou que o quadro valia US 450 milhões, para ela o preço foi justo. Nenhum museu entrou na disputa e nenhum especialista endossou o que parece ter sido uma maluquice. Em 2005, com sua atribuição discutida, o quadro valeu US$ 10 mil. Em 2012, já atribuído a Leonardo, ele foi vendido por US$ 127 milhões a um bilionário russo. De lá para cá começou a ser conhecido como “o último Leonardo” que chegava ao mercado, ou ainda a “Mona Lisa masculina”.

O "Salvator Mundi" não é uma Mona Lisa porque muito do que Leonardo pintou em 1500 foi-se embora em sucessivas restaurações, numa das quais puseram-lhe um bigode, raspado depois. Nos US$ 450 milhões pagos pelo quadro houve muito marketing e, acima de tudo, o reflexo do excesso de dinheiro nas mãos de quem tem muito. No início dos anos 30 o banqueiro americano Andrew Mellon comprou 21 quadros numa liquidação de obras-primas vendidas pelo museu russo do Hermitage e pagou US$ 1,1 milhão (equivalentes a US$ 1,8 bilhão em dinheiro de hoje). Levou a “Alba Madonna” e o “São Jorge” de Rafael, mais uma “Anunciação” de Jan Van Eick, quatro Rembrandts e um Boticelli. Em 1967 sua filha Ailsa comprou por US$ 5 milhões (US$ 40 milhões de hoje), o magnífico retrato de Ginevra di Benci, o único Leonardo que está fora da Europa. (Os Mellons doaram tudo ao povo americano.)

O Conde Francisco Matarazzo ensinava que “mercadoria não tem preço de mercado, terá preço se tiver quem a compre”. Se isso valia para banha e biscoitos, estimar o valor de uma obra de arte é coisa muito mais difícil. Ainda assim, houve algo de extravagância nos US$ 450 milhões do Leonardo.  Para quem quiser, há uma reflexão do grande crítico Robert Hughes sobre arte e dinheiro, feita em 1984. Chama-se “Art and Money” e está na rede. Nela, Hughes previu o colapso do mercado de arte contemporânea. Não deu outra.

O PSDB arrisca ficar com o mico de Temer
Quando o senador Renan Calheiros empossou Michel Temer na Presidência da República, disse-lhe baixinho: “Estamos juntos.” Durou pouco, pois Renan foi o primeiro cacique do PMDB a pular do barco da impopularidade de Temer. Aproximou-se do PT, protegendo sua base de poder em Alagoas, estado governado por seu filho.  Quem foi para a rua ou bateu panela contra o PT em 2016 está hoje diante de uma amarga realidade. O PMDB que deu os votos para a deposição de Dilma Rousseff está namorando o PT e vice-versa. Lula e Dilma falam em “perdoar” quem defendeu o impeachment. É uma manobra oportunista, pois a dupla é que deveria pedir perdão por ter jogado o país numa de suas piores crises econômicas.

O PT e o PMDB costuram seus acordos nas bases municipais e estaduais. Isso começou em Alagoas e hoje já está no Ceará de Eunício Oliveira e no Pará de Jader Barbalho. No Paraná de Roberto Requião a aliança é mais velha. Com isso, o grande mico do jogo vai para o tucanato, ainda incapaz de desistir de um governo que o PMDB está abandonando pela beira.  Renan Calheiros mostrou-se um sábio, mas ele simboliza também o produto da esperteza da oligarquia política nacional. Sua base eleitoral irradiou-se a partir do município de Murici, com cerca de 40 mil habitantes. Em 2010, 30% de sua população com mais de 15 anos era analfabeta. Boa parte dela está no Bolsa Família.

O odiado Filinto
Está nas livrarias “O homem mais perigoso do país”, do professor americano R. S. Rose. Numa época de certezas rancorosas, essa biografia de Filinto Muller (1900-1973) é um convite à reflexão. Desde os anos 30, quando foi o chefe de polícia do Estado Novo, até sua morte, como presidente da Arena, o partido da ditadura, ele foi um dos homens mais odiados do país.  Fugiu da Coluna Prestes e foi um dos responsáveis pela extradição para a Alemanha nazista da judia comunista Olga Benário, grávida. Tudo falso. Quando Filinto exilou-se na Argentina, a chamada Coluna Prestes não existia. Olga Benário foi extraditada por ordem de Getúlio Vargas e Filinto não tinha voto na reunião do ministério em que isso foi decidido. [a extradição de Olga Benário foi legítima, legal e trouxe vantagens para o Brasil; tratava-se de terrorista condenada na Alemanha, condenação ocorrida antes de Hitler assumir o poder (portanto, não pode ser atribuída a uma injustiça cometida por Hitler), invadiu a prisão de Moabit para libertar outros comparsas comunistas presos, fez estágio na União Soviética e foi enviada para o Brasil com vistas a coordenar movimento visando transformar nosso País em uma satélite comunista, já sendo cúmplice do comunista Luis Carlos Prestes.
Prestes, ela e outros comunistas lideraram a Intentona Comunista de 35 e felizmente fracassaram  (é indiscutível que a 'intentona comunista de 35' foi um ato covarde dos comunistas, visto que em ato traiçoeiro mataram soldados brasileiros que se encontravam dormindo e todo o movimento foi um ato de ALTA TRAIÇÃO À PÁTRIA.) e se tornaram fugitivos.
Viveu algum tempo na clandestinidade, foi presa e deportada para a Alemanha, grávida. Apesar de presa teve uma gravidez normal, parto normal e toda a legislação alemão foi seguida.
Finalmente foi executada em 1942 e sua filha entregue para a avó paterna em perfeitas condições de saúde.]

Filinto ficou com a conta das torturas do Estado Novo porque era o chefe de polícia e sabia delas, mas os chefes militares e Vargas saíram ilesos. Uma CPI encarregada de investigar o assunto teve muitos depoimentos e nenhum resultado. O levantamento que Rose fez desse trabalho é primoroso.  “O homem mais perigoso do País” foi um militar germanófilo e autoritário. Rose mostra-o como um “conservador, nacionalista, imperturbável no seu apoio a duas ditaduras”, ambas anticomunistas.

O professor pesquisou perto de 70 mil documentos com a volúpia de um “criminologista qualitativo”. Por isso ele informa: os 18 do Forte foram 23 e um deles, o tenente Eduardo Gomes, que viria a ser conhecido como o “Brigadeiro”, foi ferido por tiros que lhe atingiram os testículos. (Curiosidade: vem daí o nome do doce que se apropriou do apelido.)

(...)


Madame Natasha
A boa senhora gostaria de saber por que tanta gente resolveu dizer que existe uma coisa chamada “fake news”. Isso quer dizer “notícias falsas”, ou mentiras, mas em inglês tudo fica mais chique.

Quando Donald Trump propagava que Barack Obama nascera no Quênia, e não no Havaí, ele estava apenas mentindo e quem mente é mentiroso. Desde que ele entrou na Casa Branca, o doutor só fez confirmar o apronto.

MATÉRIA COMPLETA em Elio Gaspari - Folha de S. Paulo