Na Casa Branca, ontem, faltou
energia. No Palácio do Planalto faltou juízo. O mínimo de juízo. Seria
imprudente dizer que foi o mais atrapalhado dos dias do governo Dilma. Afinal,
o segundo governo dela está mal começando. E começando mal. Em menos de 100 dias,
Dilma trocou três vezes de ministro e extinguiu uma Secretaria com status de
ministério.
O
governo parece mais uma biruta de aeroporto que muda de direção ao sabor da
força dos ventos. Na última segunda-feira, o dia
anoiteceu com a notícia de que Eliseu Padilha (PMDB-RS), ministro da Aviação
Civil, havia sido convidado por Dilma para substituir Pepe Vargas (PT-RS) no
ministério encarregado da articulação política do governo.
De fato, ao esbarrar em Padilha durante o almoço,
Dilma o convidou para o lugar de Pepe. Padilha levou um susto. Presidente não costuma convidar ninguém para o governo. Manda
um emissário sondar a pessoa. Assim evita ouvir um não. Padilha
pediu tempo para pensar. Depois consultou Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
presidente da Câmara dos Deputados, Renan
Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Temer.
Foi dormir decidido a recusar o
convite. O Palácio do Planalto
é um ninho de cobras venenosas, todas
elas do PT. Por que se arriscar a ser picado por elas? Quem convive de perto com Dilma sabe como é
difícil lidar com seu temperamento explosivo. Ela confia em poucos. Centraliza
o poder. E detesta a política e os políticos.
O
ministério da coordenação política é o que registra o maior
número de óbitos desde o início do governo Dilma. Ontem, pela manhã,
Padilha disse não a presidente. Alegou que é pai de um filho de poucos meses de
vida. E que sua mulher vetara sua saída de um ministério para o outro. Acostumada a humilhar
seus subordinados, Dilma acabou
humilhada por um deles.
Para que
o estrago em sua imagem não fosse maior, só lhe restou improvisar outra vez: convidou Temer para assumir a articulação
política do governo. Joaquim Levy, ministro da Fazenda,
é quem manda na Economia. Tenta corrigir os
erros cometidos por seu antecessor no cargo, Guido Mantega, e por Dilma, que pensa que entende de Economia.
Caberá
a Temer mandar na Política. Sobrará o
quê para Dilma? Pouco
sobraria se essa divisão de fato funcionasse. Mas, não. Dilma
fiscaliza de perto até o que Levy diz em palestras. Só faltaria agora ela
armar o palanque para que Temer desse um show de habilidade política. Se tal ocorresse, o presidencialismo como
regime de governo daria ensejo na prática a um tipo de parlamentarismo à moda
brasileira. Como peru.
A tese de
que Dilma fez uma jogada de mestre jogando Temer, presidente do PMDB, contra
Eduardo e Renan, pode interessar aos porta-vozes informais dela, mas não se sustenta na vida real. Sozinho, Temer não manda no PMDB. Entre virar um pau mandado de Dilma e continuar influente no
seu partido, preferirá o segundo
caminho. Logo...
É só dar
tempo ao tempo para conferir que foi mais uma jogada desastrada de uma presidente famosa por
sua incompetência. A culpa é
de Lula que a inventou. Desde que se convenceu do seu erro, Lula tenta sem sucesso reassumir o controle
do avião.
Fonte: Ricardo Noblat – Blog do Noblat
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