Quem é que o padim
Lula de Caetés pensa que engana com essa lorota de que a enorme
crise que tornou sua afilhada Dilma
Rousseff uma pata manca no Palácio do Planalto se deve à desarticulação
política de Aloizio Oliva, que usa o sobrenome da mãe, Mercadante, para ninguém se tocar
de que o pai era figurinha carimbada na ditadura militar?
Ao completar seu
terceiro mês de mandato um dia depois de o golpe de 1964 ter completado 51
anos, a escolhida dele empatou com José Sarney, recordista absoluto de
impopularidade desde 1989, com 64% de respostas “ruim” ou “péssimo” à
pergunta do Ibope sobre o desempenho de seu governo. Com uma má notícia por dia, alternando recordes negativos na economia
com revelações de novas gatunagens ou
anúncios de medidas impopulares para tentar corrigir o incorrigível, ninguém precisa
ter um sexto sentido premonitório para prever que não demora muito para ela
sair de lanterna em punho pelos desvãos e porões palacianos onde tenta se
esconder da plebe. E enquanto a pesquisa não revela o novo retrato, Sarney
virou arroz de cuxá nos bailes do Planalto Fiscal.
Aí padim tirou do baú seu sermão de profeta da barcaça que afunda
ao peso dos ratos do porão. Segundo a colega Vera Rosa, Sua ex-Excelência
intensificou a pressão sobre a pupila para ela modificar a desarticulação
política do governo, concentrando fogo no filho do general: “Mercadante vive falando de rating pra cá, rating pra lá. Que rating,
que nada! A crise é política e o governo tem que resgatar a confiança. O resto
vem naturalmente”. Resto de quê, cara hirsuta? Lula tem motivos para
não gostar do Mazarino do cerrado. Pois foi surrado por Fernando Henrique no primeiro turno
da eleição presidencial de 1994 após ter levado em conta a falácia dele de que
o Plano Real seria estelionato
eleitoral. E depois chamou de “aloprados”
seus asseclas que falsificaram dossiê contra José Serra na disputa da eleição
estadual paulista de 2006.
Mas essa é uma questão dele e Dilma não
abre mão do direito de errar.
Na última pesquisa Datafolha, em que a avaliação de “bom” ou “ótimo” do governo federal desceu
a cabalísticos 13%,
o Congresso Nacional foi lembrado positivamente por apenas 9%. Devoto praticante da verdade pela metade, a mais
enganadora das formas da mentira, o demiurgo do ABC só olhou para um lado da
questão. Sim, é
verdade que a relação da presidente com o Congresso é péssima, como atesta
pesquisa da consultoria política Arko Advice, que ouviu 102 deputados federais de 22 partidos e constatou que 61%
deles avaliam como “ruim” ou “péssimo” o
convívio do Legislativo com o Executivo. Mas a verdade completa é que somente
melhorar tal relação em nada tornará a “comandanta”
mais popular.
De um lado, porque a imagem de deputados e senadores está ainda mais
emporcalhada que a dela. De outro, porque as boas relações entre esses dois
Poderes dependem muito menos de qualidades
que Oliva não ostenta do que da gana dos parlamentares por um butim palaciano cada
vez mais escasso nestes idos de vacas magras. O convívio entre os dois lados da
Praça dos Três Poderes só vai melhorar quando houver mais verbas e cargos a
distribuir. Se houvesse, nenhum congressista se melindraria com o chefe da Casa
Civil lhe fazendo ouvidos de Mercadante nem com o estilo “deixa que eu cuspo” da chefona irritadiça.
O PMDB desconfia da
irrelevância de articulação política para salvar o que resta deste desgoverno. Por isso Eliseu
Padilha recusou o lugar de Pepe Nada
Legal Vargas no palácio. Embora tudo leve a crer que ele se arrastará
Ladeira do Pelourinho abaixo até o canto do cisne de 2018. Seu desprestígio
crescente não resulta da falta de saliva em corredor, mas da sobra de material
orgânico à tona sempre que se levanta algum tapete ou capacho. As obras não
iniciadas ou atrasadas em 57% da rede de saneamento básico no Brasil passaram a
ser a metáfora pronta ao alcance do nariz.
Como sabe disso tudo e de muito mais, Lula não acredita nas próprias bazófias de intriga florentina contra o
filho do general. Logo ele, que vendeu à Nação a suprema inverdade da gerentona que entrará
para a História como o pior presidente da República! E que agora
recorre ao velho truque de continuar enganando para não se enganar nem ser
enganado. Não o faz por burrice, pois inteligência tem de sobra, ou alienação,
por mais soberba que exiba e arrote. Mas, sim, porque não têm saída. Só lhes
resta apostar na sorte, essa deusa caprichosa e cega, que sempre esbanjaram. Lula não confia em Dilma, mas na
própria capacidade de evitar que ela repita a saga do Pedro da lenda infantil,
devorado pelo lobo diante da omissão da aldeia que, após ouvir muitos pedidos
de socorro mentirosos, não lhe acudiu.
Lula conta com a
mágica de Goebbels, que fabricava verdades de mentiras somadas. É que Chacrinha
disse: “Quem não se comunica se
trumbica”. Mas não contou que “quem
só comunica também se trumbica”.
Publicado no Estadão - JOSÉ NÊUMANNE
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