O Estado Islâmico (EI) recrutou somente neste ano 400 crianças, o dobro da quantidade de adultos (120), para se tornarem combatentes do grupo terrorista, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
O OSDH acredita que os jihadistas podem estar aumentando o índice de recrutamento de crianças pela facilidade de criar combatentes fanáticos e por causa das dificuldades enfrentadas para recrutar extremistas adultos em outros países. Esta estratégia perversa ficou mais evidente com as sucessivas divulgações de vídeos que mostram crianças aparentemente executando prisioneiros e treinando com armas quase tão grandes quanto elas.
Os terroristas fazem com que assistam execuções de prisioneiros, aprendam a manusear armas de fogo e compreendam táticas de guerra, além de submetê-las aos massivos ensinamentos religiosos de cunho extremista, pregados pelo grupo. Testemunhas disseram às Nações Unidas que em Al Raqqa, cidade síria considerada capital de fato do EI, há campos de treinamentos para centenas de crianças de cinco a 16 anos.
O relatório da ONU denunciou que, por utilizar crianças como combatentes, "o EI violou a lei humanitária internacional e cometeu crimes de guerra em grande escala". "O EI é um regime totalitário que pretende criar um novo 'ser humano', começando pelas crianças", declarou à Agência Efe Jessica Stern, coautora de "ÍSIS: The State of Terror", um livro recém-publicado nos Estados Unidos sobre o grupo jihadista.
Com o aliciamento de menores de idade, os terroristas pretendem doutrinar seguidores fiéis, capazes de aplicar a violenta interpretação do Corão defendida pelos extremistas sunitas do EI, que controlam grandes áreas da Síria e do Iraque. "O objetivo do grupo é chocar e aterrorizar e, para isso, poucas coisas são tão eficientes como imagens de crianças em frentes de batalhas, participando de execuções ou empunhando armas", comentou Stern, professora associada da Universidade de Harvard e especialista em terrorismo internacional.
A especialista também disse que a utilização desses menores como combatentes faz com que se tornem "vítimas, mas também perpetradores", algo que pode fazer com que sofram punições, além de possivelmente anular sua possibilidade de reintegração no futuro. A tragédia dos meninos-soldados sírios, agora estendida também ao Iraque, colocou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) diante de "uma de suas maiores crises", jamais enfrentadas, afirmou nesta semana a porta-voz da Unicef, Juliette Touma.
A porta-voz da Unicef, que trabalha para permitir que crianças prejudicadas pelo afastamento escolar ou expostas a traumas psicológicos tenham oportunidade de voltar a estudar, afirmou que o principal objetivo da organização é "possibilitar o acesso à educação, para que uma geração não seja perdida".
Fonte: Agência EFE
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