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terça-feira, 26 de maio de 2015

As moças e moços do Movimento Brasil Livre, que saíram de São Paulo, a pé, no dia 24 de abril, já estão em Brasília



As moças e moços do Movimento Brasil Livre, que saíram de São Paulo, a pé, no dia 24 de abril, já estão em Brasília e realizam amanhã um ato de protesto, na capital federal, em defesa do impeachment da presidente Dilma — não é o item único da pauta, mas é o mais urgente. Na noite de sábado, um acidente entre dois veículos acabou atingindo dois dos caminhantes: Kim Katiguiri e Amanda. Felizmente, nada de mais grave aconteceu. Pedi a Kim que narrasse essa reta final da viagem. Segue o seu relato.
Era um dia de sol, mas o vento deixava o clima fresco. Todos nós estávamos bastante animados, pois havíamos descansado bem. O alojamento havia sido cortesia do Padre Genésio, que já havia nos recebido com um almoço em Teresópolis e agora nos acolhia em Abadiânia. Um dia antes, a Polícia Rodoviária Federal havia nos informado um acampamento do MST nos aguardava à frente e que eles haviam recebido ordens para bloquear nossa passagem.
 Amanda é socorrida por equipe do Samu: acidente em marcha pelo impeachment
Isso nos lembrou da ameaça do vereador Ismael Costa, do PT de Uberlândia, que havia dito que seríamos “muito bem recebidos na estrada pelo [João Pedro] Stédile”. De qualquer forma, isso não diminuiu o moral do grupo. Pelo contrário: estávamos todos firmes e prontos para a adversidade que viesse, como havia sido durante todos os dias anteriores.
Como de praxe, o ônibus nos levou do alojamento para a estrada para darmos início à caminhada do dia. No percurso, meus colegas de marcha ensaiavam gritos de guerra para quando passássemos em frente ao assentamento. Amanda, uma colega que havia pedido dispensa do trabalho para marchar conosco naquele dia, me perguntou, bem humorada: “E aí, Kim? Cadê a pintura de guerra? Cadê o sangue nos olhos?”. Dei risada. Era consenso no grupo a avaliação de que o MST, no máximo, iria nos vaiar quando passássemos por lá.
Chegamos à rodovia. Depois de feito o alongamento, começamos a andar. Como sempre, seguimos com o passo ritmado e entoando canções de protesto. Na hora do almoço, fizemos apenas uma pequena pausa para um lanche. Queríamos continuar andando. À frente, estava o acampamento dos sem-terra. De longe, já era possível avistar quatro bandeiras vermelhas, hasteadas no ponto mais alto do acampamento. Reforçamos os gritos de guerra e a percussão ritmada. Tudo dentro das expectativas: os militantes do MST permaneceram no acampamento, sem nos molestar de nenhum modo. Passamos pacificamente. Anoiteceu. Estávamos quase chegando a Alexânia, todos já bastante cansados. Faltava pouco, muito pouco. Mas, infelizmente, aquela noite demoraria para acabar. Caminhava ao lado de Amanda quando ouvi um estrondo. Virei-me quase por reflexo. Vi um carro preto vindo na nossa direção, a menos de um metro de distância. Não tive tempo de fazer nada.

Fui atingido no tronco. Enquanto caía, vi, em choque, o veículo colher Amanda, que foi arremessada alguns metros, batendo a cabeça contra o nosso carro de apoio. Consegui me levantar usando o braço direito. O esquerdo sangrava muito. Amanda estava desmaiada, com o rosto coberto de sangue. Gritei para uma colega de marcha, que é ortopedista, socorrê-la.


No outro lado da rodovia, enxerguei alguns colegas de marcha perseguindo um homem que cambaleava. Estava visivelmente embriagado. “Deve ter sido o culpado pelo acidente”, pensei. Cheguei a temer que alguns dos nossos colegas pudesse querer agredi-los, já que estavam tensos, revoltados. Pedi que se acalmassem e que apenas o impedissem de fugir.
Depois de 15 minutos, nada de ambulância. Amanda ainda estava inconsciente. Decidimos ir a um hospital para tentar agilizar o atendimento e cuidar do meu braço. Chegando a um posto de Alexânia, soubemos que a ambulância já estava a caminho.  Depois de uma hora de espera, uma enfermeira verificou meu braço. Felizmente, não havia fratura. Depois de limpá-lo, fez um curativo e me deu uma injeção contra a dor. Minutos depois, me ligaram para avisar que Amanda estava bem e que o pessoal já estava no alojamento no qual dormiríamos. Foi um alívio. Uma marcha que estava trazendo esperança às pessoas quase acaba em tragédia. Quase. Felizmente, seguimos firmes, fortes, e mais unidos do que nunca. Assim, faremos tremer amanhã as bases do Palácio do Planalto.

Por Reinaldo Azevedo


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