A levar-se em conta o que o PT fala deles, jamais a presidente Dilma Rousseff e
o ministro Joaquim Levy se pareceram tanto.
Dilma
precisava de um ortodoxo para tocar a economia que ela conduzira tão mal no seu
primeiro mandato.
Aconselhado
por amigos banqueiros, Levy aceitou o convite de Dilma com a pretensão de
salvar o Brasil e enriquecer seu currículo. Agora, o PT vê os dois como seus
coveiros. O partido
é mais impiedoso com Levy, um completo estranho no reino da estrela vermelha.
Estaria à vontade em um governo emplumado do PSDB. Dilma
está longe de ser uma petista de raiz. Ajudou a fundar o PDT de Leonel Brizola.
Ali ficou por 20 anos. Tem 14 anos de filiada ao PT. Só trocou
de partido quando Lula estava prestes a se eleger presidente da República em
2002. Na semana
passada, e pela primeira vez de público, o PT deu sinais do forte incômodo que
lhe causa a dobradinha Dilma-Levy.
Dois
senadores do partido assinaram um manifesto contra o ajuste fiscal imaginado
por Levy e patrocinado com reticências por Dilma. Um dos
senadores, Lindberg Farias (RJ), pediu a cabeça de Levy. Ninguém com mandato
tinha agido assim até então. Ninguém
tinha gritado palavras de ordem contra o ministro em reuniões oficiais do PT.
Pois na abertura da etapa paulista do V Congresso Nacional do partido a ser
realizado em Salvador, em meados de junho próximo, militantes gritaram: - Ei,
Levy, pede pra sair e leva com você o FMI (Fundo Monetário Internacional)".
Não foi o
pior – afinal, ninguém controla militantes.
Manifesto
da direção do PT paulista disse com toda a crueza: “Nossos sonhos não podem ser
delimitados pelas estreitas margens que a equação financeira suporta, nem pelas
contingências de governabilidade. (...) Nossa defesa do governo que elegemos
não pode nos afastar das ruas e dos movimentos sociais. (...) A agenda do
governo nos últimos meses se distancia do que o PT representa”.
Marco
Aurélio TOP TOP Garcia, assessor especial de Dilma, bem que tentou acalmar a
militância. Sugeriu:
“Temos que propor que essas correções que estão sendo feitas do ponto de vista
fiscal possam permitir que daqui uns poucos meses estejamos com este problema
resolvido”.
Poucos
meses? Ou Marco Aurélio não sabe o que diz ou preferiu esconder o que sabe. O PT
beneficiou-se da política econômica irresponsável que ajudou Dilma a se
reeleger. Que amargue o desgaste de se manter ao lado dela no momento em que
Dilma flerta com um futuro menos atroz. Se tudo
der certo, os poucos meses que nos separam da solução do problema fiscal se
transformarão em anos. Resta ao PT torcer para que tudo se resolva antes da
eleição presidencial de 2018.
Levy está
pessimista – e com razão. Ele espera para este ano uma contração de 1,2% no
Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país.
Será o pior resultado dos últimos 25 anos. A
inflação deverá bater a casa de 8,26%, bem acima do centro da meta de 4,5%. E,
no entanto... O tamanho do ajuste fiscal acabou ficando aquém do que ele considerava
necessário.
Foi por
isso que faltou ao anúncio do ajuste na sexta-feira. Quis marcar posição. Levy
desconfia que está sendo fritado. Ninguém no governo o defende com convicção
nem se associa de verdade ao que ele faz. O único
consolo de Levy é o de poder ir embora se não der mais. Dilma, não pode. Levy não
corre o risco do desemprego. O PT corre o risco de perder o poder.
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