Os miseráveis: retrato sem retoques de um Rio de excluídos
Este é o triste destino dos que votam, e votaram, no PT - muitos ainda pensam em repetir o voto. Afinal, a fome destrói o raciocínio, a lucidez, o ânimo, o interesse pela próprivida.
Essa situação vergonhosa facilita aos atuais donos do poder, por colaborar com os seus planos diabólicos de permanecerem DONOS DO PODER
Não esqueçam: o aqui mostrado é uma fraçã da miséria que está em locais mais visiveis, mais acessiveis. Só que ela também está presente nos locais isolados, ermos, matando, destruindo, aviltando. Locais que uma vez a cada quatro anos vão visitados por prepostos dos políticos à caça dos votos que os manterão no poder e aos miseráveis na miséria crescente.
Estado tem 3,7% de seus moradores na extrema pobreza. Percentual só não é maior do que o do Norte-Nordeste
O Estado do Rio tem 565.135 pessoas vivendo abaixo da linha da extrema pobreza. A série de reportagens "Os miseráveis" mostra como e onde vive quem precisa driblar dificuldades como desemprego e fome. São 3,77% da população do estado nessa situação, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O percentual é o maior entre todos os estados das regiões Sul e Sudeste, superado apenas pelos do Norte-Nordeste e Mato Grosso, no Centro-Oeste.
Em Japeri, o banho na casa de Roberto e Nilceia da Silva é só de baldeFoto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Pelanca é a sobra da carne, a parte desprezada que pode ir tanto
para o cachorro quanto para fábricas de sabão, que usam sebo como
matéria-prima. Mas, na casa de Lúcia Pereira da Silva, sem água ou
esgoto, num mangue à beira da Baía de Guanabara, em Magé, pelanca é dia
de festa. Sinal de que sobraram 40 centavos para comprar um quilo do
que, para muitos, é lixo. “Às vezes vem um pedacinho de carne junto.
Tempero com louro e ponho no feijão. Fica gostoso”, diz. A 60
quilômetros dali, em Belford Roxo, José Roberto Lima — idoso esquálido
que vive numa casa sem banheiro — lança mão da pelanca para alimentar
seus três cães magros. Mas guarda um tanto para a própria sopa, feita
com grãos dos mirrados pés de feijão que planta no quintal. Lúcia e José
Roberto não fazem parte do Rio do cartão-postal. Estão entre os 565.135
fluminenses que sonham alcançar a pobreza. Porque o lugar deles é
outro. Eles vivem na miséria.
Durante um mês, equipes percorreram os bolsões de extrema pobreza para contar as histórias de cidadãos que têm renda per capita inferior a R$ 140,70, quantia necessária para comprar uma cesta de alimentos com a quantidade mínima de calorias, de acordo com os critérios do Ipea.
Valor, aliás, que é um sonho distante para José Roberto. Aos 69 anos, com as mãos calejadas depois de uma vida dividida entre a roça e a construção civil, ele não tem renda. Conta com a solidariedade dos vizinhos, que dão um jeito de dividir a comida para que ele não viva só de feijão. As doações vão parar no fogão a lenha, já que ele não tem R$ 50 para pagar o botijão de gás. — Eu vivo com o que Deus me dá. E só. Roubar, eu não vou — afirma.
Lúcia, a senhora de 63 anos que engana o estômago com a pelanca, também dá seu jeito. Vive, junto do marido desempregado e tuberculoso, e do filho de 21 anos, tampouco com trabalho, com menos de R$ 200 do Bolsa Família. Não dá nem R$ 70 por pessoa — dinheiro insuficiente para pagar um cafezinho diário. Água, ela bebe a que é dada pela chuva. Está difícil para Lúcia, mas é o casal Luiz Cláudio Feliciano e Alana da Silva quem leva uma vida de cachorro. E não é figura de linguagem. Os dois moram, com os filhos, de 2 anos e de 10 meses, num canil em Tanguá, município com o terceiro maior percentual de miseráveis, atrás de São Francisco de Itabapoana e Porciúncula, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social. O local foi adaptado, mas ainda é possível ver as divisórias para os animais. A família vive no espaço de três delas, e foi parar lá após Luiz Cláudio perder o emprego na vizinha Itaboraí. Como tantos excluídos, depende dos R$ 180 do Bolsa Família.
DESEMPREGO QUE ANGUSTIA
A fome está sempre à espreita de quem vive abaixo da linha da extrema pobreza, como José Roberto...Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Na indigência, como os dois, encontram-se 3,77% da população do estado, revelam números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Gente suficiente para encher uma cidade como Niterói. Os dados, que tomam como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013, do IBGE, mostram ainda que o Estado do Rio, sexta maior renda per capita do país, fica mal perto de seus vizinhos. Tem um percentual maior de miseráveis do que todo o Sul e Sudeste. No Centro-Oeste, só Mato Grosso está em situação pior. Os deserdados do estado que sediará as Olimpíadas de 2016 são tema da série de reportagens “Os miseráveis”, que O GLOBO publica a partir de hoje.Durante um mês, equipes percorreram os bolsões de extrema pobreza para contar as histórias de cidadãos que têm renda per capita inferior a R$ 140,70, quantia necessária para comprar uma cesta de alimentos com a quantidade mínima de calorias, de acordo com os critérios do Ipea.
Valor, aliás, que é um sonho distante para José Roberto. Aos 69 anos, com as mãos calejadas depois de uma vida dividida entre a roça e a construção civil, ele não tem renda. Conta com a solidariedade dos vizinhos, que dão um jeito de dividir a comida para que ele não viva só de feijão. As doações vão parar no fogão a lenha, já que ele não tem R$ 50 para pagar o botijão de gás. — Eu vivo com o que Deus me dá. E só. Roubar, eu não vou — afirma.
Lúcia, a senhora de 63 anos que engana o estômago com a pelanca, também dá seu jeito. Vive, junto do marido desempregado e tuberculoso, e do filho de 21 anos, tampouco com trabalho, com menos de R$ 200 do Bolsa Família. Não dá nem R$ 70 por pessoa — dinheiro insuficiente para pagar um cafezinho diário. Água, ela bebe a que é dada pela chuva. Está difícil para Lúcia, mas é o casal Luiz Cláudio Feliciano e Alana da Silva quem leva uma vida de cachorro. E não é figura de linguagem. Os dois moram, com os filhos, de 2 anos e de 10 meses, num canil em Tanguá, município com o terceiro maior percentual de miseráveis, atrás de São Francisco de Itabapoana e Porciúncula, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social. O local foi adaptado, mas ainda é possível ver as divisórias para os animais. A família vive no espaço de três delas, e foi parar lá após Luiz Cláudio perder o emprego na vizinha Itaboraí. Como tantos excluídos, depende dos R$ 180 do Bolsa Família.
O eletrodoméstico que denuncia a penúria: na casa da família Ferreira, em Japeri, a geladeira praticamente só tem água - Márcia Foletto / Agência O Globo
DESEMPREGO QUE ANGUSTIA
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