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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Céu sem brigadeiro



Põe o Janine, tira o Janine. Tira o Mercadante daqui, coloca ali. Põe o dono do restaurante de Duque de Caxias na Ciência e Tecnologia e desloca o Rebelo para a Defesa - pode não entender nada do assunto, mas torce para o Victor Hugo, belíssimo zagueiro central, que não deixa passar uma.

Ali, dirigindo a orquestra, da coxia, o grão vizir Lula, aquele que é a favor e contra o governo, aquele que planta cargos para colher governabilidade. Para que? Para não largar jamais a planta suculenta do poder. Na dança das cadeiras promovida pela presidente Dilma com a finalidade de abrir mais espaço em seu governo para abrigar um aliado faminto que tem o poder de retirar-lhe o mandato, faltavam cadeiras e havia dançarinos sobrando.

O grão vizir interveio e colocou um dos seus, Jacques Wagner, na Casa Civil- por onde já andaram José Dirceu e a própria Dilma - e deixou que Dilma deslocasse seu xodó Mercadante para a Educação, completando a quinta troca de comando naquele que deveria ser o ministério mais importante da República - o da Educação (afinal, não somos uma pátria educadora?). Afinal, é pela Casa Civil que passam de verdade os destinos da República. A Educação é apenas uma vitrine de um projeto inócuo, sem começo, nem meio e nem fim, onde moram os mais impressionantes slogans de João Santana.

Andou por ali ultimamente um cavalheiro bem apessoado, bem educado, um prestigioso professor de Ética, não inscrito no partido, a quem coube, em seus parcos seis meses de gestão, administrar uma greve de universidades federais e vir  a público dizer que “o dinheiro acabou”, quando os estudantes não conseguiam mais inscrever-se no FIES. Esse é o resumo de sua obra.

Um homem de fino trato, tanto que ao ser despedido pela presidente, topou posar para uma foto apertando a sua mão e dar declarações à imprensa dizendo que ela foi muito cordial ao comunicar-lhe o bilhete azul. O outro trambolho que o grão vizir resolveu entregar de mão beijada à voracidade do PMDB foi o ministério da Saúde, que estava nas mãos do companheiro Arthur Chioro, delicadamente avisado que estava fora pela presidente Dilma, num telefonema de dois minutos. Ao que se informa, ela não teve tempo nem de dizer-lhe “obrigado”.  Uns dois dias antes de ser despachado em função do toma lá dá cá, Chioro deu uma entrevista ao Estadão anunciando que o SUS - Sistema Único de Saúde - entrará em colapso em setembro de 2016 por falta de dinheiro.

Para completar o cenário dantesco, anunciou-se que um dos dois candidatos cogitados pelo PMDB para preencher o cargo, o deputado Manoel Júnior, da Paraíba, foi citado numa CPI como suspeito de ter participado de um assassinato. (O escolhido acabou sendo Marcelo Castro, do Piauí, apadrinhado de Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara).
O deputado paraibano é da tropa de choque do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de ter 5 milhões de dólares oriundos de propina depositados em conta secreta na Suíça. Mas Cunha ainda tem o poder de apertar o botão dos projetos bomba e da máquina de disparar o processo de impeachment contra Dilma.

Sob esse virtuoso cenário, o grão vizir ainda disse a seus amigos que está pensando em lançar já a sua candidatura para 2018, com a finalidade de “ocupar espaços”, enquanto mostra à sua criatura onde fica o caminho mais curto para que a sua insignificância não atrapalhe o seu projeto de poder.

Enquanto os ilusionistas embaralhavam as suas cartas, os jornais anunciavam mais mar revolto à frente: a denúncia da venda de MPs favorecendo a indústria automobilística, durante o governo Lula, e doações da UTC tiradas de propinas da Petrobras para financiar a campanha da reeleição de Dilma.

Um céu sem brigadeiro.

Fonte: Sandro Vaia, jornalista

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