Se atrizes
famosas — nessa área, o Brasil tem mesmo é muita celebridade, que é
coisa um pouco diferente — emprestam sua imagem a uma peça publicitária
em defesa do aborto, e elas têm todo o direito de fazê-lo, então é
preciso que arquem também com as consequências, inclusive as negativas —
desde que estas se inscrevam num padrão civilizado.
Se granjeiam
a simpatia do público com o tatibitate da dramaturgia televisiva e
emprestam sua simpatia pedindo doações para o “Criança Esperança”, têm
de estar preparadas para as críticas quando vão lá fazer a proselitismo
da cureta.
Escrevo isso
porque leio que as atrizes Bruna Linzmeyer e Nanda Costa estariam
sofrendo “ataques”, segundo registra VEJA.com, por terem participado de
um filmete pró-legalização do aborto. Vamos ver: ataque é xingamento, é
vulgaridade, é agressão injuriosa, caluniosa, difamatória. Chamar alguém
de “hipócrita” porque pede doação para um programa de proteção à
infância e depois empresta sua imagem a uma campanha pró-aborto não é
ataque. Trata-se apenas de uma crítica — com a qual, diga-se de
passagem, eu concordo. [para começo de conversa essas artistas, que são meras e passageiras celebridades, merecem o mais profundo desprezo.
Além de covardes - ao defenderem o assassinato de seres humanos inocentes e indefesos - são falsas, fazendo qualquer coisa por um cachê, inclusive pedir dinheiro para crianças que na filosofia deles deveriam ter sido abortadas.
Por isso, a cada ano o 'criança esperança' mais se afunda.]
Enquanto
Caetano Veloso não ditar as regras do jogo do pensamento mundial, é
conveniente que as ideias façam sentido e que as escolhas sobre os mais
variados temas tenham alguma coerência. Ora, os fanáticos do aborto têm,
porque é o que pensam, de ver cada criança abandonada como um aborto
que deveria ter sido realizado, não? Ou estão obrigados a renunciar a
seu credo.
Num disco de
1987, Caetano Veloso cantou uma música que compôs com Toni Costa
chamada “Vamo comer”. Num dado momento, ouve-se lá:
“O padre na televisão
Diz que é contra a legalização do aborto E a favor da pena de morte Eu disse: não! que pensamento torto!”
Diz que é contra a legalização do aborto E a favor da pena de morte Eu disse: não! que pensamento torto!”
[só um desorientado quanto o tal Caetano para ter a falta de inteligência entre a execução de um criminosos devidamente julgado, defendido, com o aborto que nada mais é que o assassinato frio e covarde de um ser humano inocente e indefeso.
Esses artistas, no ocaso da vida, procuram aparecer mesmo que vomitando asneiras.]
Sem dúvida, o
padre retratado na música tinha um pensamento torto. Mas pergunto: e o
contrário? Eu me oponho a ambos, mas convenham: ser a favor da pena de
morte e contra a legalização do aborto ainda faz algum sentido prático. O
absoluto absurdo está no contrário, não é mesmo? A pena de morte, ainda
que eu a abomine, pune de forma estúpida alguém por uma falha grave
(salvo um erro judicial). E o aborto? Pune quem?
Numa das
manifestações contra Eduardo Cunha, mulheres que se opõem ao PL 5.069,
que dizem criar dificuldades para o aborto nas hipóteses permitidas em
lei (o que é mentira), levantaram uma faixa, consistente com o bordão
“Meu corpo, minhas regras”. Lá se lia: “Meu corpo não é dinheiro na
Suíça para ser da sua conta”.
Então vamos pensar. Não custa. Não dói. [Reinaldo para seres humanos normais pensar não custa, nem dói, faz até bem. Mas, para os petralhas e os vermes que defendem o abordo, é algo extremamente dificil e que sempre produz um produto pastoso e fedido.]
Se o “Meu corpo, minhas regras” quer dizer que ninguém, homem ou mulher, pode
tocar no seu corpo sem sua autorização, salvo nas hipóteses
recepcionadas em leis democráticas, então eu apoio. Aliás, eu reivindico
o bordão também para mim. Mas se isso
quer dizer que o aborto é uma questão que só deve dizer respeito às
mulheres e, em particular, à mulher que carrega o feto em seu útero,
então será preciso admitir, por implicação lógica, que todo aborto é uma
mutilação já que o feto seria parte do corpo. E eu pergunto: trata-se
de uma mutilação? A resposta, obviamente, é não. E tanto o feto não é
parte do corpo da mulher que, realizado o aborto, o corpo dela resta com
todos os órgãos que lá estavam antes do procedimento.
Há uma
falácia escandalosa aí: O ABORTO SÓ NÃO É UMA MUTILAÇÃO PORQUE O FETO É
OUTRO CORPO. E, PORTANTO, SE É OUTRO CORPO, A MULHER QUE O ABRIGA NÃO
PODE SER SENHORA ABSOLUTA DAS REGRAS.
Não! Não há absolutamente nada de religioso nessa minha observação. Eu só estou sendo lógico. A propósito:
ainda que o aborto fosse equiparável a uma mutilação, até onde se sabe,
não se mutilam pessoas por aí só por gosto, nem que fosse por gosto dos
mutilados. O argumento não para de pé.
Pensemos
ainda um pouco: se o aborto diz respeito exclusivamente a mulher e a seu
corpo, ela pode realizá-lo independentemente da vontade do pai. Isso
implica que este possa escolher abrir mão de suas responsabilidades caso
a mulher decida ter a criança? Mais uma: o
“meu corpo, minhas regras” deve ter vigência absoluta? Para os cultores
da frase, uma mulher deveria ter o direito de abortar até no nono mês de
gravidez? “Ah, quem faria isso?” Não importa. Eu estou fazendo uma
pergunta de princípio.
O combo da imprensa descolada
Há, hoje em dia, uma tríade sagrada da militância esquerdista ou nem tanto: só merece o reino dos céus do dito progressismo quem é favorável ao casamento gay, à descriminação das drogas e ao aborto. Eu fico pensando em que momento essas três coisas, de dimensões tão absolutamente distintas, se juntaram, de modo que ser favorável a uma delas deveria, necessariamente, atrair as outras duas. É o que eu chamaria de “combo da imprensa descolada”.
Há, hoje em dia, uma tríade sagrada da militância esquerdista ou nem tanto: só merece o reino dos céus do dito progressismo quem é favorável ao casamento gay, à descriminação das drogas e ao aborto. Eu fico pensando em que momento essas três coisas, de dimensões tão absolutamente distintas, se juntaram, de modo que ser favorável a uma delas deveria, necessariamente, atrair as outras duas. É o que eu chamaria de “combo da imprensa descolada”.
Eu, por
exemplo, defendo o casamento gay — eu me oponho é a que seja o Supremo a
cuidar do assunto —, mas me oponho ao aborto e à legalização das
drogas. Notem: um gay casado, por acaso, estaria obrigado a abraçar as
outras duas pautas? Em nome do quê?
Vamos
confundir o direito ou não de queimar um mato com a destinação que deve
ter um feto humano e com uma questão tão antiga à filosofia e ao
pensamento como a identidade e a alteridade? Será, para complicar ainda
mais a questão, que consumidores individuais de drogas não podem até se
opor à sua legalização porque entendem que, do ponto de vista social,
seria uma má ideia?
Sim, eu
estou preparado para conviver com a divergência. Arco com o peso das
minhas escolhas. E gostaria de sugerir às celebridades que arcassem com o
peso das suas. Afinal, ninguém foi convidar a Senhora Anônima para
expressar a sua opinião sobre o aborto. Os prosélitos foram buscar
pessoas conhecidas.
E, bem, há
quem goste e quem não goste das coisas que elas dizem. Nos limites da
civilidade, reitero, os descontentes têm todo o direito de se expressar.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Para saber mais, leia: o que fazer com o aborto? meu corpo minhas regras
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