‘Acho errado propor aborto’, diz jovem com
microcefalia
Ana
Carolina se formou em jornalismo e defende tratamento para os bebês
Na semana
passada, a notícia sobre uma ação que vai pedir a
liberação do aborto em caso de microcefalia no Supremo Tribunal Federal
(STF) causou muita repercussão entre pais de crianças
nascidas nesta condição. [cabe lembrar que o STF tem
competência para interpretar leis, especialmente a Constituição Federal.
Interpretar uma lei não confere competência
ao intérprete para invadir a competência
do Poder Legislativo (no caso do aborto a competência invadida será a do Congresso
Nacional) e ser tomado pelo FUROR LEGIFERANTE e se valer do truque de ler o que
consta do texto constitucional de maneira diversa e com isso criar uma lei que
se adapte ao maldito ‘politicamente correto’.
O STF pode muito, mas, não pode
legislar. Enquanto existir Poder Legislativo – cuja existência é protegida por
CLÁUSULA PÉTREA da Carta Magna – o Supremo pode interpretar as leis,
obviamente, guardando concordância entre a interpretação e o texto interpretado.
Da mesma forma, o direito a vida se
inclui entre os itens protegidos por CLÁUSULA PÉTREA – é este o argumento
aceito sem discussões quando se cogita da instituição da pena de morte; se a
vida de um bandido é protegida pela Constituição, mais ainda deve ser a de um
ser humano inocente e indefeso.]
Mas, no caso de Ana
Carolina Cáceres, 24 anos, o sentimento foi de indignação. O motivo
é um só: a jovem, recém-formada em
jornalismo, nasceu com microcefalia. —
Eu acho errado propor aborto para casos de microcefalia. O certo seria investir
em tratamento e atenção para esses bebês. Isso é falta de informação. Casos de microcefalia existem há décadas, não é algo de hoje.
Amanhã, vão querer aborto para quem tem síndrome de Down e outras síndromes?
— questiona.
Ana Carolina, que nasceu com microcefalia,
formou-se em jornalismo no ano passado -
Reprodução/Facebook
Sua condição é considerada leve
pelos médicos. Ela não tem nenhum problema físico nem
intelectual. Estudou em escola regular e nunca repetiu. Ana escreve em um blog sobre
microcefalia criado por ela mesmo e procura emprego na área de jornalismo.
Sempre ligada ao tema microcefalia, optou na faculdade por um trabalho de
conclusão de curso que divulgasse o tema. E fez um livro-reportagem para contar
a própria história e falar do assunto. Ela lembra que teve muitas dificuldades
durante a pesquisa, por conta da falta de informação. Por conta disso, Ana quer
que a obra do TCC seja aperfeiçoada para ser lançado por uma editora.
Mas
nem tudo foram flores para Ana. Até os 9 anos, sua vida foi marcada por cirurgias — cinco no total — e as piores previsões
de médicos. — Minha microcefalia só foi
descoberta quando eu nasci. Minha mãe ouviu vários prognósticos, que eu não ia
falar, andar, e até mesmo que não sobreviveria — conta.
A primeira cirurgia, realizada
com dias de vida, teve
objetivo de corrigir um afundamento na face e corrigir a estrutura nasal para
que sua respiração fosse normal. A última ocorreu quando tinha nove anos. Teve
várias convulsões e precisou tomar muitos remédios controlados. — Meu crânio nasceu fechado, então passei
por várias cirurgias para retirada de estruturas ósseas, permitindo que o
cérebro tivesse espaço para se desenvolver. Posso dizer que, depois desta
última cirurgia, meus pais passaram a respirar aliviados e ver que a filha
deles tinha sobrevivido — fala.
Sem danos cerebrais ou sequelas
das operações, o único
cuidado que ela precisava na escola era evitar quedas para não bater a cabeça. — Não
tinha cobertura óssea suficiente na testa. Mas o cuidado físico era só esse.
Meus pais se preocupavam em saber como estava o meu aprendizado, o meu
desenvolvimento intelectual — lembra. Para concluir o curso de jornalismo,
conquistou bolsas de estudo numa universidade privada.
Hoje,
assim como todo jovem recém-formado, Ana, que mora no Mato Grosso do Sul,
procura um emprego para realizar alguns sonhos. Quer conhecer, pela ordem, Inglaterra, Argentina, Turquia e Japão.
Só arranjar um namorado que não está nos planos de um futuro próximo: — Nem penso nisso, por enquanto. Pretendo
estudar em breve inglês, francês e japonês. Depois, mandarim, russo e alemão.
Dráuzio Varella, o Lula das palestras sobre medicina - faz críticas duras a quem argumenta contra o aborto a partir de princípios religiosos. "O poder das igrejas católicas e evangélicas é absurdo", diz. "Mas não está certo a maioria impor sua vontade. Respeitar opiniões das minorias é parte da democracia. Tem que respeitar os outros, o modo dos outros de ver a vida."
À reportagem, Varella diz que discorda dos que culpam exclusivamente o governo pela epidemia. "O estado brasileiro falha em muitos níveis. Mas não dá pra colocar a culpa toda no Estado, essa é uma visão muito passiva. Larga-se o pneu com água armazenada, deixa-se a água acumular na calha... Esta culpa é compartilhada, a sociedade tem uma fração importante nessa luta."
[Esse médico parece esquecer
que os assuntos de Deus são eternos e não mudam de acordo com o maldito
‘politicamente correto. ’]
Fonte: O Globo
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