O depoimento de João Santana fixa um novo marco na Lava Jato. O
marqueteiro mais badalado do país admitiu ter recebido US$ 4,5 milhões
em caixa dois na corrida presidencial de 2010. Ele comandou a primeira
campanha vitoriosa de Dilma Rousseff e Michel Temer.
A confissão
fornece novos elementos para entender como a aliança PT-PMDB se lambuzou
no petrolão. Além disso, ajuda a derrubar um segredo de polichinelo da
política brasileira. Santana contou, em primeira pessoa, como funcionam
os pagamentos "por fora" nas eleições. "Acho que se precisa
rasgar o véu de hipocrisia que cobre as relações político-eleitorais no
Brasil", afirmou o publicitário. Ele descreveu o caixa dois como
"prática generalizada nas campanhas" e disse que empresários e
empreiteiros sempre buscaram "caminhos extralegais" para financiar os
partidos políticos.
"Os preços são altos, eles não querem
estabelecer relação explícita entre os doadores de campanha, e se
recorre a esse tipo de prática", afirmou. Em tom penitente,
Santana disse que considerava o método "equivocado" e "nefasto", mas
alegou que não tinha como atuar dentro da lei. "Você vive dentro de um
ambiente de disputa, de competição", argumentou. "Ou faz a campanha
dessa forma ou não faz. Vem outro que vai fazer."
O juiz Sergio
Moro perguntou se o caixa dois não representa uma trapaça nas eleições.
"Acho que significa, antes de tudo, um constrangimento profundo. É um
risco. É um ato ilegal", respondeu Santana. Ele admitiu, em seguida, que
conhecia o risco ao assumi-lo. "Ninguém me colocou revólver [na
cabeça]", disse.
No escândalo do mensalão, Duda Mendonça já havia
confessado que o PT abasteceu suas contas no exterior. Ele foi
inocentado pelo STF, e tudo continuou como antes. A novidade da Lava
Jato é que o caixa dois passou a dar cadeia aos magos da propaganda. "Eu
jamais imaginaria que pudesse ser preso", desabafou Santana, há cinco
meses em Curitiba.
Fonte: Bernardo Mello Franco - Folha de S. Paulo
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