Informes indicam que, nos
últimos anos, um número cada vez maior de milicianos do Hamas fugiu da Faixa de
Gaza para se juntar ao ISIS no Sinai, na Síria e no Iraque.
Na foto acima:
imagem de agosto de 2014 de terroristas do Estado Islâmico no Sinai (naquela
época conhecido como Ansar Bayt al-Maqdis), se preparando para decapitar quatro
egípcios acusados de espionarem a favor de Israel.
Esta cooperação, de acordo com fontes de segurança da Autoridade Palestina, é a principal razão por trás das atuais tensões entre as autoridades egípcias e o Hamas. Essas tensões levaram os egípcios a manterem o posto de fronteira de Rafah fechado desde 2013, encurralando milhares de palestinos dentro da Faixa de Gaza. Em 2015 os egípcios abriram o posto fronteiriço de Rafah por 21 dias para permitirem que casos de necessidade de ajuda humanitária e que estrangeiros pudessem sair ou entrar na Faixa de Gaza.
No corrente ano, até agora, o posto de Rafah ficou aberto num total de 28 dias. Fontes na Faixa de Gaza salientam que há cerca de 30.000 casos de necessidade de ajuda humanitária que precisam atravessar imediatamente a fronteira. Estão incluídos aí dezenas de estudantes universitários que ainda não conseguiram voltar para suas universidades no exterior e aproximadamente 4.000 pacientes que necessitam de tratamento médico urgente. Surpreendentemente, na semana passada os egípcios abriram o posto fronteiriço de Rafah por cinco dias seguidos, permitindo que mais de 4.500 palestinos saíssem e entrassem na Faixa de Gaza. O gesto incomum veio na véspera da festa muçulmana de Eid al-Fitr. Contudo, o posto foi fechado novamente quando do início da festa em 6 de julho.
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A volta do fechamento do posto fronteiriço de Rafah coincidiu com relatos segundo os quais os esforços para acabar com as tensões entre o Hamas e o Egito chegaram a um impasse. De acordo com as informações, as autoridades egípcias decidiram cancelar uma programada visita ao Cairo de altos funcionários do Hamas. Segundo consta, a decisão de cancelar a visita veio na esteira da insatisfação dos egípcios no tocante à maneira com que o Hamas tem tratado a segurança ao longo da fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito.
O fechamento do posto de fronteira foi um golpe para os esforços do Hamas em reparar suas diferenças com o Egito e abrir caminho para relaxar as rigorosas restrições sobre viagens impostas pelo Cairo em cima dos palestinos na Faixa de Gaza. Nas últimas semanas, o Hamas anunciou que havia posicionado centenas de guardas de fronteira ao longo da fronteira com o Egito a fim de evitar a infiltração em ambas as direções, especialmente de terroristas jihadistas que têm tido como alvo os seguranças egípcios e civis no Sinai.
Entretanto, as autoridades egípcias permanecem extremamente céticas em relação às medidas do Hamas. Seguranças egípcios estão convencidos de que o Hamas não está agindo com seriedade no que tange evitar que terroristas jihadistas cruzem a fronteira, qualquer que seja a direção. Além disso, os egípcios suspeitam que o Hamas mantém estreitas relações com determinados grupos ligados ao ISIS no Sinai e de estar lhes fornecendo armas e tratamento médico. O Presidente do Egito Abdel Fattah el-Sisi recusou-se em manter contatos de alto nível com o Hamas desde que ele assumiu o poder em 2013. Seu regime vê o Hamas como uma ameaça à segurança nacional do Egito.
As poucas reuniões que ocorreram entre os dois lados se restringiram às questões de segurança; esta foi a razão de Sisi confiar a seus Agentes de Inteligência a condução das discussões com os líderes do movimento islamista que visitaram o Cairo nos últimos meses.
Ao que tudo indica, o ceticismo egípcio em relação ao Hamas não é injustificado. Nas últimas semanas, emergiram relatos que não deixam nenhuma sombra de dúvida quanto à cooperação entre o Hamas e grupos do ISIS no Sinai. Segundo argumentam os egípcios e a Autoridade Palestina, estes relatos conferem mais provas de que a Faixa de Gaza continua sendo a principal base para diversos grupos terroristas jihadistas, grupos estes que representam uma ameaça real, não só para a segurança nacional do Egito, mas também para Israel e para a Autoridade Palestina na Cisjordânia, bem como para países vizinhos, como Jordânia e Líbano.
Também surgiram denúncias de que alguns dos terroristas jihadistas no Sinai estavam recebendo tratamento médico em hospitais da Faixa de Gaza com a aprovação do Hamas. Os terroristas que são procurados pelas autoridades egípcias, segundo consta, entraram na Faixa de Gaza através dos túneis de contrabando ao longo da fronteira com o Egito. Segundo um relatório, Abu Sweilem um dos líderes terroristas do Sinai, foi flagrado deitado na cama do hospital Abu Yusef al-Najjar na cidade de Rafah, ao sul da Faixa de Gaza. O relatório assinala que Abu Sweilem foi hospitalizado sob forte proteção dos membros do Ezaddin al-Qassam, braço armado do Hamas. De acordo com o relatório, ele e outros terroristas procurados pelas autoridades egípcias foram internados no hospital da Faixa de Gaza em troca de armas fornecidas ao Hamas pelo Estado Islâmico no Sinai, conhecido como Wilayat Sina'.
Outra denúncia da mesma fonte afirma que Mohamed Abu Shawish, membro do alto escalão do Ezaddin al-Qassam na Faixa de Gaza, está ajudando a treinar e organizar terroristas jihadistas no Sinai. O Hamas alega que ele havia fugido da Faixa de Gaza para se juntar ao ISIS e que estava sendo procurado pelo braço armado do Hamas por deserção. A denúncia, contudo, ressalta que Abu Shawish se movimentava livremente entre a Faixa de Gaza e o Sinai e até utilizava veículos do Hamas para ir e voltar daquelas duas regiões.
A denúncia também acrescenta que Abu Shawish até instituiu uma vasta rede de relacionamentos ao longo do lado palestino da fronteira com o Egito a fim de facilitar o contrabando de armas e terroristas em ambas as direções. O relatório prossegue revelando que o agente do alto escalão do Hamas mantém contato com Eyad al-Khaldi, proprietário de uma fábrica de roupas na Faixa de Gaza que vem abastecendo com uniformes militares e outros equipamentos os terroristas no Sinai. O relatório cita isto como evidência das crescentes atividades dos terroristas jihadistas baseados no Sinai dentro da Faixa de Gaza, o que acontece com a bênção dos altos funcionários do Hamas.
Na verdade, no passado, o Hamas tomava medidas severas contra grupos ligados ao ISIS e indivíduos na Faixa de Gaza. Mas isso só acontece quando há indícios que representem algum tipo de ameaça ou contestação à soberania do Hamas na Faixa de Gaza. Esta repressão, no entanto, claramente não impediu que membros do Hamas, principalmente os que pertencem ao Ezaddin al-Qassam, de colaborarem com outros grupos ligados ao ISIS e que estão envolvidos em ataques terroristas contra os egípcios no Sinai. Isolado e desesperado por recursos na Faixa de Gaza, o Hamas parece estar disposto a cooperar com qualquer um para que possa controlar a situação e sobreviver.
Na Faixa de Gaza há palestinos que argumentam que o duplo padrão moral empregado pelo Hamas ao lidar com os terroristas jihadistas é a consequência de uma divisão entre sua ala política e a militar. Enquanto os principais líderes políticos do Hamas parecem estar ávidos para se distanciarem dos terroristas jihadistas, os comandantes do Ezaddin al-Qassam agem de forma independente e trabalham com qualquer um que lhes forneça armas.
Os palestinos acima citados também salientam que, nos últimos anos, um número cada vez maior de membros do Ezaddin al-Qassam fugiu da faixa de Gaza para se juntar ao ISIS no Sinai, na Síria e no Iraque -- um desdobramento que continua preocupando a liderança política do Hamas. Aqueles que não conseguiram fugir da Faixa de Gaza estão se juntando a outros grupos jihadistas que operam dentro da Faixa de Gaza.
No mês passado, foram fornecidas mais evidências dessa tendência quando da morte de Khaled al-Tarabin, um antigo agente de Hamas morto enquanto lutava ao lado de ISIS na Síria. Ele é o sétimo palestino ligado ao Hamas a ser morto enquanto combatia ao lado do ISIS no Iraque e a Síria nos últimos meses, segundo fontes da Faixa de Gaza. Independentemente do grau de cooperação entre os terroristas do Hamas e os terroristas da Jihad no Sinai, os palestinos que residem na Faixa de Gaza irão pagar o preço. Relatórios sobre a cooperação simplesmente colocam na defensiva as mentes dos egípcios, instigando-os quanto à necessidade de fecharem as fronteiras sem darem a mínima em relação às necessidades humanitárias.
Quanto à Autoridade Palestina, o máximo que ela pode fazer no momento é observar a Faixa de Gaza -- com a esperança dela fazer parte de um futuro estado palestino -- ir para as profundezas do inferno. Tanto Mahmoud Abbas quanto os líderes da Autoridade Palestina podem continuar falando o quanto quiserem sobre um estado palestino que seria estabelecido na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.
Porém, quando grupos inspirados pelo ISIS estão ativos na Faixa de Gaza sem que haja sinais de que o regime do Hamas esteja enfraquecendo, fica difícil vislumbrar um estado palestino. Abbas não pôs os pés na Faixa de Gaza desde 2007. Até a sua residência particular na cidade de Gaza lhe é inacessível. Mas o Hamas é apenas o começo da história para Abbas. Os grupos jihadistas claramente procuram criar um Emirado Islâmico, unindo a Faixa de Gaza ao Sinai. O Presidente da Autoridade Palestina pode agradecer a Israel pela sua presença na Cisjordânia -- presença que permite a ele e ao seu governo ser algo diferente de infiéis para servirem de buchas de canhão para os jihadistas.
Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém.
Publicado no site do Gatestone Institute.
Tradução: Joseph Skilnik
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