O empenho do PT em protelar o desfecho do impeachment, coadjuvado por
manobras ritualísticas patrocinadas pelo STF, está saindo pela culatra. O
partido apostou no desgaste de Michel Temer, na impossibilidade de
apresentar bons resultados em curto prazo.
De fato, não se reverte instantaneamente um quadro de caos econômico,
como o legado pelo PT, nem é possível fazê-lo sem medidas impopulares. O
novo presidente estaria, portanto, fadado ao insucesso, o que abriria
espaço para o retorno da velha (des)ordem. Faltou, porém, considerar um detalhe: a Lava Jato. Enquanto o Senado
consumia semanas repetindo o rito já aprovado na Câmara – a
admissibilidade do processo -, e na sequência ouvindo nada menos que 40
testemunhas, a turma de Curitiba colhia mais e mais delações
comprometedoras, que viriam (estão vindo) à tona antes da votação final.
O tempo, ao contrário do desejado, trabalha contra.
Estão em curso, entre outras, delações da diretoria da Odebrecht, que
confirmam a origem criminosa de recursos eleitorais e não eleitorais,
envolvendo Lula e a própria Dilma, pela primeira vez citada diretamente –
e pelo próprio dono da empresa. A íntegra dessas delações ainda virá à
tona, mas a prévia já é demolidora. Esta semana, mais uma bomba veio de Curitiba: o depoimento do casal de
marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Eles confirmaram ter recebido
4,5 milhões de dólares, de caixa dois, da campanha de Dilma. A confissão
somou-se à do operador Zwi Skornicki, de que se tratava de dinheiro
roubado da Petrobras, pago a pedido do então tesoureiro do PT, João
Vaccari Neto.
Pior: estava depositado em conta no exterior. Bastam esses dois fatos,
capitulados como crimes pela legislação eleitoral, para que o próprio
registro partidário do PT seja cassado. Dilma, como responsável pela campanha, pode até alegar que não sabia
(inclusive, já o fez), mas não adiantará nada. A lei é implacável: o
candidato é responsável pela campanha. O ex-senador Eduardo Azeredo,
candidato tucano ao governo de Minas em 1998, fez a mesma alegação,
diante de fatos análogos, e foi condenado a 20 anos de prisão – aliás,
sob os aplausos do PT.
A diferença é que Azeredo foi derrotado e Dilma elegeu-se. O caso dele,
portanto, esgotou-se nele. Já o caso Dilma a pega no curso do mandato,
interrompido por razões bem mais amenas, e terá repercussão na votação
final do impeachment. O processo no Senado, graças a Eduardo Cunha, atém-se a delitos apenas
administrativos, os tais crimes de responsabilidade. Mas o prontuário,
como as delações premiadas e a Lava Jato têm mostrado, é bem maior e
invade a esfera do Código Penal.
Cunha poupou a presidente do pior – não por amor, é claro, mas por medo
de alguma bala perdida o atingir. Afinal, foi parceiro, ainda que
menor, na rapina da Petrobras.
Escolheu o pedido de impeachment mais brando, mas é improvável que os
senadores deixem de considerar o conjunto da obra na hora de votar. Os
ainda indecisos (se é que os há) dificilmente ousarão afrontar os fatos,
de pleno conhecimento do público, na hora de definir seu voto, que será
aberto e transmitido pela TV. O julgamento será no final de agosto, lá
pelo dia 26.
Até lá, novas delações virão à tona, novas prisões devem ocorrer, não se excluindo a hipótese da do próprio Lula. Outro efeito colateral adverso do adiamento do impeachment são as
eleições de outubro, que este ano terão praticamente um mês apenas de
campanha. A dura exposição da administração petista, sobretudo a
ilegalidade de algumas de suas práticas, irão repercutir fortemente no
eleitorado.
O recurso terrorista ao fim do Bolsa Família, na hipótese de vitória do
adversário, já não terá a eficácia de antes. Ele mudou de mãos – e
Temer, não obstante os conselhos de sua equipe econômica, acaba de
conceder-lhe aumento de 12,5%. O único risco que Temer corre deriva dele próprio, se insistir em
nomear para sua equipe gente carimbada por atos praticados na gestão de
sua antecessora.
Fonte: Ruy Fabiano, jornalista
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