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segunda-feira, 11 de julho de 2016

Um batalhão de baleados

Soldado Victor Eric, de 26 anos, foi emboscado na noite de domingo e engrossou a trágica estatística de policiais mortos em territórios que o governo classifica como ‘pacificados’, sendo o nono somente neste ano. Desde o início do programa, 421 policiais ficaram atingidos nessas áreas – 38 morreram.

 INDIFERENÇA - Crianças observam com naturalidade o corpo fuzilado em uma rua de Realengo: tão comum é a cena de cadáveres por recolher que as pessoas vão estabelecendo uma macabra convivência com a morte


De acordo com um levantamento inédito feito por VEJA - com base na análise de mais de 10.000 registros de ocorrência em delegacias - Victor Eric foi o 38º assassinado dentro desses territórios desde que o projeto UPP foi implantado, no fim de 2008. Na reportagem especial sobre a situação caótica da segurança pública do Rio de Janeiro, comandada há uma década pelo delegado federal José Mariano Beltrame, o número de baleados já alcança a inacreditável marca de 421 policiais, ou seja, além dos 38 assassinados, 383 ficaram feridos por tiros ou estilhaços de granadas e bombas atiradas por criminosos. O número é maior do que o efetivo total de praticamente todas as UPPs (à exceção de Jacarezinho e Rocinha) e batalhões da PM do Rio de Janeiro. Os dados comprovam também que a situação nessas favelas vem piorando gradativamente desde 2013, sem que as autoridades tenham tomado providências para evitar a perda do controle dessas regiões.

 Amarildo, o início da derrocada - Até pouco mais da metade daquele ano, o número de policiais baleados em confrontos totalizava 39, sendo que cinco acabaram morrendo, uma média de um atingido a cada 43 dias. Na época, o projeto já contava com 36 Unidades de Polícia Pacificadora, duas a menos do que atualmente. Para muitos pesquisadores e especialistas em segurança pública, o turning point está no dia 14 de julho de 2013, com o sequestro, tortura e morte do pedreiro Amarildo de Souza, por agentes da UPP da Rocinha. 

"Não existe causa absoluta. Mas há fatos que criam tendência. E o caso Amarildo é um desses. O programa perdeu a legitimidade à medida que o governo não soube separar a má conduta de alguns do projeto em si. Isso trouxe junto a demonização da UPP e, consequentemente, o bandido ganhou respaldo para reagir", analisa o antropólogo e ex-capitão do Bope Paulo Storani. [só o idiota do Cabral e o sem noção do Beltrame acreditavam que a política de UPPs - baseada em ocupar favelas com dia e hora marcadas e desprestigiar a polícia (qualquer bandido 'merda', inclusive um 'avião' tipo o Amarildo, tinha mais autoridade que um policial militar ou mesmo um oficial PM.)
Este Blog e seu antecessor sempre deixou claro que a política de invadir favela com dia e hora marcados, para os bandidos fugirem não iria funcionar.
A prova está aí.
Sempre defendemos que antes de invadir as favelas a polícia precisava prender, ou mesmo abater, os bandidos.
Ainda defendemos o uso da técnica bem exposta no filme a "A Batalha de Argel", um filme de Gillo Pontecorvo. ]

A reportagem de capa da edição de VEJA que chegou às bancas no sábado retrata o drama e as histórias de violência da região metropolitana do Rio de Janeiro, onde, em 48 horas 27 pessoas foram assassinadas e outras vinte feridas. A menos de um mês dos Jogos Olímpicos, a violência não para e a Secretaria de Segurança perece mais frágil a cada dia, à espera do reforço de tropas federais que possam ajudar a estancar essa sangria, pelo menos durante os dias em que os holofotes do mundo estarão todos voltados para cá. Enquanto isso não acontece, seguem as matanças. Em especial as de policiais que, dentro das chamadas favelas 'pacificadas', continuam sendo emboscados pelos traficantes que voltaram a dominar esses territórios. A mais recente vítima dessa trágica estatística foi o jovem soldado Victor Eric Baga Faria, de 26 anos, o nono policial militar morto em favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) somente neste ano.
 
A percepção de Storani está traduzida nos próprios números levantados por VEJA. De lá para cá, em quase três anos houve 382 policiais atingidos nesses tiroteios, resultando na morte de 33 deles. Ou seja, um número dez vezes maior, em um tempo dezoito meses mais curto. O pós-Amarildo fez a média de policiais atingidos por um tiro em áreas com UPP saltar para um a cada 2,4 dias. O ano de 2014 terminou com 109 baleados, sendo que oito morreram. Já 2015 totalizou 155 baleados, com treze policiais mortos. Este 2016 também já se aproxima da marca centenária, registrando até aqui 85 feridos e nove mortos.

Essa perda de credibilidade foi percebida em um estudo feito pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Realizado entre os anos de 2014 e 2015, sob o título 'Mediação de conflitos nas UPPs', ele aponta falhas no treinamento dos próprios policiais, que saem no Centro de Formação de Praças (Cefap) dizendo terem sido treinados para a guerra. [é uma guerra e os bandidos precisam ser tratados como inimigos e abatidos - bandido MORTO = bandido BOM. E os moradores dasa favelas que defenderem bandidos devem ser tratados como bandidos.]Os pesquisadores detectaram problemas na compreensão dos próprios comandantes das UPPs a respeito do que significa a mediação de conflitos e mostra que os próprios moradores dessas favelas ocupadas acreditam que o programa vai acabar após a realização das Olimpíadas.

A nova emboscada do tráfico - Há quatro anos na PM, Victor Eric, lotado na UPP do Complexo do Lins, na Zona Norte, foi o quinto policial executado em emboscadas de traficantes somente nos dois últimos meses. O primeiro, em 5 de maio, foi o sargento André Luiz Novaes, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), fuzilado dentro de uma kombi no Morro da Providência, num ataque que deixou outros dois policiais da tropa de elite feridos. Depois, no dia 8 de maio, foi o soldado Evaldo César Silva de Nunes Filho, quando chegava para trabalhar na UPP do Complexo do Alemão. Duas semanas mais tarde, dia 22, o soldado Eduardo Ferreira Dias foi atacado em circunstâncias semelhantes às de ontem. Ele dirigia uma viatura que passava pela Rua Visconde de Niterói, na Mangueira, quando foi baleado no peito e não resistiu. Em 23 de junho a vítima foi o sargento Ericson Gonçalves Rosário, da UPP Manguinhos, atingido na cabeça quando a van da unidade passava pelo vizinho Jacarezinho, também considerado 'pacificado' pelo governo.

 Até o fechamento da reportagem da edição impressa de VEJA, na sexta-feira, o número de atingidos nas favelas de UPP era de 418. Desde então, o soldado Elias José Fernandes Filho foi ferido de raspão na cabeça, no Morro dos Macacos. E ontem, junto com Victor Eric, seu companheiro de patrulha, o cabo Rafael Vinícius de Oliveira Mello, foi atingido por um tiro na mão quando passava pela Avenida Marechal Rondon. O ano de 2016 tem agora 237 policiais (somando os que estavam em serviço ou de folga), sendo que 58 desses acabaram morrendo.
QUADRO DO AUMENTO DE POLICIAIS BALEADOS EM UPPS:
2008 - nenhum ferido (1 UPP inaugurada)
2009 - nenhum ferido (5 UPPs inauguradas)
2010 - 1 ferido (12 UPPs inauguradas)
2011 - 6 feridos (18 UPPs inauguradas)
2012 - 18 feridos e 5 mortos (28 UPPs inauguradas)
2013 - 30 feridos e 3 mortos (36 UPPs inauguradas)
2014 - 101 feridos e 8 mortos (38 UPPs inauguradas)
2015 - 142 feridos e 13 mortos (38 UPPs inauguradas)
2016 - 85 feridos e 9 mortos (38 UPPs inauguradas)
TOTAL - 421 baleados, sendo 383 feridos e 38 mortos

 Fonte: Revista VEJA



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