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sábado, 9 de julho de 2016

Uma morte a cada hora

O que acontece durante 48 horas......no Rio de Janeiro 

O que acontece durante 48 horas no Rio de Janeiro é o equivalente a uma guerra civil: corpos na calçada, tiroteios, execuções. 

Na Cidade Maravilhosa, a morte violenta virou banalidade. Os gatilhos da barbárie estão nas vias que à noite se tornam rota exclusiva de bandidos, nos arrastões que espalham o terror, na fuzilaria entre quadrilhas, na polícia mal equipada, encurralada, ausente e brutal. Com oito duplas de repórteres, VEJA acompanhou as ocorrências policiais das 20 horas da sexta 1º de julho às 20 horas do domingo. O saldo: 27 mortos, vinte feridos, dezenove tiroteios, sete arrastões

A Morte do Herói

sexta-feira, 1º de julho -20h45



Na rua escura que dá acesso à Rodovia BR-101, em São Gonçalo, na Grande Rio, o sangue escorre do corpo de bruços, iluminado por uma lanterna. Peritos reconstituem a cena da morte. Ao ser abordado por um ladrão de carro, o homem reagiu atirando. O ladrão, mesmo ferido, disparou de volta, acertando-o na nuca e nas costas. Depois, fugiu com o veículo. 

Antônio Oliveira, 42 anos, era sargento do Corpo de Bombeiros. Orgulhoso da farda, ele morreu fazendo bico, em trajes civis. Com o estado lhe devendo um mês de salário (o depósito seria feito cinco dias depois de sua morte), alugou um Voyage, registrou-se no Uber e passou a transportar passageiros nas folgas. A mulher do bombeiro, Bianca, soube da morte por uma rede social. Ela está grávida de quatro meses da terceira filha, a quem dará o nome de Maria Antônia. No enterro, domingo, dia 3, a marcha fúnebre das cornetas se misturava aos gritos de “o melhor bombeiro do Rio”. No estado, os latrocínios, nome técnico dos assaltos seguidos de morte, estão em alta. Foram 89 entre janeiro e maio, 37% a mais que no mesmo período de 2015. Os assaltos em geral batem recorde: um a cada quatro minutos.

Execução ao sol

sábado, 2 de julho - 9h


O escuro da noite não é mais requisito para os assassinatos. Mata-se durante o dia. Uma câmera de segurança gravou a execução à queima-­roupa de Sérgio de Almeida Júnior, 37 anos, pré-candidato do PSL a vereador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ele entrava em seu carro quando outro veículo se aproximou. Escapou pela porta do passageiro, mas dois homens, encapuzados e com luvas, dispararam para matar. 

Berém do Pilar, como era conhecido, levou 21 tiros de pistola e fuzil na frente de casa. A câmera capturou o desespero de sua mulher ao abrir a porta da residência. Suspeita-se que políticos ligados a milícias estivessem incomodados com a popularidade do rival. Berém do Pilar foi o décimo pré-­candidato à eleição de 2016 a ser assassinado na Baixada, área que engloba seis municípios. Ali, milícias e tráfico impõem suas leis. O patrulhamento é mínimo — um policial para cada 2 500 habitantes em alguns pontos. O recomendável é um para 250.


Repórteres: Cecília Ritto, Jana Sampaio, Leslie Leitão, Luísa Bustamante, Maria Clara Vieira, Roberta Trindade, Sérgio Ramalho e Thiago Prado 

Fotógrafos: Antonio Milena, Carlos Moraes, Daniel Ramalho, Egberto Nogueira, Emiliano Capazzoli, Marcelo Regua, Marcos Tristão e Reginaldo Teixeira

 Edição de vídeo: Isabella Infantine 

Design e programação: Alexandre Hoshino, André Fuentes e Sidclei Sobral



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