O Supremo Tribunal Federal (STF), tentando resolver uma crise
institucional, pode tê-la aprofundado por perder a credibilidade diante
da opinião pública. O STF vinha representando um papel de fiel da
balança, do garantidor da democracia brasileira, e se perder a confiança
da população, ficaríamos em uma situação bastante delicada.
Temos
um governo que não é popular e está ainda tentando encontrar um caminho
de equilíbrio entre o conservadorismo nato do presidente Michel Temer e
o reformismo que é necessário. Um Legislativo completamente
desmoralizado, e o Judiciário em xeque com essa última decisão.
Uma
de nossas crenças é a de que, apesar das crises múltiplas, nossas
instituições democráticas funcionam normalmente. Mas elas estão sendo
corroídas gradativamente pela falta de credibilidade. Tenho certeza
absoluta de que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que
mudaram de posição em relação ao julgamento do mérito na ação que proíbe
que um réu faça parte da linha de substituição do presidente da
República, o fizeram na melhor das intenções. Estavam preocupados
com a crise institucional implantada com a confrontação, pelo
Legislativo, da decisão liminar o ministro Marco Aurélio afastando o
senador Renan Calheiros da presidência do Senado, pensaram no país,
acharam que a melhor solução era tranqüilizar o Senado, permitindo que o
Congresso prosseguisse a votação das reformas econômicas tão
necessárias.
Mas se equivocaram, pois, além de não ser a decisão
mais acertada a meu ver, se puseram completamente nas mãos de Calheiros.
O mínimo que deveria acontecer era exigir que ele acatasse a decisão
liminar do STF, deixando a presidência do Senado para o vice Jorge
Vianna, até que o recurso ao plenário fosse julgado. Seria a única
maneira de evitar que o Supremo fosse confrontado pelo Legislativo, e
quase humilhado por Renan Calheiros. [uma pergunta que não quer calar: se existe uma LEI FEDERAL, em plena vigência - Lei nº 9.882 - que determina que liminar para o tipo de ação proposta pela Rede (partido a falta de um projeto sério para o Brasil, se limita a atrapalhar a solução dos problemas que afligem nossa Pátria) só pode ser concedida pela maioria absoluta do SUPREMO.
E o ministro Marco Aurélio é apenas um - não é maioria absoluta, mesmo que na hora de assinar a ilegal liminar estivesse sozinho em seu gabinete.]
Os ministros não tiveram o
cuidado de preservar a instituição diante de um fato grave, a recusa do
presidente do Senado de receber do oficial de Justiça a comunicação de
que estava fora das suas funções. Não adiantam de nada os discursos de
vários juízes, inclusive da presidente do Supremo, ministra Carmem
Lucia, criticando a atitude, classificada de “uma afronta à Justiça”. E
daí?
Renan Calheiros não aceitou a decisão do ministro Marco
Aurélio Mello, levou a Mesa do Senado a fazer um documento em que
rejeitava a liminar, e não aconteceu nada com ele, não sofrerá nenhuma
punição. Um péssimo exemplo para a cidadania, uma demonstração de que há
ainda no país quem esteja imune às penas a que os comuns dos mortais
estão sujeitos. O equívoco político foi considerar Renan
Calheiros imprescindível para a governabilidade. Não creio que o Senado
se rebelaria contra o STF, inviabilizando assim as reformas. E mesmo que
o PT estivesse no comando da Casa com o senador Jorge Vianna, não teria
condições políticas para impedir que a maioria votasse a PEC do teto
dos gastos.
No limite, poderia adiar a votação para fevereiro,
quando provavelmente o senador peemedebista Eunício de Oliveira estará à
frente do Senado. É claro que isso provocaria um estresse momentâneo, o
mercado reagiria mal, mas faz parte do jogo. Não diria nem que
houve um acordo, mas o consenso a que chegaram de que a melhor solução
seria a adotada é um equívoco e enfraquece o Supremo. Os ministros do
Supremo foram mais generosos do que cautelosos, pensaram mais na crise
institucional do que na imagem da sua instituição, que ficou muito
abalada, sujeita a mil interpretações.
A maioria da opinião
pública está convencida de que houve um acordo político para salvar
Renan. Em troca, ele tiraria da pauta, o que realmente aconteceu, o
projeto sobre abuso de autoridade, e não mais mexeria nos supersalários
do Judiciário. A ministra Carmem Lucia, presidente do Supremo, já havia
tentado interferir, através do presidente Michel Temer, para que os
projetos sobre abuso de autoridade com punições para juízes e
procuradores não fossem colocados por Renan na pauta, e não fora
atendida. [foi então escalado o superministro Marco Aurélio para dar um susto em Renan e acomodar tudo.]
Essas insinuações são motivadas por uma mudança de
posição do Supremo que parece inexplicável a quem queria ver Renan
Calheiros fora da presidência do Senado e foi para as ruas exigir.
Fonte: Merval Pereira - O Globo
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