Janot deve ter cautela para não prejudicar a confiabilidade da Lava-Jato
Apoiado no
que há de pior na sua base parlamentar e valendo-se dos piores
instrumentos de persuasão, Michel Temer mostrou a força de seu método e
garantiu-se na cadeira de presidente. Confirmando sua ameaça de que
“enquanto houver bambu, lá vai flecha", o procurador-geral, Rodrigo
Janot, mira novamente em Temer e anuncia que vai apresentar novas
denúncias contra ele.
Na flechada que a Câmara rejeitou, havia o áudio de uma conversa de Temer e o vídeo de Rodrigo Rocha Loures com sua mala preta. Faltou só um fundo musical. Os deputados acharam pouco e mandaram o caso ao arquivo. O que a Procuradoria-Geral teria a apresentar nas novas denúncias? Talvez um depoimento, devidamente documentado, com as impressões digitais de Temer. Ainda assim, a maioria governista já mostrou do que é capaz. Só Janot sabe o que guarda no bambuzal, mas há uma distância entre sua frase de efeito e seu poder sobre o plenário da Câmara. A vontade de condenar Temer com provas convincentes para o público, porém consideradas insuficientes pela Câmara, lança sobre as ameaças de Janot o receio de que ele jogue o Ministério Público numa estudantada.
Estudantadas são aqueles gestos altruístas e destemidos que levam a juventude para as ruas.
Passam os anos, as pessoas envelhecem e criticam a rebeldia dos jovens, mas sempre lembram das próprias aventuras com doce nostalgia. Estudante com cabeça de velho é uma desgraça. Velho com cabeça de estudante é um perigo. A última grande estudantada nacional também nasceu de uma votação decepcionante da Câmara. Em abril de 1984, a emenda constitucional que restabelecia as eleições diretas para presidente foi derrubada pelos deputados. Era o amargo desfecho da maior campanha popular da história do Brasil, apoiada por 85% da população (semana passada, 81% queriam que Temer fosse a julgamento).
No dia seguinte à derrota, com o brado de “a luta continua”, começou a estudantada. Criou-se um Comitê Suprapartidário Nacional para prosseguir na campanha. Pensou-se até numa monumental marcha sobre Brasília. Aos poucos, o movimento murchou. A eleição direta estava morta, e Tancredo Neves seria o candidato da oposição num pleito indireto, mas essa é outra história. A situação de 2017 tem muitas diferenças em relação a 1984. Uma delas é que Janot sabe a consistência de suas próximas denúncias. Se as flechas forem boas, ótimo. Do contrário, se e quando se perceber que o bambu era curto, a estudantada ficará exposta, tendo prejudicado a confiabilidade da Operação Lava-Jato.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e não entende de onde saiu a expressão derrogatória que fala de uma bancada “BBB” no Congresso. Seriam os representantes do boi, da bala e da Bíblia.
O idiota abstrai as características pessoais dos larápios ligados a ruralistas, policiais ou bispos. Para o cretino, o agronegócio é responsável por 23% da economia nacional, metade da população brasileira é a favor da pena de morte, e a Bíblia é o livro mais vendido e mais lido no Brasil e em dezenas de outros países.
Aéreos
A produção de eventos para empulhar o povo do Rio de Janeiro ganhou dois novos animadores. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o presidente Michel Temer fizeram saber que “sobrevoaram” as áreas onde forças federais reforçam a segurança da cidade. Sobrevoar arrastões, tiroteios e balas perdidas é tudo o que o carioca precisa.
O sobrevoo dos doutores compete com o passeio da diretora do FMI, Christine Lagarde, no teleférico do Morro do Alemão, quando ela se sentiu “nos Alpes". (O teleférico continua parado.)
Na flechada que a Câmara rejeitou, havia o áudio de uma conversa de Temer e o vídeo de Rodrigo Rocha Loures com sua mala preta. Faltou só um fundo musical. Os deputados acharam pouco e mandaram o caso ao arquivo. O que a Procuradoria-Geral teria a apresentar nas novas denúncias? Talvez um depoimento, devidamente documentado, com as impressões digitais de Temer. Ainda assim, a maioria governista já mostrou do que é capaz. Só Janot sabe o que guarda no bambuzal, mas há uma distância entre sua frase de efeito e seu poder sobre o plenário da Câmara. A vontade de condenar Temer com provas convincentes para o público, porém consideradas insuficientes pela Câmara, lança sobre as ameaças de Janot o receio de que ele jogue o Ministério Público numa estudantada.
Estudantadas são aqueles gestos altruístas e destemidos que levam a juventude para as ruas.
Passam os anos, as pessoas envelhecem e criticam a rebeldia dos jovens, mas sempre lembram das próprias aventuras com doce nostalgia. Estudante com cabeça de velho é uma desgraça. Velho com cabeça de estudante é um perigo. A última grande estudantada nacional também nasceu de uma votação decepcionante da Câmara. Em abril de 1984, a emenda constitucional que restabelecia as eleições diretas para presidente foi derrubada pelos deputados. Era o amargo desfecho da maior campanha popular da história do Brasil, apoiada por 85% da população (semana passada, 81% queriam que Temer fosse a julgamento).
No dia seguinte à derrota, com o brado de “a luta continua”, começou a estudantada. Criou-se um Comitê Suprapartidário Nacional para prosseguir na campanha. Pensou-se até numa monumental marcha sobre Brasília. Aos poucos, o movimento murchou. A eleição direta estava morta, e Tancredo Neves seria o candidato da oposição num pleito indireto, mas essa é outra história. A situação de 2017 tem muitas diferenças em relação a 1984. Uma delas é que Janot sabe a consistência de suas próximas denúncias. Se as flechas forem boas, ótimo. Do contrário, se e quando se perceber que o bambu era curto, a estudantada ficará exposta, tendo prejudicado a confiabilidade da Operação Lava-Jato.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e não entende de onde saiu a expressão derrogatória que fala de uma bancada “BBB” no Congresso. Seriam os representantes do boi, da bala e da Bíblia.
O idiota abstrai as características pessoais dos larápios ligados a ruralistas, policiais ou bispos. Para o cretino, o agronegócio é responsável por 23% da economia nacional, metade da população brasileira é a favor da pena de morte, e a Bíblia é o livro mais vendido e mais lido no Brasil e em dezenas de outros países.
Aéreos
A produção de eventos para empulhar o povo do Rio de Janeiro ganhou dois novos animadores. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o presidente Michel Temer fizeram saber que “sobrevoaram” as áreas onde forças federais reforçam a segurança da cidade. Sobrevoar arrastões, tiroteios e balas perdidas é tudo o que o carioca precisa.
O sobrevoo dos doutores compete com o passeio da diretora do FMI, Christine Lagarde, no teleférico do Morro do Alemão, quando ela se sentiu “nos Alpes". (O teleférico continua parado.)
Cuidado
Há um pote de malvadezas à espera do doutor Rodrigo Janot a partir do dia 18 de setembro, quando ele perde o foro do Supremo Tribunal Federal e vai para a alçada do STJ.
Gente que ele flechou pensa em processá-lo, nem que seja só para aporrinhá-lo.
(...)
Barroso expõe a operação lama a jato
O
ministro Luis Roberto Barroso pode vir a ser a novidade da temporada.
Quando ele disse que está em curso uma operação para abafar a Lava-Jato,
sabia do que falava. Não se trata apenas de impedir que os larápios
apanhados sejam punidos, trata-se de permitir que se continue a roubar.
Só isso explica que Rodrigo Rocha Loures fosse buscar a mala preta na
pizzaria Camelo. Barroso foi além: “Essas pessoas têm aliados
importantes em toda parte, nos altos escalões da República, na imprensa e
nos lugares onde a gente menos imagina".
Há dois
meses, quando o Supremo Tribunal Federal cuidava da girafa da
colaboração negociada pelo procurador Rodrigo Janot com os irmãos
Batista, Barroso soltou um aviso: “Todos sabemos o caminho que isso vai
tomar e, portanto, já estou me posicionando antes. Sou contra o que se
quer fazer aqui lá na frente."
Foi o início de uma
longa inimizade com o ministro Gilmar Mendes. O acordo aceito por Edson
Fachin era uma girafa, mas o que se queria era fechar o zoológico, e
Barroso ajudou a impedir que isso acontecesse.
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