Não é por pragmatismo, dada a certeza de que a esquerda seria beneficiada, que me oponho à deposição do presidente. É, antes de mais nada, por princípio
O presidente Michel Temer concedeu uma
entrevista exclusiva nesta quinta ao programa “O É da Coisa”, que ancoro
na BandNews FM e que vai ao ar, todos os dias, entre 18h e 19h20.
Falamos, obviamente, sobre a votação de quarta-feira. A Câmara, com
números eloquentes (263 votos a 227), aprovou o relatório do deputado
Paulo Abi Ackel (PSDB-MG), que pedia o arquivamento da denúncia feita
por Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Para o presidente,
trata-se de uma resposta que dá o Poder Legislativo a um processo que
qualificou de kafkiano, numa referência ao escritor tcheco, de língua
alemã, Franz Kafka.
Mas também conversamos sobre o futuro.
Temer deixou clara a centralidade que a reforma da Previdência passará a
ter em seu governo e, pela primeira vez, admitiu que o Planalto pode,
sim, apoiar o parlamentarismo já para as eleições de 2018. Antes que
entre em detalhes, algumas considerações.
Posso compreender que os esquerdistas
queiram depor Temer. Faz sentido. Trata-se de uma atuação compatível com
seu universo ideológico e com a forma como fazem política. Afinal, se
há um pensamento que segue literalmente a corruptela maquiavélica de que
os fins justificam os meios — E MAQUIAVEL NUNCA ESCREVEU ISSO —, esse é
o pensamento de esquerda. Um liberal só será digno desse nome se
considerar que os meios qualificam os fins.
Sim, essa definição é minha. Logo, dadas
as circunstâncias, é simplesmente inaceitável que democratas, com
variados graus de liberalismo, acatem a agenda “Fora, Temer!”. Em nome
do quê? Aí os mais afoitos, que não leem nem bula de remédio, mas são
especialistas em bulas morais, logo gritam: “Em nome da decência”. É
mesmo? Certamente não leram a denúncia de Rodrigo Janot, que não traz
evidência nenhuma de que o presidente tenha cometido crime de corrupção
passiva, com possível lavagem de dinheiro.
Poderia, se quisesse, citar algumas
dezenas de textos de esquerda que justificam a queda de Temer. Todos
eles terão como eixo a “defesa dos interesses do povo” e não estão nem
aí para as provas. Mas não há uma só referência democrático-liberal que
justifique a deposição de um presidente legal e legítimo apenas porque
um ente do Estado o acusou, sem apresentar as evidências. Não é por
pragmatismo, dada a certeza de que a esquerda seria beneficiada, que me
oponho à deposição do presidente. É, antes de mais nada, por princípio. O
Estado acusador não pode se impor ao arrepio das provas. Vale para
Temer, Lula ou qualquer outros.
Previdência
O presidente disse que se sente fortalecido para levar adiante a reforma da Previdência. Mas há como aprová-la? Deixemos que ele fale: “Há um dado que, talvez, deixe os ouvintes estarrecidos. O déficit da área neste ano é de mais de R$ 180 bilhões; no ano que vem, será de R$ 205 bilhões. Se a gente não fizer uma reforma, ainda que suave, paulatina, vagarosa, como estamos fazendo, daqui a alguns anos, só haverá dinheiro para pagar funcionário público e Previdência”. Mas haverá, por exemplo, na Câmara, os 308 votos necessários? Realista e objetivo, Temer lembrou uma obviedade: há parlamentares que votaram contra ele na quarta, mas que apoiam as reformas. É, por exemplo, o caso de 21 tucanos.
O presidente disse que se sente fortalecido para levar adiante a reforma da Previdência. Mas há como aprová-la? Deixemos que ele fale: “Há um dado que, talvez, deixe os ouvintes estarrecidos. O déficit da área neste ano é de mais de R$ 180 bilhões; no ano que vem, será de R$ 205 bilhões. Se a gente não fizer uma reforma, ainda que suave, paulatina, vagarosa, como estamos fazendo, daqui a alguns anos, só haverá dinheiro para pagar funcionário público e Previdência”. Mas haverá, por exemplo, na Câmara, os 308 votos necessários? Realista e objetivo, Temer lembrou uma obviedade: há parlamentares que votaram contra ele na quarta, mas que apoiam as reformas. É, por exemplo, o caso de 21 tucanos.
Reforma política
E a reforma política? Ele responde: “Essa, evidentemente, é uma tarefa do Congresso Nacional. Se o governo entra, ajuda. O que ouço por aqui é que, para 2018, teremos a fixação das cláusulas de barreira e a eliminação das coligações. Mas eu vou me atrever um pouco aqui, viu? Você falou em parlamentarismo para 2022. Eu acho que nós poderíamos pensar, mera hipótese, em parlamentarismo já para 2018. Eu acho que não seria despropositado”.
E a reforma política? Ele responde: “Essa, evidentemente, é uma tarefa do Congresso Nacional. Se o governo entra, ajuda. O que ouço por aqui é que, para 2018, teremos a fixação das cláusulas de barreira e a eliminação das coligações. Mas eu vou me atrever um pouco aqui, viu? Você falou em parlamentarismo para 2022. Eu acho que nós poderíamos pensar, mera hipótese, em parlamentarismo já para 2018. Eu acho que não seria despropositado”.
Que assim seja. Precisamos de
estabilidade e do cumprimento das garantias que nos são fornecidas pela
Constituição. Só assim estaremos aptos para encaminhar as mudanças que
podem fazer um Brasil socialmente mais justo e politicamente mais
tolerante.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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