Decisão de limitar os salários de ingresso no Executivo federal faz parte do pacote para reduzir gastos públicos, que inclui ainda o adiamento dos aumentos salariais programados para 2018
O
governo faz os últimos cálculos para fechar o orçamento do próximo ano,
mas já definiu que os concursos realizados em 2018 terão salário
inicial de R$ 2,8 mil para vagas de nível médio e de R$ 5 mil para
postos que exigem ensino superior. A medida valerá para todas as
carreiras do Executivo federal e um projeto de lei será enviado ao
Congresso Nacional para normatizar a decisão. As estimativas
apresentadas ao presidente Michel Temer indicam economia de até R$ 70
bilhões ao longo da próxima década. Os editais já publicados não serão
afetados. [essa proposta é daquelas que o Temer jamais terá coragem de autorizar.
Não é só devido sua indecisão, mas, especialmente por ser algo totalmente 'sem noção' e que não vai funcionar.
Tomando como exemplo um auxiliar administrativo admitido este ano, aprovado em concurso realizado em 2014 - com validade até inicio de 2018 - ganhe R$3.000,00/mês; um auxiliar administrativo que realizar concurso em março 2018 e empossado em junho e ganhando R$2.500,00, não vai dar certo - salário menor, atribuições idênticas, mesmo órgão e carga horária, para função idêntica, será contestado na Justiça.]
Os
técnicos do governo ainda estudam a possibilidade de que o texto seja
encaminhado ao Legislativo, por meio de uma medida provisória, para que
tenha eficácia imediata. Esse detalhe será definido em reunião com o
presidente da República. Assessores de Temer, ouvidos reservadamente,
destacaram que há uma discrepância entre os salários de entrada no setor
público em relação ao de empresas privadas. Dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o rendimento
médio real habitual dos servidores é 56,4% maior.
Essa
situação é ainda pior nas carreiras de nível superior. Dados da Relação
Anual de Informações Sociais (Rais) de 2015 mostram que, enquanto um
advogado tem salário inicial de R$ 4,5 mil, um advogado da União
ingressa na carreira com contracheque de R$ 19,2 mil. A
proposta faz parte das medidas que a equipe econômica anunciará na
segunda-feira para tentar reequilibrar as contas públicas. Além de
limitar o valor inicial dos contracheques, os reajustes salariais
programados para diversas carreiras em 2018 serão adiados para 2019.
Somente com essa medida, o Executivo espera economizar R$ 9,7 bilhões.
Assim, o rombo fiscal do próximo ano não ultrapassaria os R$ 159 bilhões
previstos na proposta orçamentária que será encaminhada ao Legislativo
até 31 de agosto. [adiar reposição salarial com data já fixada e duas parcelas já pagas é outro sonho dos sempre citados 'técnicos' do governo Temer.]
Especialistas, entretanto,
divergem sobre a efetividade da medida. Para o professor José
Matias-Pereira, da Universidade de Brasília (UnB), a decisão de criar um
salário inicial para as diversas carreiras do Executivo afetará o
processo de seleção de candidatos. “Temos diversas carreiras de Estado
com rigoroso nível de exigência para o ingresso. O governo não atrairá
talentos ao pagar R$ 5 mil de remuneração de entrada. Estão jogando uma
medida para a plateia”, disse.
Apesar disso,
ele avalia que adiar os reajustes firmados de 2018 para 2019 faz parte
do conjunto de medidas emergenciais tomadas para tentar conter o rombo
nas contas públicas. Entretanto, Matias-Pereira explicou que o Executivo
precisa concentrar esforços em medidas para acabar com privilégios e
distorções para ter condições de debater com a sociedade reformas como a
da Previdência. “Temos que pensar no médio e longo prazos para que o
país volte a atrair investimentos e gerar empregos”, resumiu.
A
imposição de valores iniciais para salários de servidores públicos
federais é uma medida que respeita a Constituição Federal, avalia o
advogado Sérgio Camargo, especialista em direito público. Conforme ele,
fixar os valores dos contracheques dos empregados do setor público é
prerrogativa dos chefes dos três poderes. Camargo explica que não há
qualquer abuso de poder discricionário do Executivo ao fixar o valor de
entrada que será pago. “Muitas pessoas podem dizer que não haverá
isonomia em relação aos servidores que já são concursados. Entretanto,
isso não é correto, uma vez que o governo já alterou, por exemplo, o
regime previdenciário dos servidores. Seria a mesma lógica”, destacou. [sem lógica, é ter esse entendimento; mudar a previdência é algo que só será sentido após dezenas de anos, já salários menores são percebidos de imediato.]
Na
avaliação do especialista em direito constitucional Wellington Antunes,
professor do Gran Cursos, ainda é cedo para analisar o impacto da
medida. Ele ressaltou que diversas mudanças ocorreram ao longo dos anos,
o que não deve afetar os concurseiros. “Trabalho com concursos públicos
há 14 anos e já vi de tudo, de cancelamento a suspensão de editais, de
diminuição de vagas a diminuição de nomeações. Sempre há aquelas
pessoas que viralizam a notícia negativa, que preconizam o fim dos
concursos. Mas a história das seleções públicas está aí para comprovar
que a máquina pública não pode parar”, comentou.
Antunes
explicou que o país enfrenta uma crise sem precedentes e que ajustes
são necessários. “Limitar o salário a R$ 5 mil não deve afastar o
interesse das pessoas que realmente querem ingressar no serviço público.
É preciso ter em vista que hoje uma pessoa na iniciativa privada ganha
em média R$ 2 mil sem estabilidade. Ou seja, é bem pior”, avaliou o
especialista.
Fonte: Correio Braziliense
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