Contra o Código de Processo Penal, juiz havia limitado a 32 as testemunhas de ex-presidente; ele tem direito a 80, e os responsáveis são o MPF e o próprio Vallisney
Pois é… O desembargador Néviton Guedes,
do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, cedeu ao pedido da
defesa de Lula e autorizou o depoimento de 80 testemunhas de defesa em
ação penal que corre na 10ª Vara Federal de Brasília, cujo titular é o
polêmico juiz Vallisney de Souza Oliveira, que havia limitado esse
número a 32.
A “Lista de Lula” já está gerando
barulho porque inclui nomes como os ex-presidentes da França Nicolas
Sarkozy e François Hollande, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
12 cidadãos que vivem na Suécia, 11 senadores, quatro deputados federais
e três atuais ministros de Estado (Aloysio Nunes Ferreira, Blairo Maggi
e Dyogo Henrique de Oliveira). Também o técnico de futebol Vanderlei
Luxemburgo, ex-treinador da Seleção, atualmente no Sport do Recife (PE),
está na lista.
Antes de tratar do ecletismo dos nomes,
algumas considerações. Não há exotismo nenhum na defesa de Lula ao pedir
80 testemunhas. Tampouco o desembargador Guedes cometeu alguma falha.
Quem havia se esquecido de cumprir a lei, no caso, é o juiz Vallisney.
Antes que o antipetista fique bravo, convém consultar a lei. O Artigo 401 do Código de Processo Penal
prevê que o réu tem direito a oito testemunhas de defesa por imputação
que lhe é feita. Sendo 10, são 80 as testemunhas. Vai ver o Ministério
Público Federal e os juízes devam ser um pouco menos amostrados,
respectivamente, nas denúncias e na aceitação delas. Será que não há um
certo exagero para mobilizar a opinião pública?
Vamos lembrar. Estamos a falar da
Operação Zelotes, talvez a mais heterodoxa jamais criada no país porque
investiga tudo: de caças da Aeronáutica a espinhela caída. Explico. No
âmbito dessa operação estão:
– investigação da compra de Medida Provisória 471 para beneficiar o setor automotivo com renúncia fiscal de R$ 1,3 bilhão. Os beneficiários teriam distribuído R$ 36 milhões em propinas a autoridades por meio do escritório de lobby Marcondes & Mautoni;
– investigação da compra de Medida Provisória 471 para beneficiar o setor automotivo com renúncia fiscal de R$ 1,3 bilhão. Os beneficiários teriam distribuído R$ 36 milhões em propinas a autoridades por meio do escritório de lobby Marcondes & Mautoni;
– o escritório Marcondes & Mautoni
assinou um contrato de marketing esportivo com a empresa de Luís
Cláudio, um dos filhos de Lula, no valor de R$ 2,4 milhões. Segundo o
MPF, é pagamento de propina em razão da MP assinada pelo pai presidente;
– A Operação Zelotes investiga ainda a
manipulação de processos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
(Carf), órgão colegiado do Ministério da Fazenda a que os contribuintes
recorrem para contestar multas. Empresas de advocacia e consultorias,
segundo a denúncia, influenciavam e corrompiam integrantes do órgão —
inclusive o escritório Marcondes & Mautoni;
– por intermédio desse escritório,
representantes da sueca Saab Aviation, fabricante dos caças Gripen,
pediram uma reunião com Lula. Marcondes intermediou ainda um encontro do
CEO da empresa, Âve Svensson, com o então ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Realizado na sede do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o encontro foi
registrado na agenda oficial do ministério no dia 5 de junho de 2009.
As testemunhas
O que dizer? Lula é acusado, nessas várias frentes, de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com um total de 10 imputações. E destaco que estamos falando de coisas bastante desiguais. O que a MP do setor automotivo tem a ver com os caças? Até onde se alcança, nada. Um escritório tentar marcar, ou marcar, um encontro de um presidente da República com um fabricante de avião é, por si, um crime? Até onde se sabe, não.
O que dizer? Lula é acusado, nessas várias frentes, de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com um total de 10 imputações. E destaco que estamos falando de coisas bastante desiguais. O que a MP do setor automotivo tem a ver com os caças? Até onde se alcança, nada. Um escritório tentar marcar, ou marcar, um encontro de um presidente da República com um fabricante de avião é, por si, um crime? Até onde se sabe, não.
Por que Lula chama FHC? Porque remonta
àquele presidente a decisão de renovar os caças brasileiros, ato sempre
adiado por falta de recursos. Os entendimentos vêm daquele período. Por
que os presidentes franceses? Porque o próprio Lula, no que foi
considerado então uma gafe, chegou a anunciar que o Brasil escolheria os
caças franceses Rafale, da Dassault, depois descartados em razão do
alto custo. Os EUA fizeram lobby intenso em favor do F-18, da Boeing. A
Aeronáutica optou pelo Gripen. Além do preço, consta, um fator decisivo
teria sido a transferência de tecnologia.
O que Lula pretende chamando tantos
figurões? Certamente tentará demonstrar que a operação era grande demais
e complexa demais para depender do lobby de um escritório. Mais: como
isso tudo se mistura ainda com CARF e com a tal MP 471, a confusão é
grande. E o treinador Luxemburgo? Sei lá.
Suspeito que tenha sido chamado para atestar alguma coisa relativa à
atuação do filho de Lula na área esportiva.
O tempo dirá, mas parece haver algo de
complicado com uma operação que mistura tantos alhos e tantos bugalhos. A
chance de não dar em nada aumenta muito, não é mesmo? Ah, sim: as testemunhas estrangeiras de
Lula terão de ser ouvidas por carta rogatória. O desembargador
determinou que cumpre à defesa provar a necessidade dos respectivos
depoimentos, e os custos também da operação correrão por sua conta. É
razoável.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário