O
anúncio de que o acordo de delação premiada da JBS poderá ser revisto
por omissões importantes é a maior derrota política do procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, em seu embate com o presidente Michel Temer
(PMDB). As vésperas de entregar uma nova denúncia contra o
peemedebista, o reconhecimento do problema na apuração é um desastre
para o procurador-geral. Como ele mesmo disse, o que foi descoberto pode
vir a anular privilégios dados aos irmãos Batista, mas não interferirá
na validade das provas até aqui coletadas no caso que envolve não só
Temer, mas nomes graúdos da elite política do país.
Isso pode ser
verdade, juridicamente, embora certamente haverá contestações. Do ponto
de vista político, contudo, fica reforçado o discurso do Planalto e de
políticos aliados a Temer de que os Batista são "bandidos" que teriam ou
manipulado os investigadores para obter benefícios ou coisa pior –como o
que transpareceu até aqui na relação do procurador Marcelo Miller com a
JBS insinua. Na noite desta segunda (4), políticos governistas
já trocavam mensagens por aplicativos comemorando o "fim de Janot". É
claro que isso é um exagero, mas é evidente que a maré interna no
Congresso tenderá a virar em favor do presidente na avaliação da nova
denúncia.
Até aqui, deputados da base governista vinham pintando
um cenário difícil para o peemedebista, que teve a primeira denúncia
barrada em agosto na Câmara à custa do adiantamento de verbas de emendas
parlamentares e promessas de cargos. Como parte da fatura não foi
honrada, os parlamentares começaram a subir o preço do novo apoio em
forma de ameaça ao Planalto. O fato de que vai deixar o cargo no
próximo dia 17 também atrapalha a vida de Janot. Em vez de concentrar-se
exclusivamente no caso, terá de lidar com a agenda negativa e as
implicações graves para o trabalho de investigação da Operação Lava
Jato.
Depois, o problema será de Raquel Dodge, a nova
procuradora-geral. Os olhos do mundo político estarão sobre ela e na
forma com que conduzirá os esforços da Lava Jato. Quem a conhece aposta
numa atuação mais discreta, mas tecnicamente rígida e imune a
concessões. A flechada no pé, para ficar na expressão
imortalizada por Janot, coroa uma série de acusações de açodamento,
talvez motivado por messianismo político, direcionadas ao
procurador-geral, o que ele sempre negou. Na vida pública, atos
finais costumam ter peso maior do que o conjunto da obra na hora de
avaliar uma carreira. Como dizem os chineses que receberam o antípoda
Temer nos últimos dias, basta um pedaço de carne podre para estragar
todo um cozido. Janot corre esse risco.
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário