Vença Haddad ou Bolsonaro, o mais provável é que o Brasil fique ingovernável, dada a profunda rejeição a ambos [detalhe: a rejeição ao poste-laranja do Lula é genuína - provi incontestável é que na tentativa de reeleição para prefeito de São Paulo, Haddad foi derrotado por João Doria, ainda no primeiro turno.
Já a rejeição ao Bolsonaro é em parte inventada e no restante fabricada - esse manifesto de 'personalidades' é uma fraude perpetrada por pessoas que não tiveram a menor preocupação em denunciar Lula e toda a corja lulopetista quanto roubavam o Brasil - e desaparecerá com os bons resultados das primeiras medidas adotadas por Bolsonara na presidência, ainda em janeiro/2019.]
Apesar do título, esse artigo não é sobre o prisioneiro mais famoso do País, aquele que está enclausurado em Curitiba. Quem conhece um pouquinho de teoria dos jogos, ou quem assistiu ao filme sobre a vida do matemático John Nash (“Uma Mente Brilhante”), talvez se lembre do também famoso dilema dos prisioneiros. Imaginem a situação: dois suspeitos de um crime são presos e colocados em celas separadas. A cada um é dada a seguinte opção: caso um confesse e o outro não, aquele que escolher cooperar com a polícia receberá pena de apenas 1 ano de prisão, enquanto o companheiro silencioso cumprirá 5 anos de cadeia. Portanto, se ambos confessarem, ficarão presos por 1 ano. Se ambos escolherem manter o silêncio, os dois podem ser soltos. Contudo, como não podem se falar, não há como coordenarem o silêncio. Cada um tem de tomar a decisão sobre cooperar com a polícia ou não de forma independente. O silêncio é, portanto, a mais arriscada das opções, pois se o parceiro decidir confessar, são 5 anos de cana. A estratégia dominante – o chamado equilíbrio de Nash desse jogo – é cada preso confessar o crime, ambos recebendo, portanto, pena de 1 ano na cadeia.
O dilema dos prisioneiros mostra que na ausência da possibilidade de cooperação, as escolhas individuais acabam determinando resultado pior do que o alcançado fosse a colaboração dos presos possível: em vez de serem soltos, ambos são encarcerados por um ano. O que isso tem a ver com as escolhas que se apresentam para os eleitores brasileiros? Consideremos os votos anti-Bolsonaro e anti-Haddad.
Para os anti-Bolsonaro, o pior dos mundos é Bolsonaro ganhar, de modo que estão dispostos a votar em Haddad – ainda que somente em última instância, ainda que não declarem esse voto abertamente. Com o perdão pela ligeira digressão, creio que já estamos em território onde as pesquisas de opinião não captam os votos ocultos em Haddad, enquanto o voto pró-Bolsonaro entre moderados – isto é, entre aqueles para quem Bolsonaro não é a primeira opção de voto – parece sair do armário em números cada vez maiores.
Voltando ao raciocínio: o mesmo ocorre com os votos anti-Haddad/anti-PT. Para esses, o pior dos mundos é Haddad vencer, portanto estão dispostos a dar seu voto ao capitão. Essas estratégias, lembram, portanto, o resultado do dilema dos prisioneiros: cada um votando individualmente para evitar o seu pior cenário acaba por levar a um resultado pior do que se pudessem coordenar. Evitar esse quadro perverso necessitaria que as pessoas escolhessem de forma coordenada uma terceira via, outro candidato ou candidata com chances de tirar do páreo um ou outro dos candidatos de repúdio. Tal coordenação seria facilitada se os candidatos de centro se unissem em torno de um único nome.
Como Bolsonaro parece ter se consolidado no primeiro lugar, o voto que cumpriria tal papel seria a escolha do candidato melhor posicionado para tirar o PT da disputa. Caso tal candidato conseguisse vencer no primeiro turno, estaria esvaziado o voto anti-PT que hoje arregimenta tanta gente, possivelmente evitando a vitória de Bolsonaro e, portanto, o pior dos mundos para os anti-Bolsonaro. Contudo, a política funciona como o dilema dos prisioneiros, sem mecanismos de coordenação. Que fique claro: com o voto de repúdio, eleja-se Haddad ou Bolsonaro, o mais provável é que o Brasil fique ingovernável, dada a profunda rejeição a ambos. Dificilmente sairiam do papel reformas para controlar o déficit público e nossa dívida galopante. Provavelmente teremos, mais brevemente do que muitos gostariam de imaginar, intensas turbulências financeiras, fuga de investidores, e resultados econômicos desastrosos em situação na qual a economia já está bastante debilitada. A inflação deve subir, com ela o desemprego – a chance de que aumente o mal-estar da população brasileira no ano que vem sobe com cada nova pesquisa de opinião.
Caminhamos, tontos e confusos, de olhos fechados e narizes tapados, para o cadafalso. Trata-se disso que estamos a escolher. Desse modo, tornamo-nos prisioneiros de nós mesmos por termos nos rendido com tanta facilidade aos extremismos, aos argumentos rasteiros, e à histeria coletiva. É com esse dilema que teremos de conviver, ganhe quem ganhar – Haddad ou Bolsonaro, pouco importa.
Monica de Bolle, economista, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics e professora da Sais/Johnshopkins University
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